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Apresentou-se no percurso deste trabalho o interesse em localizar a temática étnico- racial na construção do Serviço Social brasileiro, a partir do que se conjuga ser a conformação da relevância de suas minúcias no percurso teórico-metodológico que fomenta o trabalho profissional.

Assim, sinalizar a contextualização étnico-racial a partir da perspectiva de construção econômico-social - que formalizou todo desenvolvimento político da sociedade -, e pontuar o papel de relevância do racismo nessa construção, parte do que se destaca acerca do desenvolvimento de todos os segmentos de vida e sociedade das populações envolvidas no constructo étnico-racial.

Tendo em vista, principalmente, que o Serviço Social tem sua base de atuação nas múltiplas expressões da questão social na sociedade capitalista, e no Brasil, definido pelo seu processo de formação econômico-social, o constructo que mais sofre as consequências do capitalismo agressivo está materializado na população étnico-racial, condensa a importância de levantar a temática à centralidade do debate profissional.

Dessa forma, como profissionais capacitados efetivamente no trato das problemáticas sociais, organizados politicamente, comprometidos eticamente, principalmente munidos teoricamente e trabalhando seu projeto profissional em consonância aos projetos societários, e certos de que a questão étnico-racial comporta os processos mais graves da questão social, é imprescindível a estruturação e consolidação dessa discussão na centralidade da construção de seu projeto. Visualizar a questão racial nas minucias do cotidiano e ser capazes de atuar em sua problematização e superação.

Desenvolver o debate transversal dessa temática, tanto na sociedade como dentro da própria profissão - que trabalha na construção de uma sociedade igualitária a partir da realidade social dos sujeitos formalizados no projeto societário - define sua centralidade necessária. Abarcar todos os segmentos da luta classista fomentada na racialização da sociedade.

Nesse sentido, obter um espaço de discussão, troca de experiências, pontos de vista e metodologias, em que a construção da apropriação teórica no contexto étnico-racial está em sua centralidade, é essencial para a formulação de novas perspectivas e estratégias no trato da questão racial e no projeto para sua superação. A atualização do debate profissional é feita através da produção teórica do conhecimento e é a partir desta que se mantém viva a

construção de uma abordagem crítica em suas dimensões e nos diferentes espaços sócio- ocupacionais.

A partir disso, a pesquisa estruturou-se a fim de sustentar a resposta ao questionamento inicial que fomentou este trabalho: Como a categoria profissional tem pensado a questão racial?. Assim, construindo o processo que demarca a problemática étnico- racial no Serviço Social, a presente pesquisa encontrou no processo, um déficit no acúmulo teórico de conhecimento acerca da temática, elucidado na amostragem de apenas 3,95% de todos os periódicos publicados, em critério de possibilidade, no período entre 2010 e 2019 serem sobre o movimento de construção étnico-racial na categoria.

Além disso, evidenciou ainda que o debate na categoria ainda engatinha a sua consolidação, o Conselho ainda produz cartilhas e manifestos de chamamento para a luta, os profissionais ainda sentem a necessidade de localizar o debate no Serviço Social; todas essas colocações evidenciam apenas a pouca estrutura que ainda possui na construção teórica do Serviço Social e sua necessária demanda no exercício profissional reflete no déficit da promoção das políticas especiais a esses segmentos.

A partir disso, fica evidente que a construção desse debate frente à categoria ainda dá os seus primeiros passos, ainda há muita resistência e luta. Assim, a sua efetivação está na materialização de parâmetros para atuação do assistente social na Política de Igualdade Racial, tendo em vista a grande deficiência do preparo teórico-prático para com essas populações. Mas não somente. Este proposto caracteriza-se apenas como mais um artifício de preparação e consolidação da problemática étnico-racial na categoria; ainda assim, é necessário que haja um crescimento na construção do debate frente a categoria, fortaleça os espaços para sua problematização, tanto no processo de formação (academia), quanto na dinâmica profissional (espaços sócio-ocupacionais).

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