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4.3. INSTRUMENTOS DE PESQUISA

4.3.2. Orientações teóricas para o uso de entrevistas

Para fundamentarmos nossos estudos e obtermos uma melhor compreensão sobre o uso de entrevistas em pesquisas educacionais, realizamos uma revisão de literatura baseada nos seguintes autores: SZYMANSKI (2002); RICHARDSON (1999); BARDIN (1977); GARRETT (1967); entre outros.

As definições encontradas na literatura para o uso deste instrumento de coleta de informações são bastante variadas, tanto no que se referem a definições baseadas na etimologia da palavra, quando a definições que se baseiam na forma de realização desse procedimento.

Tendo em vista a etimologia do termo “entrevista”, encontramos em RICHARDSON a seguinte explicação:

O termo entrevista é constituído a partir de duas palavras, entre e vista. Vista refere-se ao ato de ver, ter preocupação de algo. Entre indica a relação de lugar ou estado no espaço que separa duas pessoas ou coisas. Portanto, o termo entrevista refere-se ao ato de perceber realizado entre duas pessoas (1999, p. 207).

MINAYO (2000), por sua vez, baseia-se na idéia de entrevista como uma conversa entre duas pessoas, realizada por interesse e iniciativa do entrevistador, com o objetivo de coletar informações relativas a um objeto de pesquisa.

Dando uma conotação semelhante de que a entrevista é um diálogo que busca obter informações sobre um determinado assunto relacionado a um determinado campo profissional, SZYMANSKI (2002) sugere a possibilidade de utilização deste instrumento com duas ou mais pessoas.

Considerando o vasto número de possíveis procedimentos e técnicas que podem ser adotadas no momento da realização da entrevista, GARRETT (1967, p.16) declara que a metodologia empregada no ato de entrevistar “constitui uma arte e quase mesmo uma ciência, da qual pode-se formular e organizar, dentro de um corpo sistematizado de conhecimentos”.

Nesta pesquisa, a escolha pela entrevista como instrumento de investigação justifica-se pela importância atribuída ao fato, de que este

instrumento possibilita um contato direto com os sujeitos dos quais desejamos obter as informações e a situação de proximidade existente permite que o pesquisador elucide dúvidas emergentes no momento em que o sujeito dá sua resposta. Também utilizaremos como orientações para o uso desse instrumento as seguintes etapas: (1) a etapa de formulação das questões, ou seja, do roteiro propriamente dito; (2) a etapa de realização da entrevista. Que destacamos a seguir.

4.3.2.1. Formulação das questões

Nesta etapa, em que o foco das ações se centra na formulação das questões que irão fazer parte do roteiro de entrevista, é fundamental considerar dois aspectos: a intenção (objetivo, finalidade) para realização de determinada pergunta e o cuidado de se elaborar questões que não influenciem na resposta do entrevistado. Com relação ao primeiro aspecto, deve-se fazer o exercício de identificar diferentes respostas que poderão ser dadas a cada pergunta verificando se as questões estão suficientemente claras. Com relação ao segundo aspecto, deve-se tomar o cuidado para que as perguntas não expressem a posição do pesquisador em relação a determinado assunto. Devem ser formuladas de tal forma que o entrevistado não se considere pressionado a dar uma resposta apenas para concordar com a opinião do pesquisador.

Outras recomendações quanto à formulação das questões e que consideramos relevantes n a formulação de nossos roteiros das entrevistas foram:

 Questionamos sobre a necessidade de cada pergunta, sua utilidade, se o pesquisado teria condições de responder (a pergunta está adequada ao sujeito investigado) e se exprimia com clareza as idéias desejadas;

 A formulação de perguntas para respostas descritivas e/ou analíticas, a fim de evitar respostas dicotômicas (sim/não). A não ser que esse tipo de resposta fosse importante para coletar um determinado tipo de informação;

 Procuramos utilizar um vocabulário preciso, evitando palavras confusas e/ou termos técnicos que não fossem do conhecimento da população entrevistada.

 Depois de elaboradas as questões realizamos um pré-teste objetivando:

o Revisar e afinar as questões ao objeto de estudo da investigação;

o Verificar se o roteiro elaborado possibilitava a coleta de informações relevantes para conclusões sobre o objeto de estudo;

o Treinar o entrevistador.

Esta etapa de utilização desse instrumento foi fundamental para a elaboração de roteiros marcados pela objetividade e pela imparcialidade do entrevistador, nos quais buscamos minimizar os traços de subjetividade e interferência presentes em procedimentos desta natureza.

4.3.2.2. Realização da entrevista

Durante uma conversa há fatores de ordem emocional e psicológica que influenciam no transcurso da conversação. Portanto, no momento em que se está realizando uma entrevista, para SZYMANSKI (2002), é preciso considerar alguns fatores que podem interferir no comportamento e nas respostas do entrevistado, são eles:

 A natureza das relações entre entrevistador(a) e entrevistado(a) influencia tanto no andamento como no tipo de informação coletada;

 As condições psicossociais presentes numa situação de interação face a face;

 A relação de poder e desigualdade entre entrevistador(a) entrevistado(a);

 A construção de significado na narrativa e a presença de uma intencionalidade por parte tanto de quem é entrevistado como de quem entrevista;

 A criação de um ambiente de confiabilidade para que o entrevistado sinta-se mais seguro;

RICHARDSON (1999) também menciona alguns dos aspectos acima, os quais ele denomina de normas para a entrevista e acrescenta outros itens referentes às atitudes do entrevistador durante a entrevista; que deverá:

 Ser espontâneo e direto na realização das perguntas;

 Afastar-se da condição de conselheiro ou assumir posições moralistas;

 Evitar discussões relacionadas às respostas dos entrevistados. Apenas interferir para aprofundar ou clarear as respostas;

 Dar o tempo necessário para que o entrevistado conclua o relato, faça suas correções ou outros questionamentos sobre o que lhe está sendo perguntado.

A entrevista é um procedimento que pode acontecer em diferentes espaços e ambientes. No entanto, temos percebido na literatura e em nossa experiência em outros estudos que, se tomarmos algumas atitudes antes de iniciarmos a entrevista propriamente dita, poderemos criar um ambiente mais favorável à sua realização. Seguimos, então, os seguintes passos:

 A apresentação do(a) entrevistado(a) ocorre no momento em que o entrevistador toma conhecimento da formação profissional do entrevistado e procura estabelecer um clima de descontração e informalidade.

 A explicitação do objetivo da pesquisa, valorizando o conhecimento do entrevistado, atribuindo importância às informações vindas dele e a sua experiência docente.

 A apresentação do instrumento de investigação, sua estrutura, organização, a metodologia a ser empregada durante a entrevista e a forma de utilização das informações coletadas.

Com relação ao referencial teórico utilizado para fundamentar este instrumento, sentimos falta de tratamentos diferenciados entre as entrevistas individuais e coletivas. Apesar de encontrarmos, informações sobre a possibilidade de se realizar entrevistas com mais de um entrevistado, não encontramos orientações, recomendações ou críticas sobre esta variedade de entrevista.