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2.1 A Concepção de Criança e a Educação Infantil no Brasil

2.1.2 A formação dos profissionais que atuam na Educação Infantil

A LDBEN, já apontava que, “ para atuar na educação básica, a formação do professor deve ser de nível superior, admitindo-se como formação mínima para atuar na Educação Infantil aquela oferecida em nível médio, na modalidade Normal”24 (BRASIL, 1996, art. 62).

Essa ressalva quanto à formação dos profissionais para atuar na Educação Infantil sinaliza que o profissional que atua diretamente com a criança, em creches e/ou pré-escolas, ainda não teve a profissão reconhecida e regulamentada. Em sua quase totalidade, eram e ainda são mulheres que, em diferentes locais, foram denominadas de várias formas: educadoras, monitoras, pajens, recreadoras, atendentes, "tias" etc.

Costa (2003) comentando Mazzilli et al. (2001) coloca que os autores, em uma síntese das mudanças conceituais ocorridas na história recente da Educação Infantil no Brasil, demonstram que o papel do profissional, nessa área, evoluiu da função de pajem/recreador para a de educador, com a chegada da CF (1988), do ECA (1990) e, finalmente, para a de professor, com a LDBEN (1996) e as DCNEI (1999).

O PNE estipulou, quanto ao projeto pedagógico, como uma de suas metas "assegurar que, em três anos, todas as instituições de Educação

24 Trata-se de um curso do Ensino Médio cujo objetivo é a formação de professores com

Infantil tenham formulado, com a participação dos profissionais de Educação neles envolvidos, seus projetos pedagógicos" (BRASIL, 2001, p.13).

Todavia, a formulação e execução do projeto pedagógico estão atreladas à necessidade prioritária do atendimento a essas crianças ocorrer em instituições onde existam profissionais preparados e conhecedores dos processos de desenvolvimento e aprendizagem na primeira etapa da vida humana. Essa questão é apontada por Rocha (1999) e pelo Plano Nacional de Educação (2001). Porém, o documento preliminar da Política Nacional de Educação Infantil já dizia, em 1994, que

Particularmente grave é a desvalorização e a falta de formação específica dos profissionais que atuam na área, especialmente na creche. Um número significativo dos que trabalham na Educação Infantil sequer completou a escolaridade fundamental (BRASIL, 1994, p.10).

Assim, a Política Nacional de Educação Infantil (2006) assinalou as diretrizes para uma política de recursos humanos, essenciais até mesmo para o cumprimento das diretrizes pedagógicas. Lembrou a importância do papel do educador com um intento primordialmente educativo, desempenhando a função de mediador entre as crianças e o processo de aprendizagem.

[...] a atuação do adulto - incentivando, questionando, propondo e facilitando o processo de interação com os outros - é de vital importância no desenvolvimento e construção do conhecimento pela criança [...] (BRASIL, 2006, p.7)

Outro desafio diz respeito ao reconhecimento profissional do trabalhador da Educação Infantil.

Esta concepção de Educação Infantil, que integra as funções de educar e cuidar, em instituições educativas complementares à família, exige que o adulto que atua na área seja reconhecido como um profissional. Isto implica que lhe devem ser assegurados condições de trabalho, plano de carreira, salário e formação continuada condizentes com o seu papel profissional. (BRASIL, 1994, Item 2.2.)

Está posta uma preocupação com o profissional da Educação Infantil, em dois principais aspectos: o preparo profissional e a valorização desse profissional. O primeiro volta-se para a sua constante atualização, traduzida pela necessidade de formação continuada. O segundo centraliza-se na valorização desse profissional, na tentativa de assegurar-lhe condições de trabalho, plano de carreira e remuneração de acordo com a sua função.

A diretriz de formação profissional específica para a Educação Infantil, explicitada na Política Nacional de Educação Infantil (BRASIL, 1994) – posteriormente contemplada pela atual LDBEN, em seu artigo 62 – aponta quais condições deverão ser criadas para que os profissionais de Educação Infantil que não possuem a qualificação mínima, de nível médio, obtenham-na até dezembro de 2007, com base no artigo 87 (parágrafo 3º-III e parágrafo 4º), que instituiu a Década da Educação (20/12/1997 a 19/12/2007).

Por sua vez, o Plano Nacional de Educação (2001), ao incluir em suas diretrizes, a formação dos profissionais da Educação Infantil, a declarou como merecedora de especial atenção. Destacou a relevância da atuação desses profissionais como mediadores no processo de desenvolvimento e aprendizagem.

A qualificação específica para atuar na faixa de zero a seis anos inclui o conhecimento das bases científicas do desenvolvimento da criança, da produção de aprendizagens e a habilidade de reflexão sobre a prática, de sorte que esta se torne, cada vez mais, fonte de novos conhecimentos e habilidades na educação das crianças. Além da formação acadêmica prévia, requer-se a formação permanente, inserida no trabalho pedagógico, nutrindo-se dele e renovando-o

constantemente (BRASIL, 2001, p. 12).

Para atender a essa diretriz, o mesmo documento estabeleceu quatro objetivos e metas especificamente voltados para os profissionais da Educação Infantil, com desafios que vão desde o estabelecimento de um Programa Nacional de Formação aos Professores de Educação Infantil, que em cinco anos, atingirá a formação de nível médio (modalidade Normal), de todos os dirigentes e professores de Educação Infantil, até a ampliação de oferta de cursos de formação de professores de Educação Infantil de nível superior. Prevê, também, a partir de 2001, a titulação mínima em nível médio, modalidade Normal, para os novos contratados, e a execução, em três anos, de programas de formação em serviço, para a atualização permanente e o aprofundamento dos conhecimentos dos profissionais que atuam na Educação Infantil. (BRASIL, 2001).

O Plano Nacional de Educação para a próxima década foi entregue pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 15 de dezembro de 2010. O documento foi enviado ao Congresso, para apreciação dos parlamentares e, após aprovação, servirá como diretriz para todas as políticas educacionais do País. O PNE 2011-2020 é composto por 12 artigos e um anexo com 20 metas para a Educação e terá como foco a valorização do magistério.

O PNE é a principal diretriz para as políticas educacionais no país e atualmente,25 encontra-se em análise na Câmara dos Deputados. Especialistas afirmam que, para que tenha suas metas atingidas, o Plano necessita contar com o suporte de normas que regulamentem as responsabilidades dos municípios, das unidades da federação e da União, estabelecendo o chamado "regime de colaboração". O próprio texto do PNE, enviado pelo Poder Executivo ao Congresso, assinala que o alcance das metas e a implementação das estratégias devem ser realizados "em regime de colaboração entre a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios".

Nesse contexto, a proposta do Plano Nacional de Educação apresentada pelo governo para este decênio, aparentemente é uma boa proposta. O PNE tem metas e estratégias ousadas e realizáveis, mas espera- se que seja aperfeiçoado pelo Congresso.

Contudo, ao mesmo tempo em que temos esperança nos planos e propostas discutidos e aprovados nos últimos anos no Brasil, sabemos que tal aprovação se dá em uma conjuntura adversa, pois desde 1990 predomina o ajuste neoliberal que tem restringido os recursos destinados às políticas sociais nas mais diversas áreas, ancorados em um discurso e prática que repassa para a sociedade, através das Organizações Não-Governamentais (ONG’s), a responsabilidade pelas ações no campo social26. Na educação observa-se tal política de ajuste neoliberal nos constantes cortes dos recursos. Apesar de no PNE ter sido aprovado que a União deveria destinar 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação, passados mais de dez anos, no ano de 2011 os recursos correspondem a menos de 5% do PIB atual27. Portanto, é preciso estar atentos, pois as legislações aprovadas, apesar de significarem avanços, não são garantia de reais conquistas no campo educacional.