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AUTOR(ES) DIFICULDADES IDENTIFICADAS COM DOCENTES

3. APRENDER A ENSINAR NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES DE QUÍMICA

3.2 A formação inicial e a aprendizagem do ensino de Química

A formação inicial estabelece um momento ímpar, uma vez que é a etapa em que se tece a preparação dos futuros docentes em situações particulares, mediante caminhos de formação específicos (objetivos, conteúdos, metodologia etc.), que pretendem proporcionar competências educativas que sirvam de início para o desenvolvimento das distintas dimensões de um conhecimento profissional orientado a melhorar a qualidade da educação (GARCÍA; HERNÁNDEZ, 2003).

Para Ramalho e Núñez (1998a), a formação inicial tem uma grande importância na capacidade de antecipar e contribuir com o desenvolvimento de uma evolução global da profissionalização, percebida como um processo sócio-histórico, orientado à preparação de um profissional com competências definidas, saberes iniciais que lhe permita continuar e/ou modificar seu grau de profissionalização.

De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – Lei nº 9394/96), é imprescindível para o exercício da docência no ensino médio a devida formação profissional, ou seja, a assimilação de requisitos mínimos para que possa ter direito a um certificado de habilitação para o desempenho da função de professor. Sendo assim, a formação inicial está associada, sobretudo, com a obtenção de determinadas habilidades, básicas e indispensáveis, ajustadas a determinados princípios existentes.

O desenvolvimento econômico e tecnológico da sociedade em que vivemos, assim como a nova organização do mundo do trabalho regido por uma globalização cada vez mais abrangente recomenda a partir de reformas educacionais o desenho de uma nova estrutura escolar e, portanto, um novo enfoque na formação de professores de Química. Uma escola de qualidade passa inevitavelmente por professores qualificados desde a formação inicial para as demandas dessa nova sociedade.

Quanto à responsabilidade da formação inicial de professores:

É antiético permitir que os docentes aprendam à custa de nossos jovens ... para mudar isto, temos que construir um sistema que garanta que os mestres tenham a capacidade profissional necessária e saibam como utilizá-la (BALL; FORZANI, 2010, p. 18)

De acordo com Carrascosa et al (2008), é necessário considerar que uma formação científica séria permite ao professor inovar, mudar, selecionar com precisão os conteúdos a tratar, minimizando a possibilidade de transmitir erros aos alunos e colocando-o em uma posição diferente de um mero repetidor mecânico de conteúdos dos livros didáticos.

Nesse contexto, Tardif (2002) considera que a formação inicial tem por objetivo habituar os futuros professores à prática profissional dos professores de profissão e fazer deles práticos reflexivos. Mesmo, normalmente, não sendo suficiente para formar o professor com a qualidade necessária para o ensino, esse período da formação inicial é importante na profissão dos professores, principalmente no inicio desta, posto que pode influenciar, positiva ou negativamente, o desenvolvimento da carreira.

Ser professor compreende singularidades que o distingue das demais profissões, isto é, não é suficiente possuir um título acadêmico; é necessário dedicação e posição, que não se atingem apenas pelo simples ato de desejar ser, mas só estará ao alcance quando houver compromisso do profissional consigo mesmo, pautado pela ética e pela obrigação de crescer profissional e pessoalmente, atrelado às condições da escola para o trabalho docente.

Na opinião de Freitas (2005, p. 73), “a função social da escola se cumpre na medida da

garantia do acesso aos bens culturais, fundamentais para o exercício da cidadania plena no

mundo contemporâneo”. Uma das implicações dessa função da escola está em que, para

possibilitar uma boa formação ao estudante, perante a sociedade, o docente precisa, desde a formação inicial, atualizar-se em seus estudos, repensando as bases de sua formação, como alicerce a estruturar sua prática pedagógica.

Maldaner e Zanon (2010) afirmam que é função específica da escola promover conhecimentos que em nenhum outro contexto seria possível adquirir em sua plenitude. O sentido aos conceitos dá-se em processos sociais interativos e, no caso da escola, pela mediação pedagógica. A natureza dessa mediação exige a figura do professor nesse processo e sua formação adequada desde a etapa inicial, no caso dos professores de Química, possibilitam à sociedade ter acesso ao conhecimento científico desenvolvido historicamente.

A epistemologia da atividade profissional da docência refere-se aos processos de construção de conhecimento, saberes, atitudes e valores de diversas naturezas (NÚÑEZ;

RAMALHO, 2005). O caráter profissional docente supõe também uma nova racionalidade,

baseada na escolha argumentada de conhecimentos e procedimentos, no conjunto de diversas referências, para a solução das situações-problema da atividade profissional. Sendo assim, o professor em formação inicial deve dominar diversos procedimentos metodológicos, de modo que possa, para situações distintas, saber escolher o melhor caminho a se tomar.

Como relatam Carrascosa et al (2008), muitos licenciandos em Química apresentam graves dificuldades na compreensão e manejo de conceitos e princípios básicos que, ao se tornarem professores, terão que ensinar. Entendemos que essas dificuldades virão a se tornar obstáculos no processo de ensino, de modo que, consequentemente, se refletirão em deficiências de aprendizagem dos alunos.

O período de formação inicial do professor deve ser entendido como algo mais do que um momento para aprendizagem de conteúdos disciplinares e técnicas de ensino; deve ser um espaço de formação que demarca limites em relação a outros domínios de conhecimentos ou disciplinas. Um conjunto significativo de saberes profissionais dos professores de Química para atuarem no ensino médio deve ser determinado durante a etapa de formação inicial.

Para Lima (2007), as discussões acerca do conhecimento químico, de sua natureza, bem como o processo de construção, ainda são temas pouco enfatizados no processo de formação dos professores de Química. Por essa razão, esses professores acabam vivenciando uma formação inicial que não fornece elementos para que ingressem na profissão com saberes e habilidades que os possibilitem, por exemplo, propor atividades que auxiliem a compreensão dos alunos sobre os fenômenos químicos e suas representações.

Não obstante, as relações dos professores com os saberes que dominam para poder ensinar são consideradas fundamentais para a configuração da identidade e das competências profissionais (NÚÑEZ; RAMALHO, 2010).

Durante a formação inicial do professor de Química, a docência precisa integrar os saberes acadêmicos de Química aos saberes pedagógicos durante o processo de ensino-- aprendizagem. Uma vez que os licenciandos não poderão ensinar diretamente os conteúdos da mesma forma que os aprendem nas disciplinas específicas de química, é necessário que aprendam como e por que ensinar determinado conteúdo químico nas escolas do ensino médio (SCHNETZLER, 2000).

Segundo Marcelo (1995), é proeminente salientar que a maneira como o professor pensa o ensino, influencia a sua maneira de ensinar. Para o pesquisador, dada uma formação apropriada, os professores são capazes de utilizar nas suas aulas qualquer tipo de informação; bem como a flexibilidade de pensamento auxilia-os a aprender novas destrezas e a incorporá- las no seu repertório pessoal. Assim, o desenvolvimento profissional não é pré-definido pelo lugar e tempo em que este se desenvolve.

A qualidade da formação inicial dos licenciandos em Química tende a refletir-se no seu desempenho em sala de aula e, respectivamente, na aprendizagem de seus alunos, sendo

imprescindível para estes o domínio de determinados saberes e a busca por melhorias e reconhecimento de sua atividade profissional.