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5.3. TERCEIRA QUESTÃO DE PESQUISA QUE RELAÇÃO SE

5.3.2. A formação continuada “na escola” na visão dos professores

Os professores quando questionados sobre por que participam dos encontros formativos dentro da escola e quais as vantagens destes eventos para as suas carreiras, mencionaram em primeiro lugar que participam destes processos por considerarem cômodo em função de ser o seu próprio local de trabalho e vantajoso em função da gratuidade e do pouco tempo que têm para investir na carreira. Retomam a idéia de facilidade, como exemplificado a seguir:

“...pela questão de acomodação da gente e também em relação ao tempo; se nós tivéssemos que sair daqui para ir para um outro lugar [....] vamos precisar de tempo, que é uma coisa preciosa[...] porque enquanto está aqui (na escola) nós sabemos que é praticamente gratuito pra nós..”(E01/U)

Em um segundo nível de valoração surgem algumas idéias que permitem identificar às concepções dos professores acerca da formação continuada, como veremos a seguir.

A primeira idéia é de que a formação continuada é a oportunidade para atualização profissional adquirindo novos conhecimentos produzidos no campo educacional.

“....é uma atualização, um aperfeiçoamento, estou sempre crescendo com o grupo, adquirindo conhecimentos novos”(E01/I)

“Diante do dinamismo das coisas se a gente fica para trás [...] eu entendo que quanto mais tu se aperfeiçoar, mais tu melhora tuas condições [...] isso serve pra qualquer área. Na nossa área a exigência da gente estar atualizado é permanente; o professor que está sempre investindo em si, com cursos, congressos tem mais chances de ter uma linguagem mais atualizada (grifo nosso) do que aqueles que não participam desse tipo de situação.”(E03/P)

Para estes professores estar atualizado é o sentido básico da formação continuada. Deixam transparecer, ao se referirem à aquisição de novos conhecimentos, que estão mais focados em ter acesso aos discursos atuais do que ter acesso aos conhecimentos que podem ser utilizados para melhorar e/ou qualificar suas práticas pedagógicas.

Também inferimos que a formação continuada é entendida como um mecanismo que possibilita atualizar conhecimentos para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças atuais (sociais, econômicas, ambientais, culturais, etc.) que, de alguma maneira, alteram o trabalho realizado pelas instituições escolares, em especial a prática docente.

“A situação atual está exigindo que pelo menos a gente corra atrás pra buscar e pra isso precisa ser atualizado” (E01/I)

Logo, podemos dizer que, os professores entendem que participando de processos de formação continuada adquirem conhecimentos que lhes permitem compreender melhor as situações sociais e profissionais colocadas pelas mudanças atuais. No entanto, esta idéia aparece deslocada da prática docente, pois, não conseguimos identificar como as mudanças mencionadas pelos professores afetam as escolas, e as práticas docentes.

Também identificamos uma segunda idéia, na qual os professores dizem acreditar que a formação continuada permite uma evolução profissional e pessoal, no entanto não evidenciam se relacionam e como relacionam o

crescimento profissional com o crescimento pessoal mencionado, ou ainda, como estes crescimentos podem contribuir para melhorar suas práticas na escola, de uma maneira mais geral e em sala de aula de maneira mais especifica.

“Porque a gente não pode ficar parado. Então nós temos que buscar a formação, isso ajuda a evoluir, e essa evolução nos ajuda a melhorar em sala de aula e na vida da gente também” (E03/A)

“Por que a gente tem consciência que precisa, que não pode parar no tempo [....] acho que é por interesse, a gente vai por interesse próprio, se aquilo vai te ajudar no teu crescimento pessoal” (E01/C)

A falta de referências sobre as práticas docentes nos deixa a sensação de que os professores buscam, nos processos de formação continuada, conhecimentos para um trabalho ou para uma ação futura, e não para o uso concomitantemente com as situações de trabalho vivenciadas no presente. Isto talvez se explique, em função de percebermos, de maneira geral, a valorização dos conhecimentos teóricos em detrimento dos práticos e, ainda, a concepção de que aprendemos antes estes conhecimentos, para depois colocá-los em prática na medida em que as situações de trabalho vão exigindo.

Outro aspecto que se mostrou importante, diz respeito ao fato dos professores também não estabelecerem diferenças entre a formação que realizam forma da escola, em eventos diversos, com a formação continuada realizada dentro da própria escola. Isto nos leva a constatar que a formação existente na escola, ainda não apresenta evidencias de uma formação centrada na escola, e construída a partir de uma identidade grupal, coletiva e institucional.

Com base nessa constatação, podemos afirmar que estudos, reflexões e/ou discussões relativas à formação continuada nos espaços escolares entre os professores e entre eles e os demais profissionais da escola são inexistentes. Ou seja, os professores não demonstram ter conhecimentos sistematizados acerca de processos de formação continuada, suas concepções se sustentam com base em conhecimentos de um “senso comum” profissional.

As concepções sobre a formação continuada que permeiam os ambientes escolares investigados apresentaram como ponto em comum, a idéia de que estes processos existem apenas na ação, o que nos leva a afirmar que “se faz a formação continuada na escola” mas não “se pensa a formação continuada na escola”.

A falta uma maior compreensão sobre os processos formativos e as suas relações para o trabalho profissional, sugere a necessidade de que os processos de formação continuada de professores tomem como objetivos a serem alcançados a aquisição de conhecimentos relacionados a esta temática, possibilitando aos professores modificar suas condutas e concepções com relação aos seus processos formativos.

Ou seja, que os processos deixem de ter uma dimensão exclusivamente heteroformativa e passem a ter, com mais ênfase, uma dimensão autoformativa, onde os professores detenham com mais consciência e criticidade o curso de seus processos de desenvolvimento profissional.

Identificamos também, a posteriori, ou seja, a partir de nossas análises, algumas idéias que nos ajudam entender como os professores vêem seus processos de desenvolvimento profissional ao longo da carreira, sobretudo no que diz respeito ao tempo de investimento na carreira e a forma como a prática vai sendo influenciada pelos conhecimentos adquiridos nestes espaços.

“A formação continuada requer investimentos constante e a longo prazo, porque as coisas estudadas não são colocadas em prática de imediato, as vezes leva tempo para refletirem em nossas práticas. Aos poucos vamos mudando de atitudes...”(E04/M)

Identificamos, poucos professores que se pronunciaram concordando com esta fala, no entanto, nos parece relevante mencioná-la em função de representar uma idéia consistente relacionada a como os professores acreditam que colocam em prática os conhecimentos adquiridos nos encontros formativos. Neste caso, percebe-se a consciência, de que, para investir nos processos de formação continuada são necessárias disponibilidade pessoal e paciência profissional.

Outra idéia identificada relaciona-se ao fato dos professores mencionarem que os encontros na escola são espaços próprios para dividir e socializar as “angústias” vivenciadas pelos professores.

“No momento desse tipo de encontro....nessa hora que a gente fala, a gente pode dividir as ansiedades, não é? Com o grupo todo.”(E03/I)

Buscamos entender, o que, para os professores, representam as angústias sobre as quais se referem com tanta freqüência. Para subsidiarmos nossa compreensão, sobre esta questão, nos rebuscamos de informações coletadas por meio das observações nos encontros formativos. Observamos que, em determinados momentos, não raros, os professores sentem a necessidade de trazer para o grupo as dificuldades impostas pela conjuntura política, social e econômica da profissão. Falam das precárias condições de trabalho, dos baixos salários, da falta de valorização profissional, do número elevado de alunos em cada sala de aula, justificando as dificuldades que sentem para introduzir mudanças e inovar em suas práticas. Levantamos a hipótese de que, a angústia por eles mencionada está muito mais relacionada ao sentimento de “incapacidade profissional” do que as possibilidades relativas a prática pedagógica. Contudo, não descartamos a hipótese de que, também podem estar pensando nas dificuldades que enfrentam em suas práticas docentes.

A concepção deformação evidenciada por estes profissionais apresenta como características básicas a busca por conhecimentos que contribuam para a melhoria das práticas profissionais. Não evidenciamos relações estabelecidas entre a formação continuada e a certificação para validar conforme previsto no Estatuto e Plano de Carreira do Magistério Público do Rio Grande do Sul. Contudo, também não relacionam a formação continuada nos espaços escolares com a escola e o seu desenvolvimento, portanto dizemos que também buscam uma formação individualizada. Para concluirmos esta análise nos reportamos ao Item 5.2.1, relativo ao papel que os professores atribuem aos formadores, onde deixam claras evidências de que consideram importantes os conhecimentos teóricos e práticos produzidos fora do espaço

escolar. O que nos permite afirmar que estes profissionais concebem a formação continuada como a um processo que permite a busca da especialidade.