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3 QUESTÃO ÉTNICO-RACIAL E SERVIÇO SOCIAL: AS FERRAMENTAS PROFISSIONAIS PARA A GARANTIA DE DIREITOS DOS CIDADÃOS POR MEIO

3.4 A formação profissional e o compromisso com os projetos societários

Ainda com vistas à organização e primeiras colocações do que vincula a profissionalização da assistência no Brasil (tratado no início deste capítulo), se propõe, no bojo do projeto ético-político da profissão, uma estratégia visando à consolidação de uma formação profissional mais precisa às particularidades da atuação e suas estratégias no âmbito sócio-ocupacional10 do Serviço Social.

O ponto de partida da análise é o de que a luta pela afirmação dos direitos é hoje também uma luta contra o capital, parte de um processo de acumulação de forças para uma forma de desenvolvimento social, que possa vir a contemplar o desenvolvimento de cada um e de todos os indivíduos sociais. Esses são, também, dilemas do Serviço Social (IAMAMOTO, s.d.).

Haja vista, principalmente, à agudização da questão social, em que, Netto (1999) e Santos (2012) vão trazer um contexto social marcado pelo aprofundamento das desigualdades

10 Guerra (2010) e Delgado (2013) discutem amplamente acerca dos espaços sócio-ocupacionais, seus determinantes e contextualizações.

sociais advindas das novas condições de mercado reformuladas pelas estratégias de superação da crise de 1970, além de um patamar profissional totalmente novo - revelado no período do Regime Militar brasileiro, em que se reafirmam as condições de atuação refletidas pelo conservadorismo da profissão -, e passa a desenvolver um projeto profissional mais crítico.

Dessa forma, resvalando nas proposições de trabalho aos assistentes sociais, demarcando uma era em que não mais responderiam unicamente uma demanda contínua da estruturação da questão social na sociedade capitalista, mas difundiu, neste período, a necessidade de um amplo processo de conhecimento e reconhecimento dessa estrutura como um todo, e também uma tomada de posição acerca dessas questões, uma postura política efetiva frente às demandas profissionais.

Sobre a formação profissional, Iamamoto (2011) retrata que discernir acerca da realidade brasileira buscando elementos que possam dar concretude ao marco situacional relativo é imprescindível para dar uma correta direção social capaz de se transformar em diferentes momentos que compõem a conjuntura social, dando ao profissional a capacidade de antecipar problemáticas e vislumbrar alternativas para sua superação, visando o protagonismo dos sujeitos sociais.

Segundo o documento que contém a Proposta de Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social, em ABEPSS (1996), a necessidade de uma atualização dessas diretrizes na formação profissional, se dá pelos processos envolvidos nas exigências da contemporaneidade. Acerca disso, faz-se necessário uma análise do marco situacional do serviço social na contemporaneidade para a reflexão das propostas dessa nova diretriz, tendo em vista que o universo profissional encontra-se voltado para a sociedade civil e os indivíduos sociais, bem como sua relação com o Estado, nos contextos sociais e políticos, nos modos de vida e trabalho, além dos seus sonhos e projetos socialmente partilhados (IAMAMOTO, 2011).

A partir de Iamamoto (2011) e Iamamoto (s.d.) conforma-se que os ideários sociais produzidos no campo dos direitos e através das políticas, propõem um ambiente passível de conjecturas disseminadoras de identidade, relação e, sobretudo, confronto, entre sociedade e Estado, e é por onde se firmam as controvérsias do interesse profissional do Serviço Social, tendo que, trabalhar o desenvolvimento e emancipação dos sujeitos e ao mesmo tempo atender às necessidades das próprias políticas de Estado que visam à relação de troca entre ganho versus promoção de direito, dificultando a problematização e relativização do trabalho do assistente social.

A esse respeito, Iamamoto (s.d.) adiciona ao debate um conceito amplamente regulador da teleologia profissional, traz a competência não no marco administrativo- burocrático, mas com um caráter totalmente novo para abordagem profissional, a competência críticas, que basicamente são os meios pelos quais os profissionais irão balizar a sua atuação por meio de uma teleologia dialética social. Destaca-se que, esta colocação só é possível, graças a ofensiva crítico-dialética disseminada a partir do Movimento de Reconceituação difundido como estratégia de oposição ao conservadorismo da profissão no marco da Ditadura Militar de 1969 (IAMAMOTO E CARVALHO, 2011; IAMAMOTO, 2011; NETTO, 2015)

Ainda sobre a competência crítica, Iamamoto (s.d.) destaca que o discurso competente destaca o cerne das problemáticas sociais em seu contexto histórico, profundo e reparador, muito além do instituído, supondo um avanço nas fontes inspiradoras do conhecimento, um estudo completo e detalhado de toda a função e possibilidade, tendo a partir disso, novas formas de olhar, pensar e agir numa dada demanda, vencendo assim, a universalidade no trato dos problemas e gerando novas proposições à atuação profissional.

A partir desse movimento de queda do “profissionalismo estreito” que, a partir das particularidades do Serviço Social, num projeto profissional totalmente novo, torna possível uma nova construção de sua prática profissional, bem como o processo de formação profissional (IAMAMOTO, 2011)

Dado, principalmente, ao contexto sócio-histórico vigente, o qual necessitou de um olhar mais sensível e profundo às problemáticas candentes do capitalismo. Segundo Iamamoto (s.d.), alguns propostos do cenário político-social contribuíram para essa nova construção, como a ascensão dos movimentos políticos das classes sociais às vistas da luta pela elaboração e aprovação da Constituição Federal de 1988 e pela defesa do Estado de Direito, as quais transformarão completamente o cenário de demandas dos assistentes sociais e trazem também uma reflexão do significado de seu trabalho, derivando uma complexa análise que fomentaram alterações nos campos do ensino, da pesquisa, da regulamentação da profissão, e principalmente, de sua organização política, promovendo a construção de um projeto profissional radicalmente inovador e crítico.

Essa perspectiva, a qual permeia a formação do projeto profissional, tendo em vista suas relações e atuação direta aos projetos societários, é o que determina as relações de trabalho e sociedade. Pois que, é a partir dos instrumentais técnicos que se fazem a prática e estes dependem da constante e fundamentada base teórica adquirida através da produção de conhecimento tanto acadêmica quanto profissional, tendo que esta segunda categoria é objeto

direto da produção de conhecimento de fato, mesmo que não intencional este tem o poder de articular e desenvolver conhecimento prático à profissão.

Na atividade profissional, o assistente social/equipe opera, testa as estratégias e atividades pensadas, através dos instrumentos e recursos definidos, analisa e avalia esse processo, tendo em vista fortalecer decisões e/ou redirecionar e/ou mudar caminhos. Desse modo, é na operação das estratégias, na utilização dos instrumentos, meios e recursos que o assistente social/equipe vai transformando o conhecimento em situações concretas, o que significa, dialeticamente, também criar as possibilidades e condições de produzir conhecimento, cuja profundidade e amplitude, vai depender dos objetivos do profissional e das condições objetivas. Ou seja, a partir da atividade profissional, o assistente social, qualificando a sistematização da experiência antecipada no planejamento, tem a possibilidade tanto de produzir conhecimento, como de produzir material qualificado a ser utilizado por assessor, pesquisador (VASCONCELOS, 2015, p. 504).

Dessa forma, a evidência na produção de conhecimento gerada pela apropriação da realidade criticamente construída, traz novos vislumbres à profissão, confirmando uma categoria permeada por elemento da criticidade, melhor estruturada e pensada visando seu compromisso principal com seu projeto ético-político e os projetos societários os quais abarca na sua estrutura de desenvolvimento no campo sócio-ocupacional.

4 “QUEM TEM BOCA VAI À ÁFRICA”: O DEBATE NA PRODUÇÃO DE