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A GRANDE SÍNTESE — PREFÁCIO A QUARTA EDIÇÃO ITALIANA

A Grande Síntese, 4ª

edição italiana, Editor Ergo - Roma, 1951.

A Grande Síntese, publicada pela primeira vez em série numa revista, de janeiro de 1933 a setembro de 1937, teve sua primeira edição Hoepli, em 1937; depois também a segunda Hoepli, em 1939: e a terceira edição Ergo -Roma, em 1948. Agora apresenta-se na quarta edição italiana, pela mesma editora Ergo.

Estas duas últimas edições não apresentam prefácio, a fim de não perturbar, com comentários humanos, a atmosfera do texto. Por isso, este prefácio à quarta edição, é publicado com os demais neste volume: Comentários.

Entre a primeira e as últimas duas edições muitas coisas aconteceram. Primeiro: a condenação ao índex. O autor falou dis so no capítulo XVIII, “Condenado”, em História de um Homem, e voltará a falar no fim deste volume, resumindo objetivamente toda a questão. Depois veio a guerra mundial. Parece que a história quis sublinhar o supremo apelo das "Mensagens Espirituais", e quis preparar, com a dor e a destruição, renovando coisas e espíritos, uma compreensão e uma divulgação maiores para A Grande Síntese.

Em todas estas suas edições, o texto do volume permaneceu intacto. Como foi possível que o autor, tão respeitoso em re lação a qualquer autoridade, não só não tivesse corrigido os erros teológicos que lhe foram imputados, mas ainda tornasse a publicar o texto sem modificações? Essa questão será tratada na terceira parte, no capítulo: “condenação ao índex”. Aqui falamos disso para esclarecer melhor. Além dessa condenação, ocorreu também ou tro fato novo, entre as duas primeiras e as duas últimas edições. O autor esclareceu e precisou melhor o pensamento que ele registrara somente em grandes linhas na Síntese. Isso o fez em volumes posteriores, onde pôde aprofundar a questão, porque não lhe fora possível num quadro sintético unitário. Julga, assim, ter feito tudo o que podia para esclarecer o mal-entendido, e de ter, com isso, realizado tudo quanto lhe permitiam sua consciência e seus deveres diante de Deus. A Autoridade que condenou talvez leve em conta esta tentativa, que não sabemos se alcançou seu objetivo, mas que indubitavelmente é um sinal de boa vontade de obedecer sem violar deveres maiores de consciência.

Mas houve outros fatos. Os tempos se tomam tão gra ves e a solução dos grandes problemas do ser revela-se tão urgente, os ânimos têm tal necessidade de soluções definitivas e de orientação racional diante dos últimos "porquês", sob o flagelo da dor que acossa, que não é mais possível repousar tranqüilamente no leito das tradicionais concepções da verdade. Elas não bastam mais à mente moderna. Os velhos edifícios do pensamento humano são inadequados

diante das vertiginosas maturações novas. E a vida acelera seus tempos com tal pressa de concluir a atual hora apocalíptica, que as acusações de doutrina heterodoxa passam para segunda linha, diante de tais necessidades. Assim, A Grande Síntese, que a elas satisfaz, embora não perfeitamente ortodoxa, não pode ser impedida de realizar a função para que nasceu, como supremo apelo aos homens para que voltem a seu juízo, na orla da destruição universal. Quando a casa está ardendo, qualquer pessoa que o possa, tem o dever de tentar apagar o incêndio, mesmo que não o saiba fazer com as regras da arte, e isto é o que parece heterodoxia. Como calar, quando pode ser culpa ficar calado? Muitos estão de acordo em dizer que este livro faz bem, orienta na dor, volta a dar esperança e fé, e com isso traz a muitos a coragem de viver. Como recusar-se a isso?

Novas e imensas destruições parecem inevitáveis para o mundo, porque o homem só pode compreender por experiência própria. Esta, para cada um como para os povos, tem que ser pessoal. É pois inevitável e necessário o cataclismo mundial. Ora, se este livro não o pode evitar, ao menos ajudará a compreendê-lo, de modo que, ao sair dele, o homem, aterrorizado por aquilo que fez, já encontrará escrito um novo modo de viver e as bases da demonstração lógica da utilidade dele, que só então — e não hoje — poderá ser compreendida. O homem só poderá deixar de acreditar nas miragens que agora o iludem, de felicidade egoísta e materialista, se quebrar a cabeça com elas. Urge, portanto, preparar desde hoje, para o mundo, o pão do Evangelho, não um pão convencional, mas vivo pela evidência da demonstração, alimento adaptado à nova forma mental moderna. A doutrina de Cristo deve penetrar na vida de forma universal, e, após a destruição de tantos valores materiais, só ela poderá salvar-nos, com a chegada dos valores espirituais. O homem precisa do alimento eterno, da verdade que não muda no tempo e no espaço, que não muda como partido ou nação que vence, que existe, não em função, mas além dos interesses humanos. A hora que urge não nos permite negar uma contribuição de salvação, para ficar olhando sutilezas, que não escandalizam ninguém, porque poucos as compreendem. Há outra imprensa bem diferente, de uma baixeza bem acessível, e que triunfa sempre.

Quando a besta, hoje dominando o mundo, tiver assassinado tudo, que vida lhe poderá restar, se não souber caminhar sofrendo, mas arrependida — pela estrada da redenção que Cristo lhe mostrou de sua Cruz? Que fará o homem, quando se achar diante da catástrofe que ele quis e realizou, se não estivermos em condições de fazê-lo compreender, com a sua linguagem moderna, a subversão evangélica, isto é, que o triunfador não é quem vence na Terra — pois assim cada vez mais se encadeia a este inferno — mas é o que se liberta, superando esta fase biológica numa vida mais alta? É evidente que bem cedo não sobrará para o homem outra grandeza senão a de Cristo pregado na Cruz, que é a dor que redime. Sabemos que hoje, como ocorreu para os próprios apóstolos, a cruz significa escândalo e vergonha, que a dor que redime é julgada derrota. No entanto, que fará o homem após o desastre, se não souber ressurgir na loucura da cruz, aprendendo com a dura realidade, que a única salvação consiste na ascensão através da dor? O homem atual não compreendeu nada de Cristo. Ou compreende e O segue, ou será seu fim. Hoje, no dealbar do Terceiro Milênio, a história prega a humanidade toda sobre a cruz de Cristo, de acordo com o exemplo que Ele deu. Estamos na noite profunda, justamente porque a aurora está próxima, a aurora da manhã de ressurreição. Repete-se para o mundo, em milênios, o mesmo ritmo da vida, antecipado e concentrado em três dias por Cristo, o qual, depois da segunda noite no sepulcro, ressuscitou na alvorada do terceiro dia. E a humanidade, em dores, deve ressurgir, como Ele, no seu terceiro dia, que, para ela, é o Terceiro Milênio.

Tudo hoje está arrastado pelo impulso da hora que amadurece. Este volume, com toda a obra que o acompanha, a está acompanhando. Por que julgar? Não se podem tirar as conclusões do que seja, enquanto tudo não se tiver realizado, enquanto não tiver terminado a vida do autor e a história não tiver falado, para confirmar. No entanto, um fato pode tornar-nos perplexos. Este livro é divulgado como por força própria no mundo. Quem lhe dá essa força? E se esta viesse do Alto, exprimindo a vontade de Deus? Quem então quererá assumir a responsabilidade moral para detê-la? O autor não se sente com força bastante. Pode perfeita- mente surgir a dúvida de que se queira obstaculizar uma obra de Deus. Na incerteza é ao menos prudente deixar as coisas tomarem o curso que elas parecem querer. Quem pode conhecer os desígnios de Deus? Entreguemo-nos à Sua vontade, para segui-la sempre, seja hoje ela se manifestando nesta ou amanhã, em direção evidentemente oposta. Deus não tem boca, mas fala; não tem mãos, mas trabalha; não lhe faltam meios de fazer-se compreender, quanto ao que Ele quer de nós.

Permanece assim esta Grande Síntese como a pedra fundamental de toda a obra de 12 volumes, e como expressão mais imediata da fonte inspiradora. Todos os outros volumes a confirmam O edifício, paulatinamente, se levanta como se obedecendo a um plano pré- estabelecido, que o autor antes ignorava, para culminar nos céus, até Cristo, vértice da pirâmide. Embora não ainda ultimada a obra, todo o seu plano já está hoje traçado, num sistema unitário que se ergue como um bloco em trilogias sobrepostas, num edifício harmônico, em que o autor sobe com o mundo, seguindo o mesmo processo da catarse biológica, que quer levar todos, com o novo milênio, ao limiar da nova Civilização do Espírito.

Para o leitor a quem tudo isto possa parecer orgulho, o autor conclui: "Ajuda-me a desprezar-me, peço-lhe, porque não desprezo nenhum ser, na Terra, tanto quanto a mim mesmo. Isto, não por humildade, mas pela própria lógica de todo o sistema, porque é coisa natural para quem o compreendeu, porque esta é minha convicção diante de Deus. Mas que o leitor saiba, também, que por trás de mim está Cristo, o qual é extremamente sábio e poderoso, embora eu, pobre instrumento,. seja extremamente ignorante, fraco e falaz; está Cristo, mesmo se eu, que por irresistível paixão, tenho a presunção de querer imitá-lo, não o consiga de modo algum. Procure, então, esse leitor, andando mais além do que este pobre instrumento, alcançar Aquele que fala realmente, nesta Grande Síntese; procure raciocinar com Ele, e não comigo, sem dar a mim valor maior do que o que pode merecer um pobre amanuense.

PIETRO UBALDI

A GRANDE SÍNTESE - PREFÁCIO A PRIMEIRA