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Novamente voltamos à questão da formação do professor formador e da necessidade do reconhecimento dos seus objetivos finais (que atributos espera ele que o futuro professor possua) e das ferramentas que lançará mão para alcançá-los (inclusive o LD).

Observamos durante a pesquisa que os cursos de formação de professores de LE não estão isentos de dependência do LD, embora sejam poucos os trabalhos que tratem da relação LD e formação de professores.

É necessário mudar o panorama atual onde professores formadores, que possuem abordagens implícitas e critérios apenas intuitivos para a escolha do MD, formem futuros professores que desconheçam o significado da abordagem como orientadora das ações em sala de aula e ignorem a existência de critérios para seleção de MDs.

Entenda-se que essa discussão acerca do LD não implica numa apologia ao abandono do LD nos cursos de formação de professores de LE, haja vista reconhecermos sua importância não apenas como material complementar, mas também como objeto de estudo na universidade. O que se questiona é a forma como essa ferramenta é explorada em sala de aula.

Pressupõe-se que o ensino superior tenha como um dos seus papéis fundamentais a formação de profissionais que desenvolvam seu senso crítico e a, ampliação da sua capacidade de reflexão não só local, mas também global, para tanto eles precisam estar providos de diferentes saberes, ter conhecimento do que fazem e por quê o fazem. Com a língua estrangeira não poderia ser diferente, é insuficiente desenvolver no aluno a competência lingüístico-comunicativa, é necessário ampliar a visão de língua, pois ela além de ser um instrumento de comunicação, é também de dominação, de demarcação territorial, de ampliação da visão de mundo, de perspectivas de novos conhecimentos que não se restringem à língua pela língua.

Ressaltamos que do ponto de vista da LA, temos como desejável a crescente explicitação pelos professores da sua abordagem de ensinar, que se paute num processo de estudo contínuo e sustentado para que o próprio profissional pense ações e soluções para as questões com que se depara no exercício de sua profissão. Reconhecemos a importância do desenvolvimento das competências desejadas de um professor de LE contemporâneo, que o torne capaz de ser juiz do seu próprio ensinar. Nesse sentido o ensino superior estaria contribuindo para uma visão holística do que é e o que significa ensinar uma LE.

Por essa razão, é que propomos observar a abordagem norteadora do professor formador, visto que ele é um dos grandes responsáveis pelo desenvolvimento das competências esperadas do professor de LE. É o principal, mas não único. No entanto, para analisar essa abordagem não é suficiente perguntar ao professor formador, já que, como Alvarenga afirma (2005, p.123), “freqüentemente pensamos que somos e agimos de uma determinada maneira e ao nos analisarmos percebemos que idealizamos parte do que pensamos que somos por desejarmos sê-lo”. Podemos contar então com o auxílio de um olhar externo e imparcial, que observe o cenário com consciência crítica, faça o registro das aulas, realize entrevistas ou até aplique questionários, podendo assim reunir elementos para obter um esboço analítico justificado (cf. Almeida Filho 2005 d).

Para compreender a abordagem de ensinar de um professor, é necessário observar as suas ações e atitudes nas aulas, a forma como ensina, as atividades que propõe e até o material que utiliza. Para realizar a análise de uma abordagem podem ser utilizados procedimentos etnográficos, como sugeridos por Hamersley & Atkinson

(1989) e instrumentos da pesquisa-ação sugeridos por Schön (1997), conforme sugere Almeida Filho (op.cit), por exemplo: observações participantes em aulas com notas de campo, anotações em forma de mimeos elaborados logo após a aula, entrevistas, coleta e análise de material utilizado na sala de aula, gravações em áudio das aulas e suas transcrições parciais, além do questionário.

Por meio dessa coleta de informações, é possível delinear a abordagem norteadora de um professor, mesmo que de forma aproximada. Tendo esses dados como base, poder-se-ão traçar os conceitos (língua, ensinar e aprender LE) que mobilizam sua ação. Quando o professor tem oportunidade de realizar essa análise, potencializa-se a possibilidade de se conscientizar sobre sua filosofia de ensinar, ou seja, da sua abordagem, de fertilizar seu auto-conhecimento enquanto profissional e desenvolver as suas competências como professor de LE.

Compartilhamos o pensamento de autores como Agra (2007) e Almeida Filho (op.cit) de que além de termos a consciência do que somos e desenvolver as competências que se esperam de um professor profissionalizado, é imprescindível engajar-nos em um ensino continuado, realizando leituras relevantes da área que desvelem as teorizações, arcabouços e modelos elaborados por autores, críticos e pesquisadores lingüistas aplicados.

Tudo isso pode contribuir para um avanço substancial na prática docente na busca do constante aperfeiçoamento profissional.

Na próxima seção apresentaremos o terceiro e último capítulo onde faremos a apresentação e análise dos dados levantados acerca da abordagem das professoras formadoras e do material didático que adotaram dentro do seu planejamento de curso.

CAPITULO III

DUAS ABORDAGENS EM CONFLITO OU EM HARMONIA?

3.1. Introdução

Antes de iniciar a última, mas não menos árdua, etapa deste estudo, citamos as sábias e alentadoras palavras do nosso memorável Paulo Freire (1996):

“ ...quanto mais me assumo como estou sendo e percebo a ou as razões de ser porque estou sendo assim, mais me torno capaz de mudar, de promover-me , do estado de curiosidade ingênua para o de curiosidade epistemológica.” (p.39)

Esse trecho do seu livro, apesar de diminuto, carrega em si um grande significado que buscamos compreender com essa pesquisa, surgida de uma curiosidade, até certo ponto, ingênua, mas que se transformou numa curiosidade epistemológica, que tenta ser desvelada no decorrer desse capítulo.

Para tanto, procuramos articular as informações coletadas durante o estudo com o arcabouço teórico referendado na seção anterior, na tentativa de construir dados concretos que nos sirvam de elementos para explicitar não apenas a abordagem do professor formador e da sua relação com o material ou livro didático, mas tentar compreender como o professor de LE em formação pode ser influenciado pelas escolhas do professor formador .

Inicialmente apresentamos os resultados obtidos por meio dos instrumentos de pesquisa anteriormente citados (p.12) que nos serviram de base para o registro da auto-

concepção de abordagem dos professores formadores, a identificação da abordagem do professor através de sua prática em sala de aula com o LD e o MD e a percepção da influência desses MDs na formação de professores de LE.

Ressaltamos que o estudo é de corte transversal e fundamenta-se no marco da pesquisa qualitativa, interpretativista. Tem como cenário um curso de formação de professores de ELE do estado de Goiás e objetiva detectar em que medida a abordagem assumida pelo professor formador é compatível com o material e/ou livro didático adotado e a forma como o aluno-professor é afetado por essas escolhas. O instrumento inicial analisado foi a entrevista com as professoras formadoras, sobre o qual teceremos comentários a seguir.