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Alternativas para o Paradigma Positivista

no Ensino da Educação Física: o Exemplo da Aprendizagem Motora

3.3 A INFLUÊNCIA DO PARADIGMA POSITIVISTA

3.3.6 Alternativas para o Paradigma Positivista

Se o modelo da racionalidade técnica não atende ás necessidades de competência educacional, quais seriam as outras perspectivas possíveis para o modelo de produção do conhecimento e da formação profissional?

Newell & Rovegno (1990) e Petersen et alii (1991) propõem um outro paradigma que denominam ecológico, sobre a mudança do paradigma mecanicista para o ecológico.

De acordo com Fitch &Turvey (1978, citados por Santos, 1992), um dos principais pressupostos da abordagem ecológica diz respeito a importância da espécie e de seu ambiente particular que coexistem. Portanto, a compreensão dos fenômenos depende da descrição do ambiente, que é relacionada ao animal, da descrição do animal, que é relacionada ao meio

A Questão da Aplicabilidade do Conhecimento no Ensino da Educação Física: o Exemplo da Aprendi/agem Motora 45

ambiente, e da descrição das relações de com- patibilidade entre ambos. Portanto, neste paradigma, a relação entre o homem e o meio ambiente natural é de fundamental importância para a compreensão das ações humanas. Estes autores, no entanto, não consideram a construção social e cultural do ambiente natural que o torna peculiar a cada contexto.

Segundo Lawson (1990), este aspecto pode ser recuperado na epistemologia dos profissionais que desenvolvem suas rotinas de trabalho. O entendimento destas rotinas e as maneiras pelas quais elas são socialmente construídas e estruturadas ajudaria a explicar tanto os objetivos como as estratégias que são preferidas ou ignoradas e desvalorizadas. "E preciso entender as estruturas de conhecimento e a heurística empregada pelos profissionais para ter acesso e propor correções às suas rotinas"(Betti, 1992b;p.246).

A principal solução paraTani (1991) refere-se à mudança do paradigma mecanicista e reducionista, de característica eminentemente analítica, segundo o qual os fenômenos são vistos como complexidades desorganizadas, para uma visão mais sistêmica, em que os fenômenos da aprendizagem motora sejam estudados através de uma abordagem mais complexa, e não apenas numa busca das relações de causa e efeito.

Gobbi (1991) alerta que, se não ocorrer a integração dos conhecimentos estabelecendo uma relação mais direta entre o conhecimento acadêmico e a prática profissional, as rotinas de trabalho continuarão sendo executadas através de cópias de modelo, por ensaio e erro, misturando muitas vezes mitos, fé e ciência. Da mesma maneira queTani, Gobbi acredita na necessidade da produção científica se realizar de maneira mais sistêmica, onde haja uma busca da integração dos conhecimentos, estabelecendo assim uma ligação mais direta entre o conhecimento acadêmico e a prática profissional.

Lawson (1990) e Newell & Rovegno (1990) sugerem uma revisão da relação entre teoria e prática e, com propostas diferentes, enfatizam a necessidade de se considerar o contexto do movimento humano no processo de pesquisa. Isto, certamente, tornaria as pesquisas menos universais, porém mais relevantes.

Lawson (1990), especificamente, propõe que os professores se envolvam na construção dos trabalhos práticos e na organização do ambiente, comprometendo-se em transformar a realidade social. Por trás desta proposta existe muito mais que uma crítica à pesquisa positivista: há a constatação, importante e original, de que os profissionais têm uma epistemologia própria, diferente da do cientista e que transcende esta.

As soluções propostas, embora diferenciadas, têm em comum abrirem-se para a realidade enfrentada pelo profissional. Lawson (1990) sugere uma visão construtivista que assimile a epistemologia dos professores na construção da prática profissional. Esta prática não seria, portanto, decorrente apenas do conhecimento da ciência, mas englobaria também a arte.

Betti (1992b), inspirado na descrição do problema realizada por Lawson, encaminha proposta que integre os conhecimentos das ciências humanas para desvendar a teleologia social da prática da Educação Física. Neste processo, é de importância a epistemologia dos profissionais.

Além disso, em trabalho mais recente, Betti (1993a) considera que já existem algumas propostas que enfrentam o distanciamento entre a teoria e a prática, como, por exemplo, a adoção de um conceito mais ampliado de prática. O autor se refere ao papel importante que têm a teoria em níveis mais macroscópicos, como na definição das políticas públicas, que também podem ser consideradas na dimensão da prática.

O reconhecimento de que a teoria não pode oferecer respostas a todas as questões que advêm

da prática, mas que pode indicar princípios, constitui- se numa segunda possibilidade de encaminhamento para o problema.

Schon (1992) afirma que se o modelo da racionalidade técnica é incompleto ou insatisfatório, deve-se buscar outro modelo que contemple as competências requeridas nas situações práticas.

Em oposição à vertente da racionalidade técnica o autor propõe um modelo calcado na "teoria crítica", que resgata para o espaço pedagógico a reflexão na ação e sobre a ação. Isto é, a insuficiência dos modelos e regras para a prática pedagógica é suprida pela reflexão artística sobre a realidade. Assim, a prática adquire o papel central de todo o currículo, assumindo-se como o lugar de aprendizagem e construção do pensamento prático do professor. "0 que pode ser feito, creio, é incrementar os practicums reflexivos que já começaram a emergir e estimular a sua criação na formação inicial, nos espaços de supervisão e na formação contínua" (p.91).

Assim, na Educação Física as possibilidades que temos disponíveis para atenuar o afastamento entre teoria e prática na formação curricular referem-se a adoção de um modelo curricular no qual a

prática de ensino não compareça apenas no final da formação, mas que se a estimule desde a formação inicial. Todavia, é preciso que esta prática seja acompanhada de perto por um supervisor que possa contribuir com a reflexão na ação.

Além disso, a proposta de implementação de um modelo de currículo temático deve ser discutida atentamente, pois a fragmentação do conhecimento no modelo atual é evidente.

O currículo temático permitiria a integração dos conhecimentos produzidos nas diferentes subdisciplinas de modo a contemplar temas re- lacionados à aplicação profissional, de tal maneira que os professores, ao invés de oferecerem as disciplinas da maneira tradicional (fisiologia do exercício, biomecânica e outros) deveriam relacionar os conteúdos das suas disciplinas dentro de determinados temas que são relevantes nas situações complexas.

Uma possibilidade de atenuar os efeitos do distanciamento entre teoria e prática é, segundo Betti (1993b), aquela encaminhada por Lawson (1990), na qual a prática passa a atuar como foco de pesquisa, ou seja, a pesquisa volta-se para o entendimento da heurística empregada pelos profissionais da Educação Física.

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APITULO