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8.1 – A família, o meio mais próximo na socialização do indivíduo

A unidade familiar sofre constantes alterações na sua dimensão, estrutura e actividade, à medida que cada um dos seus membros percorre o seu ciclo de vida pessoal.

Cordeiro Mário (1979) citado por Afonso, (2001:168), refere que, “o equilíbrio de relações que a criança estabelece com os pais durante a infância é fortemente sacudido durante a adolescência, na altura em que o jovem necessita autonomizar-se em relação a eles”.

Para Sampaio Daniel (2000) o jovem adolescente terá que abandonar a pouco e pouco a sua dependência face aos pais e caminhar para uma progressiva autonomia face à família. Esta alteração das relações pais e filhos é difícil para ambos, visto que os pais também terão que alterar o tipo de relacionamento que até aí estabeleciam com os seus filhos.

Assim “as relações familiares são influenciadas pelas transformações dos adolescentes, podendo, por sua vez, facilitar ou dificultar as transições por que eles passam durante esta fase” (Sprinthall Richard, 1999:351).

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As dificuldades que os pais apresentam ao lidar com os seus filhos estão muitas vezes relacionadas com a forma como decorreu a sua própria adolescência. Para Sampaio Daniel (2000:64), “o que se sabe hoje em dia, do estudo de famílias com adolescentes, é que a dificuldade é sobretudo maior

naquelas famílias cujos pais tiveram particulares dificuldades na sua adolescência. É como se os pais, ao viverem a adolescência dos seus próprios filhos, estivessem a reviver a angústia da sua própria adolescência, e portanto, como se repetem na sua relação com os filhos as dificuldades que tiveram outrora com os seus próprios pais”.

No entanto, para os adolescentes, e muitas vezes de forma inconsciente, os pais continuam a ser um modelo de adulto, indispensável na formação da sua identidade. A este respeito, Origlia e Ouillon (1974) citado por Afonso Esmeralda (2001:168), “referem que os adolescentes têm uma grande necessidade de segurança e estabilidade doméstica, de coesão entre os elementos da família, continuando a procurar no seio desta, normas de orientação, estabilidade afectiva e económica”.

A família assume um papel importante no desenrolar da adolescência, pois é no seu seio que a criança se desenvolve e o adolescente adquire a possibilidade de vivenciar os primeiros papéis sociais, que lhe vão permitir a pouco e pouco completar a sua socialização.

A adolescência gera sem dúvida grandes tensões familiares decorrentes da alteração na relação pais e filhos. Os filhos procuram tornar-se independentes, daí a inevitável mudança de relacionamento afectivo entre uns e outros. À medida que o adolescente vai atingindo a sua maturidade emocional, social e sexual, passa alguns dos seus laços afectivos íntimos, anteriormente reservados exclusivamente aos pais, para os seus amigos e namorados (as). A sexualidade é um dos aspectos fundamentais da vida do adolescente, daí que gere nele sentimentos de curiosidade, ansiedade, fantasia e medo. Todas estas emoções, bem como a posição dos que o rodeiam, influenciam de acordo com Miguel Nuno (1990) citado por Sousa Brigite, et al., (2003:36) “… a forma como cada adolescente rapaz e rapariga vive a sua sexualidade…”. Mesmo sabendo que os adolescentes conversam muito entre si, é necessário um diálogo complementar com os adultos que têm outra visão do mundo e com quem eles se relacionam de outra maneira.

Para Almeida Filomena (1996), os pais são os primeiros educadores, assim a educação sexual deve ser iniciada também ela no seio da família. Deveria ser em família que a criança se deveria aperceber das diferenças sexuais entre cada um dos seus pais e em relação a ela própria, distinguindo assim o masculino do feminino. Este é um factor importante na construção da personalidade e da sexualidade da criança. Gameiro José (1994), sustenta que alguns pais sentem dificuldades em estabelecer diálogo sobre sexualidade com os filhos adolescentes, por várias razões, não estarem preparados para transmitir a informação, não terem vivenciado uma

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adolescência positiva nesse campo, receio de se aproximarem demasiado da vida íntima dos filhos e falta de tempo para estar com eles.

Pais com filhos adolescentes, estão também eles, a reviver a sua adolescência, tornando-se complicado compreender as suas dificuldades e as dos seus filhos. No entanto alguns pais revelam preocupação em obterem material didáctico para se informarem correctamente e assim poderem ajudar os filhos respondendo a todas as perguntas (Pereira M., 1993; Marques António et al., 2000; Sampaio Daniel, 2006; Sá Eduardo, 2007).

Identificam-se, no entanto, com pessoas a quem admiram e a escolha recai normalmente, e para começar sobre um amigo. Os adolescentes julgam descobrir num amigo aqueles valores que mais admiram e que gostariam de possuir, escolhendo o amigo para projecção do seu “eu” perfeito. Descobre alguém com quem é possível trocar ideias, pensamentos, desejos, emoções, dúvidas. Emita-lhes hábitos e até tiques, perspectivas e sonhos. Acontece um pouco o mesmo, mas numa perspectiva mais distante, com os ídolos que o adolescente elege, vedetas de cinema, músicos, desportistas famosos e heróis de grandes romances. Ainda nesta linha está o namorado. Para além do carácter de ídolo, o adolescente terá ocasião de experimentar a sua capacidade de sedução e os seus sentimentos em relação ao sexo oposto. Continuando nesta linha de identificação com ídolos, temos de referir os professores. Estes, consoante as relações que mantêm com o adolescente, podem ser alvo de oposição, como os pais ou a sociedade adulta, em geral, ou podem ser alvo de identificação. A autoridade moral do professor que assume na plenitude o seu papel de educador e que demonstra um perfil de trabalho e disciplina atrai muitos adolescentes. Esta necessidade do adolescente seleccionar sucessivas identificações é fruto da necessidade que ele tem de descobrir e construir a própria identidade, que brotará de um processo de individualização e diferenciação que levará o adolescente à auto-realização (Fernandes Evaristo, 1990; Nodin Nuno, 2001; Sampaio Daniel, 2006; Sá Eduardo, 2007).

A instituição familiar tem sido substituída pela “instituição” grupo de pares, onde o adolescente passa a procurar normas de conduta e de estatuto. O grupo de pares é percepcionado como local de troca de experiências e conhecimentos, espaço de segurança ajudando-o também na procura da identidade. A forma como os pais educam os filhos mudou ao longo da história e das diferentes culturas (Gameiro José, 1994; Marques António, 2000; Sampaio Daniel, 2006; Barreto António, 2007).

Para Andrade Isabel (1996); Mathre Mary (1999); Marques António et al., (2000); Sá Eduardo (2007), os pais que exigem grande maturidade dos filhos e dão carinho e compreensão, têm

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maior probabilidade destes filhos terem um comportamento social adequado e que adiem as experiências sexuais e a gravidez. Por outro lado pais excessivamente controladores, ou negligentes são os que apresentam filhos com maior probabilidade de experiência sexual e de gravidez.

Assim uma boa educação familiar pode conduzir a uma adolescência saudável, com diminuição dos riscos para os adolescentes.

De acordo com literatura existente a transmissão de informação de pais para filhos sobre sexualidade é geralmente escassa, o que leva os adolescentes a voltarem-se para os seus pares. Segundo Vilar Duarte (1994:15), “os nossos pais marcaram, de muitas maneiras, o nosso quadro de valores, atitudes e competências na nossa vida sexual”.

Habitualmente os jovens expressam a necessidade de um maior diálogo com os pais sobre temas do âmbito da sexualidade. Por seu lado, os pais cada vez mais consideram que faz parte das suas funções conversar com os filhos sobre estes temas. No entanto, frequentemente referem que não se sentem preparados para transmitir informações correctas, ao que se soma, frequentemente, a falta de disponibilidade por questões sócio-profissionais.

Segundo Vilar Duarte (1994:16), estudos feitos de natureza quantitativa, onde se compara a intervenção dos vários agentes envolvidos no processo de aprendizagem sexual dos adolescentes, são coincidentes no “afirmar que a mãe tem um papel mais importante que o pai, sobretudo em relação às raparigas”.

O papel do pai vem crescendo de importância nos estudos mais recentes mas, apesar disso, o pai continua um personagem pouco marcante neste assunto. Outros estudos com adolescentes e pais constatam que os temas biológicos são os mais abordados; concepção, gravidez, nascimento e menstruação. Este último é o tema mais abordado entre mães e filhas.

Este é um período da vida em que o jovem tem vontade de tomar decisões sozinho, de se tornar independente e de não ser tratado como criança. O desejo crescente de autonomia e o facto de se procurar mais os amigos que os pais, para poder trocar opiniões, provocam profundas alterações no seio familiar, o que, por vezes, leva a discussões, quando se tenta fazer compreender aos pais as necessidades que o jovem tem de novas e diferentes experiências e relacionamentos. E é por estes motivos que o grupo de amigos tem um peso dominante nesta fase da vida. É muito importante discutir e compartilhar com os amigos as alegrias e tristezas, os interesses e os próprios sonhos. Os amigos estão frequentemente, na mesma situação, o que leva o jovem a confiar e partilhar com eles experiências e segredos, e assim descobre não ser o único a estar em situação problemática. A insegurança vai fazer

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parte integrante do dia-a-dia do jovem adolescente; uma vez que tão depressa necessita ser considerado como adulto, como apoiado pelos pais, quando surgem dificuldades (Aberastury Arminda et al., 1990; Andrade Isabel, 1996; Marques António, 2000; Nodin Nuno, 2001; Sampaio Daniel, 2006; Sá Eduardo, 2007).

Talvez os pais aconselhem os jovens a que, se quiserem levantar questões sobre a sexualidade e o amor, devem procurá-los, no entanto, quando o fazem, sentem-se embaraçados, o que os faz mudar de assunto, ou, pelo contrário, é o jovem que, sentindo-se pouco à vontade para falar deste assunto com os seus próprios pais, não os procura.

Mesmo com toda a liberdade com que hoje se debate o tema da sexualidade nos meios de comunicação social; televisão, rádio, revistas, jornais e no cinema, nem sempre é fácil falar da nossa própria intimidade. No entanto, é importante que o jovem tenha consciência de que faz parte integrante da sua intimidade ter um éden recôndito e falar dele ou não só com quem ele escolher (Capellá Alfredo, 2003; Sampaio Daniel, 2006; Sá Eduardo, 2007).

Entenda-se que não é necessariamente obrigatório que mesmo numa família porreira se fale de tudo; no entanto, se o jovem quer falar de sexualidade com os pais, isso é importante, pois também eles passaram pelo mesmo. Se, pelo contrário, preferem discutir o tema com o irmão, amiga ou outra qualquer pessoa, não faz sentido sentirem-se mal. Tentar encontrar novas pessoas em quem confiar, faz parte do processo de crescimento e desenvolvimento, da passagem da infância à idade adulta.

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