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2 HISTÓRICO DAS EMPRESAS TRANSNACIONAIS NA AMÉRICA LATINA

3.4 As indústrias florestais na América Latina

3.4.1 Panorama uruguaio

Durante a década de 90 o setor florestal exerceu forte influência na economia uruguaia. No início a atividade foi promovida pelo Estado passando depois a ser desenvolvida pela iniciativa privada. O Uruguai possui condições naturais favoráveis à atividade florestal, estando situado na latitude em que vários outros países desenvolvem grandes e importantes empreendimentos florestais, como Brasil, Argentina, Chile, África do Sul e Nova Zelândia. O clima da região é temperado, com influência marítima na zona sul e precipitação média anual da ordem de 1.200 mm com distribuição uniforme.

Segundo o Ministério de Ganadería, Agricultura y Pesca – MGAP, no ano de 1991, as exportações de produtos florestais representaram para o país um ingresso de US$ 23 milhões. Já no ano 2000 as exportações florestais atingiram a cifra de US$ 109 milhões e o PIB florestal alcançou US$ 179,7 milhões, representando 9,85% da produção agropecuária total.

A atividade agropecuária uruguaia é historicamente estruturada na produção de carne, lã e grãos (trigo, milho e arroz). Neste contexto a atividade florestal esteve quase exclusivamente destinada a proporcionar serviços às demais atividades agropecuárias tradicionais (p.e. abrigo e sombra para o gado). O país dependia fortemente da importação como forma de suprir a demanda por produtos florestais, que por sua vez aumentava, proporcionalmente, com o aumento da renda da população.

A partir da década de 60, o desenvolvimento florestal no Uruguai começava a mostrar- se viável como possibilidade de dinamizar tanto a economia das zonas rurais, quanto à economia do país como um todo. Ao final de 1968, foi aprovada a primeira Lei Florestal (n° 13.723) com o intuito de promover a atividade em sua fase primária através de isenções tributárias e concessão de linhas de crédito.

Essa Lei apresentou resultados modestos, posto que durante o período compreendido entre 1975 e 1988, apenas 45 mil hectares foram florestados. Em dezembro de 1987 entra em vigor uma nova Lei Florestal de n° 15.939 que busca implementar novas formas de dinamização do setor, mediante o estabelecimento de benefícios adicionais para promover o investimento.

Tais mecanismos de promoção consistem basicamente na (i) isenção de tributos aos terrenos ocupados e afetados diretamente pelas plantações industriais; (ii) no reembolso máximo de 50% do custo por hectare plantado; (iii) na implementação de fontes de financiamento e (iv) na isenção de impostos de importação de matéria prima para o processamento da madeira, bem como de equipamentos e implementos para a instalação e operação das empresas.

As Leis Florestais (1968 e 1987) estabeleceram as áreas prioritárias a serem destinadas à promoção das atividades florestais. Estas áreas apresentam características e particularidades ideais para a silvicultura, mas não para outras atividades. Para esta seleção levaram-se em conta, simultaneamente, as características edafológicas que conferem condições ideais ao crescimento das árvores, como solos arenosos, pedregosos e bem drenados, e a baixa produtividade do proveito econômico de outras atividades produtivas. Ademais por se tratarem de solos mais pobres, o preço é mais baixo, o que favoreceu em muito a aquisição de terras.

Entre os anos de 1989 e 1999 o Uruguai vivenciou um processo acelerado de desenvolvimento de sua massa florestal, iniciando seu ciclo de produção propriamente dito. A partir de 1990 as exportações de toras de madeira tiveram um crescimento vertiginoso, superando 800 mil toneladas nos últimos anos, em particular toras destinadas à produção de polpa de celulose, que representavam aproximadamente metade das toras destinadas ao mercado externo. Segundo a Dirección Forestal (órgão executor do Ministério de Ganadería,

Agricultura y Pesca - MGAP) na década de 90 as exportações de toras de madeira reservadas à produção de polpa de celulose destinavam-se quase integralmente ao mercado europeu (Espanha – 48%, Noruega – 29%, Finlândia – 11% e Portugal – 6%). As placas de madeira eram vendidas principalmente à Itália (55%), Estados Unidos (30%) e Japão (8%). Já a polpa de celulose produzida em território uruguaio teve um destino regional (Brasil – 44%, Argentina – 37% e Chile – 19%), o mesmo sucedeu com as exportações de papel e cartão

(Brasil – 25%, Argentina – 68%, Chile – 2% e Paraguai – 3%). Entre os anos de 1990 e 2000 o florestamento uruguaio agregou aproximadamente 50 mil hectares/ano. Os incentivos criados através das Leis Florestais (1968 e 1987) conferiram ao setor florestal uruguaio um dinamismo sem precedentes na história deste país.

Segundo o Censo Agropecuário Uruguaio de 2000, as florestas ou bosques artificiais ocupavam cerca de 660 mil hectares, onde mais de 80% correspondiam à monoculturas destinadas exclusivamente à indústria florestal. Dados fornecidos pelo Ministério de

Ganadería, Agricultura y Pesca, apontam que hoje o país é detentor de uma considerável massa florestal apta a ser explorada24 e tendendo a um incremento de área; mesmo que a um ritmo não tão acelerado como o experimentado ao final da década de 90.

Esse cenário tem estimulado o surgimento de vários projetos de investimento em unidades industriais de beneficiamento da madeira. Como exemplo tem-se a planta industrial da finlandesa Botnia, atualmente aguardando a concessão da Licença de Operação – LO, e muitos outros empreendimentos que se encontram sob a análise de viabilidade, em especial na província de Rio Negro, afirma o Ministério de Ganadería, Agricultura y Pesca.

O Estado desempenha um papel importante na promoção do setor florestal através de ações dirigidas à consolidação do desenvolvimento das cadeias produtivas de madeira e papel. Desta forma tanto agentes públicos como a iniciativa privada estão empenhados em uma série de atividades que visam facilitar a comercialização dos produtos florestais. Neste sentido deve-se ressaltar a importância dos ecolabellings (certificadores ecológicos) que agregam valor ao produto, ao representarem um selo de confiança no sistema de gestão implementado pelas empresas (ARAUJO; MATA MACHADO, 2007b). Isto permite que os produtos uruguaios alcancem posições diferenciadas nos mercados internacionais, facilitando sua comercialização e obtenção de melhores preços.

24Segundo afirma o Instituto Nacional de Investigacion Agropecuária, as monoculturas com espécies de

crescimento rápido (eucalipto) aparecem como uma oportunidade imediata e quantitativamente importante. A capacidade de seqüestro de carbono dessa espécie é da ordem de 5 a 7 toneladas de carbono/hectare/ano em se tratando das árvores e de 1 a 2 toneladas de carbono/hectare/ano no caso do solo. No Uruguai na área

atualmente florestada a remoção de carbono do ar é de cerca de 3 milhões de toneladas/ano, cifra que poderia ser multiplicada por 3 ou 4 se fossem aproveitadas as áreas consideradas de prioridade florestal e que ainda não foram plantadas. Assumindo um preço de US$ 25/ton.C, o país poderia gerar divisas superiores a US$ 200 milhões/ano pela venda de créditos de carbono.

Dez anos após a criação da Lei de Desenvolvimento Florestal o setor logrou um crescimento significativo na superfície florestada. Em termos de geração de postos de trabalho – Ramos, A. e Cabrera, R. (2001) estimam que a cadeia florestal gerará uma média de 11 mil postos de trabalho/ano no período de 2001 a 2010 e entre 2011 e 2020 serão 18 mil postos gerados em média por ano. Nesse contexto a geração de novos empregos vinculados às fases primárias e industriais da atividade de florestamento, originará uma mudança nas expectativas da população rural e de pequenos centros urbanos, que deverá incrementar-se como passar dos anos.

No entanto, segundo observam Ramos e Cabrera (2001), o maior impacto do florestamento reside na mudança da conformação espacial das atividades agrícolas tradicionais nos últimos 5 anos e pela aparição de pólos de atividades implícitos. Assiste-se a uma mudança na localização das fontes geradoras de valor; tradicionalmente a matriz produtiva uruguaia era essencialmente urbana com estabelecimentos agrícolas. Com a florestação muda esta equação: as plantações e viveiros localizam-se nas áreas rurais e em médio prazo ocorrerá o mesmo com as indústrias florestais. Desta forma uma zona que antes era considerada de “vazia” está tomando outra dinâmica e, dado o volume de produção esperado, tenderá a uma mudança na geração de valor nessas áreas (Cf. Figura 2).

Figura 2 - Cenário Futuro (2020) do Setor Florestal Uruguaio Fonte: <http://forestalweb.com/uruguay_forestal.htm>

No ano de 2003 as exportações de produtos florestais uruguaios totalizaram US$ 116 milhões, o que representa um incremento superior a 6% se comparado ao ano de 2000. Os investimentos estrangeiros conferem à atividade florestal níveis similares aos vários ramos produtivos tradicionais, sendo razoável esperar no futuro um aumento na sua participação percentual nas exportações, à medida que as plantações industriais forem alcançando a idade de colheita. O Ministério de Ganadería, Agricultura y Pesca afirma ainda que todos os atores envolvidos com as atividades florestais têm adiante um grande desafio no sentido de consolidar a evolução positiva da atividade produtiva registrada nas últimas décadas.

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