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A família substituída por outras instituições

II. Revisão da literatura

3. Da família

3.2. A família um novo paradigma

3.2.1. A família substituída por outras instituições

Cada vez mais a formação é da responsabilidade da escola e de outras organizações responsáveis pela formação dos mais jovens, clubes desportivos ou centros de ocupação de tempos livres e cada vez mais ainda o jardim-de- infância. Atualmente, verificamos que a escola e o estado desempenham

determinadas funções que, em épocas anteriores, eram da competência da família, sobretudo da denominada família extensa. Nos nossos dias surgem e proliferam estruturas de apoio às crianças e jovens capazes de satisfazer necessidades antes solucionadas pelo meio doméstico.

Assim, a família vive em muitas situações numa atitude de permanente fuga a si própria e numa incapacidade para resolver os seus problemas, principalmente os da formação e educação dos seus filhos.

Desta forma, temos vindo a assistir a uma inversão de orientações, a família cada vez ocupa menos espaço e ganha força a individualidade (Santos, 2011). Apesar de a família chamada tradicional ser ainda a dominante, principalmente no interior do país, surgem cada vez mais, diferentes tipos de organizações familiares. Atualmente, vulgarizaram-se diferentes tipos de estrutura familiar nuclear e diferentes conceções de família.

Numa meta análise acerca do coletivismo vs individualismo, em diversas culturas, Oyserman, Coon & Kemmelmeier (2002) identificam a cultura portuguesa como sendo mais coletivista do que outras culturas ocidentais.

Entre os demais fatores influentes na estrutura familiar, o divórcio é também um dos fenómenos com maior proliferação nas últimas décadas, na sociedade portuguesa, criando assim grandes desequilíbrios e instabilidade na formação dos filhos.

Nesta perspetiva, verificamos que o divórcio aumentou em Portugal e em todos os países europeus, primeiro nos do norte da Europa e no Reino Unido, depois nos países do centro e mais recentemente nos do sul da europa. Para além deste indicador, as grandes alterações também passaram pelo aumento do número de famílias monoparentais, reconstituídas, uniões de facto ou uniões homossexuais. As famílias sofrem, assim, algumas pressões sociais, naturais em todos os processos de mudança. Muito mais com alterações tão rápidas e tão grandes, principalmente a diminuição da natalidade e dos casamentos. Para Santos (2011), tais pressões dificultam a constante procura de uma identidade familiar e de uma definição segura dos papéis que representam ou desejam representar.

Desta forma, sendo as famílias mais ou menos permissivas a mudanças, mais ou menos autónomas no seu funcionamento e formas de comunicação, apresentam sempre a sua dependência em relação ao seu ambiente cultural,

social e afetivo. E esta dependência influencia, também, as expetativas dos seus elementos em relação aos papeis que representam.

Também no que se refere a dados do período 1941 até 2011, é de salientar que no período após o 25 de abril de 1974, a taxa de divórcios cresceu a uma média anual de 10,5% entre 1975 e 2000, sendo essa evolução mais dramática entre 1991 e 2001, em que se verificou um aumento muito grande de divórcios em Portugal na ordem dos 104,2% (Espada et al., 2004). 2011 pôs um travão à escalada do número de divórcios com uma ligeira queda de 6,8%, mas esta queda deriva da curva descendente que se verificou nos casamentos que caíram 8,3% no ano de 2011. Numa análise feita dos últimos 10 anos poderemos referir que o número de casamentos têm vindo a diminuir e os divórcios seguem uma tendência inversa. Verifica-se, também, uma menor institucionalização da vida conjugal o que implica desse facto uma percentagem cada vez maior de nascimentos fora do casamento (Instituto Nacional de Estatística, 2010).

As principais causas prendem-se com o facto de que as pessoas têm outro tipo de exigências em relação ao casamento e já não se casam segundo uma lógica de destino ou de terem que viver com outra pessoa para sempre. Nesta perspetiva, o que mais se perdeu foram os afetos e a cada vez mais independência e autossustentabilidade da mulher, para além destes fatores, as leis mudaram e deixaram de constituir entrave ao divórcio, a legislação acompanhou as transformações sociais.

Para além do divórcio, as situações de viuvez e nascimentos fora do casamento, também, podem proporcionar a ocorrência de monoparentalidade ou famílias reconstruidas, o controlo da natalidade e o atraso crescente na idade média do primeiro casamento. Segundo os dados do Instituto Nacional Estatística (dados de 2010) foram celebrados 16 738 casamentos religiosos (- 4,6% do que no ano 2009) e 23 255 só civis (+1,8%1 do que no ano 2009). A idade média ao casamento continuou a aumentar, situando-se em 34,1 anos para os homens e em 31,6 anos para as mulheres. No ano anterior estes valores eram, respetivamente, 33,4 e 30,8 anos.

Foram decretados 27 556 divórcios respeitantes a casais residentes em território nacional, o que representa um crescimento de 5,3% face ao ano anterior. Esta situação motivou uma ligeira subida da taxa bruta de divórcio, a qual passou de 2,5‰, no ano anterior, para 2,6‰ em 2010. Em termos evolutivos

(de 2004 a 2010) (i) o número de casamentos celebrados entre pessoas do sexo oposto diminuiu 19,2%; (ii) a idade média do casamento passou, neste período, de 30,9 para 34,1 anos, no caso dos homens, e de 28,5 para 31,6 anos, no caso das mulheres; (iii) a taxa bruta de divórcio passou de 2,2 divórcios por mil habitantes, em 2004, para 2,6 em 2010 (a edição 2010 dos Indicadores Sociais está disponível, em PDF, no portal do Instituto Nacional de Estatística). Esta publicação resulta de uma compilação de dados estatísticos referentes às principais variáveis e indicadores que permitem traçar um retrato social da população residente em Portugal, bem como propiciar uma leitura dos desenvolvimentos ocorridos neste domínio, nos últimos anos.

No que se refere à dimensão das famílias (Instituto Nacional Estatística, Censos 2011) a dimensão média das famílias em 2011 é de 2,6, enquanto que em 2001 era de 2,8. No centro do país esse valor é de 2,53 e em 2001 era de 2,7. Verifica-se que as famílias mais numerosas têm vindo a perder expressão ao longo da última década. Em 2011, as famílias com 5 ou mais pessoas representavam 6,5% enquanto que em 2001 esse valor era de 9,5% e em 1991 era de 15,4%. Em contrapartida, aumentou a importância das famílias de menor dimensão, com uma e duas pessoas, cuja representação é em 2011 de respetivamente, 21,4% e 31,6% De referir, ainda, que em 2011, o número de nascimentos bateu um novo mínimo absoluto, inferior a 97.000, mais de 60.000 nascimentos abaixo do necessário para que haja renovação de gerações, pelo que Portugal continua, a uma velocidade cada vez mais elevada, a caminho do definhamento, pois o decréscimo da população infanto-juvenil desequilibra a evolução estruturada de um país.

Estas situações podem ser danosas e problemáticas para o equilíbrio familiar que se pretende na formação equilibrada dos filhos. Será ainda mais preocupante se a mãe possuir um nível socioeconómico baixo ou caso a maternidade fora da ocorrência do casamento seja em termos etários muito precoce, adolescente ou muito jovem (Espada et al., 2004).

Para além dos fatores referidos, o isolamento cada vez mais acentuado das populações rurais do interior do país tem, também, contribuído para inúmeras modificações demográficas e sociais. Assim as populações recorrem à emigração e imigração para o litoral e estrangeiro, com o objetivo de procurar novas vidas e novos destinos para poderem viver condignamente. Daí que os

centros urbanos de Lisboa e Porto tenham sido os destinos mais procurados, e no estrangeiro, países como a França, o Luxemburgo e a Suíça foram e são países que mais imigrantes recebem (Almeida, 2005). Desta forma, o interior do país tem ficado progressivamente despovoado e envelhecido.

A realidade social predominante na zona da área geográfica de que nos ocupamos no nosso estudo permitiu constatar a importância e o peso económico e sociológico da agricultura a tempo parcial. Verifica-se, de facto, uma diminuição acentuada do número de famílias que vivem exclusivamente da agricultura. Este decréscimo é, geralmente, atribuído, pelas próprias populações locais, à atual falta de rentabilidade económica das atividades agrícolas tradicionalmente praticadas na região.

3.2.2. Família e a escola (transformações demográficas e