• Nenhum resultado encontrado

Entrevista com os Professores

Realização de Entrevistas

4.2 RESULTADOS E DISCUSSÃO 1 Observação das Aulas

4.2.2 Entrevista com os Professores

FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Os professores formaram-se entre os anos de 88 e 91, em duas Universidades públicas estaduais, UNESP e USP. Este período corresponde, em termos de formação curricular, a uma ênfase na formação tida como mais científica, preo-

cupação com as subdisciplinas da Educação Física e a crença de que o ensino é, ou deveria ser, uma ciência.

A opção pelo curso de Educação Física, porém, é a mesma assinalada por outros professores de Educação Física citados no trabalho de Daólio (1994). O prazer proporcionado pela prática de algum esporte é fator determinante na escolha do curso, como explica o professor 4:

"E, eu entrei meio pela janela do esporte. Eu joga- va futebol na época, não tinha grandes perspectivas de ser profissional em futebol, tanto é que eu não pa- rei de estudar; mas eu gostava muito de jogar futebol. Aí foi até um certo conflito familiar, porque eu gosta- va muito de futebol, achava que tinha que fazer Edu- cação Física, e a família não porque você vai ganhar pouco. Aí eu resolvi optar pelo que eu estava afim mesmo, meio de vontade juvenil, de realizar os sonhos: joguei futebol até 84, depois eu entrei."

Concorre, também, a figura de um "modelo" de professor de Educação Física, citado por dois professores (3 e 6). O primeiro informa:

"Foi por imitação, tive um grande professor de Edu- cação Física no colégio que inspirou a vocação, eu já fazia capoeira antes e as aulas dele eram muito legais. Ele me dava aula de basquete, vôlei, mas a atitude dele como pessoa me inspirou"

Em termos mais práticos, dois professores (2 e 7) lembram o fato do curso ser gratuito e localizado no mesmo local de residência, facilitando a escolha. O professor 7 lembra:

"t uma opção de vida, então era por gostar de es- porte e pela família não poder bancar outro curso que fosse fora da cidade, a faculdade aqui em Rio Claro."

As experiências anteriores ao início do curso de graduação são, com apenas uma exceção, relacionadas à prática dos esportes mais tradicionais da cultura esportiva nacional: futebol, basquete, voleibol e natação. Apenas um professor cita a prática da capoeira e das lutas como experiências intensamente vividas na infância e

adolescência. E é justamente este professor que trabalha na escola com conteúdos diferenciados.

Apesar dos esforços concentrados no sentido de proporcionar uma ampla gama de atividades da cultura corporal na Universidade, os resultados referentes a esta questão apontam para a importância das experiências vividas anterior e paralelamente ao curso de graduação (Lawson, 1993).

Em reposta â questão referente às disciplinas que consideram mais importantes, a maioria dos professores se dividiu entre as disciplinas de cunho prático, nas quais estão incluídas as ligadas ao esporte, à recreação, à Educação Física infantil e à prática de ensino, e, em segundo lugar, citadas por quatro professores, aparecem referências à disciplina de Aprendizagem Motora. As disciplinas biológicas são citadas por três professores.

Assim, o mais importante para os professores sãg as experiências vivenciadas na prática, seguidas pelos conhecimentos advindos das subdisciplinas da Educação Física. Estes resultados corroboram aqueles verificados por Lawson (1993), ou seja, os professores de Educação Física reclamam por uma ampla gama de atividades esportivas, ainda que tenham viven-ciado uma formação mais científica. Estes dados auxiliam a reflexão sobre as perspectivas dos professores em relação à formação profissional e impõem uma observação mais contundente sobre à variedade de possibilidades corporais.

Ao mesmo tempo que os professores afirmam serem as disciplinas práticas as mais importantes, citam como ponto negativo do curso a ausência de maior número de atividades vivenciadas na prática (citada por três professores). Os professores 4 e 5 sentem falta, também, de mais informações sobre crianças; um outro, sobre adolescentes, e dois professores (1 e 3) não sentem falta de nada.

Procedimentos, Avanços e Dificuldades dos Professores de Educação Física Formados numa Perspectiva Científica 61

Apesar da identificação de alguns pontos ne gativos, há unanimidade quanto à qualidade do curso que freqüentaram. Alguns chegam a compará-lo com outros cursos para salientar a sua superioridade, tal como ressalta a professora 6:

"Positivo, a parte de teoria foi muito importante, a gente notava bastante diferença entre os outros cur- sos, faculdades e, ponto negativo, muita ênfase nesta teoria deixava de lado a prática, a gente necessitava um pouquinho a mais"

Em termos de aspectos positivos, os entrevistados relatam o contato próximo com os seus professores e a questão da diversidade das disciplinas. O depoimento do professor 3 ilustra este aspecto:

"Positivo, eu acho relevante o contato que a gente tinha com os professores. .. .resolvia uma série de ques- tões, era interessante, o fato dos professores estarem sem- pre atualizados, continuavam estudando. O fato de vá- rios professores estudarem em diferentes instituições... de negativo... da minha formação é difícil dizer!'

O professor 5 lembra como aspecto negativo a preocupação excessiva com a formação do pesquisador e não do profissional:

"Positivos, mudar de lugar, o nível dos professores do departamento superabertos porque você tem uma visão da Educação Física meio militarista, a escola aqui tem, você pensa naquele negócio, uniforme, um, dois, três, quatro, lá é uma coisa meio aberta, tudo mundo igual. Negativo foi uma coisa meio particular foi o lance das pesquisas, formei para ser pesqui- sador, aí eu tive uma decepção muito grande".

O professor 7 cita um distanciamento exagerado entre o discurso dos professores da Universidade e a realidade enfrentada pelo profissional.

"... de negativo acho que as pessoas não estavam entendendo o mercado da Educação Física. Acho muito que o papo era assim: o corpo, o corpo, porque o corpo e tal, porque assim, acho que eles mesmos não conseguiram aplicar isso na escola.

Sabe, eu acho que era mais uma utopia deles. Hoje, aqui, na prática, eu já tentei, eu saí da UNESP com essas idéias de trabalhar com o corpo, para a garo- tada; a Educação Física já perdeu para a televisão, então não adianta você com uma proposta de um semestre de capoeira que dificilmente vai manter um grupo; eu já tentei, na prática, .. .descobrir alguma coisa a nível sensitivo, mas é uma aula no máximo, tanto a garotada quanto o pessoal do colegial estão em outra."

Um último ponto negativo citado refere-se à demasiada ênfase que foi atribuída a uma única abordagem da Educação Física escolar, a perspectiva desenvolvimentista, identificada pelo professor 4:

".. .negativo o currículo da minha turma, muito direcionado ao desenvolvimentismo; então quem esta- va afim de trabalhar com Educação Física escolar saía muito direcionado com essa idéia, de que o correto era um trabalho na linha do desenvolvimentismo, e depois a gente foi ver que não era isso..."