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3 QUESTÃO ÉTNICO-RACIAL E SERVIÇO SOCIAL: AS FERRAMENTAS PROFISSIONAIS PARA A GARANTIA DE DIREITOS DOS CIDADÃOS POR MEIO

3.3 Consolidação do projeto ético-político da profissão

As projeções sociais em cadeia desenvolvidas ao longo das transformações políticas- econômicas-sociais transformam o mundo do trabalho, evidencia a discrepância entre as classes, agudiza a questão social e defasa a estrutura das políticas públicas minadas ao longo do tempo, tudo isso se dá principalmente pelo avanço indiscutível do neoliberalismo no desencadeamento político-econômico que influencia a sociedade desde a segunda grande crise mundial.

Em contraposição, particular ao Serviço Social, formula-se na profissão, a partir da realidade de grandes mudanças sociais, um projeto que “parte da consciência de liberdade, como garantia da autonomia, da emancipação e da plena expansão dos indivíduos sociais, na busca de uma ordem societária sem dominação/exploração de classe, etnia e gênero” (VASCONCELOS, 2015).

A esse respeito, Guerra (2010, p. 105)

Tem-se como estratégia a defesa de valores sociocêntricos: as noções de público (a coisa pública), da universidade e de gratuidade dos serviços, de direitos e, sobretudo, da prestação de serviços de qualidade. [...] é importante que o assistente social, como qualquer outro trabalhador, vislumbre estratégias coletivas, de modo a unir a sua luta com a de outros trabalhadores a favor da universalidade de cobertura; do reconhecimento de Seguridade Social como política pública, bem como, pela ampliação do que a Constituição define como Seguridade Social, não a restringindo às políticas de Assistência, Previdência e Saúde. Lutar pela ampliação do que se torna como Seguridade Social e por uma política social que incorpore o direito ao trabalho. Ainda no âmbito do projeto ético-político, ressalta-se a necessidade quanto à Lei de Regulamentação da Profissão e às Diretrizes da formação profissional. Traduz-se aqui uma construção de posicionamento frente a ofensiva neoliberal, a oposição às suas perspectivas, colocam em evidência o potencial de comprometimento com as matérias da questão social.

Aqui estamos nos referindo a assistentes sociais que, identificando as demandas presentes na sociedade e desvelando as possibilidades de ação contidas na realidade, formulem e ofereçam respostas profissionais que favoreçam o protagonismo de diferentes segmentos da classe trabalhadora na luta de classes, com imposição de limites ao capital, no enfrentamento dos mecanismos de exploração/dominação e da exploração do trabalho, da propriedade privada e da concentração da riqueza socialmente produzida, nas quais a desigualdade de classe tem sua origem, desigualdade que potencializa e é potencializada pelas desigualdades de etnia e gênero. Ou seja, estamos nos referindo a uma atividade profissional que favoreça os trabalhadores a transitar da submissão e defensiva para a ofensiva (VASCONCELOS, 2015, p. 438).

Evidenciando assim, o trabalho em conjunto entre o profissional e a sociedade, haja vista que o assistente social, tanto quanto quaisquer sujeitos da classe trabalhadora, apesar de trabalhar diretamente ligado aos interesses do capital, estão em mesma escala propensos a conformarem o marco situacional a que se inserem como profissionais (assim se inserem tanto como profissionais atuantes, quanto profissionais lesados pela conjuntura) tendo que se inserem na divisão social e técnica do trabalho em contexto de base, classificando assim, classe trabalhadora e sendo emersos pelo mesmo movimento organizado.

[...] o engajamento político nos movimentos organizados da sociedade e nas instâncias de representação da categoria garantiria - ou seria uma condição fundamental para tanto -, a intervenção profissional articulada aos interesses dos setores majoritários da sociedade. [...] é o reconhecimento da dimensão política da profissão e as suas implicações mais além do campo estrito da ação profissional, pensada a partir da inserção nos movimentos organizados da sociedade (IAMAMOTO, 2011, p. 53).

Logo, quando de um contexto em que assolam a realidade social da classe operária, materializado na radicalização do trabalho livre, acumulação de excedente do dito exército industrial de reserva que não consegue consolidar-se como trabalho assalariado, e pensando nas deficiências sociais causadas pelo desenvolvimento dessa ofensiva, não só se necessidade, mas se deve uma mobilização concreta do Serviço Social, principalmente condensados pelo e onde se constroem e se condensam seu trabalho, balizados, principalmente, pelo seu Código de Ética do Assistente Social (1993) e pelo compromisso político com a classe trabalhadora.

Além disso, não somente a atuação profissional comprometida com os direitos humanos e sociais, mas a construção de um diálogo crítico acerca desses pontos, tanto com os usuários quanto entre a própria categoria, abre brecha para um resultado mais efetivo com um comprometimento difundidor do caráter mobilizador e emancipatório dos sujeitos e seus contextos (BARROCO; TERRA, 2012).

Assim, tem-se a caracterização e articulação da materialidade profissional como a máxima em importância no que se trata de referenciar-se e respaldar-se basilarmente e legalmente em meio ao conjunto de concessões a que se expõe a profissão, tendo que, em seu contexto histórico já se evidencia a estruturação de marcos reguladores que se formalizam no aglomerado de formulações a que se determina, porém não se finda, o Serviço Social; tem-se como primordial para a para a atuação profissional, dois pilares principais de baliza jurídica e política: Lei de Regulamentação e Código de Ética (DELGADO, 2013).

Os projetos profissionais apresentam a auto-imagem de uma profissão, elegem os valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam seus objetivos e

funções, formulam os requisitos (teóricos, práticos e institucionais) para o seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem as bases das suas relações com os usuários de seus serviços, com as outras profissões e com as organizações e instituições sociais privadas e públicas (inclusive o Estado, a que cabe o reconhecimento jurídico dos estatutos profissionais) (NETTO, 1999).

Dessa forma – a partir da Lei de Regulamentação (Lei n. 8.662/93) que prescinde toda as determinações estruturais da profissão, além de demarcar seu desenvolvimento no cotidiano institucional e respaldar a categoria legitimamente – o processo de construção profissional se desenvolve mais amplamente. Além disso, todo esse processo de regulamentação, dá base para a colocação de diretrizes curriculares, que, como coloca Netto (1999), todo o percurso histórico, teórico e metodológico da profissão culmina na reestruturação acadêmica e abre espaços cada vez mais democráticos na produção do conhecimento.

Ademais, em conjunto com as determinações do Código de Ética Profissional, dá suporte à categoria para problematizar, articular e se desenvolver em todos os segmentos da sociedade, reformulando-se e reestruturando-se a medida em que se condensam as demandas profissionais, o que se faz de extrema importância a colocação, tanto do ambiente acadêmico, quanto do artifício da produção de conhecimento para a construção da categoria.