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5 ANÁLISE DOS DADOS

5.3 Resultados encontrados

Os resultados encontrados pela aplicação da fórmula estatística descrita no item Metodologia e Análise dos Dados (2ª etapa - Exploração do Material), estão apresentados na tabela a seguir.

TABELA 5

Total de Vocábulos por Categoria – na Amostra e Sub-Amostras

Sub-Amostras % Categorias Amostra % Governo Uruguaio Governo Argentino Assembléia Ambientalista Botnia Conflito 6,96 206,90 34,20 18,60 14,80 Controle 5,06 0 41,00 15,50 7,40 Diálogo 3,80 103,50 27,40 9,30 7,40 Fabril 6,96 103,50 0 18,60 46,80 Governamental 6,96 155,20 20,50 9,3 17,20 Indivíduo 5,70 51,70 20,50 21,70 9,90 Internacional 2,53 51,70 20,50 0 4,90 Jurídico 7,59 0 61,60 18,60 7,40 Matéria Prima 3,16 0 0 6,20 14,80 Meio Ambiente 1,90 103,50 6,80 6,20 2,50 Palavras Soltas 5,06 51,70 13,70 15,50 14,80 Passivo Ambiental 6,33 103,50 6,80 24,80 9,90 Processo – Tecnologia 12,03 0 13,70 31,00 56,60 Produto Final 1,90 51,70 0 0 7,40 Qualidade de Vida 5,70 51,70 13,70 15,50 14,80 Recursos Hídricos 2,53 0 20,50 12,40 0 Segurança 1,90 0 27,40 3,10 0 Unidade Territorial 13,92 206,9 123,10 77,60 34,50 TOTAL 100% 1.241,67% 451,52% 304,08% 270,91%

Percebe-se que o Governo Uruguaio é o ator que detêm as maiores freqüências nas 18 categorias. O que seria possível inferir a partir desses números? Inicialmente, quando do dado bruto, o discurso do Governo Uruguaio remetia a uma exacerbação das benesses econômico-

sociais que lograria a economia doméstica, assim como à garantia de um controle total sob a interface das atividades industriais com o meio ambiente, argumentos estes que se encaixam, respectivamente nas categorias Qualidade de Vida e Processo – Tecnologia. Após submissão do corpus à análise de conteúdo, revelou-se que os discursos originalmente proclamados, não são de fato os mais representativos. No discurso do Governo Uruguaio Qualidade de Vida representa 52% e Processo – Tecnologia não é nem ao menos mencionado; já as categorias Conflito e Unidade Territorial apresentam as maiores freqüências da sub-amostra uruguaia (207%). Isso significa que o discurso do Governo Uruguaio, na verdade é baseado em argumentos de cunho territorialista e conflituoso e não econômicos e tecnológico como se mostrava à priori.

Tirante as categorias Conflito e Unidade Territorial a categoria de maior representatividade é Governamental (155%), seguida por Meio Ambiente, Passivo Ambiental, Diálogo e Fabril (todas estas com 103%). Donde é possível inferir que a preservação da qualidade ambiental e dos recursos naturais não é o ponto central dos discursos proferidos pelo Governo Uruguaio.

No que tange aos demais atores a metodologia permite-nos afirmar que a temática ambiental não é a de maior relevância nem nos discursos individuais, nem na amostra. Pelo contrário, a categoria Meio Ambiente apresenta a menor freqüência da amostra (2%) e as menores freqüências nas sub-amostras. Não obstante este tema aparecer com grande freqüência nas citações uruguaias, há grande discrepância nas freqüências com que aparece nas falas dos demais atores.

Tal constatação permite-nos concluir que embora a questão ambiental aparente ser o pilar central da “crise das papeleiras”, a essência do conflito está ligada à dominação territorial respaldada por um discurso ecotecnológico. A acertiva é baseada nas freqüências encontradas na amostra, onde Unidade Territorial representa 14% de todas as citações feitas e a categoria Processo – Tecnologia perfaz 12% dessas citações. Juntas as categorias totalizam 26% da amostra. A categoria Meio Ambiente representa apenas 2% das citações da amostra. Recursos Hídricos 2,5% e Qualidade de Vida e Passivo Ambiental 6%, o que significa que estas 4 últimas categorias não integram a idéia central que permeia a “crise das papeleiras“.

É, ainda, importante ressaltar a existência de categorias sem representatividade no discurso do Governo Uruguaio, ou seja, são, em última instância, assuntos, palavras que não fazem parte dos argumentos apresentados pelo Governo Uruguaio, a saber: Controle, Jurídico, Matéria Prima, Processo – Tecnologia, Recursos Hídricos e Segurança.

Desde o início do conflito, o discurso do Governo Argentino apresentava duas grandes preocupações: a degradação ambiental decorrente da implantação da fábrica de celulose e questões territoriais que culminavam na exigência de relocação da fábrica. A análise feita no

corpus confirma parcialmente essa premissa. A categoria de maior freqüência nas citações argentinas é Unidade Territorial (123%) o que denota uma real congruência entre o discurso e a sua significação. No que tange à preocupação com a degradação ambiental, a análise indica que não se pode dizer que esta seja uma inquietação primordial do Governo Argentino, pois há outras categorias que apresentam maiores freqüências, como: Jurídico (62%), Controle (41%) e Conflito (34%). A categoria que melhor sintetiza aspectos ligados à degradação ambiental é chamada Passivo Ambiental e nesse caso apresenta freqüência de 7%, assim como a categoria Meio Ambiente. A categoria Qualidade de Vida (14%) compreende palavras chaves que remetem ao universo econômico, como emprego, investimento, trabalho e desenvolvimento. Desta forma conclui-se que no discurso do Governo Argentino, as questões territoriais e jurídicas são muito mais relevantes que o apelo ambiental. Ainda sobre os aspectos jurídicos, ressalta-se que foi o descumprimento do Estatuto do Rio Uruguai que levou o Governo Argentino a apelar à Corte Internacional de Haia.

Por fim, salienta-se que as categorias: Fabril, Matéria Prima e Produto Final, tiveram suas respectivas freqüências iguais a zero. Tal constatação apresenta disparidade com o discurso do Governo Argentino, pois este se mostrava apreensivo com relação à degradação ambiental decorrente da implantação da fábrica de celulose e a temática a que se referem as categorias está diretamente relacionada ao processo produtivo.

Desde o início da crise diplomática que a Assembléia Cidadã Ambientalista de Gualeguaychú tem agido de forma controversa, quando não extremista. Alarmistas, seus discursos focam nos impactos ambientais decorrentes da implantação da fábrica de celulose, em especial a poluição hídrica e atmosférica, e apóiam-se na necessidade de se preservar os recursos naturais e proporcionar qualidade de vida aos cidadãos argentinos e uruguaios.

Os resultados apresentados pela análise de conteúdo demonstram congruência com os discursos proferidos pela Assembléia. A elevada freqüência da categoria Unidade Territorial (78%) denota a relevância que a questão territorial (o surgimento do “não lugar”) tem para a Assembléia. Reitera essa constatação os inúmeros bloqueios a pontes internacionais e estradas que ligam a Argentina ao Uruguai, orquestrados pela Assembléia.

A preocupação com a ocorrência de impactos ambientais é respaldada pelas freqüências encontradas nas categorias Processo – Tecnologia (31%) e Passivo Ambiental (25%), já que ambas englobam palavras chave como mortandade, destruição, dioxinas, contaminar, emissão, efluentes, impacto, produção, dentre outras.

A menção da Assembléia que chama a atenção para a necessidade de se preservar os recursos naturais, encontra paridade nas categorias Meio Ambiente e Recursos Hídricos. No entanto, somente a categoria Recursos Hídricos (12%) apresentou freqüência condizente com o discurso deste ator. Incomum foi a baixa freqüência encontrada para a categoria Meio Ambiente (6%) diante da preocupação externada pela Assembléia.

Por sua vez, a metodologia aplicada demonstrou que a inquietude da Assembléia na promoção/manutenção da qualidade de vida dos cidadãos argentinos é condizente com os resultados encontrados no rol das categorias, a saber: Qualidade de Vida (15,5%) e Indivíduo (22%).

A inexistência de freqüência na categoria Produto Final causou estranheza, pelo fato desta categoria estar imbricada nos aspectos referentes à temática principal do discurso deste ator. Não há como falar em proteção ambiental e impactos decorrentes da implantação de uma fábrica, sem levar em consideração seu processo produtivo (este contemplado com 31%) e respectivo produto final.

A empresa Botnia manteve-se distanciada das discussões desde o primeiro sinal de divergência entre argentinos e uruguaios. Poucos e incongruentes pronunciamentos foram feitos. A análise feita na amostra da Botnia revela que a maior freqüência é atribuída à categoria Processo – Tecnologia (57%), seguida por Fabril (47%) e Unidade Territorial (34,5%). Estes dados estatísticos são condizentes com a responsável postura sócio-ambiental declarada pela empresa, onde esta enaltece os processos operacionais e de controle a serem

utilizados na planta de Fray Bentos. Outrossim os resultados encontrados reiteram um claro interesse econômico e de cunho estratégico que a empresa tem na implantação deste projeto.

A alta freqüência da categoria Unidade Territorial remete à importância que a questão territorial tem neste estudo de caso. Salvo a sub-amostra da Botnia, onde esta categoria representa a terceira maior freqüência, nas demais sub-amostras e na amostra propriamente, a categoria Unidade Territorial apresenta invariavelmente a maior freqüência.

Chama a atenção o fato da Botnia ser o ator que apresenta a menor freqüência para a categoria Meio Ambiente (2,5%) e as categorias Recursos Hídricos e Segurança não aparecem na amostra. Isso se torna ainda mais interessante por ter sido a empresa alvo de inúmeros protestos que tiveram a degradação ambiental como tema central. Esta posição levando-nos a inferir que não houve pronunciamento diante das acusações feitas pela Assembléia Ambientalista e pelo Governo Argentino, o que reitera a omissão da empresa perante a crise.

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