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A feição empreendedora do trabalho docente no contexto da Política Nacional de

Partindo-se do princípio de que a Política Nacional de Valorização do Magistério da educação básica do Governo Federal está fundamentada no Plano de Desenvolvimento da Educação, faz-se necessário analisar este documento a partir do contexto em que ele foi elaborado, apresentado e implementado, para se compreender não o que está explícito nele, mas o ideário com que foi forjada a sua elaboração e, posteriormente, a sua execução.

Conforme dito popular: “o novo convive com o velho”. Isso significa dizer que as metas contidas no PDE trazem consigo vestígios das proposições presentes no documento intitulado “A UNESCO e a educação na América Latina e Caribe: 1987-1997” (UNESCO, 1998).

Desta forma, retornar-se- á a este documento, trazendo duas questões importantes para a análise que se propõe a fazer. A primeira questão - o ideário que perpassa o documento

afirmando a importância da educação aliada ao desenvolvimento sustentável, proposto para a América Latina e Caribe, em específico o Brasil, a partir da década de 1990. A segunda - as linhas de ação política, denominadas de articulações, em número de oito. São elas: articular a educação às estratégias sociais de desenvolvimento; fortalecer a dimensão democrática; articular alianças na educação; modernizar o Estado; reorientar o currículo da educação básica; avançar nas concepções de alfabetização e educação de adultos; dinamizar o sistema educacional fortalecendo a função docente e a sua responsabilização pelas necessidades básicas de aprendizagem de seus alunos; diversificar as fontes de financiamento.

Este documento é o resultado do trabalho articulado entre a UNESCO, intelectuais228 e governos, objetivando elaborar princípios, diretrizes e ações para o desenvolvimento humano frente às mudanças econômicas e tecnológicas no limiar do século XXI.

Nele, a UNESCO afirma que a “Educação é a chave para o desenvolvimento” (1998, p. 11) e um fator decisivo para o desenvolvimento sustentável. Este posicionamento é reafirmado ao anunciar que os anos entre 2005 a 2014 seria o decênio da educação para o desenvolvimento sustentável (UNESCO, 2006).

Apresentando o documento da UNESCO, Federico Mayor229 defende que a educação “pode transformar-se em um eixo dinamizador do triângulo interativo conformado pela paz, pelo desenvolvimento e pela democracia” (MAYOR, 1998, p. 7). Este seu posicionamento está calcado nos quatro pilares da educação, em que acrescenta o quinto pilar – aprender a empreender; fundamentando o ideal de educação que permeará todo o documento em tela.

Para Mayor empreender é um compromisso político e ético que deveria ser assumido por todos aqueles que chegaram ao ensino superior e se formaram, independente da sua área de atuação (incluem-se as licenciaturas). Mayor também deixa claro o valor econômico do conhecimento quando afirma:

[…] o mundo do futuro exigirá cada vez mais dos graduados universitários a capacidade de gerar empregos e riqueza, retribuindo, assim, à sociedade que lhes proporcionou educação e lhes permitiu acesso aos postos que ocupam

228Compreender a atuação desses profissionais, think-tanks, permite verificar como as informações e as tecnologias, por eles operacionalizadas, dão subsídios tanto para governos quanto para organizações internacionais e nacionais mapearem os setores econômicos, educacionais, políticos etc, permitindo elaborar políticas, parâmetros, diretrizes para grupos específicos ou populações. Exemplos no Brasil: IPEA, IBGE. 229Federico Mayor também foi responsável pela elaboração do documento “Políticas de mudança e

desenvolvimento no ensino superior” (UNESCO, 1999). Nele desenvolve a ideia da universidade pró-ativa, ou seja, a universidade deve promover atitudes pró-ativa em seus alunos frente aos desafios do mercado de trabalho e prepará-los para o empreendedorismo, assim, bem sucedidos, podem criar novos empregos.

porque […] o risco sem conhecimento é perigoso, mas o conhecimento sem risco é inútil (MAYOR, 1998, p. 6).

Importante destacar que, no documento da UNESCO (1998), o conceito de “sociedade educadora” incorpora o aprender a aprender e, desta forma, os quatro pilares da educação passam a ser denominados de “quatro pilares da aprendizagem [que] abrem ao educando as três dimensões da educação: ética e cultural; a científica e tecnológica e a econômica e social, que lhe tornarão cidadão consciente e responsável do século XXI.” (UNESCO, 1998, p. 15). Além dessas três dimensões, ainda é reforçada a necessidade de se educar para o pluralismo e para a criatividade, diante da diversidade cultural e da promoção da paz.

Isso significa que, para a UNESCO, frente às transformações da atualidade, em todos os sentidos, há a necessidade de se educar para a criatividade, no intuito de adaptar os indivíduos às mudanças e ao desenvolvimento da paz e da democracia. Como afirma:

[…] em um contexto cultural em que cada dia mais as certezas são substituídas pelas dúvidas e questionamentos, o culto à criatividade humana surge como um instrumento privilegiado de adaptação às mudanças e transformações da realidade. Urge então a necessidade de educar para a criatividade, o que supõe importantes mudanças nas formas de ensinar aprender (UNESCO, 1998, p. 16).

Em síntese, pode-se afirmar que o ideal de educação, para a UNESCO, no contexto da sociedade educadora, consiste em aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos, aprender a ser, aprender a empreender que, implicitamente, incorpora o aprender a ser criativo.

Para que este ideal de educação seja implementado rumo ao desenvolvimento sustentável, a UNESCO considera que a gestão é a pedra de toque para tal fim.

A nova gestão, como na época do documento foi definida, hoje já não é mais tão nova. O estilo dessa gestão se afina com aquela proposta por Bresser-Pereira (1997, 2010) a gestão da administração pública, NGP, e defendida por setores empresariais, ou seja, a gestão por resultados, ao que Ball irá denominar de “cultura da performatividade competitiva que envolve uma combinação de descentralização, alvos e incentivos para produzir novos perfis institucionais […]” (BALL, 2004, p.1.107).

Nesse sentido, orienta o documento da UNESCO:

Modificar os estilos de gestão de modo que contemplem uma maior parcela de responsabilidade pelos resultados. Revisão profunda das estruturas e