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Projeto Educativo de Escola (PEE)

II. Revisão da literatura

4. Da Escola educação em sentido amplo

4.4. Projeto Educativo de Escola (PEE)

O PEE encontra-se ligado a cinco conceitos fundamentais: autonomia, democraticidade, gestão participada, eficiência e responsabilização. Assim, o Decreto-Lei nº 43/89 refere que a autonomia da escola concretiza-se na elaboração de um projeto educativo próprio, constituído e executado de forma participada, dentro dos princípios de responsabilização dos vários intervenientes na vida escolar e de adequação às características e recursos da escola e às solicitações da comunidade escolar em que se insere.

Desta forma, o PEE é o instrumento encontrado para levar cada escola a harmonizar as suas ações internas e a aumentar a sua visibilidade, promovendo a intervenção direta e indireta de todos os agentes educativos, é assim, um documento orientador da ação da escola onde se estabelecem objetivos a atingir e estratégias a seguir (Barroso, 2009; 1992).

Uma vez que educar implica sempre um objetivo a atingir, cada professor deverá munir-se de um projeto adequado às questões que a vida coloca e para as quais possua um conjunto de ideias claras e concisas na procura das respostas (Not, 1991).

A complexidade da escola de hoje tem a ver com a complexidade do mundo atual. Não é possível ter uma visão restrita da escola como um espaço exclusivo de aulas que devem ser dadas e lições que devem ser aprendidas. Espera-se que a escola seja, neste tempo presente, um espaço de construção de uma moralidade mais abrangente, que leve à conscientização de que as normas, valores e crenças são sempre contextualizadas num determinado tempo, espaço e culturas. A escola não pode, assim, fugir do seu tempo, traindo a dialética evolutiva da História que sintetiza o passado e o presente criando o futuro (Formosinho, 2002). Em relação às questões de presente e futuro, do aluno que temos ao que queremos, colocá-las-emos como questões filosófico- pedagógicas: o que é o Homem; que Homem é que há em cada aluno; quem são os alunos, que potencialidades e aptidões possuem; qual a sua natureza e que traços culturais transportam – questões filosóficas – que aluno; que tipo de Homem vai ser; com que atitudes, valores, hábitos, capacidades e habilidades. Pessoas dotadas de uma identidade reconhecidamente crítica e livre, com capacidade de opção e decisão, capacidade de assumir posições perante a vida e as situações em que ela nos coloca diariamente. Desta forma, entende-se a intervenção educativa, como ação capaz de promover e potencializar o desenvolvimento dos alunos, necessário para conseguir adquirir a estatura humana em toda a sua plenitude, trata-se, essencialmente, de ser e tornar-se mais plenamente humano dentro de determinados contextos socioculturais, em vez de, simplesmente, adquirir conhecimentos e competências (Kickbusch, 2012) – questões pedagógicas.

Este caminho do presente ao futuro coloca, ainda, outras questões: como se processa a aprendizagem, o sucesso e o desenvolvimento; como fazer para se alcançar o tipo de Homem que preconizamos; que aprendizagens serão significativas – questões teóricas – e a forma como vão ser concebidas e realizadas tais aprendizagens, num quadro reflexivo e crítico, no sentido formativo dos termos, configuradas em cinco vertentes: o quê, a quem, como, quando e com que resultados – questões didáticas (Medeiros, 2006; Pardo, 2005; Guerra, 2003; Patrício, 1997; Savater, 1997; Patrício, 1993).

Num ambiente de aprendizagem flexível e capaz de ir ao encontro de uma ampla gama de diferenças individuais, devendo incorporar também vários meios

e formas de avaliação, por forma a satisfazer as várias necessidades e interesses das crianças e dos jovens (Kickbusch, 2012; Hinton & Fischer, 2010).

Analisando estas questões, percebemos que a educação tem como essência promover o desenvolvimento humano, contribuindo, assim, como refere Boaventura Sousa Santos (1997) para a promoção dos direitos humanos, orientado pela preocupação de enriquecimento pessoal e do grupo, proporcionando-lhes vivências, experiências, afirmação, reconhecimento, alegria e satisfação na ação, no esforço pelo cumprimento das tarefas fundamentais para esse enriquecimento e desenvolvimento (Bento, 1995).

Com base constitutiva da formação humana, a educação torna-se um projecto antropológico, pois preconiza a transferência a todas as pessoas, de tudo quanto houver de conteúdos, em todos os momentos, ou seja, sempre e de todas as maneiras possíveis (Bento, 1999).

Assim, a diversidade é uma característica cada vez mais visível das sociedades atuais. Por isso, já não é defensável a ideia da possibilidade de existir um currículo uniforme que se ajuste a todo o espaço nacional e a todas as crianças e jovens (Leite, 2003). Assim, cada vez mais tem sido sustentada a ideia da necessidade de adequar o currículo nacional às realidades locais, o que poderá ser concretizado pelo projeto curricular da escola.

Neste sentido, o Despacho Normativo nº 13A/2012, de 05 de Junho, define os parâmetros gerais relativos à organização do ano escolar, os quais serão desenvolvidos por cada escola e por cada agrupamento de escolas, no âmbito dos respetivos projetos educativos e planos anuais de atividades. Com o objetivo estratégico para o desenvolvimento do sistema educativo, assegurando uma maior flexibilidade dos princípios e das normas definidas a nível nacional, de modo a que possam contemplar a diversidade de situações que caracterizam a rede educativa e as dinâmicas próprias de cada escola valorizando a sua própria identidade, bem como os contextos geográficos e sociais em que se inserem.

Especial relevância assume, neste domínio, o regime de autonomia, administração e gestão das escolas que já tinha sido aprovado pelo Decreto-Lei nº 115-A/98, de 4 de Maio, que expressamente assumiu a escola como centro da ação educativa. Procura-se favorecer práticas de gestão do tempo escolar de modo flexível, em função dos contextos socioeducativos, no sentido de facilitar

uma maior harmonização do desenvolvimento das atividades escolares, de promover o sucesso educativo e de criar condições para melhorar a qualidade das aprendizagens dos alunos.

Assim, o PEE para todos, e com todos implica repensar a organização escolar e a integração num projeto local de educação (Leite, 2003).

A qualidade na educação passa pela construção de planos de ação e pelas vivências de intervenções que permitam o cumprimento do princípio de uma escola para todos e com todos, e onde todos se sintam bem, se sintam reconhecidos e predispostos a reconhecer e conhecer outros e outros saberes. Uma escola em que todos tenham a oportunidade de desenvolver competências várias e uma formação global.

Esta formação é, segundo Leite (2003), um ato que implica um forte envolvimento pessoal e uma apropriação do comando das situações, para que cada criança e jovem, na escola, aprenda a ser e a tornar-se e a permitir uma leitura crítica das situações da vida e do mundo.

Neste sentido, surgem os novos projetos escolares, com perspetivas mais globais e abrangentes. O termo projeto começou a ser utilizado em referência à atuação educativa da organização escolar através da designação do PEE.

É interessante pensar que, na construção de uma escola, deve estar tudo previsto num projeto, desde a primeira ideia de como deverá ser uma escola nos dias de hoje, que metas deverá alcançar com o intuito de ter qualidade, que recursos devem ser utilizados, com que pessoas e organismos pode contar, para quem é feita a escola, o que e como se deve organizar para funcionar em pleno e o que deve ser considerado para se realizar uma avaliação correta (Suárez, 1999).

Desta forma, o PEE é um documento de carácter pedagógico que, elaborado com a participação da comunidade educativa, estabelece a identidade própria de cada escola através da adequação do quadro legal em vigor à sua situação concreta, apresenta o modelo geral de organização e os objetivos pretendidos pela instituição e, enquanto instrumento de gestão, é ponto de referência orientador na coerência e unidade da ação educativa (Costa, 1992).

O PEE, enquanto expressão do exercício de autonomia da comunidade educativa, pressupõe a conceção e implantação de um Sistema Educativo assente nos princípios de participação e de descentralização. Desta forma, os

seus objetivos são: (i) reduzir a estandardização dos estabelecimentos de ensino não superior, criando uma identidade própria a cada escola e garantindo o preenchimento do seu espaço de autonomia; (ii) abrir a escola à comunidade através da participação (implicação e responsabilização) dos vários intervenientes do processo educacional nas macro decisões da escola. A este nível, a implantação do PEE pode constituir um momento importante de formação e de desenvolvimento comunitário; (iii) contribuir para a qualificação do ensino e eficácia escolar, já que se trata de um instrumento que procura dar coerência e unidade ao processo educativo através da orientação e vinculação das atividades e procedimentos escolares a um conjunto de princípios e objetivos comunitariamente definidos (Barroso, 2009; Costa, 1992).

A partir destes pressupostos, podemos definir a nova escola elementar, construída sobre a revalorização dos conteúdos da aprendizagem e das técnicas de ensino-aprendizagem. Foi tal o estado a que se chegou relativamente aos conteúdos que, para muitos, pouco importava o que se estudava desde que, isso sim, fosse feito de maneira criativa, livre e agradável para os alunos. Pouco importava, também, a preparação prévia do professor porque o importante parecia ser o desempenho da sua atividade. Hoje em dia, os estudantes passaram a sujeitos ávidos de conhecimentos, conhecimentos que adquirem um grande ritmo e quase sempre em espaços extraescolares (segundo informação da UNESCO, mais de 80% do que aprendem fazem-no fora da escola) (Zabalza, 2003).

Neste sentido, as escolas ao criarem os seus PEE pretendem autonomizar-se, enquadrar-se e elaborar protocolos com instituições locais, regionais ou mesmo nacionais, alargando as pretensões dos seus alunos, que perspetivam a procura de mais conhecimento e maior intervenção social.