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Sendo a educação sexual um processo que influencia a estruturação e maturação da personalidade do indivíduo, e que está dependente da cultura em que se está inserido, limitá-la a uma realidade orgânica, esquecendo toda a sua dimensão afectiva e social é propor aos adolescentes um esquema bastante redutor, tendo pela pessoa pouca consideração. Por isso, a educação sexual deve apresentar-se como, “uma proposta de preparação para a vida pessoal, social, comunitária e particularmente familiar, que se alimenta em valores de vida, de civismo, de amor, de responsabilidade, de dignidade e de respeito humano” (Galvão, 2000 citado por Afonso Esmeralda et al., 2001:169).

As necessidades de formação tendem a centrar-se na própria vivência afectiva e sexual dos adolescentes, nas suas preocupações e dúvidas não só sobre si, mas sobre as suas relações com os outros, numa busca de identidade não só pessoal e sexual, como também na construção das suas atitudes e valores. “Embora esta educação deva ser assumida prioritariamente pelos pais, podemos observar que ainda hoje os pais funcionam pouco como informadores espontâneos ou são pouco solicitados nestas questões, apesar dos adolescentes reconhecerem que se sentem mal informados em questões sexuais” (Maia Ana, 2001:27).

Consideramos assim que a vivência familiar, a escolaridade, o convívio com os amigos e colegas, o contacto com profissionais de saúde, os meios de comunicação social, entre outros, são intervenientes na educação sexual do adolescente, contribuindo para a construção de um sistema de valores, de atitudes e de condutas no âmbito da sexualidade. No entanto, estes constituem referências que podem divergir nos saberes, nos valores e nos modelos atitudinais e comportamentais que preconizam. Esta repartição de responsabilidade na educação sexual do adolescente é essencial, até porque a maioria dos pais necessitam ainda de vencer alguns tabus e de tomar consciência da importância da sua participação para evitar futuras consequências.

Todos sofremos, de formas diferentes, a influência dos nossos pais nas diversas fases do nosso desenvolvimento. Temos a marca da nossa família no pensar, no sentir e no agir sexual. A capacidade de querer, de gostar de outra pessoa, a forma como nos sentimos como homens ou mulheres, as competências sociais, a auto-estima, a auto-imagem, sofrem as influências familiares. Como nos refere Vilar Duarte (1994) citado por Afonso Esmeralda et al., (2001:169) “os nossos pais marcaram, de muitas maneiras, o nosso quadro de valores, atitudes e competências na nossa vida sexual”.

Revisão Bibliográfica ICBAS

Segundo Afonso Esmeralda (2001:169), vários são os factores que interferem na comunicação pais e filhos no que se refere à sexualidade. De entre eles destacam-se, “os estilos educativos, ou seja,

as representações, objectivos, capacidades e formas concretas que os pais têm relativamente à educação dos filhos, que se expressam em estilos de relacionamento inter-familiar. As distintas atitudes dos pais face à sexualidade e que integram naturalmente os estilos educativos. As distintas fases do desenvolvimento físico e psicológico dos filhos”.

Os meios de comunicação (media) são hoje um importante veículo de transmissão de informação para os adolescentes. Os mass media, em especial a televisão, são sem dúvida, agentes fortemente modeladores e incentivadores do comportamento dos adolescentes. Segundo Meneses (1990); Andrade Isabel (1996); Marques António (2000); Nodin Nuno; Macpherson Ann (2001); Sampaio Daniel (2006), a leitura e a televisão constituem importantes meios de informação sobre sexualidade. No entanto esta divulgação não é a maioria das vezes adequada aos adolescentes o que leva a conceitos errados.

A influência dos colegas sobre o desenvolvimento pode mesmo superar a influência dos pais, sendo a influência dos pais menor com o decorrer dos anos, culminando com a independência em relação a estes. Esta independência é paralelamente acompanhada do estreitamento de laços com os companheiros (Myers, 1999; Nodin Nuno, 2001; Sampaio Daniel, 2006; Sá Eduardo, 2007).

“Diminuindo a dependência afectiva face aos pais, característica do período infantil, o adolescente vai alterar também a relação com os companheiros e o grupo vai revestir-se de grande importância no seu desenvolvimento emotivo” (Afonso Esmeralda et al., 2001: 65).

É no grupo que o adolescente procura novas fontes de afecto, novos modelos, novas formas de identificação. É também o grupo que lhe permite a partilha de segredos e de experiências e que lhe dá por algum tempo, a identidade social de que carece. A adesão a um grupo representa também para o adolescente maior proximidade à sociedade adulta pois esta é toda ela feita de grupos; a turma da escola, a classe social, o grupo desportivo, o clube, o partido político, etc.

O grupo de pares, apesar de muitas vezes possuir um conhecimento inadequado e impreciso sobre a sexualidade, exerce uma grande influência na aprendizagem sexual dos adolescentes. Esta relação com o grupo de pares, vai permitir ao adolescente trocar impressões, expondo os seus problemas e dúvidas no âmbito da sexualidade (Marques António et al., 2000; Sampaio Daniel, 2006; Sá Eduardo, 2007).

O grupo, apesar dos riscos que pode comportar, tem um papel muito importante “devido ao carácter acessível, informal e facilitador do alívio de tensões” (Afonso Esmeralda et al., 2001:199).

ICBAS Revisão Bibliográfica

Manuel Alberto Morais Brás

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As características dos grupos variam ao longo da adolescência. Sampaio Daniel (2000:65), distingue cinco estádios na formação do grupo de adolescentes, “grupo isolado de um só sexo. Os

grupos unissexuais participam na interacção heterossexual, dando-se os primeiros movimentos face à heterossexualidade. Os membros de estatuto mais alto dos grupos heterossexuais iniciam contactos individuais com membros do sexo oposto. Formação de grupos inteiramente heterossexuais. Desintegração do grupo como um todo e formação de díades, às vezes agrupadas”.

O grupo é habitualmente formado por adolescentes da mesma idade ou de idades aproximadas, estabelecendo-se entre os seus elementos uma contínua comparação. Em cada grupo, os adolescentes tornam-se “monotonamente iguais”. Fazer parte de um grupo cujos elementos se assemelham na maneira de vestir, comportar e agir, dá estabilidade e um sentimento de pertença a algo, o que é importante durante estes anos de transição (Sampaio Daniel, 2006; Allen Gomes, 2007).

Nesta procura de identidade e de segurança dentro do grupo, querendo igualar-se continuamente uns aos outros, a pressão sentida pelo adolescente pode ser grande, podendo gerar sensações de insegurança e até “complexos” de inferioridade.

Por tudo isto, a influência dos amigos torna-se poderosa, uma vez que representam uma fonte de afectos, de solidariedade, de compreensão, um lugar de experimentação e um ambiente para conquistar autonomia e independência dos pais. É igualmente um ambiente para formar relacionamentos íntimos que servem como “ensaio” para a intimidade adulta (Andrade Isabel, 1996; Marques António et al., 2000; Nodin Nuno, 2001; Sampaio Daniel, 2006).

Os pares desempenham por esta altura um papel fundamental nas aprendizagens, no apoio e na inserção social de rapazes e raparigas. É o grupo que serve de trampolim entre as relações familiares para sistemas de relações mais alargados e com um peso relativamente crescente (Frade Alice et al.; Andrade Isabel, 1996; Rodrigues Custódio, 1999; Marques António et al., 2000; Nodin Nuno, 2001; Sampaio Daniel, 2001 e 2006).

Só o reforço da auto-estima e a plasticidade nas relações interpessoais, vão permitir a coexistência no grupo, adoptando as suas normas internas, decisões e originalidades, mantendo no entanto a sua própria individualidade, indispensável aos ciclos da vida seguintes; fazer/não fazer, gostar/não gostar, ir/não ir (...) (Andrade Isabel; Frade Alice et al., 1996 ; Sampaio Daniel, 2006).

De entre os modelos que possuem um poder relevante, apontamos os adultos que giram em torno dos jovens através da educação ou dos tempos livres, e ainda os filmes e as suas vedetas. A literatura e os filmes pornográficos continuam a acalentar os papéis tradicionais, onde o

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homem activa, cativa e inicia a mulher que funciona como catalisadora dos apetites sexuais masculinos (Andrade Isabel, 1996; Macpherson Ann, 2001; Sampaio Daniel, 2006).

A publicidade, tem um extraordinário poder abonatório sobre estes papéis, quando faz a ligação da sedução sexual com os produtos de consumo. As formas de aliciar são diferentes. Nos produtos que se destinam aos homens, as mulheres surgem com frequência nuas ou exuberantemente vestidas, no entanto sempre particularmente provocantes, nos destinados às mulheres, os homens apresentam um excelente físico, uma profissão de topo, muito dinheiro, ou são vedetas muito famosas (Andrade Isabel, 1996; Nodin Nuno, 2001; Sampaio Daniel, 2006).

Estes estereótipos dissimulam uma realidade que nada tem a ver com as necessidades em relação com o outro sexo. Mas os jovens adolescentes, que tomam conhecimento destes estereótipos, podem contemplar os papéis que gostariam de afigurar. Pensamos ser importante encorajá-los a ser críticos, analisando em grupos mistos ou separados por sexos; a eles próprios definirem masculinidade e feminilidade, inventariarem, o que rapazes e raparigas esperam uns dos outros, confrontando e discutindo seguidamente os resultados (Marques António et al., 1999).

O profissional de saúde deve ser um facilitador que permita ao jovem adolescente aumentar a sua capacidade de decisão e de aceitação das decisões dos outros com quem priva. Tornando possível ao jovem entender e expressar sentimentos e opiniões, fazendo com que este aceite dos outros sentimentos, opiniões e decisões diferentes das suas.

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