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O empreendedorismo no contexto da Política Econômica do Governo Federal na década

A inovação, com seu discurso e práticas, percorre todos os campos, seja o tecnológico, o econômico, o político, o educacional, dentre outros. Inovar se tornou uma palavra quase “mágica”, tanto para o Governo Federal quanto para o empresariado, inclusive para alguns setores da educação. A ideia que se tem é que tudo precisa passar pela inovação, “estamos em outros tempos”.

A busca pela inovação tem seu sentido se for considerado o papel atual do Estado, conforme as contribuições dos autores na seção anterior, dentro dos princípios do Estado pós- fordista, ou Schumpeteriano. Nesse sentido, o investimento no empreendedorismo e na cultura empreendedora tem sido uma saída.

No setor governamental, isso se torna visível em notícias divulgadas como, por exemplo, “Ministro de Assuntos Estratégicos debate empreendedorismo”. Desta matéria divulgada, se destacam “o empreendedorismo é um motor fundamental para o crescimento econômico e a criação de empregos. O sucesso do empreendedor, por sua vez, depende de capacidades individuais, como a inovação e gestão eficiente, e um ambiente econômico- institucional favorável” (INOVAÇÃO, 2014, p. 1).

Na mensagem presidencial, apresentando a proposta do Plano Plurianual de 2008- 2011, o presidente chama a atenção para a importância da educação e do talento individual como um dos fatores para alavancar a economia do país de forma competitiva, como se lê:

O Plano Plurianual (PPA) 2008-2011 que aqui apresento ao Congresso Nacional e à sociedade brasileira responde ao desafio de acelerar o crescimento econômico, promover a inclusão social e reduzir as desigualdades sociais. […] O PPA 2008-2011 organiza as ações do Governo em três eixos: crescimento econômico, agenda social e educação de qualidade. […] O Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) é elemento essencial dessa estratégia. Com o PDE, pretendemos construir o início de um novo tempo, capaz de assegurar a primazia do talento sobre a origem social e a prevalência do mérito sobre a riqueza familiar. [...] É assim que o governo pretende, em articulação com os entes federativos e a sociedade, construir o

Brasil, ampliando e reforçando a nossa infraestrutura, melhorando significativamente a qualidade da educação, consolidando o desenvolvimento sustentável com a inclusão social (MENSAGEM nº 650, 2007, p. 1- 2).

A mensagem presidencial, ao enfatizar os três eixos217, sobre os quais se sustentarão as ações e os programas do Governo Federal para elevar o país a um patamar competitivo, internacionalmente deixa clara a importância que a educação tem como fator econômico.

Nesse sentido, a educação de qualidade é determinante para a inclusão social e o desenvolvimento sustentável do país, mas aponta, ao mesmo tempo, para o ideário liberal da teoria do capital humano, sendo significativos os termos utilizados na mensagem presidencial, como “a primazia do talento” e “a prevalência do mérito sobre a riqueza familiar”, assim a riqueza do indivíduo está no seu conhecimento, seu capital é o conhecimento.

É possível aproximar a análise que Frigotto (1984) faz sobre a teoria do capital humano à proposta governamental em torno do PDE. Ou seja, para o Governo Federal o investimento que é feito na educação, mediante o PDE, é uma forma de assegurar ao trabalhador o acesso individual a uma educação de qualidade; educação essa que o torna um proprietário de seu conhecimento, mediante “a primazia do [seu] talento” e a “prevalência do [seu] mérito”.

Como afirma Frigotto:

É exatamente na fase mais aguda da internacionalização da economia brasileira […] que a tese do capital humano passa a ser utilizada de forma insistente. […] A educação passa a ser evocada como um instrumento de modernização […]. Do ponto de vista da desigualdade social, a teoria […] vai […] justificar o processo de concentração do capital mediante o desenvolvimento da crença de que há dupla forma de ser ‘proprietário’ proprietário dos meios e instrumentos de produção ou proprietário do ‘capital humano’ (FRIGOTTO, 1984, p. 128-129, grifo do autor).

Quanto ao mérito individual presente no capital humano, Frigotto (1984) chama a atenção para a ideologia que está por trás disso. Seria uma forma de se amenizar a luta de classes, de camuflar que existam na sociedade dois níveis, aqueles poucos que são proprietários e a multidão dos não proprietários. O deslocamento dessa realidade passa a ser a

217São os treis eixos: crescimento econômico mediante o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Agenda Social, conjunto de iniciativas voltadas à população mais vulnerável (Programa Bolsa Família, por exemplo) e a educação de qualidade por meio do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) (BRASIL/MPOG, 2007b).

estratificação social que permitiria a mobilidade do indivíduo de um estrato ao outro mediante seus próprios esforços. Como se lê:

A realidade histórica da cisão entre classes antagônicas […] transfigura-se numa estratificação social […]. Passar de uma a outra extremidade é uma questão de tempo e de esforço. O investimento no capital humano, elevado à categoria de capital, constitui-se num fator de aceleramento nesta passagem. A ideia de conflito, de antagonismo, de contradição transmuta-se em equilíbrio e harmonia. As relações de poder, de dominação e exploração cedem lugar à ideologia do mérito, do esforço do indivíduo, da racionalidade e do dom (FRIGOTTO, 1984, p. 217).

A “primazia do talento” pode ser compreendida como aquela em que o trabalhador, mediante a educação, pode desenvolver a sua criatividade, a inovação, potencializando as suas aptidões para ser um empreendedor em qualquer ramo que atue.

Souza (2003), ao tratar da nova pedagogia do capital, afirma que a teoria do capital humano passou por uma renovação, “rejuveneceu”, considerando o contexto atual do papel do Estado. Ou seja, se antes o Estado como provedor investia na educação de forma coletiva, hoje passou essa responsabilidade para os indivíduos. Afirma o autor:

A partir de uma releitura do Estado na política de desenvolvimento de recursos humanos para a produção capitalista, novos teóricos entram em cena em defesa da necesssidade individual de investimentos em capital humano como única forma de garantia de empregabilidade, de manutenção dos postos de trabalho, de garantia de renda. Transfere-se desse modo, para o indivíduo a responsabilidade do desemprego, do rebaixamento das rendas individuais da grande massa dos trabalhadores, ao mesmo tempo em que busca ofuscar os reais determinantes da precarização do trabalho […] (SOUZA, 2003, p. 189-190).

Quanto ao empreendedor na economia do século XXI, comparando-se à maneira como Schumpeter percebeu o empreendedor, situado no desenvolvimento da economia de sua época, ao dos dias atuais, são possíveis algumas aproximações e alguns distanciamentos.

Se antes, para Schumpeter, ser empreendedor era para poucos, no desenvolvimento do capitalismo atual, qualquer um pode ser um empreendedor, como nas palavras de López-Ruiz “de proprietário de si a empresário de si, um novo empreendedor” (LÓPEZ-RUIZ, 2004, p. 45).

Observando-se a agenda governamental, pode-se dizer que o capital tem investido tanto no empreendedor proposto por Schumpeter, quanto naquele divulgado por Filion “as novas formas de empreendedorismo” (FILION, 1999, p. 21).

O investimento que se tem feito nas tecnologias, de qualquer setor produtivo, quer seja por parte do Estado ou do empresariado, mediante pesquisas desenvolvidas por Institutos de peso no país, aponta para o que Schumpeter chama de as “novas combinações de meios produtivos”, a “destruição criadora” que leva a transformações qualitativas e, ao mesmo tempo, promove a competitividade internacional.

Na proposta de trabalho do Governo Federal, apresentada no Plano Plurianual 2008-2011, dentre as suas prioridades de estratégia de desenvolvimento, têm-se a elevação da qualidade da educação e o aumento da produtividade e da competitividade. Assim justifica:

O aumento da produtividade, além da necessária expansão do investimento, exige forte promoção da inovação tecnológica na produção de bens e serviços e determina a qualidade do crescimento no longo prazo. Isso exige a implementação de políticas de incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento e a setores e atividades intensivos em tecnologia, geradores e difusores de inovação. A adequada apropriação de padrões tecnológicos inovadores para o desenvolvimento do setor produtivo requer capacidade social só disponível com a evolução dos níveis educacionais da população. A promoção da inovação visando o melhor posicionamento competitivo do Brasil no contexto internacional requer entender a Política de Ciência, Tecnologia e Inovação como um dos elementos centrais da Política de Estímulo ao Investimento Produtivo (BRASIL/MPOG, 2007b, p. 12, grifo nosso).

Para impulsionar essas estratégias, o Governo Federal apresenta programas, denominados de finalísticos, aqueles que ofertam bens e serviços diretamente à sociedade e geram resultados passíveis de aferição por indicadores. Estes se sustentam sobre três eixos: a Agenda Social, o PDE e o PAC (BRASIL/MPOG, 2007b).

Dentro do eixo do PDE, tratando da inovação e tecnologia, destaca-se o programa “Ciências sem Fronteiras”. Um programa que aposta em um tipo de empreendedorismo que busca na pesquisa científica seu potencial inovador e competitivo. É uma forma que o Governo Federal tem de investir na educação, sob uma perspectiva econômica e pragmática, objetivando alcançar um desenvolvimento dos padrões tecnológicos inovadores.

Nesse contexto, procura-se problematizar o programa ilustrado com a notícia divulgada no portal do Governo Federal, em 2011, quando anunciava acordo de apoio à pesquisa científica, desenvolvendo projetos com ênfase na inovação e empreendedorismo entre o CNPq e uma universidade canadense. Como se pode ler:

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Universidade de Waterloo, do Canadá, firmaram acordo visando estreitar a cooperação científica e tecnológica entre o Brasil e o Canadá. O trabalho

vai ser realizado por meio do desenvolvimento de projetos com ênfase na inovação e empreendedorismo. O Programa Ciência sem Fronteiras (CsF) está contemplado nos mecanismos que promoverão o incremento e a aproximação entre as duas instituições […] visando à promoção de pesquisa, troca de experiência, e a formação e o treinamento no âmbito dos projetos conjuntos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) (CNPq, 2011, p.1).

Lima (2012), tratando da pesquisa educacional no contexto a União Europeia, traz elementos pertinentes para a reflexão. O autor analisa o “'capitalismo acadêmico', com a correspondente emergência do pesquisador-empreendedor, agindo em ambiente de concorrência e procurando responder funcionalmente a novos problemas sociais” (LIMA, 2012, p. 51, grifo do autor).

Suas reflexões, o levam a problematizar a produção acadêmica nas universidades, ao afirmar que “o conhecimento como bem público encontra-se em crise” (LIMA, 2012, p. 55). Tal posicionamento provém das tensões, apontadas por ele, entre as pesquisas críticas, que fazem o enfrentamento aos interesses do Estado e de setores privados, e aquelas que legitimam o capital, dependentes do governo e do setor privado.

Neste viés, afirma que a produção acadêmica dependente está “sucumbindo aos interesses do mercado e às suas agendas, funcionalmente adaptada aos desígnios e imperativos da competitividade econômica, agora sob o lema genérico ‘conhecer para competir’ ” (LIMA, 2012, p. 55, grifo do autor).

Por outro lado, há o investimento por parte do Governo Federal nos empreendedores de atividades produtivas de pequeno porte. Como afirma o documento:

A redução da informalidade é elemento vital para que o crescimento econômico possa converter-se em mudanças concretas no dia-a-dia da população de mais baixa renda. A consolidação do regime tributário, previdenciário e trabalhista simplificado para as micro e pequenas empresas, aprovado em 2006, ao longo do período 2008-2011 será fundamental tanto para o estímulo ao empreendedorismo como para formalização das relações de trabalho nas micro e pequenas empresas, levando assim parcela significativa dos trabalhadores a ter acesso aos benefícios garantidos àqueles que têm suas relações formalizadas. Esse efeito tende a ser significativo, uma vez que as micro e pequenas empresas empregam a maior parte da mão de obra nacional (BRASIL/MPOG, 2007b, p. 73).

Em notícia divulgada pelo Governo Federal, pode-se ler “Governo Federal tem compromisso para desenvolver empreendedorismo no Brasil, diz Pimentel”. Esta afirmação veio do então Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, durante a abertura da 19º reunião do Fórum Permanente das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, em 2011.

Na ocasião do encontro, Humberto Ribeiro, secretário de Comércio e Serviços, compreendia que era a função do Fórum218 Permanente “ser um veículo de articulação entre o setor público e o setor privado, responsável por acolher, aprofundar e fortalecer as políticas públicas em prol do empreendedor brasileiro” (GOVERNO, 2011, p. 1).

Ao se consultar o histórico da “Lei Geral219”, percebe-se a trajetória dos movimentos empresariais imbuídos em regulamentar e consolidar as atividades desse setor específico junto ao Governo Federal. Uma das primeiras iniciativas, ao final da década de 1980, foi a inclusão de dois artigos na Constituição Federal e que, sintetizados pelo histórico, assim se apresentam:

O marco inicial foi a inclusão, dos artigos 170 e 179 na Constituição de 1988, instituindo que a União, Estados, Distrito Federal e Municípios deveriam dispensar às microempresas e empresas de pequeno porte, tratamento jurídico diferenciado e favorecido, visando a incentivá-las pela simplificação, eliminação ou redução de suas obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias (HISTÓRICO LEI, 2014, p. 1).

Em 1996, os dois artigos acima foram regulamentados mediante a Lei do Simples Federal, Lei n.º 9.317/1996 (BRASIL, 1996b) e a criação do Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, Lei n.º 9.841/1996 (BRASIL, 1996c). Em 2003, a Emenda Constitucional n.º 42/2003 (BRASIL, 2003) altera o regime tributário nacional (HISTÓRICO LEI, 2014, p.1).

A partir de 2003, houve a movimentação de diversos setores e entidades que se uniram tanto para sensibilizar220 a sociedade e os governantes para a causa, quanto em aperfeiçoar e favorecer221 as micro e pequenas empresas.

O investimento no microempresário ou empresário individual, favorecido pelo Estado, na aprovação de leis e decretos, e incentivado pela sociedade, tem sido uma saída para “maquiar” a flexibilização do trabalho e de suas mazelas, tentando amenizar as tensões sociais e, ao mesmo tempo, movimentar o capital.

218Este Fórum Permanente das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte que, segundo Pimentel, teve seu início em 1999.

219Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, Lei Complementar nº 123/2006 que institui o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno porte.

220Relata o histórico que, em 2005, foi criada a Frente Empresarial pela Lei Geral que obteve apoio do SEBRAE; das Confederações da Indústria, do Comércio da Agricultura, dos Transportes, dos Dirigentes lojistas; das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil, dos Jovens empresários; das Entidades de Micro e pequenas empresas, da Federação Nacional das Empresas Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisa (HISTÓRICO LEI, 2014).

221O Decreto n.º 6.024/2007 regulamentou favorecendo, de forma diferenciada e simplificada, as micro e pequenas empresas “nas contratações públicas de bens, serviços e obras, no âmbito da administração pública federal, conforme previsto no capítulo de Acesso a Mercados da Leis Geral” (HISTÓRICO LEI, 2014, p. 3).

Nesse sentido, tem-se o empreendedorismo social ou por necessidade, conforme dados das pesquisas de Gaiger (2009), Natividade (2009), Silva e Bezerra (2011). Essas pesquisas têm como característica em comum a percepção de ver o empreendedorismo enquanto uma possibilidade de inclusão social, de participação cidadã e de emancipação.

Tais pesquisas fazem adesão à ideologia do Governo Federal ao serem interpeladas pelo discurso da inclusão social e pelo desenvolvimento sustentável, conforme proposta do plano de trabalho, PPA 2008-2011 (BRASIL/MPOG, 2007b).

Na perspectiva do empreendedorismo por necessidade, como uma forma de combate às desigualdades e possibilidades de enfrentamento delas, via associativismo, o texto de Gaiger (2009) “A associação econômica dos pobres como via de combates as desigualdades” aponta para a existência de duas vias a partir do empreendedorismo. São elas:

De um lado, os programas convencionais de apoio ao empreendedorismo de pequeno porte, direcionados ao desenvolvimento de competências individuais, no contexto de pequenos negócios; de outro lado, a via mais recente representada pela economia solidária, com o surgimento de empreendimentos associativos e dos respectivos programas de apoio, identificados com a metodologia das tecnologias sociais (GAIGER, 2009, p. 563).

Na ótica de Gaiger, o segundo caminho, empreendedorismo associativo, cria oportunidades de trabalho, possibilitando aos que a ele se integram, de forma efetiva, uma participação cidadã na sociedade, ou seja, o individuo não apenas recebe o apoio, mas passa a atuar, desenvolvendo suas habilidades e transformando suas capacidades em rendimentos.

Gaiger (2009) defende que a população mais pobre deve receber estímulo por parte do Estado a desenvolver suas capacidades para poder gerar renda e não apenas ter condições de recuperar suas condições de consumo.

Outra forma de empreendedorismo é aquela por necessidade. Nesse viés, Natividade (2009) avalia em seu texto “Empreendedorismo feminino no Brasil: políticas públicas sob análise” a participação feminina empreendedora pela criação da Secretaria Especial de Políticas da Mulher da Presidência da República (SPM).

A autora destaca a participação das mulheres na economia, como empreendedoras, apesar de pouca escolaridade e de não serem qualificadas para esta atuação, pois seus saberes são construídos no contexto familiar, local e cultural.

A pesquisa aponta diversas políticas públicas implementadas com seus limites e suas possibilidades, e para dar suporte ao empreendedorismo feminino a autora reforça que a

parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) é fundamental.

Natividade (2009) vê de forma positiva as políticas públicas elaboradas para desenvolver ações empreendedoras entre as mulheres devido à grande participação delas como chefes de família. Afirma que, além das ações da SPM, outros ministérios deveriam trazer propostas para ampliar os atendimentos, desenvolver estratégias, considerando as especificidades locais de cada região.

Em outra perspectiva, há o empreendedorismo social como uma alternativa para a inclusão daqueles que estão fora da economia. A pesquisa de Silva e Bezerra, (2011), em “Empreendedorismo social e a educação popular: há relação teórica?“, aproxima a temática à educação popular. Os autores defendem a efetivação do empreendedorismo social como um novo paradigma, uma forma de dar poder ao cidadão para o enfrentamento da pobreza e da exclusão social.

Segundo Silva e Bezerra (2011), os projetos educacionais seriam o meio possível de se conscientizar as pessoas a adotarem comportamentos responsáveis e éticos, de forma a buscarem a autosustentação, além de desenvolverem habilidades empreendedoras.

As pesquisas realizadas por Gaiger (2009), Natividade (2009), Silva e Bezerra (2011) tentam convencer os leitores, de que é possível, mediante a prática do empreendedorismo social que objetiva a inclusão social, amenizar a exploração feita pelo capital; uma ideologia que reforça o discurso da sociedade capitalista sobre o desenvolvimento sustentável.

Leite e Melo (2008) apontam para a ideologia presente na noção do ser empreendedor no texto “Uma nova noção de empresário: a naturalização do empreendedor”. Nele, as autoras mostram como a ideologia da figura do empreendedor é difundida tanto pelas histórias de sucesso dos empresários quanto pelas mídias, a partir de conselhos dos “gurus” da administração que “assumem a função de empreendedores morais do empreendedorismo” (LEITE; MELO, 2008, p. 45).

A análise realizada pelas autoras dos diferentes discursos sobre o empreendedorismo evidencia a intenção de se fazer crer que o “espírito do capitalismo” está presente entre as pessoas, tanto nos capitalistas quanto nos trabalhadores por meio de um conjunto de crenças e valores que os dirigem, justificando suas ações.

Segundo as autoras, quando trabalhadores, desempregados ou excluídos investem em si mesmos, levando adiante o seu sonho, investindo na sua criatividade, tornam-se

empreendedores e “a necessidade econômica os faz pensar como empreendedores e não como trabalhadores precarizados” (LEITE; MELO, 2008, p. 43).

As reflexões de Cêa (2007b), analisando os fundamentos materiais do empreendedorismo, apontam para dois aspectos relevantes. O primeiro, no contexto atual das relações capitalistas de produção, afirma que o desemprego leva o indivíduo a buscar, por conta própria, formas de superar as dificuldades de sobrevivência e, o segundo aspecto diz caber ao Estado a administração da miséria e da pobreza. Conforme se pode ler:

[…] o enfrentamento da problemática do desemprego, […] requer uma dupla condição: que os sujeitos busquem, deliberadamente, formas próprias e autônomas de sobrevivência, e que os mesmos se proponham a tomar a iniciativa de empresariar suas individualidades. Segundo, na medida em que a pobreza e a miséria se aprofundam como elementos estruturais do movimento econômico e político em curso, é necessário que sejam administradas, papel que cabe ao Estado, uma vez que o mercado se constitui no espaço, por excelência do laissez faire. Em ambos os aspectos, a qualificação profissional, em especial, e a educação dos sujeitos, em geral, podem contribuir para o governo da miséria e para a contenção de conflitos sociais (CÊA, 2007b, p. 313, grifo do autor).

Lima (2010), na esquisa “Participação, empreendedorismo e autogestão: uma nova cultura do trabalho?” problematiza, diante do contexto da flexibilização e desterritorialização do trabalho, as questões de empregabilidade e empreendedorismo sob suas diversas formas. Analisa as mudanças na cultura do trabalho apontando a contradição entre o discurso da autonomia do trabalho e sua maior subordinação, na lógica do empreendedorismo social.

O autor situa o discurso do espírito empreendedor nas reformas do Estado nos anos de 1990 que, dentre outras práticas, veio acompanhado pelo programa de crédito para pequenos negócios de baixo valor, com o apoio estatal e paraestatal.

Analisando o empreendedorismo coletivo, Lima (2010) alerta sobre suas limitações a partir de novas formas de subordinação, quando atribui ao trabalhador a responsabilidade por sua permanência ou não no mercado de trabalho e às empresas de se ajustarem aos moldes empresariais:

As cooperativas passaram a ser vistas como alternativa possível através de