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As áreas do conhecimento do Serviço Social e as tendências teórico-metodológicas da questão étnico-racial no segmento profissional

4 “QUEM TEM BOCA VAI À ÁFRICA”: O DEBATE NA PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL SOBRE A PROBLEMÁTICA ÉTNICO-

4.2 As áreas do conhecimento do Serviço Social e as tendências teórico-metodológicas da questão étnico-racial no segmento profissional

Introduzindo o debate às áreas de atuação do Serviço Social é imprescindível ressaltar que nem todos os artigos estavam dimensionados em alguma política pública de atuação da profissão, ou área particular ao serviço. Tendo isso em vista, é possível localizar que 40% dos artigos revisados fazem link diretamente com o Serviço Social. Dentre os periódicos de uma forma geral, sua estrutura versa entre localizar diretamente o debate étnico-racial na categoria profissional, tendo em vista seu compromisso com os projetos societários, bem como o localizando como matéria de sua estrutura de atuação.

Além disso, pode-se elencar todo o material construído pelo CFESS o qual demarca categoricamente a posição da categoria e sua mobilização frente à temática étnico-racial;

pensados e construídos como uma incitação à mobilização da categoria para olhar mais profundamente às tendências particulares dessa inscrição popular.

Cercam-se essas produções às tendências construídas no campo da atuação profissional, pensadas, construídas e formalizadas a partir da pontuação do debate na categoria, suas formas e formulações que geram conformação na categoria questão social, a qual fundamenta o exercício profissional do assistente social, e sendo assim, localizar exatamente a construção racial no que concerne o capitalismo no Brasil, torna-se central às problematizações.

Há que se destacar que, apesar da trajetória já consolidada da questão étnico-racial, bem como da própria Política Nacional de Promoção da Igualdade racial (PNPIR) na sociedade como um todo, tendo em vista os avanços midiáticos acerca da temática, as campanhas nacionais de conscientização, a visibilidade das problemáticas indígenas e negras frente à sociedade vem ganhando cada vez mais espaços, em que, mesma medida, não acompanha a produção de conhecimento no Serviço Social, pois que o interesse em localizar e centralizar o debate na categoria evidencia-se em cada artigo, notícia e cartilha da temática produzida pela categoria.

Acerca dos dados coletados nesta pesquisa, é possível destacar os pontos centrais que expõem a dimensão étnico-racial no contexto sócio-ocupacional dos assistentes sociais.

A partir das dimensões de saúde e assistência, o que se destaca mais evidentemente é a falta de acesso a direitos básicos como a concessão de benefícios essenciais e saúde básica, tanto pelo segmento indígena quanto pelo negro. Disso, destacam-se as políticas públicas referentes a estas dimensões, as quais encontram barreiras estruturais no processo de desenvolvimento a estas comunidades específicas.

Mais evidentemente no que concerne a particularidade da mulher negra, tendo em vista o maior cuidado com a saúde que se deve ter e em especial no momento de gestação. Confirma-se neste o maior número de mulheres vítimas de violência obstétrica no segmento negro, evidenciando assim o status predominante do racismo institucional, presente nas descrições de violência, desde o pré-natal, até o momento do parto, sem qualquer instrução, encaminhamento ou informações básicas, as mulheres negras sofrem o maior índice de mortalidade materna e abortos espontâneos.

Além disso, no segmento indígena, o aparecimento de doenças graves decorrentes do uso excessivo de álcool e outras determinações que envolvem o seu estilo de vida completamente diferente da sociedade nacional, sem esquecer-se de destacar a pessoa com deficiência nesta construção, que sofre grande discriminação pelo seu povo e encontra

dificuldades no desenvolvimento de suas potencialidades, taxados como “inúteis”; também as doenças específicas da população negra, que encontra dificuldades na sua identificação, causando complicações no trato atrasado destas, passíveis de consequências irreparáveis.

Na educação, a principal temática abordada é a dificuldade de acesso que enfrentam essas populações, além disso, o papel dessas escolas no enfrentamento das desigualdades raciais, tendo em vista que o ambiente escolar está propenso às múltiplas determinações, o que pode tornar-se uma armadilha e até um obstáculo à promoção da igualdade racial.

Também neste contexto, apresentam-se as políticas de construção da igualdade, promovida através das cotas universitárias, decorrente de um longo processo de estruturação da realidade negra frente à formação da sociedade de classes e a forte instituição e mobilização das legislações de igualdade racial presentes atualmente.

Na conjunção dos direitos humanos e sociais e/ou sócio-jurídica o que reflete nas discussões que fomentam a temática, vincula-se ao genocídio da juventude negra, cerceado pelo enfrentamento de estigmas sociais, culturais e econômicos, materializado na construção de classe, sequenciando uma formulação criminalizadora e excludente das relações sociais.

A maior evidência, no entanto, decorre por parte da polícia, tendo em vista o racismo institucional presente fortemente em suas práticas, tendo em vista, principalmente, a construção racializada das localidades, incidindo discrepantemente sua atuação mais rígida em bairros negros.

Acerca dessa construção, também se evidencia o direito com “poréns”, principalmente no segmento indígena, o qual não conforma nas determinações sociais nacionais e enfrentam grandes problemáticas principalmente no que se refere aos benefícios sócio-assistenciais. Mesmo modo funciona a discriminação étnica racial nas instituições a partir do racismo institucional, largamente tratado na amostragem desta pesquisa.

Aborda ainda um questionamento demasiado valioso para a categoria: Quanto o assistente social contribui para reproduzir as práticas racistas? A partir dessa indagação, constrói-se o fato de que muitas vezes, na prática profissional, o assistente social não conduz seus interesses nas potencialidades dos indivíduos, não fomentam uma atuação comprometida com o método crítico, que baliza a atuação pensando nos interesses da classe trabalhadora e trabalhando para sua emancipação.

Alguns artigos irão pontuar a falta de evidência quanto aos dados referentes à construção do acesso às políticas. O recém-debate incorporado pelos assistentes sociais acerca das denominações de quilombos, e tribos, a falta de especificação de suas localidades, e ainda

o frágil processo de definição de cor, raça e etnia nos documentos oficiais, o que define uma deficiência constante nas caracterizações oficiais do perfil das políticas.

Assim, no marco de sua atuação, acaba por fomentar as desigualdades recorrentes nos demais segmentos da sociedade, difundindo o processo de invisibilidade dessas populações pelas instituições governamentais e influencia negativamente no processo emancipatório dessas populações.

Ademais, o que fica evidente nesse conjunto de problematizações, destaca-se no agravamento das necessidades sociais cada vez mais presentes, o atual contexto de crise que se opõe às determinações da classe trabalhadora, as reformas no trabalho, seguridade, assistência, saúde, que provocam as desigualdades sociais e evidenciam a necessidade de parâmetros para atuação do Assistente Social que fomente uma distribuição de contingentes especiais à particularidade étnico-racial no Brasil.