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II. Revisão da literatura

4. Da Escola educação em sentido amplo

4.3. Clubes na escola

4.3.1. Clubes de Desporto Escolar

A escola pode e deve incorporar a prática desportiva, em atividades curriculares, pois esta prática constitui, de facto, um vetor fundamental de

educação (Constantino, 1998). O desporto na escola poderá, assim, constituir-se uma excelente oportunidade para ampliação das possibilidades de aplicação dos conhecimentos aprendidos. O desporto da escola e o desporto na escola têm amplas possibilidades de se complementarem e todos serão beneficiados com isso: o aluno, a escola, o desporto e a sociedade em geral (Tani et al., 2012).

O desporto é, assim, uma pedagogia do esforço, da ação e da vontade, tão necessária para reabilitar a escola e ajudar esta a cumprir a sua missão central; para que nela se faça o que se quer, mas se queira e deseje aquilo que se faz (Bento, 2011).

Neste sentido, o desporto escolar pode projetar-se num elemento importante para a transformação da própria escola, tornando-a mais ativa, mais viva, mais solidária e mais democrática (Mota, 2003).

Entende-se, assim, por desporto escolar o conjunto das práticas lúdico-desportivas e de formação desportiva quando desenvolvidas como complemento curricular e ocupação dos tempos livres dos alunos, num regime de participação voluntário, integrados no plano de atividades da unidade orgânica e coordenadas no âmbito do sistema educativo em articulação com o sistema desportivo (Artigo 51º da Lei de Bases do Sistema Educativo, 2005). É um espaço da vida escolar em que são criadas oportunidades para a ação orientada e organizada, para atividades autónomas e espontâneas, para competições intra e inter escolas e fomento de desenvolvimento de talentos (Bento, 1989b).

O desporto escolar visa, assim, especificamente, a promoção da saúde e condição física, a aquisição de hábitos e condutas motoras e o entendimento do desporto como fator de cultura, estimulando sentimentos de solidariedade, cooperação, autonomia e criatividade, devendo ser fomentada a sua gestão pelos estudantes praticantes, salvaguardando-se a orientação por profissionais qualificados (Artigo 51º da Lei de Bases do Sistema Educativo, 2005).

Pensamos que existe um consenso considerável em torno de três grandes objetivos do desporto escolar: (i) constituir mais uma forma de educação integral que promova a vários níveis a preparação para a vida (Bom, 2002; Gonçalves, 2002; Pires, 1996; Branco, 1994; Coelho, 1989; Constantino, 1988; Mota, 1984); (ii) contribuir para um estilo de vida saudável (Bento, 2006;

Sardinha, 2003; Gonçalves, 2002; Pires, 1996); (iii) formação desportiva (Mota, 2003; Bom, 2002; Gonçalves, 2002; Monteiro, 2001; Pires, 1996; Coelho,1989).

A entidade que tutela o desporto escolar em Portugal refere que prática desportiva nas escolas constitui um instrumento de grande relevo e utilidade no combate ao insucesso escolar e de melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem. Complementarmente, o desporto escolar promove estilos de vida saudáveis que contribuem para a formação equilibrada dos alunos e permitem o desenvolvimento da prática desportiva em Portugal (DGIDC- Gabinete Coordenador do Desporto Escolar, 2008).

Assim, a escola deve institucionalizar práticas desportivas diversificadas, a partir das quais crianças e jovens possam refletir sobre a possibilidade de maximizar as suas potencialidades, materializando-as em capacidades concretas expressas pela prática desportiva que pode operacionalizar o desenvolvimento de carácter e o desenvolvimento de situações relacionadas com o aperfeiçoamento pessoal, com vista a uma procura de excelência, de autossuperação, de educação em valores, de educação para a competição, para a fruição, para a compreensão mútua e para a solidariedade (Rosado, 1998).

Esta convicção é reforçada por Bento (1992) ao afirmar que por um lado, sem motivação para o rendimento, sem vontade e disponibilidade para render e sem educação para o rendimento não se podem resolver problemas de afirmação pessoal; por outro lado, quando este é procurado livremente e é, voluntariamente obtido, constitui também fonte de bem-estar e de satisfação, o que irá provocar efeitos formativos. Isto porque à pluralidade de toda a práxis humana pertence a essência da performance. Tudo isto não retira a criatividade, mas organiza-a, dando expressão à competência.

Assim, o desporto escolar pode constituir-se como um processo iminentemente educativo e pedagógico, sendo a escola o centro do desenvolvimento da prática desportiva educativa. Este, ao apresentar-se como uma atividade abrangente para todos os alunos, independentemente das suas capacidades, não permite qualquer motivo de exclusão ou segregação, nem se orienta por critérios de seleção. Sendo o desporto um direito constitucional, todos devem ter condições de acesso e de prática real e sistemática, às modalidades da sua preferência (Mota, 2003).

Para tal, devem criar-se condições de acesso generalizado a todas as crianças e jovens que pretendam praticar desporto, garantindo-lhes uma verdadeira formação desportiva (Bento, 1989a).

A escola ao promover o desporto escolar deve fomentá-lo como um espaço alargado de interdisciplinaridade, um instrumento pedagógico, um fator de progresso e de futuro. Desta forma, este desporto constitui-se como uma atividade, que assenta na adesão voluntária dos alunos que o pretendem integrar, representando uma dimensão cultural da escola, de modo que a sua prática deve fazer um enquadramento das condições, dos conteúdos, dos valores educativos e socialmente legitimados (Bento, 1995).

Esta é uma perspetiva que vai ao encontro das ideias de Augusto Santos Silva (2002), quando afirma que o tempo livre deve e pode ser apelidado de tempo de lazer, ou de cultura, ou de socialização, dependendo das atividades praticadas ao longo do espaço de tempo que na escola se designam de extracurriculares. Porque, ao contrário do que muitas vezes lemos ou ouvimos, a prática desportiva não se resume a corridas, lutas ou qualquer outro tipo de atividade; desporto é, tem de ser, o sentido cultural que se coloca em corridas, em saltos, em arremessos ou em lutas (Garcia, 2002b).

Provavelmente, será este o significado de maior alcance, ao nível do desporto escolar, como meio privilegiado para a educação da ocupação dos tempos livres, porque a visão daquilo que é o tempo livre depende muito dos grupos etários, mais do que das diferenças entre sexos, sendo de facto, a este nível, o grupo etário a principal variável independente (Silva, 2002).

Verificamos, assim, que as atividades curriculares devem ser complementadas por ações orientadas para a formação integral e a realização pessoal dos educandos no sentido da utilização criativa e formativa dos tempos livres.

Neste sentido, o Artigo 51º da Lei de Bases do Sistema Educativo (2005); Mota (2003); Marivoet (1998) referem que o desporto escolar é um processo unitário, representado por um processo global, assente em três vertentes da ação pedagógica e educativa: (i) a vertente da atividade curricular da educação física, com uma participação de carácter obrigatório, dirigida a todos os jovens e orientada por um programa anual a que a escola deve dar cumprimento; (ii) a vertente da atividade de extensão curricular, com uma participação de carácter

misto, de certo modo dirigida a todos os alunos e incluída e prevista no programa anual, numa perspetiva dos pontos altos dos vários ciclos de atividades que serão os períodos escolares; (iii) a vertente da atividade no tempo livre, com uma participação de carácter voluntário, orientada e organizada em dois níveis de prática – uma programada e enquadrada, outra espontânea.

Através destas atividades, as crianças e os jovens podem desenvolver diversas habilidades pessoais e sociais, fomentando o interesse pelas atividades de ar livre e consciência ambiental, contribuindo, ao mesmo tempo, para o incremento das habilidades desportivo-motoras, como parte integrante do desenvolvimento físico da criança e do jovem (Corbin, 1991).

O desporto escolar deverá constituir-se, assim, como prática desportiva personalizada, promovendo o direito à individualidade (Marques, 1997; Pires, 1991).

Contudo, o desporto escolar para assumir claramente o seu carácter formativo tem de ser, também, um processo associativo, onde a iniciativa e a responsabilidade gradual e progressiva na organização dessas atividades deve ser dinamizada e valorizada. A participação cada vez mais alargada das crianças e jovens nas mais diversas tarefas e funções da prática desportiva na escola, desde praticante, dirigente, árbitro, animador, treinador, até à responsabilidade pela organização, orientação e gestão das próprias atividades do desporto escolar é não só um fator desejável, como determinante na formação global das crianças e dos jovens (Mota, 1997; Sobral, 1991).

Neste sentido, a escola tem um papel importante no desenvolvimento desportivo, porque proporciona um acolhimento grande a crianças e jovens, dando-lhes oportunidade de prática, mas também forma as crianças e jovens para a ocupação dos seus tempos diversificados ao longo da vida, porque forma a pessoa ao nível corporal, físico e cultural, uma vez que é uma atividade multidisciplinar, ajustada ao perfil de personalidade e às características de cada aluno num ambiente associativo.

Desta forma, podemos afirmar que o desporto escolar pode resultar numa oferta atraente à cultura do tempo livre, sendo a sua estrutura original de valores, que em primeiro lugar se caracteriza pelo treino e pela competição, invadida, progressivamente, por outros valores que se reportam a comportamentos hedonistas (Bento, 1995).

Segundo Sarmento et al. (2012) cerca de 1 milhão e 300 mil jovens encontram-se inscritos nas escolas básicas e secundárias portuguesas. Entre os anos letivos de 2001/02 e 2009/10 a percentagem de alunos envolvidos nas atividades de desporto escolar variou entre os (8,4%) e os 13,7%, o que demonstra, segundo o estudo, que ainda há muito para fazer para uma implementação efetiva destas atividades desportivas em ambiente escolar, em Portugal.

O mesmo autor refere que o número de alunos que participam em atividades de desporto escolar em Portugal têm rondado, nos últimos anos letivos, os 14.000 alunos, sentindo-se, também aqui, um crescimento de cerca de mil alunos por ano letivo entre 2007/08 e 2009/10.

No que diz respeito ao género dos alunos envolvidos nas atividades de desporto escolar, e apesar da situação não ser tão positiva, nota-se um ligeiro progresso quanto à participação feminina nas atividades promovidas pelas diversas escolas.