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2.2 A Educação Infantil em Natal

2.2.1 A formação dos profissionais que atuam na Educação Infantil no âmbito da

O Departamento de Educação Infantil da Secretaria Municipal de Educação responde diretamente ao Secretário Adjunto de Gestão Pedagógica e é composto de três setores: Setor de Ações e Projetos, Setor de Planejamento e Avaliação, Setor de Acompanhamento de Projetos e Convênios.

35 Dados obtidos no Setor de Planejamento e Avaliação do Departamento de Educação Infantil

A rede municipal de ensino de Natal conta hoje, no âmbito da Educação Infantil, com, aproximadamente, 61 Centros Municipais de Educação Infantil (CMEI) e 21 Escolas de Ensino Fundamental que possuem turmas de Educação Infantil, além de 48 escolas conveniadas pelo PPEPT e 05 escolas conveniadas pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB)36, atendendo, aproximadamente, 14.879 crianças na faixa etária entre quatro meses a cinco anos e 11 meses (informação verbal)37.

Além da ampliação da oferta de vagas, os educadores e técnicos da SME sempre estiveram preocupados com a qualidade desta Educação Infantil. Além da criação do cargo de educador infantil e a aprovação do seu Plano de Cargos e Remuneração, o acompanhamento pedagógico, que sempre se fez presente, foi intensificado.

Pensando em garantir a qualidade da ação pedagógica, cada CMEI e Escola Municipal com turmas de Educação Infantil contavam, desde o início dos anos 2000, com uma assessora que acompanhava o trabalho dos coordenadores pedagógicos, responsáveis pelo planejamento das ações em cada nível. O planejamento ocorria uma vez por semana, no horário do expediente dos educadores infantis agrupados segundo o nível de atuação. Enquanto o educador infantil planejava com o coordenador pedagógico, um educador de diversas linguagens ou professores de arte e educação física assumia a turma.

O acompanhamento pedagógico dos CMEI e Escolas Municipais, com turmas de Educação Infantil, ocorriam dessa forma até meados de 2009, quando foi criado um Comitê Estratégico de Assessoramento Pedagógico, composto por doze Grupos de Trabalho (GT), cujo principal objetivo é ressignificar o monitoramento das escolas, numa perspectiva de estudos que

36 É um fundo de natureza contábil, instituído pela Emenda Constitucional nº 53, de 19 de

dezembro de 2006, cuja composição é oriunda de diversos impostos que abrange toda a Educação Básica Pública. Os repasses são automáticos, via Banco do Brasil, com base no número de alunos da educação básica (Matriculados nos respectivos âmbitos de atuação prioritária) e constantes do último Censo Escolar. Trata-se de um fundo independente para cada Estado e para o Distrito Federal (Disponível em www.mec.gov.br. Acessado em 21/07/2011).

37 Dados obtidos no Setor de Planejamento e Avaliação do Departamento de Educação Infantil

privilegie a reflexão teórica e prática. Este Projeto de Assessoramento Pedagógico para a Rede Municipal de Ensino propõe que os diferentes departamentos e setores da SME trabalhem de maneira articulada, a fim de minimizar os problemas decorrentes da fragmentação de ações desenvolvidas, evitando desperdício de tempo, de recursos financeiros e de pessoal. Nesta nova proposta os assessoramentos são agendados pelo coordenador do GT, sempre na segunda quinzena de cada mês, e além da assessoria do DEI, os CMEI e Escolas Municipais com turmas de Educação Infantil recebem uma equipe multisetorial porque se percebeu que o assessoramento pedagógico não pode acontecer desvinculado de outras questões de ordem administrativa, financeira e de gestão (NATAL, 2009).

Contudo a partir do início do ano letivo de 2011, com a implantação da Lei Complementar nº 121 de 31 de dezembro de 2010 (NATAL, 2010b), a carga horária de efetivo trabalho em sala de aula passou de 40h para 30h semanais, o que na prática significa que as horas de planejamento que antes aconteciam durante o expediente não podem mais acontecer desta maneira. Há, portanto necessidade de se reorganizar o planejamento dos educadores infantis e a SME ainda está estudando quais orientações dará aos coordenadores pedagógicos no sentido de não comprometer a qualidade da Educação Infantil no município. O planejamento nas Escolas Municipais, onde as crianças da Educação Infantil são atendidas por professores38, não houve mudança no planejamento.

Vale chamar a atenção para o fato de que esta organização do DEI no sentido de garantir a qualidade não contempla as escolas conveniadas. São apenas duas assessoras pedagógicas, além do chefe do Setor de Acompanhamento de Projetos e Convênios (SAPCEI), para acompanhar 53 escolas, que atendem 5.472 crianças (informação verbal)39.

Vê-se aqui uma incoerência nesta política que visa garantir a qualidade, tendo em vista que o atendimento oferecido através de convênios,

38 Diferentemente dos Educadores Infantis, os professores são regidos pela Lei 058/2004 que

prevê 20h semanais, garantidas as horas de planejamento com a presença dos profissionais de educação física e artes.

que vem se dando sem o acompanhamento pedagógico necessário, ainda corresponde a um grande percentual das crianças atendidas na Educação Infantil no município. Percebe-se, portanto, que ainda há muito a avançar no campo da Educação Infantil no município de Natal.

3 COMPREENDENDO O FENÔMENO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA CRIANÇAS

A violência é uma forma de relação social e como tal está ligada ao modo pelo qual as pessoas produzem e reproduzem suas condições sociais de existência. Nesta perspectiva, a violência manifesta os modelos de comportamento em vigor numa dada sociedade em determinado momento histórico. Contudo a compreensão da violência não pode desprezar a alusão aos sujeitos e às estruturas sociais, pois, ao mesmo tempo em que a violência expressa relações entre classes sociais, ela também expressa relações entre pessoas. (ADORNO, 1988).

Segundo Britto e Lamarão (1994), frequentemente, dois tipos de juízos estão presentes nas múltiplas tentativas de explicação sobre a violência. De um lado, os que acreditam que a violência generalizada se explicaria por condicionantes estruturais. Do lado oposto, os que defendem que a violência em geral teria sua raiz na debilidade das ações do Estado.

A primeira vertente considera os agentes e pacientes como vítimas comuns das condições materiais engendrados por um modelo de organização social e econômico perverso em si mesmo. Por esse prisma, pobreza e crise econômica explicariam a produção e disseminação da violência.

A segunda tendência, por sua vez, limita sua atenção à prática da violência criminosa, praticada necessariamente pelos segmentos sociais que se mantêm à margem das estruturas formais de produção. De acordo com esta visão, o criminoso assumiria total responsabilidade por seus atos perante as instituições do sistema de justiça criminal. O conceito de violência, neste caso, estaria restrito ao seu reconhecimento formal pela legislação penal.

Partindo do primeiro tipo de interpretação, a melhoria dos padrões de eficiência da ação policial e do aparelho judicial do Estado, bem como o maior rigor da lei de repressão à criminalidade, não teriam nenhum efeito diante da crescente onda de violência.

Já para a outra corrente, o aumento da violência se deve justamente ao excesso de liberalidade do próprio Código Penal, ao despreparo das polícias e à deficiência do sistema judiciário. Para eles, estes fatores acabam por propiciar o desrespeito às leis e estimular a criminalidade e a violência em geral.

Toda essa discussão, independente da vertente adotada, está presa a uma linha de abordagem “evolucionista” que concebe a violência como expressão de um estágio determinado da história da sociedade humana.

De acordo com o primeiro tipo de interpretação, a sociedade brasileira é vista como uma espécie de sociedade de bárbaros, distanciada da sociabilidade e da convivência civilizada, segundo os padrões culturais vigentes nas sociedades consideradas desenvolvidas.

A segunda corrente parte do pressuposto que a solidariedade generalizada que presidia as relações entre os homens foi corroída pelo individualismo do mundo atual.

Deste modo, já que para a primeira corrente falta-nos a “civilidade” das nações desenvolvidas, conclui-se que para tal corrente a violência não faz parte (ou faz em menor escala) das sociedades mais desenvolvidas e civilizadas. Para esta corrente, a violência é uma característica das sociedades mais antigas. Em contraponto a esta posição, a segunda abordagem atribui a violência à sociedade moderna e fala das sociedades antigas como lugar de “solidariedade comunitária”.

Assim conclui-se que há uma dicotomia presente nesta lógica evolucionista que demarca a oposição entre “barbárie” e “modernidade”, ancorada na teoria da modernização que tem como perspectiva a universalização das sociedades industriais. Nessas sociedades com forte tendência à urbanização, o crescimento explosivo dos índices sócio demográficos promoveria o progressivo desaparecimento dos traços tradicionais e a generalização da lógica que caracteriza a sociedade moderna (racionalidade e liberdade).

A partir desta análise estruturam-se dois modos de pensar e agir diante da violência. De um lado são imaginadas soluções teóricas para a problemática e por outra via são gestadas soluções práticas. As respostas esboçadas são marcadas pela polarização. Por uma trilha, um determinismo econômico produzindo um discurso unilinear e autoexplicativo que reduz o trabalho científico a mero exercício de demonstração. Por outra via, uma perspectiva funcionalista que enfoca a violência como desvio de uma suposta normalidade social, inspirando ações repressoras com o objetivo de mantê-la dentro dos limites toleráveis para permitir a reprodução da estrutura social prevalecente (BRITTO e LAMARÃO, 1994).

A questão da violência vem ocupando o centro das discussões na sociedade moderna, entretanto, ela se impõe como problemática obrigatória da Sociologia e da Filosofia desde tempos remotos.

Os estudos acerca da violência têm suas raízes em Thomas Hobbes no século XVII. Ele concebe a guerra como uma condição natural dos homens e afirma que para os homens obterem a paz é necessário que cada um renuncie ao direito que tem sobre as coisas, para transferi-lo a um poder soberano que governará sobre todos. Esta formulação inspira uma visão evolucionista em que de um lado visualiza-se o estado da natureza – no qual predomina a violência e o caos – e do outro o estado da sociedade- no qual se vive com base na racionalidade das leis com o governo regulando as relações. Delineia-se, assim, uma trajetória linear entre a barbárie e o mundo civilizado (HOBBES, 1992).

Foi com este olhar que os colonizadores reproduziram nos povos do novo continente a imagem do selvagem e propiciaram a ideia de que o selvagem é um ser para a guerra. Essa imagem se projeta para o discurso atual sobre a violência, buscando na noção de violência natural a legitimação para a ação repressora e autoritária da sociedade moderna. Nesta interpretação, a relação entre violência e sociedades tidas como atrasadas, assume o caráter de universalidade nas sociedades ditas desenvolvidas. A figura do nativo violento invade não apenas o imaginário social, mas também o campo da ciência (HOBBES, 1992). Defendemos a posição da desmistificação

do pressuposto de que o homem é, em estado natural, uma “fera” e de que caberia ao Estado o papel de domador. Isto envolve um processo de desconstrução ideológica que se dá, necessariamente, no campo da luta política e, portanto, independe de redescobrir a causalidade desse fenômeno.

A problemática da violência contra crianças se insere no contexto mais amplo da escalada que esse fenômeno vem assumindo nos últimos tempos, podendo se dá em diversos contextos: na escola, na rua, nas relações de trabalho, no trânsito, na vizinha da criança e até na própria casa (violência doméstica ou intrafamiliar).

Na presente pesquisa, nosso enfoque será a violência praticada contra as crianças em seus próprios lares, já que dentre os diversos tipos de violência praticados contra elas a violência doméstica merece destaque tendo em vista que é responsável por 88,8% dos casos de violência contra a criança (AZEVEDO, 2005).

Infelizmente as crianças não são as únicas vítimas da violência doméstica. Trata-se de um problema social de grande dimensão que afeta toda a sociedade, em especial as mulheres, as crianças, os adolescentes, os idosos e deficientes (BRASIL, 2001). De acordo com Ferrari e Vecino (2002) a violência revela uma relação assimétrica e hierárquica de poder com o fim de dominação, exploração e opressão e está relacionada aos fatores estruturais, socioeconômicos e psicoculturais, que influenciam a conduta dos indivíduos e grupos sociais.

Contudo, a violência doméstica contra a criança tem uma particularidade. Sendo, dentre os grupos mais vulneráveis, aquele mais frágil, a criança é, na maioria das vezes, a última a ter acesso aos direitos básicos de cidadania.

Diante da fragilidade e da dependência emocional infantil, a violência doméstica contra crianças é um fenômeno que se sustenta na relação autoritária, no abuso de poder do adulto que deveria ser referência positiva para a construção da identidade da criança. Esta dinâmica relacional

adultocêntrica dificulta o desenvolvimento infantil e compromete a construção de vínculos afetivos fundamentais no processo de socialização.

Todavia, não se pode compreender a violência doméstica analisando apenas a dinâmica dos relacionamentos. Faz-se necessário considerar a sociedade e a cultura onde ela ocorre, pois quando alguém mergulha no íntimo de seu ser não encontra uma personalidade autônoma, desvinculada de determinações sociais.

Daí porque a compreensão da violência doméstica contra crianças brasileiras deve, necessariamente, fazer-se à luz de uma percepção histórico- crítica do Brasil em seus aspectos socioeconômicos, políticos e culturais.

Não se pode esquecer que somos um país com uma desigualdade social absurda e evidente, onde, em 1990 os 20% mais ricos tinham um rendimento 26 vezes maior do que os 20% mais pobres. Somos um país com qualidade de vida deteriorada, ocupando a 72ª posição no Relatório sobre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) divulgado pela ONU em 2002.

O IDH é um dado utilizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para analisar a qualidade de vida de uma determinada população. Os critérios utilizados para calcular o IDH são: Grau de escolaridade, Renda, Nível de saúde. O IDH varia de zero a um e quanto mais se aproxima de um, maior o IDH de um local. De acordo com dados divulgados em novembro de 2010 pela ONU, o Brasil apresenta IDH de 0,699, ocupando atualmente o 73° lugar no ranking mundial. Apesar do país vir conseguindo elevar o seu IDH e hoje ser classificado entre os países com IDH alto, existem grandes disparidades sociais e econômicas entre os estados brasileiros. No Nordeste, quase 75% das crianças vivem em famílias com renda per capita de até meio salário mínimo (UNICEF, 2004). Deste modo, classificar o Brasil entre os países com alto IDH torna-se uma ironia.

Este retrato do Brasil nos permite entender a violência doméstica contra nossas crianças, entre outras coisas, como uma manifestação da desigualdade social e da cidadania precária em um país desigual, de marcada pobreza social e política. Permite ainda conceber que este perfil se produziu

historicamente no bojo das transformações socioeconômicas e políticas cujas raízes remotas estão no nosso processo colonizatório, no escravismo, na família patriarcal.

Diante do exposto até aqui, vê-se que a violência doméstica contra crianças é um fenômeno causado por múltiplos determinantes (socioeconômicos, culturais, psicológicos e situacionais). Por isso privilegiamos neste trabalho, como modelo explicativo, o modelo multicausal e interativo originário dos estudos de Azevedo e Guerra (2005).

É multicausal por tratar-se de um modelo assentado no pressuposto de que o abuso-vitimização intrafamiliar praticado contra crianças decorre da interação entre determinantes socioculturais e determinantes que envolvem a relação familiar, na qual se fazem presentes elementos psicológicos e culturais do pai, mãe e filho(a). E é interativo por tratar-se de um modelo que traz implícita a hipótese histórico-crítica de (re)produção do padrão social e da interação pai-mãe-filho(a).

O modelo interativo multicausal que privilegiamos aqui se baseia na abordagem sócio-psico-interacionista, cujo postulado básico é o de que

[...] embora as condutas humanas decorram da interação indivíduo-sociedade, a direção dessa interação é clara: o psicológico (individual) é condicionado pelo social e esse condicionamento se produz historicamente. (AZEVEDO; GUERRA, 2006, p. 23)

A violência doméstica, embora seja um fenômeno associado à pobreza, ocorre invariavelmente em todas as classes sociais. Contudo, nos segmentos mais pobres, o ambiente físico (casas construídas muito próximas, inexistência de muros, etc) facilita a exposição dos casos à vizinhança, enquanto nas classes sociais mais elevadas, onde as “mansões” são protegidas por altos muros, torna-se mais difícil que a vizinhança perceba tais casos.

Embora a violência doméstica seja de difícil diagnóstico, devido à cumplicidade da família em proteger o agressor, seus desdobramentos podem ser observados em ambientes extrafamiliares, como a escola, tendo em vista que as crianças dão várias pistas, na maioria das vezes não verbais, sobre as situações de violência doméstica das quais são vítimas.

A fim de identificar o fenômeno, deve-se conhecer o perfil do agressor. Este, geralmente, vê a criança como um objeto, raramente comparece nas reuniões escolares, descreve a criança como preguiçosa, de má índole e causadora de problemas, culpa a criança pelos problemas no lar, defende a aplicação de disciplina severa, demonstra irritação e pouca paciência com o comportamento próprio das crianças, cobra da criança desempenho físico e/ou intelectual acima de sua capacidade, tem um histórico de violência em sua própria infância, faz uso de álcool e outras drogas e mente sobre a causa das lesões da criança quando é questionado a respeito (SANTOS, 2004).

O perfil da vítima também precisa ser observado. Geralmente ela teme exageradamente os pais, tem baixa autoestima, está sempre em estado de alerta e falta constantemente à escola. Evidentemente, os sinais de alerta vão variar conforme o tipo de violência (CUNHA, 2004).

É bom lembrar ainda que, em 70% dos casos, o agressor é o pai biológico. Porém, se for levada em consideração a frequência das agressões, a mãe agride mais, porém o pai causa lesões mais graves. A maioria dos agressores leva uma vida normal, em apenas 10% dos casos o agressor sofre de transtornos psiquiátricos (FELIZARDO; ZURCHER; MELO, 2004).

O tema abordado nesta pesquisa – violência doméstica contra crianças – apresenta uma relação com a violência entre as classes sociais, característica do modo de produção das sociedades capitalistas. Contudo, existem outros determinantes além dos estruturais, pois esta “é um tipo de violência que permeia todas as classes sociais como violência de natureza interpessoal” (GUERRA, 2008, p.31).

Isso significa reconhecer que se é verdade que o abuso-vitimização doméstica de crianças depende, por hipótese, sobretudo de um padrão abusivo

de interação pai-mãe-filho(a) enquanto padrão de relacionamento interpessoal familiar, contudo, esse padrão foi construído historicamente por indivíduos que revelam as marcas de sua história pessoal no contexto da história socioeconômica, política e cultural de uma dada sociedade. (AZEVEDO; GUERRA, 2006).

A violência doméstica contra a criança é uma forma de violação dos seus direitos, uma negação dos valores humanos fundamentais. Consiste no abuso do poder disciplinador do adulto. Trata-se de um processo de vitimização, onde a criança é coagida a satisfazer os desejos do adulto, sendo vista por este como um objeto que lhe pertence, uma “coisa”.

O conceito de violência doméstica utilizado nesta pesquisa diz respeito aquela praticada contra crianças e/ou adolescentes no âmbito familiar, pelos pais, parentes ou responsáveis, sob a forma de ação ou omissão, pautada no abuso de poder, que reduz a vitima à condição de objeto.

Horkheimer (1985) consideram a família como uma agência socializadora e formadora da personalidade dos indivíduos que exerce um papel conservador e onde está sempre presente o elemento de dominação, cujo elemento central esmagador da liberdade é a autoridade dos pais sobre os filhos.

Na família, lugar de adestramento para a adequação social, a criança aprende a relação burguesa com a autoridade; o filho aprende a desenvolver o respeito pela autoridade, através da idealização da figura paterna. A família é a matriz dos mecanismos da internalização da submissão [...] (AZEVEDO; GUERRA, 2005, p.59).

Além de ser um lugar onde se forma a estrutura psíquica, a família é um espaço social onde as gerações se defrontam mútua e diretamente, é onde são definidas as relações de poder. Porém, como a família pertence à esfera privada, a violência doméstica, geralmente, é “protegida” por um pacto de silêncio firmado entre seus membros.