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3.5. Análise dos questionários

3.5.2. Questionários analisados dos alunos de PP

Na seqüência da análise dos questionários, consideraremos, a partir de agora, as opiniões do grupo de PP dentro de um universo de 13 alunos.

Esse questionário, apesar de possuir características comuns ao grupo de PC, inicialmente era diferente, pois a intencionalidade era saber como eles viam o fato de não estarem utilizando um LD nesse período final de sua formação e como eles agiriam na sua prática, que estava tão próxima.

A pergunta inicial buscava diretamente saber quais eram as impressões acerca de não estar utilizando um LD na sua formação acadêmica. A maioria avaliou positivamente essa questão argumentando:

• avaliavam como interessante, pois acreditavam que dessa forma o professor não ficava preso a uma determinada fonte de pesquisa e metodologia (62%);

• julgavam diferente porque as aulas passavam a ser não tão previsíveis (15%).

Houve também quem considerasse:

• um desafio para aqueles alunos que não são organizados com o MD, principalmente com folhas (15%);

• que o ideal seria elaborar uma apostila (8%).

Os dados demonstram que grande parte dos alunos considera bom não utilizar um LD no curso de formação, embora alguns indiquem ter uma ressalva enquanto à organização. Realmente, temos que reconhecer que o LD apresenta uma estrutura que os

MDs não possuem, talvez por isso alguns tenham sugerido que se elaborasse uma apostila, no intuito de condensar e organizar o material que seria utilizado durante o semestre.

Podemos confirmar a resposta anterior mediante o gráfico a seguir:

Gráfico 5 Avaliação dos alunos professores em relação ao não uso do LD

77% dos alunos-professores avaliam como bom o não uso do LD no curso de formação de professores de ELE, enquanto que 23% avaliam como muito bom o não uso do LD.

Ao opinarem sobre como avaliavam o não uso do LD, os futuros professores argumentam:

• é muito difícil encontrar um LD que contenha um excelente conteúdo;

• dá mais liberdade para o professor elaborar as aulas e ter contato com outros materiais;

• motiva o professor a buscar novas metodologias para trabalhar temas propostos;

• não restringe as aulas ao conteúdo do LD.

Por outro lado, embora não considere negativo, uma aluna comenta que:

• pode acontecer que o ensino se perca e se torne mais difícil estabelecer uma seqüência de conteúdos.

Concordamos com as avaliações positivas que os professores em formação fizeram à respeito do não uso do LD, mas não podemos deixar de reconhecer que a

Avaliação do não uso do LD

23%

77%

0%

aluna que levantou a última questão também tenha razão. Talvez possa ser colocada de forma diferente. O que pode se perder é o próprio professor, se ele não tiver clareza nos seus objetivos e intenções, pois se o professor se desnorteia, conseqüentemente o aluno irá se perder também. O fato de deixar o LD só como uma ferramenta secundária exige muita segurança por parte do professor, assim como a organização tanto dele como de seus alunos. Por essa razão, ressaltamos a importância do planejamento, pois ele guiará o professor em sala de aula durante o curso. Se o professor negligencia o planejamento, i.e., o utiliza com mera formalidade, as possibilidades de perder-se sem o LD aumentam consideravelmente, já que quem o usa, mesmo não tendo claro seus objetivos seguirá o ritmo ditado pelo LD.

Perguntamos aos futuros professores se eles sentiam falta da segurança que o LD oferecia no período de sua formação como professor de ELE. Vejamos o quadro:

Gráfico 6 Visão dos alunos professores à respeito da segurança do LD

Um pouco mais da metade dos alunos-professores, 54%, alega não sentir falta do LD, já 46% afirma sentir falta do LD.

A maioria dos alunos-professores que respondeu ao questionário justifica não sentir falta, pois:

• um planejamento prévio permite lidar com vários materiais;

• não vêem o LD como segurança, mas como um apoio;

• em determinados momentos o LD pode atrapalhar;

• permite que elaborem seu próprio material usando várias fontes;

• quando surgem dúvidas busca auxílio nas gramáticas.

Há aqueles que sentem falta porque:

C o m o p ro fe s s o r e m fo rm a ç ã o , v o c ê s e n te fa lta d a s e g u ra n ç a q u e o L D o fe re c e ? s im 4 6 % n ã o 5 4% s im nã o

• o LD organiza os conteúdos, assim como o desenvolvimento do curso;

• ainda se sente insegura com alguns conteúdos;

• ainda não tem fluência necessária para abolir o LD;

• pode fazer falta um material fixo.

Observemos que embora a maioria se mostre partidária e até confortável sem o uso do LD, ainda há vários temores que deixam alguns alunos inseguros por falta do LD, principalmente porque o consideram um guia de conteúdos e sentem que pode ser perigoso desprender-se desse material. Entendemos que há uma relação entre essa opinião e o próximo gráfico.

Gráfico 7 Visão 2 do papel do LD nas aulas de LE

Igualmente como foi feito na classe de PC, perguntamos aos alunos em formação de PP qual seria para eles o papel do LD. Neste grupo a maioria (69%) defendeu que o LD era apenas um apoio que deveria ser utilizado sempre que fosse coerente com a abordagem do professor. Já no grupo de PC, as opiniões mostraram-se mais divididas e houve uma maior tendência a considerar o LD como guia de conteúdos. Provavelmente os alunos de PP posicionem-se mais a favor de que o LD seja um apoio, porque isso faz parte do discurso e da prática da professora formadora. Ela argumenta que o LD não deveria ser o direcionador das diretrizes de um curso de ELE, mas sim as necessidades e interesses dos alunos. Detectamos então a influência de ambas as professoras formadoras nas respostas dadas pelos alunos-professores, lembrando que a prática costuma ser muito mais convincente do que o discurso.

Papel do LD no ensino de ELE?

69% 31%

No que se refere à utilização do LD nas futuras aulas de ELE, a maioria é favorável a seu uso, como constatamos na figura a seguir:

Gráfico 8. Intenção de uso do LD no ensino de ELE

A maior parte dos alunos-professores, 75%, tem intenção de usar o LD nas suas futuras aulas e 25% afirmam não ter essa intenção.

Dos 75% dos alunos-professores de PP entrevistados, dois alegaram que é uma exigência da escola, portanto não podem fugir disso, outros dois justificaram que é importante que os alunos tenham um material como esse para que possam estudar, dois declararam que pretendem usá-lo porque é mais fácil tê-lo como guia e dois porque pensam que esse material oferecerá uma base mais estável. Um dos alunos respondeu que utilizaria o LD até que se sentisse mais seguro com os conteúdos.

Aqueles que não têm intenção de usar o LD em suas futuras aulas de ELE afirmaram que os LDs ainda deixam muito a desejar e que têm interesse em elaborar e montar seu próprio material.

Os dados indicam que boa parte dos alunos-professores são favoráveis ao uso do LD no ensino de uma LE. Nota-se, por algumas respostas, que alguns se sentem obrigados a utilizar o LD porque a escola assim o exige, então nos perguntamos: por que motivo um professor específico da área, que se preparou academicamente para assumir essa profissão não tem autonomia para poder escolher o material com que deseja trabalhar em sala de aula com seus alunos? Várias poderiam ser as hipóteses para dar resposta a essa pergunta, mas principalmente a crença de que o LD é tão necessário

Intenção de uso do LD

75% 25%

no ensino de uma LE, que é inconcebível não utilizá-lo. Por outro lado, observamos que a autonomia do professor pode ser barrada dentro da própria escola, por coordenadores ou diretores que não aceitam as sugestões do professor.

Os critérios de seleção do LD deste grupo não diferem muito do grupo de PC. Igualmente ao outro grupo o primeiro quesito do material é que aborde questões culturais de países hispânicos, não apenas da Espanha. Em segundo lugar, que proponha atividades que permitam a comunicação dentro de um contexto real. Em terceiro, que o LD ofereça textos interessantes de acordo com a idade dos alunos e leve em consideração seus conhecimentos prévios. Um item não ressaltado pelo outro grupo e foi destacado em quarto lugar é o preço acessível e em último lugar que possuísse um bom volume de explicações e exercícios gramaticais, assim como que seja recomendado por colegas.

Novamente a gramática passa a ser a última das exigências que, segundo eles, um bom LD deve conter. Os futuros professores se mostram mais interessados em explorar assuntos culturais para que os seus alunos possam desenvolver atividades comunicativas dentro de um contexto real, levando em conta os conhecimentos prévios desses alunos e, principalmente, que seja economicamente acessível. Observemos que o perfil desses futuros professores, embora com bases de formação diferentes em relação ao MD, ambos têm expectativas do LD muito próximas. Infelizmente os LDs não estão ainda voltados primariamente para esses aspectos culturais, mas acreditamos que a formação e a atitude dos professores frente ao MD possa mudar esse quadro.

Perguntamos ainda aos alunos de PP se conheciam bastante LDs da área de ensino de ELE e a maioria (78%) respondeu que não. Mesmo assim 78% responderam que não se sentiam satisfeitos com os LDs ofertados no mercado. Por se tratar de um grupo que está no ano de conclusão do curso é um pouco preocupante saber que ainda têm pouco conhecimento sobre os LDs que há disponíveis. Consideramos importante que o professor conheça e esteja atualizado com relação aos livros que são lançados e possa avaliar as novas propostas feitas pelos autores e aproveitar o que seja interessante para seu contexto.

Praticamente todos os alunos, 12 dentro de um universo de 13, têm consciência de que não é possível que um LD possa atender todas as suas aspirações, enquanto professor, visto que esse material é elaborado para atingir um grande número de pessoas, às vezes, em grande parte do mundo. Por essa razão, é que o professor é o responsável em adaptar o LD àquilo que melhor atender às necessidades e interesses dos alunos.

Os LDs considerados pelos futuros professores como excelentes ou muito bons foram: “Español para extranjeros”, “Puentes”, “Español Sin Fronteras”, “Expansión” e “Español para brasileños”. Os outros oito alunos não responderam a essa questão. Observou-se que três dos cinco livros citados são importados e um, o primeiro, havia sido anteriormente utilizado no curso de formação de professores antes de ser substituído pelo “Avance”.

Na última pergunta, que era seqüência da anterior, questionamos o que fariam caso não houvesse um tipo de LD que considerassem muito bom. Nove alunos responderam que buscariam MD em fontes variadas como internet e LDs e apenas um sugeriu a elaboração de uma apostila. Três alunos não responderam.

Os dados sugerem que os alunos do grupo de PP têm mais consciência do papel do LD no ensino de ELE, provavelmente essa opinião tenha sido influenciada pelas discussões durante as aulas de PP a esse respeito. O LD dentro da perspectiva deste grupo assume um papel secundário, um pouco diferente do grupo de PC que ainda lhe atribui uma grande responsabilidade como guia de conteúdos.

Após ter em mãos os questionários dos alunos, retornamos as nossas participantes para apresentar-lhes as opiniões dos alunos e retomar algumas questões que haviam sido abordadas na entrevista inicial. Esses dados serão elucidados na próxima seção.