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2 HISTÓRICO DAS EMPRESAS TRANSNACIONAIS NA AMÉRICA LATINA

3.1 A expansão da indústria de celulose no hemisfério sul

Recentemente, a América Latina iniciou uma fase de desenvolvimento histórico onde os recursos naturais adquiriram uma nova conotação e deixaram de ser vistos como fonte de problemas (KATZ; BERCOVICH, 2003). Em decorrência da abertura dos mercados, instalaram-se no Hemisfério Sul inúmeras indústrias de origem estrangeira. O setor florestal, por sua vez, tem vivenciado uma crescente demanda mundial por papéis de diversos tipos. As empresas pertencentes a este setor, proprietárias de vastas áreas cobertas por monoculturas, como de pinus e eucaliptos, iniciaram suas plantações industriais na América Latina por volta dos anos 80 e 90, encontrando-se hoje em estágio ideal para corte. O cenário contemporâneo evidencia uma grande oferta de matéria-prima e a conseqüente e necessária estruturação do aparato fabril para atender a esta demanda. Katz e Bercovich (2003) afirmam que a indústria florestal representa hoje um novo padrão de vantagens competitivas através das quais diversos países latino americanos se inserem no comércio mundial.

Na América Latina, as infra-estruturas necessárias para fazer frente a uma oferta de cerca de 4 milhões de toneladas de polpa de celulose17 estão em franco processo de

16 Um commodity tradicional é toda mercadoria padronizada para compra e venda, oriunda da exploração dos

recursos naturais como petróleo, soja, minérios, água mineral engarrafada, café, dentre outros (Fonte:

http://www.anbio.org.br/bio/biodiver_art81.htm). Atualmente também são consideradas commodities produtos

de uso comum mundial como, por exemplo, lotes de camisetas brancas básicas e calças jeans (Fonte:

http://www.economiabr.net/economia/5_commodities.html). Um problema relacionado as commodities é que

estas estão cada vez mais desvalorizadas no mercado mundial e a deterioração dos seus termos de troca tem conduzido à super explotação dos recursos naturais e ao empobrecimento dos países que têm nesse tipo de produção, sua base exportadora (AUDLEY, 1998; SCHLESINGER, 2000). Em 1972, em Estocolmo, já se alertava para esse problema (Declaração de Estocolmo, 1972, princípio 10).

construção. O Brasil ocupa atualmente a liderança em capacidade produtiva, garantindo uma oferta de 6,7 milhões de toneladas de polpa de celulose para os próximos 6 anos. No Uruguai concluiu-se a construção da fábrica finlandesa Botnia de 1 milhão de toneladas/ano e a espanhola Ence planeja para 2010 mais outro milhão de toneladas/ano na província uruguaia de Colônia. A Stora Enso, por sua vez, adquiriu terras para o plantio no Uruguai, podendo-se considerar em breve mais 1 milhão de toneladas/ano de polpa de celulose no mercado (Urgewald, 2007).

No Brasil, grandes empresas de silvicultura estão concentrando amplas áreas de terra fértil em seu poder, constituindo mais um obstáculo para a realização de reforma agrária e agravando os problemas decorrentes da concentração fundiária. O presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – Consea, Chico Menezes (2007), associa as monoculturas de árvores de rápido crescimento a um aumento da insegurança alimentar das populações diretamente afetadas por essas plantações, dificultando, quando não inviabilizando, as atividades tradicionais das comunidades indígenas, quilombolas e camponesas. Katz e Bercovich (2003) observam que o quadro institucional que opera a estrutura da indústria florestal se torna ainda mais complexo e incerto quando as variáveis ecológicas e de sustentabilidade agregam-se àquelas relacionadas com o confronto que o setor produtivo florestal mantém com os povos tradicionais (camponeses, índios e quilombolas), em geral radicados em territórios que a indústria pretende estender seu patrimônio florestal. Este problema transcende o âmbito econômico e não pode ser entendido de forma cabal sem levar em consideração as diferenças existentes entres os povos tradicionais e a sociedade majoritária no que tange à concepção do econômico e quanto ao respeito que estes mostram por valores ancestrais. Com efeito, para os povos tradicionais a terra não é somente um bem econômico, mas parte de sua identidade individual e coletiva. Em outras palavras: não constitui um bem de troca, mas sim um bem de uso, sendo esta uma diferença crucial a que a indústria florestal deverá aprender a viver e contemporizar. Nenhum avanço sustentável nesse campo poderá lograr êxito se não se alcançar um consenso generalizado sobre essa questão (KATZ; BERCOVICH, 2003).

17 A polpa de celulose é o principal insumo da indústria de celulose e papel. É elaborada, basicamente, a partir de

madeira, que provê as fibras celulósicas. Existem outras fontes alternativas de fibras, ainda que pouco utilizadas, como bagaço de cana, palha de trigo, fios de algodão, bambu, trapos, etc (MENDONÇA, 1992).

Segundo a ONG alemã Urgewald, em termos globais nos próximos 5 anos a indústria de celulose e papel planeja atingir uma capacidade produtiva total superior a 25 milhões de tonelada - uma média de 5 milhões de toneladas a cada ano. A expansão da capacidade produtiva da indústria de celulose e papel está focada principalmente no hemisfério sul, onde a maioria das novas plantas, ou a ampliação da capacidade produtiva (repotenciamento) das já existentes, será localizada no Uruguai, Brasil, Indonésia, Austrália, China e Rússia. A Tabela 1 apresenta o planejamento da expansão dos empreendimentos no Brasil e Uruguai.

TABELA 1

Fábricas de Polpa de Celulose – Planejadas ou em Construção

Empresa Localização País Capacidade

ton/ano

Custo US$

Conclusão

Aracruz Rio Grande do

Sul

Brasil 1,3 milhões - 2010 – 2015

Suzano Bahia Brasil 1,1 milhões 1,3 bilhões 2007

Suzano Bahia Brasil 1,25 milhões - 2010

VCP Três Lagoas Brasil 1,1 milhões 1,15 bilhões 2009

Sateri International Bahia Brasil 250.000 375 milhões 2007

Veracel Bahia Brasil 900.000 - -

Stora Enso Rio Grande do

Sul

Brasil 1 milhão - 2012 – 2013

Cenibra Minas Gerais Brasil 800.000 - 2013

Botnia Fray Bentos Uruguai 1 milhão 1,2 bilhões 2007

ENCE Colônia Uruguai 1 milhão 930 milhões 2010

Stora Enso - Uruguai 1 milhão - -

Fonte: RISI <http://www.risiinfo.com> apud URGEWALD, 2007. Nota: o símbolo – significa ausência da respectiva informação.

Esta tabela é baseada na publicação de abril de 2006. Alguns destes projetos são expansões de fábricas já existentes e outros são novas fábricas. Por se tratarem de projetos não há garantia da completude das informações, bem como se estes projetos serão concluídos.

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