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3.2. Analise das entrevistas

3.2.5. Considerações acerca do LD

Após abordarmos o tema MD e LD, focalizamos nosso interesse no LD, utilizado por PC.

Inicialmente, é necessário esclarecer que o LD utilizado por PC não foi por ela escolhido e sim pela instituição. Consideramos essa informação relevante para poder entender o contexto em que a participante está inserida. Ao mesmo tempo concordamos com Mendonça e Silva (2006) quando afirma que o LD deveria ser escolhido pelo professor que irá conduzir o processo de ensino e aprendizagem, e não por agentes externos, fazendo suas devidas adaptações e escolhas conforme a necessidade do grupo. Entenda-se aqui por agentes externos aqueles que estão envolvidos com o processo de aprendizagem de forma indireta, com é o caso de coordenadores, pais de alunos e até mesmo os representantes de editoras.

O livro utilizado por PC especificamente no curso de Letras Espanhol dessa IES, é o “Avance”. Trata-se de um manual importado. Sua série é composta por três livros (elemental / básico-intermedio / avanzado). O livro utilizado no 5º período é o básico- intermedio que está composto de doze capítulos. Sua estrutura básica, segundo os autores, consta de:pretexto – são apresentados no início da unidade através de suportes gráficos a partir dos quais são explorados os temas e os pontos gramaticais do capítulo; contenido gramatical – a gramática é mostrada de forma esquemática seguida de exercícios gramaticais; vocabulario – são sugeridos exercícios variados, pois, segundo

os autores, o ensino do vocabulário é essencial para o ensino-aprendizagem de LE; actividades – são propostas atividades através de jogos, entrevistas, concursos, buscando associar a gramática ao vocabulário aprendido; recuerda y amplía – está direcionado a trabalhar funções comunicativas recordando alguns temas gramaticais; como lo oyes – está direcionado à compreensão auditiva, no momento em que se entra em contato com alguns sotaques não só espanhóis, mas também hispano-americanos; lee – parte de um suporte gráfico (como o pretexto) com um texto breve onde se destacam os aspectos culturais; escribe - pretende desenvolver a habilidade de expressão escrita;repasa – são dados exercícios de revisão a cada quatro capítulos.

Essa é a introdução feita pelos autores no prefácio do livro. Além disso, a obra é apresentada fundamentada em uma metodologia eclética que faz uso do que há de positivo nas diferentes abordagens buscando integrar as culturas hispânicas. Outra informação considerada relevante, colocada pelos autores na introdução, é a forma como eles propõem o uso desse material. Eles explicam a razão pela qual cada capítulo contém tanto material (heterogeneidade da turma, diferenças de carga horária, diferentes métodos) e sugerem que o professor faça suas escolhas, trabalhando o material na íntegra ou apenas usando aquilo que é necessário.

As afirmações anteriores foram feitas com base nas informações sugeridas pelos autores do LD. Essas informações nos permitem conhecer, embora de forma sucinta, o tipo de MD que a participante da pesquisa utilizava em sala de aula. Veremos a seguir quais são as impressões da professora PC a respeito desse MD.

PC: “ Eu vejo ele como um guia, muito estruturalista, mas eu vejo assim, ele deixa muito a desejar”.

“Fala muito e não exercita quase nada”. “Os alunos reclamaram muito”.

As palavras da professora evidenciam que ela não comunga com as idéias dos autores do LD. Pelo menos na entrevista, ela demonstra muita insatisfação com o material. Segundo PC, o LD traz muita gramática e exercícios insuficientes. Vê a gramática, apesar de volumosa, explorada de forma superficial, e às vezes apresenta explicações confusas. A professora explica que os próprios alunos demonstraram

insatisfação com relação ao material e solicitaram à professora que trouxesse explicação de outros livros para tentar viabilizar a explicação do LD que, às vezes, não estava muito clara.

Se os alunos professores pudessem, como sugerido, participar da escolha do LD provavelmente também se sentiriam co-responsáveis pela escolha e poderiam fazer sugestões de ajustes ou até mesmo optar por não tê-lo escolhido.

Durante o período de observação das aulas também foi observado que a professora, juntamente com os alunos, acabava encontrando algumas incorreções em determinados exercícios gramaticais.

PC esclarece que não teve oportunidade de escolher o LD que seria utilizado; pois, segundo ela, ele é institucionalizado. Afirma que se pudesse utilizaria outro LD, um produzido no Brasil que ela considera bastante rico, principalmente em aspectos culturais.

Quando questionada se já havia, de alguma forma, tentado solicitar a mudança do material, sua resposta é negativa, e afirma que todos os professores que o utilizam mostram-se insatisfeitos. Ressaltamos que a professora encontra-se por um período transitório na IES (2 anos) e talvez, por essa razão, não queira se envolver na discussão com relação ao livro. Outra hipótese seria que a professora não visse abertura para discutir esse assunto.

PP, no 5º ano, não utiliza LD, mas outros MDs. Ela usa o LD (elemental) da mesma coleção, pela primeira vez, no primeiro período. A professora comenta que tem complementado o material, apesar de afirmar que está gostando (não foi muito enfática ao fazer esse comentário). Acrescenta que já detectou deficiências no LD, como por exemplo, não leva em consideração o contexto da América Latina, apresenta uma visão eurocentrica, por essa razão está inserindo outros tipos de materiais (não especifica quais), e não se limita ao livro.

Como mencionado anteriormente, PP é professora efetiva da IES, diferentemente de PC. Quando questionada sobre a razão de utilizar esse livro com o

primeiro período, ela argumenta que não participou do seu processo de seleção. No entanto, não esclarece porque o utiliza, apenas explica que em níveis iniciais de formação de professores concorda ser necessário que eles tenham um LD como guia. Embora tenha dito que não há um LD adequado para formação de professores.

Os dados sugerem que o afastamento de PP pode tê-la levado a submeter-se a um LD o qual não tinha explorado ainda e somente no decorrer do seu uso foi se dando conta do tipo de material que tinha em mãos. Recordamos que o LD pode ser uma novidade para o aluno, pois geralmente ele não o conhece, mas não para o professor que o adotou. Essa seria uma das conseqüências em utilizar um material que não foi escolhido sob os critérios do professor que irá trabalhá-lo. A escolha do LD pode ser junto com outros professores e coordenadores, mas esse agente não poderia estar alheio a essa escolha, pois de uma forma ou de outra o professor acaba sendo co-responsável.