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O vocábulo trabalho, segundo o dicionário Aurélio, possui vinte definições, dentre elas, se destacam:

30Segundo Von Mises (2010), o liberalismo e o capitalismo estão interligados, uma vez que os princípios liberais estão presentes numa sociedade capitalista.

31Von Mises, ao tratar dos fundamentos da política econômica liberal, afirma “o homem se distingue dos animais em virtude da divisão do trabalho” (2010, p. 50).

1. Aplicação das forças e faculdades humanas para alcançar um determinado fim […]. 2. Atividade coordenada, de caráter físico e/ou intelectual, necessária à realização de qualquer tarefa, serviço ou empreendimento […]. 3. O exercício dessa atividade como ocupação, ofício, profissão […]. 4. Trabalho remunerado ou assalariado, serviço […] 14. Tarefa, obrigação, responsabilidade […] 16. Econ. Atividade humana, realizada ou não com auxilio de máquinas, e destinadas à produção de bens e serviços […] (FERREIRA, 1975, p. 1.393, grifo do autor).

O mesmo dicionário para o verbo trabalhar apresenta quinze definições, das quais destacam-se: “[do latim vulgar] tripaliare, martirizar com tripaliu (instrumento de tortura). 1. Atormentar, ralar, afligir. 2. Negociar, comerciar. 3. Por em obras, lavrar […]” (FERREIRA, 1975, p. 1.393).

Outro dicionário, Aulete, por sua vez,traz como referência dezesseis formas de se caracterizar o que enseja a palavra trabalho, em que se destacam:

[...] 7. Grande esforço; TRABALHÃO; TRABALHEIRA. 8. Exercício para treino […]. 9. Ação contínua de uma força da natureza e seu efeito […] 13. Econ. Conjunto das atividades humanas empregado na produção de bens: O capital e o trabalho são os pilares da economia. 14. Tarefa a ser realizada […] (AULETE, 2013, grifo do autor).

Ao se trazer essas definições para o vocábulo trabalho, objetiva-se demonstrar como ele, na sua generalidade, é compreendido a partir do senso comum, não deixando de ser carregado de sentidos, considerando as ideologias que circulam na sociedade capitalista. Assim, pode ser interpretado de diferentes maneiras, desde uma atividade, tarefa, obrigação, local de trabalho, negociar, pilar da economia, bem como trazer a conotação de algo que provoque tormento.

Mészáros (2004), propondo-se a discutir a natureza da ideologia, problematiza de início a própria elaboração do dicionário de sinônimos que, a princípio, deveria ser considerado como factual, objetivo e “isento de ideologia”. Porém, segundo o autor, o próprio dicionário traz em suas definições conotações ideológicas, pois “o sistema ideológico socialmente estabelecido e dominante funciona de modo a apresentar - ou desvirtuar - suas próprias regras de seletividade […] e até distorção sistemática como 'normalidade', 'objetividade' e 'imparcialidade científica' ” (MÉSZÁROS, 2004, p. 57, grifo do autor).

A posição do autor deixa claro que a sociedade de classes possui suas ideologias32 de forma a estruturar sua forma de agir e pensar, afetando inclusive o dicionário.

32Mészáros aponta não para a negatividade da ideologia, mas afirma ser impossível viver fora de qualquer ideologia. Tanto a classe dominante quanto a classe dominada possui suas ideologias.

Ampliando o entendimento sobre o que seja trabalho, em outras referências, tem- se a concepção marxista, segundo a qual o trabalho possui a sua forma histórico-ontológica. O vocábulo é apresentado por Frigotto33 que, reportando a Marx, apresenta três distinções:

(Pelo trabalho), diferenciamo-nos do reino animal; é uma condição necessária ao ser humano em qualquer tempo histórico; e o trabalho assume formas históricas específicas nos diferentes modos de produção da existência humana. Estas distinções nos permitem tanto superar o senso comum e a ideologia que reduzem o trabalho humano à forma histórica que assume sob as relações sociais de produção capitalistas (compra e venda de força de trabalho, trabalho assalariado, trabalho alienado) quanto perceber a improcedência das teses que postulam o fim do trabalho (FRIGOTTO, 2009, p. 1).

Aqui, Frigotto aponta para a relevância que a categoria trabalho tem, não só para a condição de humanização do homem, mas como condição de sua existência. Nessa perspectiva, a tese34 do fim do trabalho e uma vida dedicada ao ócio não teria sentido.

Antunes, em Elementos para uma ontologia da vida cotidiana, afirma que “a importância da categoria trabalho está em que ela se constitui como fonte originária, primária, de realização do ser social […] fundamento ontológico da omnilateralidade humana” (2009c, p.165). Nesse sentido, a reflexão em torno do trabalho vai além do que seja o trabalho assalariado e seus desdobramentos que, no contexto capitalista, assume forma abstrata, estranhada, um fetiche.

As análises de Antunes (2009a), em “Os sentidos do trabalho”, procuram dar contemporaneidade ao pensamento marxista. Afirma que nada é mais atual do que se perceber as novas formas de como a classe trabalhadora se constitui. Para isso, utiliza-se da expressão a-classe-que-vive-do-trabalho, referindo-se a todos aqueles trabalhadores assalariados, sejam eles produtivos ou improdutivos. Alerta Antunes que, apesar de o trabalho ser considerado hoje apenas como assalariado, não se pode considerá-lo de forma eterna, tomado de forma a- histórica.

Na sua forma ontológica, o trabalho desenvolvido numa sociedade emancipada, superando-se as mediações impostas pelo capital35, leva a “associação livre dos trabalhadores

33Dicionário da Educação Profissional em Saúde, verbetes (DICIONÁRIO, 2009).

34Frigotto (2009) esclarece que o fim do trabalho, enquanto perspectiva ontológica do trabalho, não tem sentido; só faz sentido aquele trabalho considerado nas suas formas históricas, que ocorre nos diversos modos sociais de produção.

35Antunes esclarece que são “regras impostas do mercado, pela necessidade de consumir (material e simbolicamente) valores de troca” (ANTUNES, 2009c, p. 166).

[…] sua autoatividade, sua plena autonomia e seu domínio efetivo do ato laborativo […] onde o tempo livre se torna efetivo e real […]” (ANTUNES, 2009c, p. 165-166).

Desta forma, saindo da compreensão simplista e superficial, senso comum, apresentada inicialmente pelos dicionários, adentra-se, a seguir, em Marx na compreensão do que seja a concepção ontológica do trabalho, o seu desdobramento no modo de produção capitalista e suas implicações no cotidiano, em específico, na educação e trabalho docente.