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Quando a família perde influência sobre a identidade sexual dos indivíduos surgem grandes alterações a nível das relações com os adultos. Estas alterações são também resultado da influência que os meios de comunicação social exercem sobre os jovens. Como consequência, o crescimento dos jovens é um processo conflituoso, onde em alguns casos se deve à dificuldade que os adultos têm em compreender e tolerar determinadas atitudes e comportamentos.

Os acontecimentos referidos concomitantemente com a forma como os adultos (pais e familiares) reagem à sexualidade dos rapazes e das raparigas, grau de liberdade e autonomia, ou até a partilha de tarefas domésticas, influencia a compreensão do papel sexual masculino e feminino. Nos casos em que a resposta às alterações físicas é positiva verifica-se que estas são recebidas com menor ansiedade e de uma forma mais facilitadora e até potenciadora da auto- estima (Lourenço Maria, 1998; Bastos A., 2001; Alcobia Helena, 2003; Sampaio Daniel, 2006). Neste período etário, os amigos são extremamente importantes para a aprendizagem, apoio e inserção social dos jovens de ambos os sexos. É fundamental que o jovem reforce a auto- estima e fomente a sua posição nas relações com os outros de forma a qualificar ainda mais essas relações. As conversas, a partilha de pensamentos, sentimentos, emoções, objectivos, sonhos e aspirações, constituem experiências que os preparam para o passo seguinte, a (…) integração. O aumento da influência do grupo de pares em relação aos familiares é uma realidade. Este facto apesar de necessário e natural, pode constituir um foco gerador de conflitos entre ambas as partes (Andrade Isabel, 1996; Marques António et al., 2000; Bastos A., 2001; Sampaio Daniel, 2006 Crawford Marta et al., 2007).

Existem diferenças entre rapazes e raparigas, no que respeita à percepção da necessidade e desejo sexual. Em alguns casos os rapazes não compreendem que se encontram numa fase de afirmação, onde necessitam de se sentir queridos, amados, dando mais e maior importância ao desenvolvimento da intimidade nas relações sexuais.

As raparigas, por seu lado ficam regra geral assustadas com o desejo dos rapazes e receando não corresponder à mesma intimidade, muitas vezes demonstram não estar preparadas. Também se verificam situações, em que as jovens, com medo de serem abandonadas, se sujeitam às pretensões masculinas, muitas vezes e por falta de preparação psicológica estas raparigas ficam profundamente traumatizadas. Constatou-se que as raparigas, que se iniciaram

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sexualmente muito precocemente, cultivam ainda hoje falta de auto-estima e raiva de si mesmas, sofrem depressões profundas, insucesso escolar e até perda de vontade de viver (Bastos A., 2001; Sampaio Daniel, 2006).

A educação sexual deve, sempre que possível, ser transmitida no seio familiar. O convívio e as diferentes situações familiares devem ser aproveitadas para de uma forma natural os pais transmitirem a informação sexual ajustada a cada situação particular. Dentro do possível, e se para tanto estiverem preparados, os pais devem responder às questões dos filhos, desenfabulizando-as sem dramatizar pequenos acidentes que normalmente surgem na evolução sexual (Rodrigues J.,1989; Andrade Isabel, 1996; Marques António

et al.,

2000; Sampaio Daniel, 2006).

Os pais e, fundamentalmente, os técnicos de saúde, não devem transmitir sentimentos de vergonha, culpabilidade ou transgressão. O seu papel como educadores e profissionais de saúde é de compreensão e ensino, por forma a que o/a jovem desenvolva harmoniosamente a sua sexualidade. Neste grupo, a sexualidade deve ser transmitida na sua dupla finalidade de reprodução e gratificação. Entendemos que não é fácil dar esta perspectiva, não só porque na grande maioria dos casos os profissionais de enfermagem dos cuidados de saúde primários, não têm os conhecimentos suficientes, mas também porque a nossa cultura Judaico-Cristã condicionou a nossa visão gratificante e prazerosa da sexualidade. Alguns comportamentos podem até não estar de acordo com o nosso sistema de valores. Porém, a masturbação, os contactos bissexuais ou homossexuais com ou sem união genital e outros comportamentos sexuais são nesta etapa do ciclo vital relativamente frequentes (Kinsey et al., 1948 e 1953; Navarro Fernanda, 1985; Rodrigues J.,1989; Andrade Isabel, 1996; Grande Nuno, 1999; Marques António et al., 2000; Sampaio Daniel, 2006; Allen Gomes, 2007).

A maneira como cada jovem vive e sente a sua sexualidade depende de como os pais comunicam os seus sentimentos e atitudes em relação aos comportamentos sexuais dos filhos. Dos 15 aos 19 anos de idade, as grandes transformações biopsicológicas, em princípio já estão definidas. Doravante, a sexualidade dos jovens manifesta-se, sobretudo, pela diferenciação dos papéis e pela identificação perfeita da sexualidade. O adolescente procura uma certa autonomia de valores, sentimentos, liberdade, e mesmo contestação, no seio familiar. Os grupos de amigos consolidam-se e há uma procura nas relações afectivas. A rivalidade grupal desaparece e, daqui por diante, a afectividade heterossexual é o pólo dinamizador da sexualidade dos adolescentes. A actividade sexual dos adolescentes é uma realidade que os pais e educadores devem ter em apreço (Navarro Fernanda,1985; referido por Rodrigues J.,1989; Andrade

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Isabel, 1996; Marques António et al., 2000; Sampaio Daniel, 2006; Crawford Marta et al., 2007).

No grupo de jovens adolescentes, a educação sexual deve estar orientada para a maturação psicossexual, contracepção e planeamento familiar. Os profissionais de enfermagem dos cuidados de saúde primários, devem proporcionar um clima que favoreça o diálogo. Não deve ser tanto a sua opinião que conta, mas mais o papel que desempenham, que permite dinamizar e estabilizar as diferentes opiniões. A sexualidade de cada deverá ser avaliada em termos dos padrões dominantes da moral (Serrão Daniel & Nunes, 1998; Grande Nuno; Sampaio Daniel, 2006; Crawford Marta et al., 2007).

O realce da educação sexual deve ser colocado na igualdade dos papéis sexuais, na tolerância face ao pluralismo de orientações e condutas sexuais. É nesta atmosfera de igualdade que os sentimentos de responsabilidade e autonomia se devem fortalecer. Sendo mais provável que os adolescentes sejam sexualmente activos se os seus colegas o forem. Segundo Vilar Duarte, (1987) citada por Rodrigues J., (1989:28), “A educação sexual é necessária e mesmo indispensável neste mundo anónimo e agitado”.

Pais atentos, dialogantes e carinhosos têm tendência a ter filhos com maiores probabilidades de um comportamento social apropriado e adaptado, o que porventura os levará a adiarem as suas experiências sexuais. Pais que discutem livremente com os filhos os métodos contraceptivos e a própria sexualidade, podem influenciar positivamente o adiamento da iniciação sexual e o uso efectivo de métodos contraceptivos. Ao invés, pais que não comunicam abertamente sobre sexualidade com os filhos adolescentes, podem deixá-los em maior risco de permissividade sexual (East & Felice, 1992 referido por Lancaster Stanhope, 1999; Sampaio Daniel, 2006; Damas Manuel; Crawford Marta et al., 2007).

A adolescência é um período da vida que apresenta problemas especiais de ajustamento. Activada pelas mudanças internas e pelas pressões sociais, a criança deve evoluir no caminho da independência emocional em relação aos pais.

A educação sexual não deve cair no impulso demasiado simplista de restringir as relações afectivas e humanas ao acto sexual e este ao uso do preservativo. Se persistirmos em desligar as coisas umas das outras corremos o risco de nenhuma delas se tornar verdadeiramente eficaz (Cordeiro Mário, 1999; Sampaio Daniel, 2006; Crawford Marta et al., 2007).

A educação sexual deve ser assumida, nas suas várias vertentes, como um dos pólos de cidadania, enquadrada no conjunto das relações pessoais e interpessoais, no respeito por si próprio e pelos outros, e de uma vivência satisfatória e gratificante do corpo e do espírito, mas

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também como aquisição de informação e de conhecimentos mais adequados, no sentido de menores riscos e de uma vivência mais responsável, segura e gratificante da sexualidade. A vivência da sexualidade, do jeito que o desejamos, prende-se com a vivência da cidadania, com a segurança, com a auto-estima, com a opção por condutas menos lesivas para a saúde e promotoras da realização pessoal e social (Cordeiro Mário, 1999; Marques António et al., 2000; Sampaio Daniel, 2006; Crawford Marta et al., 2007).

Fala-se hoje cada vez mais de informação e de formação sexual. Se para alguns a base deste processo deveria ser a família, para outros a escola deve ter um papel preponderante. É importante fazer a distinção entre, educação e informação. A educação pressupõe uma formação de base, ligada à própria sociedade em que o adolescente se insere, enquanto a informação se traduz numa transmissão de conhecimentos teóricos e científicos.

Estudos efectuados, nomeadamente os de Navarro Fernanda (1985), Gir et al., (1998) consideram os adolescentes pouco informados relativamente à sexualidade.

Para muitos adolescentes o sexo é um tabu, quer pela influência familiar, quer pelos educadores, que se sentem pouco à vontade para abordar esta temática.

Na tentativa de chegar à solução do problema da responsabilidade da educação sexual dos adolescentes, surge o Decreto-lei nº 3/84 de 24 de Março que defende a criação de consultas de planeamento familiar, nos Centros de Saúde e a criação da Educação Sexual a desenvolver pelo Ministério de Educação.

O educar para além de informar inclui também o aconselhar e orientar. Enquanto a informação consiste em transmitir conhecimentos sobre determinado tema, a educação consiste em fornecer a alguém conceitos para o crescimento pessoal. A educação sexual deve integrar os aspectos somáticos, intelectuais afectivos e sociais do ser sexual, realizada segundo uma série de modalidades que valorizam a personalidade a comunidade e o amor. Na adolescência, o problema da educação sexual é realçado, pela complexidade dos processos cognitivos e afectivos que acompanham o desenvolvimento da identidade pessoal (Andrade Isabel, 1996; Gir Elucir et al., 1998; Sampaio Daniel, 2006; Crawford Marta et al., 2007)

Segundo Leitão (1990), Andrade Isabel (1996), Marques António et al., (2000), é neste momento crucial do desenvolvimento da personalidade, que a educação ganha um especial interesse. Torna-se assim importante implementar uma educação sexual, que prepare os jovens para a idade adulta. Desta forma é imprescindível implementar uma educação sexual, cujos objectivos não se limitem à transmissão de informação sobre anatomia e fisiologia da reprodução, mas abranja objectivos mais vastos.

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6.2 – A família e o seu papel na educação sexual do jovem adolescente

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