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2.3. Material didático e livro didático

2.3.11. Vantagens e desvantagens do uso do livro didático

Vários autores descrevem as vantagens que o LD oferece (Richards, 1998, Alonso, 1994, Cerrolaza1999, apud Mendonça e Silva 2002,p.90). De acordo com Coracini (1999, p.35), os professores optam pela adoção do LD por razões diversas, como por exemplo, o livro serve como guia para os alunos e parâmetro para o professor, que dessa forma define o que deve ensinar, otimiza seu tempo; economiza tempo para as aulas. Além disso, o livro possui uma aparência atraente, é um material tradicionalmente adotado, às vezes ele é indicado pelo coordenador.

Observemos as vantagens que os autores, inicialmente, citados neste tópico levantam acerca do LD:

§ Os alunos adquirem o livro, querem usá-lo em sala para acompanhar as aulas e também como reforço e consolidação dos conteúdos em casa;

§ Ele oferece segurança e seqüência. Não é uma série de fotocópias e anotações desorganizadas que podem ser perdidas;

§ Os livros didáticos propiciam benefícios práticos como: variedade, tempo, material interessante e bem elaborado, vocabulário sistematizado;

§ Os professores são aliviados da pressão de ter de criar algo diferente e inovador a cada aula, pois a elaboração de materiais exige muita dedicação e pesquisa;

§ É uma importante ajuda para os professores inexperientes no planejamento e desenvolvimento de suas aulas.

§ Permite que os professores troquem idéias com os colegas que utilizam o mesmo livro;

§ Os livros são um modo conveniente de fornecer estrutura ao programa, pois proporcionam maior equilíbrio entre as atividades de prática da língua, como as habilidades, por exemplo. Assim, há menos chances de ocorrerem falhas no processo de aprendizagem;

§ É mais fácil nivelar o conhecimento dos alunos seguindo os diferentes volumes do material didático.

Como podemos notar, há vários motivos pelos quais a maioria dos professores elege o LD como instrumento útil, quando não o único, para mediar, quando não reger, o

processo de ensino e aprendizagem de LE. No entanto, os mesmos autores que citam as vantagens do LD também ressaltam as desvantagens que ele pode acarretar.

§ Muitas vezes a língua é vista de forma fragmentada e não como um todo integrado; § Os livros se desatualizam com muita rapidez, tanto a linguagem como os temas; § Podem chegar a dominar o curso;

§ Não conseguem cobrir todas as necessidades e expectativas dos alunos porque são produzidos para um público heterogêneo;

§ Os livros podem retirar a responsabilidade dos professores na tomada de decisões, compensando suas falhas e inadequações;

§ Podem levar a um processo de “reificação”, ou seja, atribuições de qualidades inexistentes aos livros: excelência, autoridade, validez, entre outros, fato que demonstra a incapacidade de alguns professores de refletirem criticamente sobre o material com o qual trabalham;

§ Um livro é como uma “camisa de força” que não permite tornar a aula mais criativa, pois não possibilita a utilização de muitos recursos didático-pedagógicos;

§ Não existe um material perfeito, por isso é preciso buscar o que fazer em cada aula.

A afirmação de Pessoa (2006, p.110) complementa essa lista, argumentando que o LD “pode não só limitar as possibilidades de ação do professor, como também comprometer as próprias perspectivas de análise e compreensão do ensino, de suas finalidades educativas e de sua função social”. Assim, o LD pode ser um excelente aliado, mas também transformar-se em um perigoso inimigo. Se o professor não souber posicionar-se frente a esse material de maneira crítica, ele pode correr um grande risco de ser comandado, ao invés de comandá-lo.

A finalidade educativa não pode ser dirigida pelos objetivos do autor do LD, mas sim pelo professor, pois se pressupõem que ele seja o conhecedor da sua realidade, capaz de saber sobre os interesses e necessidades dos seus alunos. Não devemos nos esquecer de que os LDs, geralmente, não são feitos para contextos específicos, o professor precisa ser capaz de perceber essa homogeneização e adequá-lo ao ambiente de trabalho, sempre e quando o mesmo esteja, pelo menos em parte, alinhado a sua abordagem.

Apesar de todas as desvantagens que o LD possa apresentar, ele ainda é o recurso que está ao maior alcance do professor e do aluno, porém isso não significa que seu uso seja obrigatório, isso deve ficar a critério daquele que conduz o processo de ensino.

Esta seção contemplou aspectos referentes aos MDs e o LD. Em relação ao MD foi discutida sua definição, classificação e o papel como fonte de insumo para o ensino de LE. Além disso, foram levantadas algumas categorizações de MD propostas por alguns autores e ressaltada a importância da adequação e criação desse tipo de material, levando em consideração o contexto do aluno e suas especificidades.

No que tange ao LD, inicialmente, foi discutida a posição que a ele se atribui no ensino de LE e como a escolha do mesmo, geralmente, é realizada. Sobre a postura do professor ressaltamos a necessidade do reconhecimento de sua abordagem e a do LD que utiliza. Finalmente foram levantadas algumas vantagens e desvantagens quanto ao uso do LD, assim como os critérios de seleção propostos por alguns autores e as características que se esperariam de um LD que se adequasse à AC.

Todos esses aspectos anteriormente citados estão intrinsecamente relacionados ao labor docente, principalmente no que se refere aos professores formadores que carregam nos ombros uma grande responsabilidade pelo tipo de profissional que preparam, não só para o mercado de trabalho, mas principalmente para a sociedade. Acreditamos que as atitudes e escolhas desse professor, guiadas pela sua abordagem, influenciarão diretamente as ações do professor em formação, portanto é importante que haja coerência entre a teoria que postula e a sua prática docente.

Na terceira e última seção discutiremos como a incompatibilidade existente entre a escolha do livro didático e a pretensa abordagem norteadora do professor formador, podem influenciar um professor em formação, além de ressaltar os aspectos necessários para que a abordagem norteadora do professor formador e em formação venham à tona.

2.4. Efeitos da incompatibilidade entre o LD e a abordagem do professor formador