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3 QUESTÃO ÉTNICO-RACIAL E SERVIÇO SOCIAL: AS FERRAMENTAS PROFISSIONAIS PARA A GARANTIA DE DIREITOS DOS CIDADÃOS POR MEIO

3.1 Surgimento e renovação do Serviço Social no Brasil

A conjuntura que leva ao surgimento do Serviço Social difunde-se no avanço das problemáticas sociais advindas do Capitalismo em função de sua formulação monopolista, sendo distanciado de sua base de produção, causando assim, o atropelamento dos interesses sociais pelo avanço da industrialização. Época esta, em meados de 1930, que influenciou tanto o avanço das formas brutas do antagonismo de classe quanto um enfrentamento a estes antagonismos, ainda que nos seus primeiros passos. Conjura-se nestas determinações a organização da classe trabalhadora em prol de seus interesses, além do controle a "pulso firme" de contenção desse movimento que causava ainda mais rebatimentos entre as classes.

[...] o que se encontra subjacente e as unifica é a condição fundamental que expressa a desigualdade inerente à organização vigente dessa sociedade: o trabalho social e a apropriação privada das condições e dos frutos do trabalho, que se traduz na valorização crescente do capital e no crescimento da miséria relativa do trabalhador (IAMAMOTO; CARVALHO, 2001, p. 79).

Na defesa por seus interesses como classe trabalhadora detentora de direitos - cuja confirmação social se coloca através do trabalho que exerce e se ramifica nas determinações que caracterizam a importância (ou não) deste trabalho - difunde-se seu potencial de luta, sua mobilização conjunta e, principalmente, seu poder, frente à pequena fração que representa a classe dominante na sociedade, e que torna este movimento temido.

O profundo desenvolvimento do Movimento de Luta dos Trabalhadores - por melhores condições de trabalho e salários, horas de trabalho proporcionais às condições humanas de vida e sociabilidade -, delimita condições de uma nova estruturação do trabalho. Ao mesmo passo em que mobiliza os capitalistas a olharem para os profissionais, não como máquinas, mas como mão de obra necessária ao desenvolvimento da estrutura de produção.

Na mesma medida, a temeridade da burguesia por mais reivindicações e revoltas, faz com que esta adote medidas de contenção para tais situações, dentre elas a criação de leis que impedem reivindicações até certo ponto, além do controle das massas através do Estado, com a polícia, e da igreja, com ações de caridade. Sendo assim, o tripé de contenção das massas - capitalistas, Estado e Igreja -, passam a atuar no enfrentamento do desenvolvimento desse movimento. Além disso, ressalta-se uma nova estrutura de direitos sociais e trabalhistas, o surgimento das políticas sociais, a construção de sindicatos como um movimento de organização de fato da classe trabalhadora, e a estruturação de uma constituição brasileira.

O Serviço Social só pode afirmar-se como prática institucionalizada e legitimada na sociedade ao responder a necessidades sociais derivadas da prática histórica das classes sociais na produção e reprodução dos meios de vida e de trabalho de forma socialmente determinada. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2001, p. 16)

Qual seja, sendo a partir do trabalho e de seu papel da sociedade o principal movimento estrutural e estruturante que se define as relações sociais deste, além de ser capaz, por si só, de definir novos rumos e novas condições para o desenvolvimento das relações e da própria sociedade como um todo, seus contextos, estruturas, conjunturas e determinações.

Neste ponto vale destacar a diferença entre os sujeitos que formam o tripé de contenção social que se estruturam a partir do aprofundamento da questão social. Aqui se destaca a Igreja na administração da pobreza, principalmente a católica, cuja influência dispensou grandes esforços para o apaziguamento “interclasses”; os capitalistas, a partir da atuação na disposição de direitos para a classe trabalhadora, ainda que poucos e ainda que mal estruturados, e que, sua relação (capitalista-operário) de troca necessária jamais conseguiu a valorização necessária, tendo que, ao capitalista, torna-se mais fácil ceder aos interesses do capital e coletar meios para sua estrutura e ascensão, que atender aos interesses da sua força produtiva (as máquinas que respiram dentro de suas fábricas); e o Estado, cujo papel atuante nesta conjuntura, está na retirada e apaziguamento das revoltas trabalhistas que passaram a ocorrer na época.

Assim, a herança particular do Serviço Social representa a organização de uma sociedade que se baseia no potencial de luta de uma classe oprimida pela relação com o capital e modelo de classe prevalecente do capitalismo. Sabe-se que sua construção não inicia primariamente no Brasil, o seu processo histórico que se molda particularmente com a ascensão do Welfare State, cuja conjuntura do pós-guerra permitiu a tomada de consciência pelos governantes acerca dos problemas sociais, de forma concreta e melhor estruturada, e

garantiu o primeiro passo para o Estado tomar para si, inteiramente (ou quase), a responsabilidade sobre tais problemas advindos do "sofrimento" de seu povo.

O Serviço Social surge como um dos mecanismos utilizados pelas classes dominantes como meio de exercício de seu poder na sociedade, instrumento esse que deve modificar-se, constantemente, em função das características diferenciadas da luta de classes e/ou das formas como são percebidas as sequelas derivadas do aprofundamento do capitalismo. [...] aparece como uma das alternativas às ações caritativas tradicionais, dispersas e sem solução de continuidade, a partir da busca de uma nova “racionalidade” no enfrentamento da questão social (IAMAMOTO; CARVALHO, 2001, p. 19).

Aloca-se a esta discussão que não é a reestruturação do cuidado pelas ações caritativas que dará suporte à inserção do Serviço Social na sociedade como especialização da assistência, mas o trato direto pela responsabilidade do Estado com os avanços da questão social que assolam a realidade com novas roupagens e apenas cresce sem organização ou perspectiva de seu enfrentamento, assim, pensando nesse enfrentamento, se condiciona a necessidade de sua inserção.

Cabe resgatar que na Primeira República constroem-se as determinações sociais que levam a difundir o que mobiliza hoje a questão social. Advindo do processo de produção e reprodução do modo de vida capitalista, e que inicialmente foram inúmeras e falhas as tentativas do Estado de lidar com as problemáticas sociais, desenvolvendo nesse período medidas que afetariam a sociedade até os dias atuais.

Ainda deste período, marca-se também a separação da relação outrora firme e condescendente entre Igreja e Estado a partir do cunho liberal que marca a Constituição de 1891, cuja colocação à conjuntura destina-se à laicização do Estado, fazendo da República Velha um “caminho entre ovos” para a Igreja Católica, além de ser “ruim para os negócios” tendo que a referência antes prezada, agora passava a compartilhar com limites sua funcionalidade com o Estado, e mesmo sua influência ideológica. Logo, toda essa nova perspectiva traz a esta um posicionamento profundamente reacionário (VIEIRA, 1987, p. 74).

Longe de retirar o reconhecimento da importância da Igreja Católica no trato das problemáticas sociais, é imprescindível relembrar alguns pontos de importância na reflexão dessa relação tanto pelo papel político que exercia esta instituição na sociedade quanto pelo papel influenciador das massas que garantia seu significado e no patamar social que ocupava. Destacados:

1) A igreja católica era capaz de lucrar com a caridade, principalmente para manter seu posto político-social doutrinador nas definições sociais do grande capital, além disso, sua

caridade rendia aos seus cofres grande quantias de benevolência burguesa a partir do trabalho que era visto na realização de suas atividades de ajuda aos pobres.

A igreja conta com um discurso doutrinário centralizado (romano ou vaticano) que elabora as diretrizes gerais de compreensão dos problemas, estabelecendo normas genéricas para o exercício da fé católica. Entre seus instrumentos mais importantes destacam-se as encíclicas papais, que, em mais de uma ocasião, representam modificações substantivas na orientação doutrinária e na ação política da Igreja católica. Todavia, é significativo assinalar que as encíclicas encontram condições diferenciadas conforme o meio em que se implementam (CASTRO, 2000, p. 51). Acerca do que mobiliza o poder da igreja e sua reafirmação na sociedade transforma, a partir de suas encíclicas (e aqui destacada a Rerum Novarum, cuja importância na efetivação da ação católica aos problemas sociais se solidificou), em seus problemas, os problemas da sociedade, e a partir disso, permanecer soberana:

Resumindo: a encíclica é uma clara resposta à situação da classe operária e à agudização da luta de classes. Eis como a Igreja se encontrava na urgente necessidade de fixar uma posição que reforçasse a coesão ideológica da sua hierarquia e dos seus membros. Daí que a encíclica assumisse a forma de um documento de caráter eminentemente político, tentando se constituir numa proposta articuladora da conciliação entre as classes, reafirmando a condição de exploração da classe operária e apelando à reflexão dos capitalistas e do Estado sobre os riscos morais e políticos da sua conduta voraz. [...] é também uma resposta ao pensamento e às propostas de ação socialistas, mediante a qual se busca colocar o discurso religioso acima das classes sociais, recorrendo à autoridade suprema da religião e fazendo um apelo para que as coisas terrenas dos homens se submetam ao poder divino (CASTRO, 2000, p. 59).

Logo a afirmação dessa encíclica é redireciona a responsabilidade e o poder da ação dos seus seguidores para um ideal de benevolência e caridade, a fim de abrandar as consequências de suas em prol do controle do capital.

2) Através das obras de caridade, a igreja influenciava a sociedade burguesa na ajuda aos pobres, principalmente às mulheres da alta sociedade que já possuíam respeito e reverência para orquestrar grandes eventos de caridade, os quais arrecadavam dinheiro para as ações promovidas por elas através da igreja. Ora, no período, os homens não possuíam tempo para obras de caridade, ficando esta atividade a cargo de suas esposas, além disso, o que pregava a igreja disseminava a obrigação da promoção da caridade, como dever dos mais afortunados de ajudar os desprovidos de qualquer fortuna.

Esse assistencialismo oferecido pela burguesia através das ações a igreja dispunham caráter regulador das massas, tendo que, a igreja pregava ao pobre o messianismo da burguesia como gesto de boa fé, ações de boa vontade para reparar os danos que causavam com a incidência grave da industrialização que acarretava nas problemáticas sociais; ao pé que pregava aos ricos a indulgência da vida, dito que possuíam muito e que algo deveria ser

retornado para a promoção e garantia de fortunas futuras. Dessa forma, era formulada a aparente necessidade da igreja para fins de sociabilidade do capital.

3) Possibilitou identificar que as problemáticas sociais eram muito mais que mera obra do acaso, um destino cruel promovido pelo castigo de Deus, ou mesmo desafortunados sem sorte pelo acaso, mas decorria de uma conjuntura com aporte de medidas sucessivas pela estruturação da sociedade classista que criava um abismo social, os ricos precisavam ter mais e os pobres menos, para a sociedade de desenvolver à lógica capitalista.

O assistencialismo, exercido a partir da iniciativa da Igreja e do estímulo decisivo das grandes senhoras da época, adquiriu uma nova dimensão, ao se converter em profissão. Para o seu desempenho agora se fazia preciso um ciclo de treinamento que colocava os estudantes - a maioria deles precedente das camadas burguesas ou oligarcas - em contato com uma formação sistemática e com o conhecimento de algumas disciplinas. Destarte, passou a ser exigência o manejo de certos instrumentos técnicos para o cabal exercício da atividade, ao mesmo tempo em que - e este é um aspecto de especial relevância -, mediante o trabalho, os profissionais reforçavam a sua fé católica (CASTRO, 2000, p. 65).

Dito este que, impera na necessária colocação do Serviço Social a partir do que foi possível vislumbrar com uma perspectiva de totalidade das situações sociais, enxergá-las não apenas como pontos soltos na conjuntura de uma sociedade fadada à hierarquização, mas sim um conjunto de formulações que viriam basicamente da mesma força e motivação que se formava através do capital.

É através dessas proposições que é possível problematizarem o apadrinhamento do Serviço Social pela Igreja católica, tendo que suas bases formaram as primeiras distribuições de tecnicidade e formação para a especialização do ‘cuidar’, e o que viria a ser mais a frente, de fato, o Serviço Social.

4) Além dos feitos que influenciaram a guinada para a apreensão do que viria a ser o Serviço Social, as ações caritativas promovidas pela igreja e suas especializações mais adiante, dão base efetiva para o que são hoje as Organizações Não Governamentais (ONG’s), sua função e formulações frente às necessidades mais subjetivas da sociedade numa atuação paliativa dessas problemáticas.

Além do “apadrinhamento do Serviço Social” por parte da Igreja, outro fator se destaca no desenvolvimento deste nas formulações técnicas enquanto profissão, principalmente no que concerne a sua consolidação: o Positivismo, cujo papel destaca-se no desencadeamento da conjuntura profissional, tendo por base o ideal funcionalista, idealista e fenomenológico que dissemina uma caracterização dessa nova profissão num contexto arbitrário e conformista frente à questão social de fato.

Destaca-se aqui que as problemáticas sociais, ou seja, a questão social4 que se caracteriza por uma conjuntura que influencia na subjetividade de uma sociedade, sendo assim, não cabe aqui uma atuação que finde na reestruturação paliativa dos problemas encontrados na sociedade, mas uma reestruturação de base visando à superação dessa questão social.

Assim, como destacado anteriormente, o Positivismo acaba por distrair os interesses das classes, tendo que, e agora sumariamente visando à atuação profissional ao usuário, buscar nas controvérsias diárias, superficial interesse na causalidade dos fatos, e atuar principalmente no controle de disseminação deste, numa caracterização do problema e sua superação utópica.

Tais características que influenciam o início do Serviço Social no Brasil trazem a caminhada difícil e resistente de sua consolidação como comentadores das políticas do país, tendo que sua demora em trazer um consenso à categoria profissional, este que ainda se faz presente, constrói um muro que impossibilita seu respeito e reconhecimento para seu estabelecimento na sociedade - ainda que sendo notada sua necessidade, vale lembrar.

Somado a este conceito de concretude que baliza a inserção e desenvolvimento do Serviço Social, há que se determinarem os avanços políticos-ideológicos-sociais que perpassa o contexto social no período precedente a esta colocação no Brasil. O liberalismo traz mudanças efetivas na colocação dos direitos sociais frente os interesses do Estado e do Capital, tendo que, a partir dessa conjuração na sociedade, destaca os direitos e sua relevância nas relações sociais que se destacam (COUTO, 2004).

Segundo Couto (2004) as ideias liberais, caracterizando uma corrente política que difunde autonomia e liberdade aos sujeitos, baseada numa visão completa às particularidades e problemáticas subjetivas aos cidadãos - somados à colocação de fato da cidadania como direito5 - contextualiza uma série de eventos em cadeia por todo o mundo o que influencia basicamente na colocação dos direitos sociais, trazendo seu reconhecimento em primeira instância nas pautas de destaque para os governos.

Tais referências definem que caminho coloca-se na construção das políticas públicas, e no Brasil, mais especificamente, esta colocação se dá de forma rápida e sem organização. Como todas as mudanças advindas da estruturação de um novo modus operandi social e político que define estratégias de grande influência para a promoção de um bem estar social. 4 Para fins deste tópico específico, caracteriza-se como questão social toda a problemática social em absoluto, inclusive e principalmente a questão racial nesse processo.

5 “A expansão dos serviços sociais no século XX está estreitamente relacionada ao desenvolvimento da noção de cidadania” (IAMAMOTO; CARVALHO, 2001, p. 89).

Além das influências que balizaram a inserção do Serviço Social como categoria profissional, destaca-se que é a partir das consequências advindas do antagonismo de classes que fecunda a intervenção técnica especializada do assistente social. Sendo assim, é a partir de meados dos anos 1930, pelas consequências atrasadas do pós-crise mundial de 1929, que o Brasil sofre as consequências da crise econômica; além disso, as consequências da revolução de 1930 traz ao Brasil um novo patamar político e econômico com efeito nas determinações sociais que dará uma nova relevância, mais profunda, à questão social.

Evidentemente não pode ser entendido como uma simples transposição de modelos ou mera importação de ideias, pois suas origens estão profundamente relacionadas com o complexo quadro histórico-conjuntural que caracterizava o país naquele momento. A acumulação capitalista deixava de se fazer através das atividades agrárias e de exportação, centrando-se no amadurecimento do mercado de trabalho, na consolidação do pólo industrial e na vinculação da economia ao mercado mundial. (MARTINELLI, 2005, p. 122)

Todo esse elemento histórico desencadeia modificações no processo produtivo - as maiorias negativas - causando o aprofundamento, mais agressivo6, das problemáticas sociais, além disso, a marca do período revela um olhar mais preciso no que concerne o campo dos direitos civis, políticos e sociais, tendo em vista o caráter populista e desenvolvimentista - características políticas que marcaram a trajetória sociohistórica brasileira nesse período e que, resguardadas as suas particularidades, são a síntese das heranças construídas desde o Brasil colônia¨ (COUTO, 2004).

Vale propor também, que o profundo interesse e mobilização pelos direitos sociais trazem grande impacto para a economia, trazendo impactos negativamente permanentes para os capitalistas, haja vista a nova proposição de responsabilidade financeira e social, frente o Estado, que passara a ter sobre os direitos sociais, materializado nos direitos trabalhistas mais efetivos e um comprometimento maior com os impactos sociais a que se colocam as ações do capital, haja vista que ¨a política do governo Vargas centrou-se na tentativa de organizar as relações entre capital e trabalho [...] seu primeiro ato foi criar, em 1930, o Ministério do Trabalho [...]¨ (COUTO, 2004).

A este propósito, sabe-se que já no final do século XIX e início do século XX, os contextos de direitos sociais mudam completamente seu cenário, medidas de intervenção em longo prazo na melhoria das condições, principalmente dos trabalhadores, já são calcadas, e isso se deve particularmente às lutas reivindicatórias dos trabalhadores (IAMAMOTO;

6 E esta é uma tendência da questão social, visto que o necessário estrutural de crises para a manutenção do capital reflete em desestruturações cada vez mais acentuadas e problemáticas sociais cada vez mais agressivas. Pode ser compreendido a partir de (IANNI, 1989)

CARVALHO, 2001). A organização do proletariado desde seu princípio constrói uma profunda visibilidade às suas problemáticas, abarcando, nesse período, uma ampla trajetória no patamar político com relação aos seus direitos e um arranjo social melhor estruturado; em que, efetivamente, só terá um composto relativo de total garantia de efetivação, um “contrato certo”, com a colocação das problemáticas sociais a frente dos interesses do capital, e isso se dá, efetivamente a partir da Revolução de 1930.

A partir dos impactos causados por toda a conjuntura que se forma até a Era Vargas - derradeiro processo de culminância da questão social, o aparato do Estado como higienização social policialesca, a ascensão das referências católicas no processo de gestão e ¨enfrentamento¨ da pobreza e do pauperismo, a organização do proletariado, a vertente positivista que mina a construção do Serviço Social e o Liberalismo que dá base para sua construção e a colocação efetiva das políticas sociais, além de ser preponderante das problemáticas capitalistas em seu contexto político e econômico - nasce, no Brasil, o processo de construção das mobilizações sociais, econômicas e políticas que darão início ao que caracterizam as políticas sociais no país.

As expressões da luta de classe se transformam em objetos de assistencia social, e os serviços sociais que são expressão de ¨direitos sociais¨ dos cidadãos, transmutam-se em matéria prima da assistência. Explicitando: o que é direito do trabalhador, reconhecido pelo próprio capital, é manipulado de tal forma, que se torna um meio de reforço de visão paternalista do Estado, que recupera nesse processo o coronelismo presente na história política brasileira, agora instaurado no próprio aparelho do Estado. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2001, p. 93)

A política assistencialista, que inicialmente é desenvolvida pelo empresariado no âmbito da empresa, com o interesse claro de “adestramento” de seus operários, tendo em vista que é a partir disso que produz controle sobre a “mercadoria força de trabalho” e também disso que, ao passo em que se condensam certa garantia de direitos – materializados nas concessões trabalhistas -, desfavorecem o poder de decisão dos trabalhadores sobre assuntos