• Nenhum resultado encontrado

A Formação do Profissional na Educação Física

Educação Física

30 A Formação do Profissional na Educação Física

retivos, ou seja, a maioria das decisões são ainda tomadas pelo professor, que se interessa pouco pelas opiniões dos alunos e requisita a intervenção dos alunos, cognitiva ou motora, em poucos momentos da aula. Verificou-se também, por exemplo, que as regras dos esportes são seguidas rigorosamente, não havendo espaço para a transformação das regras pelos alunos.

Ainda com relação ao aspecto metodológico, constatou-se que também os professores formados na perspectiva "científica" empregam procedimentos tradicionais, como longas filas e colunas e muitas atividades envolvendo estafetas.

A questão que se coloca por ora é: Por que o modelo "científico" não apresentou os resultados esperados ao nível da prática? Ou ainda, por que os conhecimentos derivados das ciências mães não chegaram a influenciar definitivamente a prática, como foi observado nesta pesquisa?

Para esclarecer a questão da formação profissional, uma boa fonte é o trabalho de Betti (1994), que coletou depoimentos de alunos do último ano da graduação refletindo sobre sua formação profissional. Tais depoimentos reforçam a necessidade de repensar a formação profissional especialmente no que se refere à integração teoria X prática. Vejamos alguns deles:

"... as disciplinas deveriam ser mais teórico-prá- ticas, não só teoria, não adianta saber, por exemplo, que tem que Jazer o alongamento do músculo tal, acho que deveria demonstrar, saber como tem que Jazer. O professor só diz que tem que alongar mas não diz como é. Acho que tem que ser mais completo, acho que tem que ter mais experiência — teoria X prática."

"... então eu acho que o dia-a-diafaz com que você consiga ver a teoria na prática, você recebe a criança e pensa — espera lá — o que o professor Jalou mes- mo? Será que o que ele Jalou vai dar certo? Daí dá para relacionar"

"...a pessoa chega lájora e é aquele choque quando vai dar aula. Não sabe nem o que vaijalar com os alunos. Seja tivesse tido alguma experiência seria mais

Jáciir

As reflexões destes alunos parecem encaminhar alternativas muito próximas daquelas explicitadas por Shon (1992):

"Primeiro ensinam-se os princípios cientjicos re- levantes, depois a aplicação desses princípios e, por úl- timo, tem-se um practicum cujo objetivo é aplicar à prática quotidiana os princípios da ciência aplicada... Os alunos-mestres têm geralmente consciência deste de- Jasamento, mas os programas dejormação ajudam-nos muito pouco a lidar com estas discrepãncias"(p.91).

Nogueira (1991) procurou investigar os níveis de atualização das professoras de Educação Física das escolas Municipais do Rio de Janeiro. Os resultados mostraram que 70% delas não lêem revistas especializadas, 74% não conhecem as novas publicações referentes à área e 82% não têm conhecimento sobre as pesquisas realizadas nas Universidades.

Com relação à participação em eventos e encontros com outros profissionais, os resultados não são muito diferentes: 85% das professoras afirmam não ter participado de trocas de experiência e 78% não freqüentaram cursos, congressos e seminários. A autora não esclarece por quanto tempo as professoras se mantiveram fora das leituras, freqüência a cursos etc; subentende-se que isto vem ocorrendo desde o término da graduação. Além disso, a pesquisadora procurou identificar as possíveis razões pelas quais as professoras se mantêm desatualizadas. Constatou que os principais motivos são: impedimentos familiares, pouca aplicabilidade do conhecimento transmitido nesses cursos e dificuldades financeiras decorrentes da desvalorização da profissão de professor.

Lawson (1993) realizou um estudo envolvendo 13 professores de Educação Física. Os resul-

tados mostraram que na concepção deles o ensino como aplicação da ciência não é evidente. As habilidades de desempenho esportivo, regras e técnicas e não pesquisas, são importantes para estes professores. Além disso, relata o autor, apesar de 12 dos 13 professores acreditarem ser possível tornaram- se ultrapassados, somente um sugeriu que não ler a literatura poderia desencadear este processo. Na perspectiva destes professores os programas de Educação Física deveriam incluir mais atenção à variedade de atividades esportivas.

De maneira geral, os resultados destes estudos são bem pouco animadores, sugerindo que a formação do profissional de Educação Física se dá de maneira acrítica, com ênfase à formação esportiva ligada ao rendimento máximo e seleção dos mais habilidosos, e que os profissionais são formados na perspectiva do saber fazer para ensinar. Além disso, os professores se ressentem de uma integração entre os conhecimentos produzidos pela teoria e os problemas enfrentados na prática pedagógica, e por isso não sentem necessidade de se manterem atualizados quanto ao conhecimento produzido pela universidade.

Lawson (1990) argumenta que a questão que deve ser colocada é por que o modelo científico não apresentou os resultados esperados ao nível da prática, ou ainda, por que os conhecimentos derivados das ciências mães não chegaram a influenciar definitivamente a prática tal como pode ser observado nas pesquisas mais recentes. O autor sugere uma revisão do modelo teórico de produção do conhecimento na área da motricidade humana para que se entenda melhor a relação teoria versus prática.

Para melhor compreender esta intricada perspectiva, pretende-se, no próximo capítulo deste estudo, em primeiro lugar, analisar os modos de produção do conhecimento numa área específica da Educação Física: a Aprendizagem Motora. Em seguida, procurar-se-á buscar as possíveis razões pelas quais as pesquisas em aprendizagem motora não têm contribuído, ou pouco têm contribuído, para melhorar a qualidade das aulas de Educação Física. A compreensão deste fenômeno na área da aprendizagem motora poderá iluminar outros campos do conhecimento da Educação Física, uma vez que os referenciais de pesquisa não são distintos.

c

APITULO

3