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CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE AS ABORDAGENS

DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA

1.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE AS ABORDAGENS

Atualmente coexistem na área várias concepções, todas elas tendo em comum a tentativa de romper com o modelo anterior, fruto de uma etapa recente da Educação Física. Estas abordagens resultam da articulação de diferentes teorias psicológicas, sociológicas e concepções filosóficas. Todas essas correntes têm ampliado os

Psicomotricidade Crítico- emancipatória Cultural Jogos Cooperativos Saúde Renovada PCNs Principais autores Jean Le Bouch

Elenor Kunz Jocimar Daólio Fábio

Brotto

Guedes Nahas

Marcelo Jabu e Caio Costa

Livro Educação pelo

movimento Transformações didático-pedagógicas do esporte Da cultura do corpo Se o importante é competir o fundamental é cooperar PCNs, 3.°e4.° ciclos (5.aa8.a séries) Área de base

Psicologia Filosofia, Sociologia e Política

Antropologia Psicologia Fisiologia Psicologia e

Sociologia Autores de base Wallon, Piaget, Luria, Ajuriaguerra

Habermas Mauss Geertz

^

Terry Orlick Vários Vários

Finalidade Reeducação psicomotora Reflexão crítica emancipatória dos alunos Reconhecer o papel da cultura Indivíduos cooperativos Melhorar a saúde

Introduzir o aluno na esfera da cultura corporal de movimento Temática principal/ Conteúdos Consciência corporal, lateralidade e coordenação/ Exercícios Transcendência de limites/ Conhecimento, esportes Alteridade/ Técnicas corporais Incorporação de novos valores/Jogos cooperativos Estilo de vida ativo / Conhecimento, exercícios físicos Conhecimentos sobre corpo, esportes, lutas, jogos e brincadeiras e atividades rítmicas e expressivas

22 O Contexto da Educação Física Escolar

campos de ação e reflexão para a área e a aproximado das ciências humanas. Embora contenham enfoques diferenciados entre si, com pontos muitas vezes divergentes, têm em comum a busca de Educação Física que articule as múltiplas dimensões do ser humano.

Na verdade, estas abordagens apresentam importantes avanços em relação à perspectiva tradicional da Educação Física escolar. Da abordagem desenvolvimentista considero importante a sua preocupação em dois níveis: na questão da garantia da especificidade da área e na valorização do conhecimento sobre as necessidades e expectativas dos alunos nas diferentes faixas etárias. Aliás, também a abordagem crítico-superadora reconhece a necessidade dos professores identificarem as características dos alunos para que haja adequação dos conteúdos (Coletivo de Autores, 1992).

Porém, é preciso reconhecer que a abordagem desenvolvimentista relevou os aspectos sócio-culturais que permeiam o desenvolvimento das habilidades motoras.

Quanto à abordagem construtivista, é inegável o seu valor nas transformações que temos observado na Educação Física escolar (Darido, 1995), embora, principalmente no início do seu aparecimento, tenha gerado algumas dúvidas, especialmente quanto ao papel da disciplina na escola — apêndice de outras áreas. Como contribuições essenciais cito a discussão sobre o papel da cultura popular, jogo e lúdico no con- texto escolar, presente em grande número de publicações e debates.

A abordagem crítico-superadora nos tem alertado sobre a importância da Educação e da Educação Física contribuírem para que as mudanças sociais possam ocorrer, diminuindo as desigualdades e injustiças sociais. Um objetivo, aliás, que os educadores devem partilhar. No entanto, observando a prática pedagógica dos

professores de Educação Física que cursam programas de pós-graduação, e que portanto conhecem as abordagens, percebemos que eles se ressentem de elementos para trabalharem com a abordagem crítico- superadora na prática concreta. Mas as dificuldades não devem impedir a sua discussão e implementação.

A abordagem sistêmica, por sua vez, parece ainda não ter sido amplamente discutida e divulgada quer pelos meios acadêmicos, quer pelos meios profissionais. Embora ainda esteja em fase inicial de elaboração, a proposta tem o mérito de procurar esclarecer os valores e finalidades da Educação Física na escola (Betti, 1994a) e propor, como desdobramentos, princípios que devam nortear o trabalho do professor de Educação Física: a nao- exclusão e a diversidade.

A principal vantagem da abordagem da psi- comotricidade é que ela possibilitou uma maior» integração com a proposta pedagógica ampla e integrada da Educação Física nos primeiros anos de educação formal, porém, representou o abandono do que era específico da Educação Física, como se o conhecimento do esporte, dança, ginástica e jogos fosse, em si, inapro-priado para os alunos. Neste sentido, concordo com Soares (1996) quando a autora assim se posiciona: "A Educação Física é, assim, apenas um meio para ensinar matemática, língua portuguesa, sociabilização... Para este modelo a Educação Física não tem um conteúdo seu, ela é um conjunto de meios para a reabilitação, readaptação e integração, substituindo o conteúdo que até então era predominantemente esportivo para o que valorizava a aquisição do esquema motor, lateralidade, consciência corporal e coordenação viso-motora>f

(p.12).

Dois aspectos são fundamentais na perspectiva crítico-emancipatória e merecem destaque. Primeiramente a sua preocupação com a emancipação do aluno a partir das aulas de Educação

Física, na busca de uma sociedade mais justa e na preocupação com a construção de propostas práticas, possíveis de serem implementadas e que possam colaborar efetivamente para o atendimento dos objetivos previamente propostos.

A abordagem dos jogos cooperativos parece apresentar uma possibilidade bastante concreta para a maioria dos professores de Educação Física na medida em que propõe os jogos e os valores da cooperação e participação como foco central do ensino.

É preciso lembrar que, por influência dos esportes, a maioria dos professores sentem-se familiarizados com as propostas voltadas para o jogo. Neste sentido, tenho visto alguns avanços com a implementação real dos jogos cooperativos nas escolas brasileiras.

No entanto, tal perspectiva ainda é insuficiente e incompleta. Fica faltando a esta proposta uma análise mais detalhada das finalidades da educação e o papel da cooperação na formação do cidadão emancipado.

Entendo que a proposta de uma Educação Física na escola voltada para o desenvolvimento da saúde renovada avança quando incorpora os princípios da inclusão e da diversidade e defende a importância da dimensão conceituai, embora falte a esta abordagem assumir as limitações da dimensão da saúde, como uma das finalidades exclusivas da Educação Física na escola. Além disso, falta uma discussão mais elabo- rada das diferenças existentes entre a educação para saúde (mais apropriada enquanto um dos objetivos da Educação Física na escola) e a promoção da saúde (que até pode ocorrer fora das aulas em projetos extracurriculares).

É preciso adicionar a essa proposta a visão da corporeidade e do lazer de tal modo que se vislumbre a formação de um aluno crítico em relação à cultura corporal. Desta forma, os trabalhos e os artigos com enfoque biológico serão bem

vindos para compor um quadro mais amplo das possibilidades da Educação Física na escola.

Aliás, este quadro mais amplo deverá conter elementos apresentados pela perspectiva cultural antropológica na medida em que considera o corpo como dotado de significações sociais.

A abordagem contida nos PCNs (1998) é eclética e aponta no sentido de abarcar as diferentes pos- sibilidades da Educação Física na escola, ou seja, a saúde, o lazer e a reflexão crítica dos problemas envolvidos na cultura corporal de movimento. Para isso lança mão da necessidade da reflexão dos grandes problemas da sociedade brasileira (temas transversais) ligados á cultura corporal de movimento e â observação das dimensões atitudinais e conceituais, para além do fazer (dimensão procedimental).

A inclusão destas dimensões significa que as aulas de Educação Física deixam de ter um enfoque apenas ligado ao aprender a fazer, mas incluem uma intervenção planejada do professor quanto ao conhecimento que está por trás do fazer, além dos valores e atitudes envolvidos nas práticas da cultura corporal de movimento.

Apesar do grande número de abordagens no contexto da Educação Física escolar brasileira, é preciso ressaltar que a discussão e o surgimento destas tendências não significou o abandono de práticas vinculadas ao modelo esportivo, biológico ou, ainda, ao recreacionista, que podem ser considerados os mais freqüentes na prática do professor de Educação Física escolar.

Na verdade, a introdução destas abordagens no espaço do debate da Educação Física proporcionou uma ampliação da visão da área, tanto no que diz respeito à sua natureza, quanto no que refere aos seus pressupostos pedagógicos de ensino e aprendizagem. Reavaliaram-se e enfatizaram-se as dimensões psicológicas, sociais, cognitivas, afetivas e políticas, concebendo o aluno como ser humano integral. Além disso, abarcaram-se objetivos educacionais mais am-

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pios, e não apenas voltados para a formação de físico que pudesse sustentar a atividade intelectual — conteúdos diversificados, não só exercícios e esportes, e pressupostos pedagógicos mais humanos.

As vertentes discutidas neste trabalho foram formuladas especialmente em crítica ao modelo esportivista e biológico que dominava (ou ainda domina) a Educação Física na escola.

Em suma, um modelo de Educação Física que fuja dos moldes tradicionais precisa abarcar as

abordagens que tenham um enfoque mais psicológico (Psicomotricista, Desenvolvimentista, Construtivista e Jogos Cooperativos) em relação àquelas com enfoque mais sociológico e político (Crítico-superadora, Crítico-emancipa-tória, Cultural, Sistêmica e aquela contida nos Parâmetros Curriculares Nacionais) e também biológico, como a da Saúde Renovada.

Reconheço que ainda temos um longo caminho na busca dos acordos, pelo qual somos todos responsáveis.