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2.1. TIPOS DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES

2.1.3. Projetos de formação continuada promovidos pelas unidades

Um único trabalho da amostra relatou experiência de formação continuada baseada em propostas escolares. Este trabalho trouxe informações sobre a formação continuada em 18 Escolas de Ensino Médio de uma rede estadual de ensino. Nestas escolas a formação continuada de professores é uma prática escolar recorrente sem vínculos com as propostas elaboradas ou orientadas pela administração do sistema de ensino. Inferimos que, estas escolas possuem independência e autonomia absoluta no que diz respeito à definição das ações, das atividades, dos recursos, das datas, das cargas horárias e das parcerias utilizadas nos desenvolvimento de seus projetos de formação continuada.

Os dados apresentados como características desta realidade evidenciaram que, de forma majoritária, estas escolas privilegiam seus próprios espaços para a realização das ações formativas, denominados de grupos de estudo, podendo, em alguns casos, também ocorrer ações em outras instituições. Um olhar mais detalhado sobre as ações formativas revela que, se aproximam do que chamamos de cursos e palestras e, assim como nos programas e nos projetos de pesquisa para a formação continuada, não apresentam informações detalhadas sobre as atividades efetivadas com os professores. Quem assume o papel de formador são profissionais de outras instituições, normalmente das IES.

Com relação às concepções sobre FC, pudemos constatar que, de modo geral, as propostas e as práticas estão fortemente relacionadas a idéia de atualização pedagógica, e evidenciam o reconhecimento da importância do desenvolvimento destes processos de forma contínua e prioritariamente dentro do ambiente escolar.

2.2. FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES: DIFERENTES PERSPECTIVAS, DIFERENTES REALIDADES

A Partir destas constatações podemos assumir que, as propostas de formação continuada, independente das iniciativas e interesses que lhes deram origem, vêm acontecendo majoritariamente nas próprias escolas. Tanto no Brasil, como no exterior, a constatação básica é de que houve um deslocamento das ações formativas que antes aconteciam prioritariamente fora das escolas, em eventos promovidos por outras instituições, para dentro do espaço escolar.

Contudo, pudemos inferir que a formação continuada se mantém ainda no nível da “formação individual”, mediante a qual o professor procura, de forma isolada, melhorar suas práticas de sala de aula.

Assim, parece que as atividades vêm acontecendo dentro da escola apenas para reduzir custos e facilitar o acesso dos professores, mas não em função da proximidade com as situações de trabalho ou da vinculação com as atividades de cada profissional, do atendimento aos interesses e problemas vivenciados pela escola.

Gráfico 2 – Distribuição das instituições onde os eventos de formação continuada

ao realizados

63%

17%

6%

14%

Próprias escolas Outras instituições

Com relação ás ações de formação continuada, chegamos a duas formulações básicas:

1) Quando as propostas são elaboradas por iniciativa das secretarias, coordenadorias e gerências regionais ou das próprias escolas, as principais ações realizadas são os cursos e as palestras, aproximando-se do primeiro nível que favorece uma formação individual. Mesmo quando fazem referências aos grupos de trabalho/estudo percebe-se que estão privilegiando uma formação “para a aquisição de diplomas”, onde o foco não está na construção de saberes e competências, mas sim, na aquisição de certificados (títulos), que atendam às exigências da progressão na carreira. Ou ainda, uma formação fora do trabalho, onde o professor busca receitas prontas que possam ser transpostas quase que automaticamente para as suas salas de aula.

2) Quando as propostas de formação continuada são elaboradas por iniciativa de pesquisadores e de grupos de pesquisa, as ações aproximam-se do segundo nível de formação que ocorre em “Grupos de Trabalho”, objetivando a reflexão individual e coletiva sobre as práticas escolares e o estabelecimento de trocas e confronto entre os pares. Observamos que, nestes casos, existe uma maior preocupação com o detalhamento das ações, quase chegando a uma descrição das atividades desenvolvidas. No entanto, as informações ainda são vagas e pouco se consegue saber sobre a dinâmica estabelecida entre formador e professores e entre os próprios professores nestes momentos. Podemos dizer, com algumas restrições, que estas propostas apresentam nuances da formação “centrada na instituição”, no entanto, ainda necessitando, ainda, de avanços significativos para que possam ser classificadas neste modelo.

Com relação aos formadores que vêm atuando junto aos programas e projetos de formação continuada, ficou evidenciado que são os docentes das IES

que assumem a maior parte da realização das ações previstas, ficando apenas uma pequena parcela delas a cargo de professores de Escolas Educação Básica (EEB) e de profissionais ligados às administrações dos SPE.

Gráfico 3 – Distribuição percentual dos formadores atuantes nas propostas de

Formação continuada de professores segundo suas instituições de trabalho

Estes resultados são coerentes com os modelos de formação identificados anteriormente, pois reforçam a idéia de que os conhecimentos válidos são aqueles produzidos fora do espaço escolar, normalmente nas IES, e, portanto, de que os formadores mais “habilitados” para atuarem nas ações formativas são os professores dessas instituições. Mesmo que estes, não tenham proximidade e familiarização com as particularidades de cada escola e de cada grupo de professores.

Esta evidência, também pode estar associada ao fato dos professores, ao se colocarem na condição de aprendizes, “retomam” suas concepções acerca da aprendizagem ainda ligadas a um “modelo clássico” de formação, centrado num processo de “transmissão de conhecimentos”. Ou seja, espera-se que os formadores atuem como professor tipicamente tradicional.

Diante da importância da figura do formador nos processos formativos, causou-nos estranheza que em 26% dos trabalhos apresentados não haja informações sobre os formadores que atuaram nos encontros formativos. Mesmo nos trabalhos que apresentaram informações a este respeito, houve apenas

60%

14%

26%

Docentes das IES

Prof. das EEB e Profissionais das Administrações dos SPE Não trazem referências sobre os formadores

referências às instituições de origem desses formadores. Foram praticamente inexistentes as informações acerca do perfil, das práticas e das concepções sobre formação continuada desses profissionais, o que, em nosso entendimento, condiciona os resultados obtidos com a formação continuada.

Com relação às concepções de formação continuada, podemos concluir que as concepções norteadoras das propostas de formação continuada de professores, realizadas em diversas realidades educacionais brasileiras, estão pautadas em três idéias básicas. A primeira associa a formação continuada a processos reflexivos, desenvolvidos em espaços de confrontos e de discussão entre os professores, nos quais os conhecimentos produzidos devem atender, prioritariamente, às práticas de sala de aula, sem estabelecer ligações com as necessidades escolares de forma mais ampla; a segunda entende a formação continuada de professores de forma mais genérica, podendo ocorrer distanciada das realidades escolares, sem levar em conta as práticas e necessidades dos professores e da escola; a terceira, vincula a formação continuada à noção de atualização pedagógica, na qual o objetivo principal é ter acesso aos estudos, às pesquisas e, portanto, aos conhecimentos mais recentes produzidos no campo educacional, independente destes conhecimentos servirem ou não como instrumental para mudar as realidades onde a escola está inserida.

Todas as propostas, independentemente de serem programas ou projetos de formação continuada, fazem referências ao tempo de duração e à quantidade de ações, tendo como característica marcante à tríade “inicio, meio e fim”, mas deixam de evidenciar expectativas de continuidade. As propostas são efetivamente marcadas pela fragmentação de suas ações, sugerindo uma formação “(des)continuada” e fortemente associada à idéia de acúmulo ou somatório de ações formativas.

No capítulo seguinte apresentaremos algumas características da realidade pesquisada, procurando situar o leitor neste contexto assim como pretendemos mostrar o caráter de continuidade que este trabalho apresenta.

3 O CONTEXTO DA PESQUISA

Neste capítulo, realizamos uma breve retomada do percurso que estamos percorrendo há alguns anos em nossos estudos sobre formação continuada de professores. Apresentaremos, portanto, um panorama do contexto local de Santa Maria/RS sobre a formação continuada de professores da rede pública de ensino, no momento em que nos propusemos a realizar este estudo.