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desenvolvida enquanto educadora matemática, desenvolvemos uma pesquisa que promoveu o confronto de dados e ideias, discorrendo sobre novos paradigmas e perspectivas educacionais que se colocam frente à complexidade do contemporâneo. Inquietos, buscamos para a construção deste diálogo, conhecer melhor experiências e vivências de educadores e educandos, sobretudo, neste contexto multiétnico em que a escola se constitui. Com o objetivo de repensar a contribuição do componente curricular de didática da matemática na constituição do profissional da educação. Para isso, nos apropriamos da metodologia de pesquisa conhecida como grupo focal, cujo desenvolvimento se deu empiricamente no Instituto Estadual de Educação Fagundes Varela, quando analisamos suas políticas pedagógicas na constituição de formadores8.

Optamos pela metodologia de grupo focal, por ser uma técnica de avaliação que oferece informações qualitativas; o uso da técnica de grupo e outras características pertinentes e peculiares a nossa pesquisa. O grupo focal apresenta um moderador cujo papel é promover a participação de todos, evitar a dispersão dos objetivos da discussão e a monopolização de alguns participantes sobre outros, guiando o grupo, em discussões que objetivam revelar experiências, sentimentos, percepções, preferências, necessidades, dificuldades e valores, o que nos permite observar o contexto no qual a informação foi obtida, bem como as concordâncias entre opiniões dos participantes, alteração de opiniões ocasionadas pela pressão dos grupos, respostas dadas em função de experiências pessoais de maior relevância do que impressões vagas, ideias principais, comportamentos, gestos, reações, sentimentos, valores de ordem pedagógica, ideológica e ética, preconceitos, dificuldades de compreensão das perguntas feitas, entusiasmos, dificuldades no enfrentamento de desafios, aproveitamento dos espaços de liberdade, entre outros.

Todavia, escolhemos para constituir nosso grupo de pesquisa, alunos indígenas do curso normal (magistério) da modalidade aproveitamento de estudos por apresentarem estes alunos em formação uma característica importante para a pesquisa, pois todos os alunos

8 Refere-se à constituição de formadores como a preparação e instrumentalização desenvolvida pela escola com

desta modalidade (aproveitamento de estudos) já estão atuando como professores9 nas escolas indígenas. Acreditamos ser este, um fator que fortalece a pesquisa e nos proporciona estabelecer uma relação ainda maior de proximidade entre os campos de formação e aplicação das ‘teorias’ e ‘práticas’ que se propõe o ensino a desenvolver permitindo à pesquisadora observar especialmente a educação intercultural e a didática da matemática.

Realizamos, então, um encontro com os oito alunos indígenas e apresentamos nossa proposta e os objetivos para o trabalho. Sugerimos a este grupo de alunos a participação e a formação de uma espécie de ‘grupo de estudos’ para que nós pudéssemos examinar com esmero e determinação as questões a serem possivelmente ‘problematizadas’ pelo grupo, acerca da temática proposta. Conscientes, entretanto, de que o que nos move não são as respostas que elaboramos ou encontramos, mas sim, as dúvidas decorrentes do tema de investigação.

Assim, aceita a proposta de pesquisa pelos alunos, constituímos o grupo que contou com a efetiva participação de oito alunos indígenas. Em consonância com a legislação, a pesquisadora apresentou aos alunos o termo de livre consentimento e esclarecido (TCLE), que foi assinado pelos mesmos, considerando uma necessidade da pesquisa que envolveu seres humanos. Assim, ainda, foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa da UNIJUÍ (CEP) e ao Ministério da Saúde - Conselho Nacional de Saúde - Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), o qual obteve aprovação para ser desenvolvida.

A empiria da pesquisa aconteceu no período de setembro a novembro do ano de dois mil e oito e teve como foco a didática da matemática na formação do professor indígena, possibilidades de relação com a etnomatemática, com a qual desejamos, em ‘sendo’ pesquisadora e ‘estando’ professora, ‘ver melhor’ e ‘saber mais’ sobre essa ciência da comunicação entre culturas diferentes que convivem num espaço mesmo. Sobretudo, com a finalidade de colaborar para a constituição do aluno em formação, através da didática da matemática e sua possível relação com a etnomatemática.

9 Existe nas escolas indígenas da tribo Kaingang da comunidade do Guarita, a intenção de que os professores

dessas escolas ‘devam’ ser professores indígenas, em sendo assim, aceita-se a nível de contratação a possibilidade de os alunos cursistas do Curso Normal, possam atuar como professores.

Organizamos, para os estudos, quatro encontros que foram realizados na própria escola, em períodos inversos aos momentos de aula dos alunos, durando, aproximadamente duas horas cada reunião, ou até o momento em que sentíamos produtividade e qualidade nos trabalhos. Todos os encontros foram vídeo-gravados para que pudéssemos registrar com fidelidade e fidedignidade as discussões, embora saibamos que as câmaras inibem de certa forma algumas pessoas. Buscamos, mesmo assim, analisar posteriormente as imagens e falas registradas considerando inclusive, embora um tanto ousado, os olhares que falavam ‘silenciosos’ através de fisionomias e expressões físicas diferenciadas diante das questões e situações pelo grupo vivenciadas. Prática que a técnica de grupo focal nos favoreceu.

Não obstante, realizamos paralelo a cada encontro, um exercício do registro escrito, onde se propôs aos alunos um questionário, no intuito de que os mesmos pudessem mais uma vez expressar seu olhar e seu entendimento. Nossa intenção enquanto pesquisadora, também se fez com essa prática e esse instrumento, no sentido de que todos se fizessem presentes nos depoimentos e registros, uma vez que precisamos considerar no ambiente de debate e discussão que nem todos apresentam as mesmas habilidades e competências, a considerar aqui, por exemplo, o exercício da fala. De fato observamos uma participação ainda maior nesta atividade.

A realidade situacional “olhada” nesses encontros que se realizaram a partir da proposição de discussões desencadeadas pela pesquisadora, proporcionou momentos de estudos e discussões sobre os temas em análise. A ênfase de cada encontro se efetivou com as seguintes temáticas e estrutura:

I ENCONTRO → A ESCOLA: O LOCAL E O GLOBAL - DO PENSAMENTO ÚNICO A CONSCIÊNCIA UNIVERSAL

Data: 30/10/2008

Tempo de duração: 02 horas

Tema: “Escola e Povos Indígenas no Brasil” – o pertencimento ■ Caracterização;

Metodologia:

■ Apresentação de um episódio do DVD escola10 “Quem são os povos indígenas

no Brasil?”;

■ Exposição dos aspectos significativos abordados no DVD - discussão; ■ Registro: questionário abaixo:

1) “KAINGANG” – Quem são? Quem somos? Quem sou? 2) Globalização: fábula, perversidade e possibilidade – comente:

3) “Os índios não são brasileiros, os brasileiros é que são índios” (fala extraída do DVD), comente:

4) Qual é o papel do professor indígena frente a essa ‘nova’ e ‘moderna’ realidade de educação?

5) Quais são os saberes necessários à educação contemporânea que vivemos? Onde e como adquiri-los?

6) Afinal, quem educa os educadores indígenas? Faça uma análise crítica referente ao seu pertencimento, enquanto aluno indígena, do curso normal da escola Fagundes Varela.

II ENCONTRO → A ESCOLA: O LOCAL E O GLOBAL - DO PENSAMENTO ÚNICO A CONSCIÊNCIA UNIVERSAL

Data: 07/11/2008

Tempo de duração: 02 horas

Tema: “Educação e Diálogo Intercultural”

■ Educação intercultural (diálogo e encontro de identidades); ■ Multiculturalismo (inter, intra e trans);

■ A complexidade das relações de cultura (tensões); Metodologia:

■ Leitura do artigo - Globalização: a educação em direção a uma civilização planetária – multiculturalismo, educação intercultural e etnomatemática.11;

10 TV Escola – Secretaria de Educação a Distância – Ministério da Educação: Salto para o futuro – material

■ Leitura do artigo - Cultura: identidade e subjetividade – das diferenças do “pertencimento” a um espaço às possibilidades do diálogo intercultural em um tempo12;

■ Exposição dos aspectos significativos abordados nos artigos lidos - discussão; ■ Registro: questionário abaixo:

1) Cultura: identidade e subjetividade – das diferenças do “pertencimento” a um espaço às possibilidades do diálogo intercultural em um tempo. Com base no artigo lido, faça suas considerações.

2) Qual é a sua concepção sobre Educação Intercultural?

3) Em sendo o Instituto Estadual de Educação Fagundes Varela uma escola multicultural, espaço da educação e do diálogo intercultural (índios e não-índios), consegue ela trabalhar com a diversidade cultural? Aponte aspectos positivos e negativos.

III ENCONTRO → O CURSO NORMAL: O COMPONENTE CURRICULAR DE DIDÁTICA DA MATEMÁTICA

Data: 21/11/2008

Tempo de duração: 02 horas

Tema: “Analisando a escola formadora e o componente curricular de didática da matemática”

■ Análise do componente curricular de Didática da Matemática; ■ Planos de estudo;

■ Projeto Político Pedagógico; ■ Filosofia da escola;

■ Teoria e prática;

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Por Giovana Maciel, licenciada em matemática; especialista em educação – UNIJUÍ; mestranda no programa de pós-graduação Stricto Sensu Educação nas Ciências – UNIJUÍ – Ijuí/RS. Publicado no livro: Abordagens Interculturais / Organização de Losandro Tedeschi; e Antônio Dari Ramos; Cássio Knapp; Bruno Ferreira. – Santo Ângelo: Núcleo de Assessoria e Estudos Interculturais / Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI Campus de Santo Ângelo / Porto Alegre: Martins Livreiro-Editor, 2008.

12 Por Giovana Maciel, licenciada em matemática; especialista em educação – UNIJUÍ; mestranda no programa

de pós-graduação Stricto Sensu Educação nas Ciências – UNIJUÍ – Ijuí/RS. Produção final da disciplina de Cultura, Protagonismo Social e Currículo.

Metodologia:

■ Análise dos documentos da escola Fagundes Varela: regimento escolar; projeto político pedagógico; planos de estudo;

■ Exposição dos aspectos significativos abordados nos documentos da escola - discussão;

■ Registro: questionário abaixo:

1) Existe relação entre a filosofia da escola, o projeto político pedagógico e os planos de estudos, em especial com o componente curricular de didática da matemática?

2) Após análise do componente curricular de didática da matemática, comente a sua relação com a prática desenvolvida por você enquanto professor das séries e anos iniciais nas escolas indígenas.

IV ENCONTRO → A ETNOMATEMÁTICA E A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES INDÍGENAS

Data: 28/11/2008

Tempo de duração: 02 horas

Tema: Espaço e Tempo – o local e o global na escola: uma discussão a partir da Etnomatemática

■ Educação Matemática, Educação Indígena e Etnomatemática (relações e possibilidades);

■ Elo entre as tradições e a modernidade (processo histórico); ■ Ideias matemáticas de povos culturalmente distintos; Metodologia:

■ Apresentação do tema em slides através do programa Power Point (ver anexos);

■ Exposição dos aspectos significativos abordados nos documentos da escola - discussão;

1) Em sua opinião existe uma matemática indígena, ideias matemáticas culturalmente distintas? Faça um comentário.

2) Como aluno indígena, o que você sugere como essencial na constituição do programa de didática da matemática no curso de formação de professores? 3) Você vê como possível a relação entre a etnomatemática e a didática da

matemática? Comente.

Todos os encontros foram vídeo-gravados e as observações complementares, bem como os questionários, foram registradas e arquivadas para posterior transcrição, na íntegra, das falas e respostas dadas pelos alunos quando do momento da interação entre os sujeitos envolvidos na pesquisa, no intuito de serem analisadas e discutidas no desenvolvimento do trabalho. A minuciosa observação, a discussão e a transcrição das falas e respostas produzidas pelos alunos, foram feitas pela pesquisadora que se identifica no texto por “mediadora A” e os alunos por “aluno A, B, C, D, E, F e G”. Esta metodologia promoveu a validação das questões em análise. Buscamos, com isso, ouvir, para, no mínimo, respeitar esse outro “olhar”, essa outra cultura, para que possamos promover uma mudança de comportamento dos e nos envolvidos neste processo de constituição de professores indígenas diante da realidade de uma educação intercultural, que deseja ainda enfatizar o viés da etnomatemática.

A pesquisa possui caráter de investigação científica e os resultados e conclusões deste estudo poderão ser utilizados como material de análise por toda a comunidade envolvida na pesquisa, em especial pela escola, palco do problema em estudo. Quando do retorno da pesquisa à comunidade escolar, esperamos apontar a possibilidade de uma reconstrução do componente curricular de didática da matemática, já com um olhar etnomatemático, observando assim, e ainda, o aspecto multicultural desta escola constituidora de professores. Considerando essa metodologia, criamos um repensar que pode ser visualizado como um processo espiral, por ser ao mesmo tempo indutivo – dedutivo – reflexivo e exploratório – criativo. A observação das etapas interativas diálogo – reflexão – ação – concepção – pertinência – consenso constitui a espiral metodológica de análise e sistematização adaptada ao contexto desse estudo.

2 CONHECER O LOCAL PARA COMPREENDER O GLOBAL