• Nenhum resultado encontrado

5.1. PRIMEIRA QUESTÃO DE PESQUISA O QUE SUSTENTA E COMO

5.2.1. Papéis atribuídos aos formadores pelos professores

Com relação aos papéis assumidos e atribuídos pelos diferentes sujeitos destes processos, acreditamos que são elementos determinantes para que os

encontros formativos se constituam em ambientes propícios para as discussões coletivas e a interação entre os professores e entre estes e os formadores.

Observamos 3 idéias centrais, sobre o papel atribuído pelos professores aos formadores, que parecem estar sendo decisivas nas atitudes e no modo como os professores participam dos encontros formativos.

A primeira idéia que os professores têm do formador é que este profissional é alguém que vai trazer para a escola e, particularmente, a cada professor, a solução para seus problemas e suas dificuldades. É chamado literalmente de “o salvador da pátria”.

Para os professores o formador é uma referência do “conhecimento correto” ou do “bom conhecimento” sobre a educação. Consideram os conhecimentos dos formadores referências para que possam avaliar seus próprios conhecimentos.

“É aquela pessoa que tem conhecimento bem maior. É muito bom quando tu percebes que o teu conhecimento é o mesmo, que as idéias são as mesmas, que alívio que dá na gente.”(E01/I)

Como podemos ver é comum os professores expressarem que se sentem “satisfeitos” quando encontram na fala dos formadores idéias e concepções que se aproximam das suas. Pois o formador, é o sujeito que lhes permite o contado com os novos conhecimentos produzidos no campo teórico educacional e encontrar pontos em comum com os conhecimentos deste profissional pode significar estar por dentro destas novas produções.

Podemos afirmar, sem restrições, que o professor coloca seus conhecimentos em uma posição de submissão àqueles produzidos fora da escola e principalmente aos conhecimentos teóricos do campo da pesquisa educacional. Percebemos que ainda é muito presente à concepção de que a formação se dá pela aquisição dos conhecimentos teóricos.

Isto de certa maneira justifica a idealização à figura do formador e as expectativas demonstradas aos conhecimentos e “informações” com os quais os professores têm contato nos processos de formação continuada.

Estas constatações se reforçam quando os professores, ao se referirem à formação continuada, contaram algumas experiências vividas em outros anos, nas quais eles mesmos assumiram a realização dos encontros formativos. Observemos, as idéias que emergiram destas experiências:

“A gente se juntava em dupla, e depois cada dupla ficava com um tema, e nos tínhamos que preparar o curso de formação. Só que assim ó, deu certo um ano por que fomos obrigados a fazer. Quando se chegou no final fomos fazer a avaliação e chegamos a conclusão que é muito desgastante pra gente, por que o colega sabe que a gente não esta preparado para isso”(E01/i)

“...eu também participei dessa experiência, e o que eu achei é que os temas que foram levantados eram todos temas relevantes, muito interessantes, só que por exemplo: eu vou falar pra meus colegas sobre avaliação ou interdisciplinaridade, ou qual tema for, eu só vou conseguir chegar ao nível dos meus colegas, então não vai ter muita coisa pra acrescentar. Então a maioria das duplas ou trio acabou trazendo um profissional de fora pra, entendeu? Pra trazer algum amparo pros colegas”(E04/M)

Os professores sentem-se inseguros quanto a este tipo de atividade, pois acreditam que não têm conhecimentos suficientes para “ensinar” seus colegas. Prevalece a idéia de que o professor sabe muito pouco sobre seu próprio trabalho, tomando como conhecimentos validos e importantes apenas os conhecimentos teóricos e práticos produzidos no mundo acadêmico.

Podemos afirmar que estudar coletivamente e construir novos conhecimentos a partir das práticas existentes nos espaços escolares ainda são idéias distanciadas das concepções da grande maioria dos professores.

Uma segunda idéia, argumenta que os conhecimentos que contribuem para a melhoria do trabalho escolar têm uma origem externa a ele. Para estes professores os formadores devem levá-los a refletir sobre suas práticas de forma que os desafiem a encontrar solução para os seus problemas por meios próprios.

“Eu pensava que ele tinha que trazer soluções. Acho que ele tem que vir nos trazer alguma fundamentação e nos desafiar a encontrar as respostas...”(E01/X)”

Estas idéias em nosso entendimento se aproximam de uma formação voltada ‘a busca de especialidade’, na qual os professores esperam que os conhecimentos adquiridos, além de contribuírem para sua especialidade e para o aperfeiçoamento de suas práticas, também possam contribuir para suas progressões nos planos de cargos e salários.

A terceira idéia, contrária as anteriores, e que emerge de um pequeno grupo de professores, defende que a escola pode encontrar superação para seus problemas na própria escola e com seus profissionais.

“Eu quero colocar o seguinte, essa é uma questão das mais difíceis de se chegar ao um consenso, será que é necessário consenso, vocês estão alimentando uma face da moeda, a outra face da moeda é aquela que nós reivindicamos há anos, que nós fazemos o pão, nos botamos à mão na massa por que alguém tem que vir dizer como nós vamos fazer o pão, se é nos que fazemos. Então, eu acho que esta é uma questão complicada, por que assim, ela termina gerando uma situação desconfortável, ao mesmo tempo que botam na nossa mão a oportunidade de fazer o pão e dar a receita, aí nos dissemos: “aí não, é muito complicado, muito difícil”, então tem que vim alguém, um padeiro, lá de outro lugar nos ensinar, agora se não nos dão a oportunidade...Por isso que eu acho que a gente tem que exercitar isso, e aqui na escola é uma das coisas que a gente tem discutido, né, que a formação nos temos que fazer entre nós mesmos fazendo determinados tipos de oficinas. Então eu acho que as duas coisas podem ocorrer; ao mesmo tempo que nós podemos se, platéia nos também podemos ser atores, nos também podemos comandar o jogo”(E04/Y)

“Isso tem que mudar um pouco mais...porque a gente tem dentro da própria escola muitas pessoas que tem um conhecimento em determinada área, eu conheço um pouco aqui, outro colega conhece mais ali”( E001/Z)

Estes professores sentem que podem promover momentos de produção coletiva sem a intervenção de profissionais externos e sustentam esta hipótese com base em uma forma diferente de valorar suas práticas e seus conhecimentos

docentes. Acreditam que produzem conhecimentos diferentes e equivalentes àqueles trazidos e trabalhados pelos formadores nos encontros formativos.

Parece-nos que os professores que se apóiam nestas duas últimas idéias esperam aprender caminhos mais autônomos para gerenciar seus processos de formação. Autonomia esta, que, em nosso entendimento, deve ser objetivo freqüente das propostas formativas elaboradas e desenvolvidas nas EEB.

Mesmo que, estas idéias apresentem-se incipientes e deslocadas em algumas falas, podem ser representativas de algumas mudanças que estão lentamente sendo inseridas na forma como os professores concebem a formação continuada e às relacionam com seus trabalhos.

Podemos dizer que esta concepção de formação reconhece a capacidade de produção de conhecimentos por parte dos professores, assim como os relaciona a possibilidade de mudanças e de melhorias nas práticas por eles efetivas. Relacionamos esse pequeno grupo de professores àqueles profissionais que buscam uma formação “centrada na instituição”, principalmente por acreditarem que a melhoria do trabalho realizado na escola está relacionado a melhoria do trabalho de cada professor e também por se reconhecerem suas práticas como ponto de partida para o desenvolvimento profissional.

No entanto, ressaltamos que, por mais que se tenha conseguido identificar diferentes formas de conceber a formação e de termos encontrado a existência de pequenos avanços neste sentido, ainda tem supremacia à idéia de que a “salvação” da escola está sendo produzida fora da escola pelos docentes das IES. Logo, o papel idealizado e aceito de um formador é aquele que atenda, individualmente, às expectativas de formação dos professores.