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IV. A Qualidade da Informação

IV.2. A qualidade da informação financeira

IV.2.5. A gestão dos resultados

A gestão de resultados (earnings management) através da manipulação dos acréscimos (accruals management) é, porventura, a mais ampla área de investigação relacionada com a qualidade da informação financeira. A ideia subjacente à gestão dos resultados é a de que existe uma relação negativa entre a gestão dos resultados das empresas e a qualidade dos relatórios financeiros. Se existir uma gestão dos resultados, através da manipulação dos critérios contabilísticos ou da ausência de informação clara sobre operações e ativos, a qualidade dos resultados tende a ser reduzida e a qualidade dos relatos financeiros será pobre. Segundo Healy e Wahlen (1999), a gestão de resultados ocorre quando os gestores usam o seu julgamento nos relatórios financeiros e estruturam as operações alterando os relatórios financeiros no sentido de desinformar os acionistas sobre o desempenho económico da empresa ou influenciar os resultados contractuais que dependem dos números contabilísticos divulgados.

Para Jones (1991), a gestão de resultados pode ser alcançada através da manipulação dos acréscimos (accruals), pela alteração dos métodos contabilísticos ou por alterações na estrutura de capital e Gunny (2005) classifica a gestão de resultados em três categorias: 1) contabilidade fraudulenta; 2) gestão dos acréscimos (accruals management) e; 3) alteração das atividades reais de produção (real earnings management). Segundo o autor, a contabilidade fraudulenta traduz-se em tomar decisões contabilísticas que violam as normas de contabilidade, a gestão dos acréscimos consiste em decisões que, no limite das normas de contabilidade, obscurecem ou mascaram o verdadeiro desempenho da empresa e a gestão dos acréscimos relacionados com as atividades reais de produção ocorre quando os gestores empreendem ações que se afastam das boas práticas no sentido de aumentar os resultados reportados. A autora argumenta que a contabilidade fraudulenta e a gestão dos acréscimos não se realizam alterando as atividades económicas fundamentais da organização mas através da escolha de métodos contabilísticos usados para representar a sua atividade fundamental. Pelo contrário, a gestão de resultados através das atividades reais relacionadas com a produção alcança-se alterando as atividades fundamentais das organizações através, por exemplo, da redução dos preços no final do exercício para antecipar as vendas do próximo exercício, do atraso das decisões de investimento desejável e da venda de ativos fixos para influenciar os ganhos e perdas com o objetivo de melhorar os resultados do exercício corrente.

De acordo com Chaney et al. (2011), os utilizadores da informação financeira estão geralmente interessados em avaliar o desempenho atual e futuro das empresas e, segundo os autores, tem havido desde sempre um debate intenso sobre em que medida as várias regras contabilísticas refletem esse objetivo. Para os autores existem operações cujos registos contabilísticos requerem apenas uma aplicação mecânica das regras contabilísticas mas existem outras operações cuja forma de contabilização depende do entendimento ou julgamento dos gestores ou dos contabilistas. Chaney et al. (2011) argumentam que estes julgamentos introduzem erros, intencionais e não intencionais, na contabilização das operações que estão depois refletidos nas respetivas demonstrações financeiras. Os erros intencionais são frequentemente referidos como discricionários. No que diz respeito à qualidade da informação, acrescentam os autores que não interessa a fonte do erro, mas sim que ambos os tipos de erros reduzem a qualidade da informação contabilística e das demonstrações financeiras associadas.

Chaney et al. (2011) defendem que os resultados divulgados pelas empresas nas demonstrações financeiras são considerados um indicador primário da qualidade da informação, sendo prática comum a análise concentrar-se na magnitude absoluta e/ou na variabilidade dos acréscimos para avaliar a qualidade dos resultados, uma vez que o resultado de uma empresa é função do dinheiro gerado pelas operações e do montante dos acréscimos reportados. Em particular, considerando que os acréscimos incluem tanto a componente discricionária como a componente não discricionária, e uma vez que a componente discricionária reflete o julgamento da gestão, a maioria da investigação sobre a qualidade dos resultados, segundo os autores, tem-se centrado no estudo dos acréscimos discricionários. Um acréscimo pode definir-se da seguinte forma (adaptado de Dechow, 1994): suponha-se que as vendas totais de uma determinada organização no exercício t são , das quais as vendas a crédito constituem uma proporção θ das vendas totais e as restantes são vendas a dinheiro. Tudo o resto constante, os resultados ( ) da organização no exercício t são iguais a , em que uma parte é constituída por uma entrada de dinheiro [( ) ] e outra parte por um crédito igual a A venda a crédito, apesar de ser recebida no período seguinte (“t+1”), afeta os resultados do período “t”. Esta venda a crédito no período “t”, que afeta o resultado do período “t”, mas que é recebida no período “t+1” tem a designação de “acréscimo”. A equação do resultado para esta operação pode escrever-se da seguinte forma:

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Identificando o fluxo de caixa (entrada de dinheiro), ( ) , por e a venda a crédito (acréscimo), , por 13, a equação anterior pode escrever-se da seguinte forma:

+

em que os resultados ( ) são iguais à soma da entrada de dinheiro ( ) com o acréscimo ( ). O acréscimo, sendo um direito de recebimento futuro, é contabilisticamente um ativo que figura no balanço da empresa no final do período “t”. O princípio contabilístico do acréscimo significa, precisamente, que o acréscimo (venda a crédito) é o registo de uma operação que é reconhecida no momento em que ocorre (momento “t”), independentemente do momento em que o seu valor vier a ser recebido (momento “t+1”).

Esta identidade mostra que o valor dos resultados ( ) depende do valor líquido dos fluxos de caixa e do valor do acréscimo total. Qualquer manipulação do valor do acréscimo reflete-se no nível de resultados do período. A manipulação deliberada do valor dos acréscimos (aumentando-os ou reduzindo-os), com o objetivo de alcançar maiores ou menores resultados, corresponde a uma manipulação dos resultados da organização. Segundo Dechow (1994), os resultados são uma medida sintética do desempenho de uma empresa apurados com base na contabilidade de acréscimo, mas a autora argumenta que a utilização deste sistema de contabilidade pode apresentar um problema relacionado co o facto de a gestão ter alguma discricionariedade no reconhecimento dos acréscimos. Acrescenta a autora que os potenciais investidores usam a informação financeira disponibilizada pelas demonstrações financeiras para preparar as suas decisões de investimento e para avaliar a capacidade das empresas gerarem resultados, acrescentando que uma elevada manipulação dos acréscimos traduz-se em informação sobre os resultados pouco fiável e, neste caso, a informação sobre os cash-flows pode ser mais adequada para avaliar a capacidade da empresa em gerar resultados.

Dechow et al. (2010) sumarizam os modelos mais amplamente usados para estimar os acréscimos normais, confirmando que a modelização do processo de geração de acréscimos é uma importante área de investigação. De um modo geral, o objetivo da investigação é o de distinguir entre acréscimos normais e acréscimos anormais ou discricionários (devido à discricionariedade da gestão). Dechow et al. (2010) definem os acréscimos normais como aqueles que capturam os ajustamentos que refletem o desempenho fundamental da empresa, enquanto os acréscimos anormais (abnormal accruals) são os que capturam as distorções

13 CF e AC são as expressões mais frequentemente usadas na literatura para designar as entradas e saídas de

dinheiro e os acréscimos, respetivamente. Manteremos, tanto quanto possível, as expressões originais utilizadas na literatura.

induzidas pela aplicação das regras de contabilidade ou pela gestão dos resultados, ou seja, são os acréscimos que resultam de um sistema de medição impreciso. Os autores defendem que a interpretação geral é a de que, se a componente “normal” dos acréscimos for modelizada corretamente, então a componente “anormal” representam uma distorção de menor qualidade.

Os autores destacam que um importante ponto a ter em conta nestes modelos é o de que as medidas de acréscimos anormais obtidas por estes modelos tendem a estar positivamente correlacionados com o nível de acréscimos, ou seja, uma empresa com acréscimos extremos também apresenta acréscimos anormais extremos. Esta observação é importante para interpretar os resultados destes modelos. A correlação levanta preocupações sobre se os acréscimos anormais refletem distorções contabilísticas, ou se, em vez disso, eles são o resultado de uma deficiente ou pobre especificação do modelo.

Dechow et al. (2010) focam a discussão na capacidade de cada um destes modelos identificar os acréscimos anormais que representam uma distorção. Erros de classificação incorreta dos acréscimos (entre normais ou anormais ou discricionários) podem incluir erros do Tipo I que classificam os acréscimos como anormais quando eles resultam do desempenho normal da atividade, e erros do Tipo II que classificam os acréscimos como normais quando eles na verdade não o são.

Os modelos para estimação dos acréscimos apresentados por Dechow et al. (2010) são os seguintes:

i) O modelo de Jones (1991);

ii) O modelo modificado de Jones (Dechow et al., 1995);

iii) O modelo de desempenho equilibrado (Performance matched); iv) A abordagem de Dechow e Dichev (2002);

v) Erros de estimativa discricionária (Francis et el., 2005).

Antes de Jones, a investigação sobre a gestão de resultados começou a ganhar notoriedade com o trabalho de DeAngelo (1986). Este autor estudou a questão da gestão dos resultados a partir da análise dos acréscimos usando uma abordagem não baseada em qualquer modelo de estimação de acréscimos, como a de Jones.

DeAngelo (1986) investigou as decisões contabilísticas tomadas pelos gestores de 64 empresas de Nova Iorque e do mercado de capitais norte-americano num processo de

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Management Buy-Out (MBO) testando empiricamente a hipótese de os gestores que

pretendiam adquirir essas empresas, e que são simultaneamente os gestores responsáveis, minimizaram os resultados reportados pelas empresas nos períodos que antecederam o processo de aquisição.

Uma vez que os resultados das empresas, apurados na ausência de decisões de gestão contabilística discricionária não são diretamente observáveis, foi necessário definir uma proxy para esses resultados. DeAngelo (1986), citando Healy (1983; 1985), afirma que este autor “desenvolveu uma abordagem empírica que usa o fluxo de caixa operacional da empresa como uma proxy para o que deveriam ser os resultados da empresa na ausência de manipulação do resultado de gestão. A metodologia de Healy estima a extensão dessa manipulação como o acréscimo contabilístico total (total accounting accrual) no período em causa” (p.408), definindo este como “a diferença entre os resultados reportados e o cash-flow operacional desse período” (p. 408):

Segundo DeAngelo (1986) a abordagem dos acréscimos pode revelar as técnicas subtis de redução dos resultados usadas pelos gestores, na medida em que estes podem ter um incentivo para utilizar estas técnicas porque, de um modo geral, elas não são facilmente detetáveis pelos indivíduos (potenciais investidores, por exemplo) ou pelas entidades exteriores à organização. Os acréscimos, refere o autor, refletem as decisões dos gestores relativamente a write-

downs14, ao reconhecimento ou diferimento de receitas ou despesas e à capitalização ou realização de determinados custos, para além de capturarem o efeito de estimativas contabilísticas, a alteração dessas estimativas e a alteração nos métodos contabilísticos. Continuando a citar Healy (1983; 1985), DeAngelo (1986) argumenta que a abordagem dos acréscimos, no entanto, apresenta algumas limitações, a mais importante das quais é a de que o total dos acréscimos engloba a componente discricionária, ou anormal (abnormal), e a componente não discricionária das decisões dos gestores15. Assim, identificando para o período t os acréscimos discricionários como e os acréscimos não discricionários como , o acréscimo total de Healy (1983; 1985) apresenta-se como:

14 Redução do valor contabilístico de um ativo porque está sobrevalorizado relativamente ao seu valor de

mercado. Aproxima-se do conceito atual de “imparidade”.

15

Segundo DeAngelo (1986), se os acréscimos não discricionários ( ) forem relativamente grandes em relação ao acréscimo total ( ), então o acréscimo total é uma proxy pobre para a dimensão da manipulação dos resultados no período t.

Para além de grandes, os acréscimos não discricionários podem também ser sistematicamente negativos para muitas empresas, mesmo na ausência de manipulação sistemática dos resultados. Neste caso, a observação de que pode conduzir à inferência errada de que os gestores deliberadamente minimizaram os resultados quando a explicação correta é a de que os acréscimos totais normalmente contêm uma componente não discricionária negativa. Para DeAngelo (1986) existem dois fatores que podem conduzir a que o acréscimo total possa ser negativo. O primeiro é de que o principal componente do acréscimo é a depreciação do imobilizado o qual implica um acréscimo total negativo16, para além de que a despesa de depreciação inclui uma componente elevada de não discricionariedade. O segundo fator é de que Healy (1983) apresenta na sua investigação um acréscimo total médio de - 2,01% em relação ao ativo total na sua amostra de 250 empresas da Fortune no período de 1973-1980, o que fornece evidência empírica de que, para um dado período, o nível de acréscimo total pode ser normalmente negativo, mesmo na ausência de incentivos sistemáticos para minimizar os resultados.

Com base nesta evidência empírica e nos trabalhos anteriores, designadamente os trabalhos de Healy de 1983 e de 1985, DeAngelo (1986) utiliza no seu estudo o acréscimo total do período anterior ( ) como referência para o que deveria ser o acréscimo total do período corrente

(t) na ausência de manipulação de resultados, testando se o valor médio do acréscimo anormal, ou discricionário, é significativamente negativo para as empresas da amostra no período anterior à operação de MBO, interpretando este resultado (de significativamente negativo) como evidência de atenuação ou redução dos resultados. Esta interpretação baseia- se na hipótese de que a variação média dos acréscimos não discricionários é aproximadamente próxima de zero ( ).

Considerando esta hipótese, uma redução média significativa do acréscimo total ( ) reflete, principalmente, uma significativa redução média nos acréscimos discricionários ( ).

16 Partindo da identidade = - , um aumento da despesa com a depreciação do imobilizado reduz o

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Partindo das identificações anteriormente feitas, a formulação de DeAngelo (1986) é a seguinte: ( ) ( ) ( )17 ou seja, se, Então:

O acréscimo total (AC) é calculado como a diferença entre os resultados líquidos (NI) e o fluxo de caixa operacional (CF), dado que, como se viu, segundo Healy (1983; 1985) . Deste modo é possível escrever a variação do acréscimo total entre dois períodos da seguinte forma:

( ) ( ) ( )

Os resultados globais encontrados por DeAngelo (1986) para a amostra selecionada são de que as variações nos resultados e as variações nos fluxos de caixa operacionais são insignificantemente diferentes de zero em cada um dos três períodos anteriores à operação de MBO. Segundo DeAngelo (1986) a evidência empírica não permite suportar a hipótese conjunta de que os gestores das empresas da amostra sistematicamente reduziram os resultados antes da operação de MBO, nem que tal redução seja aproximadamente medida por uma redução sistemática nos acréscimos totais.

Jones (1991) utilizou uma amostra de 23 empresas pertencentes a 5 indústrias para estudar se as empresas que beneficiaram do auxílio às importações tentaram reduzir os resultados, através da gestão de resultados, durante a investigação feita pela United States International

Trade Commission (ITC). A autora estimou a componente discricionária dos acréscimos totais

em vez da componente discricionária de um único acréscimo, argumentando que a estimativa dos acréscimos totais é mais apropriada ao contexto em que a pesquisa é realizada, dado que a ITC estava interessada nos ganhos antes de impostos e que estes incluem os efeitos de todas as contas de acréscimos. Os gestores, segundo a autora, poderão ter usado várias dessas

17 t representa o período corrente e t-1 o período imediatamente anterior. Na sua formulação DeAngelo (1986)

contas de acréscimos, em vez de um só acréscimo, para reduzir os resultados antes de impostos.

Utilizando a metodologia de DeAngelo (1986) para um período de 7 anos18, Jones (1991) verificou que no período antes do ano 0 todas as variações dos acréscimos são relativamente pequenas. No ano 0 a variação dos acréscimos é negativa, o que, visto isoladamente, pode sugerir que os gestores tomaram decisões no sentido de reduzirem os acréscimos e os resultados. A autora argumenta que a metodologia de DeAngelo (1986) pode ser usada como suporte da afirmação da existência de gestão de resultados apenas se for assumida a hipótese de que a diferença entre o acréscimo total do período corrente e o acréscimo total do período anterior é devido somente a variações nos acréscimos discricionários, uma vez que se assume que a variação do acréscimo total não discricionário entre o período corrente e o período anterior é igual a 0 ( ). Para relaxar esta hipótese, Jones (1991) optou por

estimar os acréscimos totais a partir de variáveis relacionadas com a atividade das empresas. O modelo estimado foi o seguinte:

[ ] [ ] [ ] em que:

= Acréscimos totais no ano t para a empresa i

= Receitas das vendas no ano t menos receitas das vendas no ano t-1 para a empresa i = Imobilizado bruto no ano t para a empresa i

= Ativos totais no ano t-1 para a empresa i = Termo de erro no ano t para a empresa i

i = 1,…,N (dimensão da amostra)

t = 1,….,T (número de anos considerados no período de estimação para a empresa i)

O modelo de Jones (1991) estima os acréscimos totais (TA) em função da variação das receitas entre o período corrente (t) e o período anterior (t-1) e em função do valor do imobilizado no período corrente. A inclusão do imobilizado no modelo tem como objetivo controlar as variações nos acréscimos não discricionários causados por alterações nas

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condições de funcionamento da empresa, bem como controlar a parte do acréscimo total relacionada com a despesa de depreciação não discricionária, argumentando a autora que as receitas são usadas para controlar o ambiente económico da empresa uma vez que são uma medida objetiva do funcionamento da empresa antes da manipulação dos gestores. As variáveis usadas são divididas pelo ativo líquido do período anterior para controlar o efeito da dimensão nos resultados. O acréscimo total é calculado da seguinte forma:

[ ] [ ]

O acréscimo total inclui, portanto, a variação das contas do capital circulante, tais como as contas a receber, as quais dependem numa certa dimensão da variação das receitas, existências e contas a pagar. O valor estimado do resíduo da equação é dado por:

( [ ] [ ] [ ])

Para a autora o nível de acréscimos discricionários é dado pelo valor estimado do resíduo ( ): “The prediction error, , represents the level of discretionary accruals at a time t” (p.

212). A ideia subjacente é a seguinte: se o modelo estimar os acréscimos decorrentes da atividade normal das empresas, então, a sua comparação com os acréscimos observados fornecem uma ideia da dimensão dos acréscimos anormais, ou discricionários. Na verdade, os resíduos do modelo estimado, ou erros, representam todos os fatores que afetam os acréscimos mas que não são explicitamente considerados (é um substituto de todas as variáveis explicativas omitidas do modelo mas que coletivamente afetam os acréscimos). Se o erro de previsão ( ) for estatisticamente significativo, então a conclusão é a de que existe manipulação de resultados.

Os resultados dos testes empíricos apresentados pela autora suportam a hipótese da existência de gestão dos resultados, sugerindo que os gestores tomaram decisões no sentido de manipularem os acréscimos para redução do rendimento (resultados) durante o período de auxílio às importações. Os acréscimos discricionários terão sido acentuados, mais do que seria esperado, durante o ano em que a ITC completou a sua investigação (ano 0).

Segundo Dechow et al. (2010), apesar de o crescimento das vendas e do investimento em ativo imobilizado serem condutores razoáveis e intuitivos do valor da empresa e o modelo confirmar a correlação entre estes atributos fundamentais da empresa e os acréscimos, o poder explicativo do modelo de Jones (1991), no entanto, é baixo, explicando apenas cerca de 10%

da variação dos acréscimos. Uma interpretação para a baixa capacidade explicativa do modelo de Jones (1991) é, segundo os autores, que os gestores têm uma considerável discricionariedade sobre o processo de geração de acréscimos.

Dechow et al. (1995) propuseram uma modificação ao modelo Jones (1991) ajustando-o pelas vendas a crédito com o objetivo de reduzir os erros do tipo II produzidos pelo modelo inicial de Jones, uma vez que, de acordo com Dechow et al. (2010), as vendas a crédito são frequentemente manipuladas. O modelo especificado por Dechow et al. (1995) é o seguinte (tal como no modelo original, as variáveis são alisadas pelo ativo líquido do período anterior):

(

) ( ) ( )

Em que representa as contas a receber líquidas do período menos as contas a receber líquidas do período anterior. A introdução desta variável no modelo tem como objetivo controlar o efeito discricionário sobre as receitas, dado que, segundo Dechow et al. (2010), é sobre as contas a receber que os gestores exercem maior discricionariedade. Na verdade, segundo Dechow et al. (1995), o único ajustamento em relação ao modelo original de Jones (1991) é o de que as variações nas receitas (rendimentos) são ajustadas pela variação nos créditos a receber no período do evento, argumentando os autores que o modelo original de