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Das revistas: Ricerche Filosofiche e

Palmi (Reggio Calabria) — Outubro-Dezembro de

1937.

Pietro Ubaldi - As Noúres, Editor Hoepli - Milão, 1937. Neste livro, além de serem encontrados pensamentos já conhecidos no campo filosófico e científico, e aqui bem acolhidos — valor da consciência intuitiva, purificação ética e arrebatamento simpático por um mais profundo, objetivo e amplo conhecimento, princípio animador de todas as coisas, sugestão do

ambiente —, e também páginas literariamente vivas e vibrantes, como aquelas sobre a história espiritual de Joana D’Arc, acha-se, sobretudo um importante testemunho psicológico. A originalidade da ultrafania do autor consistiria:

a) No fato de que ele determina ativamente, por si, as condições (ascensão) para encontrar as correntes de emanação espiritual (Noúres), as quais tendem a manifestar-se e exprimir-se na dimensão humana do inteligível, mediante um processo de transformação de dimensões;

b) Em que, durante a recepção, ele se mantém consciente, e, portanto capaz de passar continuamente do estado supernormal ao normal, e vice-versa. Durante essa passagem, pode "registrar" as mensagens; que lhe permite, outrossim, dar-se conta plenamente do fenômeno, e portanto descrevê-lo.

Se, no entanto, fossem pedidas provas do autor, mesmo lógicas (seu próprio testemunho é apenas uma prova subjetiva e psicológica), que sua mediunidade seja verdadeiramente inspirativa, isto é, provas de que ele recebe de correntes estranhas a ele e, sobretudo — como afirma — impessoais, mesmo que elas emanem como todas as outras que percorrem o cosmos do único centro que é Deus, não se acharia a resposta.

Estando no terreno da recepção, poder-se-ia admitir que, num estado de hipersensibilidade, podem captar-se irradiações de outros seres vivos pensantes, talvez mesmo habitantes de outros planetas, num estágio evolutivo muito superior ao nosso, para explicar que o produto é superior — como o afirma o autor — às suas capacidades intelectuais e culturais (as quais, não obstante, neste livro se mostram bastante amplas), quando não se queira pensar em elaborações que afloram de uma herança culta ou — o que é mais conveniente — a uma inspiração subjetiva proveniente das próprias condições de pureza e de sugestão em que o autor consegue colocar-se; mas a impersonalidade só pode ser uma ilusão subjetiva, também devida, talvez à falta de aprofundamento do processo despersonalizador, universalizador e objetivante do pensamento teorético (com efeito, o autor refere-se ao modo como escreveu A Grande Síntese).

Quanto ao fato de a tradução das correntes noúricas, na estorvante e inadequada linguagem humana, ser difícil e o autor sair da consciência normal à supernormal — trata-se apenas de um resumo — na minha opinião é um processo típico de criação espiritual, quando se verifica não ser fácil exprimir o que se intuiu e pensou numa tensão ardente de consciência, e se procura voltar ao ponto focal da inspiração, ou seja, tornar-se a colocar naquela tensão e intensidade de consciência, da qual se passa e repassa num contínuo esforço, sobre o qual Bergson escreveu páginas admiráveis, em Deux Sources.

(a) D. A. CARDONE

Da revista La Ricerca Psichica, ano 39, n9 9, setembro de 1939. Pietro Ubaldi, Ascese Mística, Editor Hoepli - Milão, 1939.

Não é fácil, sem dúvida, apreciar as obras dos místicos, porque se sabe que o místico não "demonstra", mas "afirma", baseado em luzes que, segundo ele, lhe chegam de um plano superior ao humano. Por isso, muitos dos que foram chamados para manifestar seu juízo a respeito desta obra, verdadeiramente interessante e merecedora do prêmio que lhe foi adjudicado, recusaram-se a fazê-lo, concluindo que "há obras, como estas, que são recebidas como se

apresentam; indiferentes à crítica e invulneráveis, porque ou se acredita nelas,ou não se acredita" Este é um conceito geral, aplicável a todas as categorias e formas de misticismo, mas, no caso presente, a questão da "invulnerabilidade" se torna ainda mais séria, quando se pensa que Ubaldi apenas descreve suas próprias experiências psíquicas e dá razão pública de seus estados de alma.

Nós, que até agora não tivemos a sorte de elevar-nos às sublimes alturas a que parece ter chegado o autor, não estamos, para falar francamente, autorizados a analisar e criticar o que por sua natureza transcende a lógica ordinária e a crítica. De qualquer forma, procuraremos pôr em relevo rapidamente o que nos parece mais utilizável, neste volume, para os fins da educação espiritual e da investigação psíquica.

Apresenta-nos o autor a inspiração como o resultado da evolução da mediunidade, que, de passiva e incipiente, sobe à maior altura espiritual ao se tornar ativa e consciente. Tem importância muito particular o que escreve a respeito da técnica da inspiração. Esta ocorreria mediante o contato entre os dois termos: o centro emanante (onda-pensamento) e a consciência do médium. Quanto mais perfeito for este trabalho de sintonização e harmonização, tanto maior é a eficiência da emanação dos centros noúricos (das noúres), em relação às consciências individuais.

Notemos, a este propósito, que a idéia do sujeito, que sobe com poderoso esforço volitivo até o objeto de sua contemplação, e do objeto que responde a esse contato com análoga descida, constitui o núcleo do ensinamento místico. A teologia cristã canonizou esse estado com a teoria bastante conhecida da graça eficaz. Deus faz descer os raios vivificantes de Sua bondade, particularmente nas almas que não só põem em funcionamento todas as suas energias espirituais, para tornar-se dignos de sua origem divina, mas também que se enchem de amor e o expandem. Belíssimas palavras nos dá a ler o autor, quando exalta o altruísmo e condena o egoísmo, pois o altruísmo se acha em constante comunicação com o todo, ao passo que o egoísta vive a expensas do todo. O primeiro identifica o próprio bem com o de seus semelhantes e revive nestes; o segundo opera uma contração das forças espirituais, tira a respiração da psique e a sufoca.

Digna de especial consideração parece-nos a teorização, quase geométrico-matemática, dos planos de consciência. Afirma o autor, de fato, que sentiu e viveu os estados místicos que o conduziram à aquisição de uma noção adequada do mecanismo e da evolução, o que ele julga poder fixar em diagramas, para maior evidência. Com estas projeções diagramáticas de sua intuição, Ubaldi quer colocar-nos nas mãos a chave, para compreender as grandes linhas da evolução espiritual: ascensão do ser a planos superiores de vida, em conseqüência do que, verifica-se uma dilatação correspondente da consciência; progressiva superposição de individuações e fusão de consciências, em forma de existência coletiva.

A doutrina das “consciências coletivas,” é sem dúvida outro dos traços mais importantes da intuição do autor, mas acreditamos que ela necessite ulterior explicação, pois parece-nos que a harmonização a que devem as consciências constantemente tender, não seja muito compatível com a "fusão" de que ele fala. Com efeito, dois ou mais campos de força e de consciência que se fundem, perdem, ou pelo menos enfraquecem, os traços característicos pelos quais se distinguem, de tal forma que o campo A seja algo diverso do campo B, e, sendo diverso, possa harmonizar-se com ele. Está bem que, apesar desta, a individualidade se conservará, pelo fato de que a zona de não-coincidência (1/2 - 1/4 - 1/8 - 1/16 etc.) jamais se anula; mas parece- nos que a lei de, atenuação do separatismo entre unidades de consciência e a correspondente lei de fusão de individuações, seja desvantajosa ao verdadeiro e próprio princípio da individuação,

que pode ser considerado como o pressuposto da harmonia e do amor, aos quais Ubaldi levanta hinos em termos tão profundamente apaixonados. Numa palavra, o caminho do espírito não pode ficar assinalado por um enfraquecimento da individualidade, embora com aplicação mais vasta da boa vontade por parte de cada ser consciente.

É fácil perceber — ficando no domínio do racional — que os termos: "amor, altruísmo,

sacrifício" e também "coletividade" implicam a aseidade e a pluralidade das consciências, e são representantes apenas dos vínculos morais que ligam umas às outras. É verdade, também, que quando duas ou mais pessoas se amam desesperadamente, costuma dizer-se que "suas almas se fundem", mas aqui trata-se de figura retórica e expressão poética.

No entanto, merecem louvor incondicional os propósitos do autor, de guiar a humanidade aos planos espirituais mais elevados, de ajudá-la a penetrar no domínio do "superconsciente". Ele exalta o amor e as mais altas virtudes, e o faz com linguagem tal que produz certamente impressão bem profunda, especialmente naqueles que sentem a sugestão da "florescência" mística.

É preciso sobretudo apreciar estes trabalhos em vista do bem e do conforto que trazem a

uma parte da humanidade, e de particular modo quando ameaças graves pesam sobre ela. E se nos colocamos deste ponto de vista, temos de constatar que a expressão favoreceu otimamente a intenção do escritor.

Às vezes Ubaldi cede de maneira excessiva ao próprio entusiasmo, e, por assim dizer, carrega um pouco as tintas, a esse "heróico furor" místico-pedagógico nem sempre é simpático. Mas esta é uma simples observação, que não diminui o valor da obra de que tratamos.

(a) R. FEDI