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AS NOÚRES APRECIAÇÃO DE FERM

(Videntes, Filósofos, Cientistas)

Da Revista Gerarchia - Milão (Itália), janeiro de 1938.

Dizem as pessoas superficiais que, ao menos a partir de 1500, está desaparecendo do espírito italiano aquela especial condição de espírito que dá origem aos místicos e videntes. Se se fala de um tipo nebuloso e fantasioso, que se retempera no indeterminado e no indefinido, podemos dizer que isso sempre repugnou aos italianos. A luminosidade, clara, apesar de não veemente, de nosso céu, a limpidez de nossos horizontes não o permitiriam. Doutro lado, porém, esse tipo pertence mais a um misticismo deteriorado e turvo, para não chamar espúrio mas em todos os tempos e países podemos encontrar modelos fulgidamente serenos do autêntico Mis- ticismo.

Temos que incluir na nobre fileira destes últimos um modesto professor da Umbria, mais conhecido já na América Latina do que entre nós: Pietro Ubaldi.

Ocupar-me-ei, nestas publicações, de A Grande Síntese, e de As Noúres e de Ascese Mística. Mas antes, como é de meu hábito, desejo falar do duplo fato, cognoscitivo e psicológico, colocado perante nós, tal como se nos apresenta na história dos últimos dois séculos.

Anteponho, com as palavras de Marc Mario, uma rápida referência a uma doutrina e um método que se aproximam dos do autor: "A doutrina espírita, embora recente na forma que lhe deu seu fundador (Allan Kardec), se liga por alguns de seus princípios às religiões mais antigas. A velha doutrina da Índia, dos magos do Egito, Caldéia e Pérsia, conhecia a arte de evocar a alma dos desencarnados e admitia que a parte espiritual do ser — o espírito — agia sobre a matéria por meio de um fluido sideral. Professava a existência de um corpo astral, composto de elementos fluídicos cósmicos, invólucro do espírito, que é justamente perispírito. As reencarnações sucessivas, até o dia em que o espírito tenha atingido a perfeição definitiva, faziam parte de seus dogmas. Aquela doutrina defende a existência de guias espirituais, que no Espiritismo são chamados espíritos tutelares. As diversas moradas ou etapas das almas, necessárias a purificá-las, existem em todas as religiões”.

Veremos em seguida onde e como Ubaldi se afasta de certas escolas teosóficas, que têm pontos de contato, em geral, com a Índia, e com as doutrinas e práticas medievais ocultistas, rosacrucianas, cabalistas, "sufis" etc. Nos últimos séculos, e depois que muitos teólogos da contra-reforma tinham desacreditado o misticismo (como perigoso à crença ortodoxa e à disciplina), que tomou pé aos poucos entre os heterodoxos, especialmente no Norte. Paracelso, o modelo mais ilustre da sabedoria oculta na época do Renascimento, teve famosos seguidores: por exemplo, Boëhme na Alemanha e Swedenborg na Escandinávia. Deste último, muito aprenderam Goethe, quando jovem e, ainda mais Saint Martin, o mestre dos Românticos, de Schelling e do próprio Baader, que procurou adaptar a doutrina de tal forma, que ela pudesse concordar com a Igreja Católica. (Deve recordar-se aqui que, para Newman haverá sempre elementos esotéricos no ensinamento católico).

elevados e poderosos do que nós, e na possibilidade de comunicar-se com eles, em certas condições.

Depois de 1870 prevaleceu na Europa uma teosofia de caráter indiano e tibetano, e quem deu o impulso inicial foi a russa Blavatsky. Unindo-se a ela em 1889 (Blavatsky morreu em 1891), outra mulher rica de fantasia e de entusiasmo, Annie Besant, continuou sua obra, tendendo ainda mais para as doutrinas dos mestres da Ásia. Besant não cessou de escrever e de propagar seus pontos de vista até 1933, ano de sua morte. O afastamento de Krishnamurti, que, segundo ela, é a última reencarnação de Buda, entristeceu-lhe os últimos anos, diminuindo-lhe o longo prestígio, quase oracular. Trabalhara a seu lado, por algum tempo, Rudolph Steiner, e depois bruscamente se afastou, seguindo suas concepções particulares, que acreditou corresponderem a um Cristianismo católico esotérico: A "Antroposofia" de Steiner, que aparece como um sincretismo indo-gnóstico-neoplatônico, é orientada na direção da teologia cristã. A Antroposofia que enfrentou nos últimos anos as questões sociais e políticas, buscava a purificação do homem, obtida prevalentemente com o exercício da meditação e dirigida ao esclarecimento do pensamento, que se ergueria, assim, a uma visão superior das realidades últimas. Uma moral elevada, mas ainda não cristã.

No caso de Ubaldi, os autores precedentes que analisei, poderiam, abstratamente, ter tido uma influência metapsíquica e quase telepática; ou então relegada ao subconsciente. Entretanto, eu a excluo. Não por que ele tinha lido poucas páginas de Blavatsky da qual difere totalmente por temperamento, gostos, senso ético etc; mas pelo fato de que se move em outro plano, muito diverso. Além disso, sua preparação livresca, filosófica e teológica, era e é limitadíssima.

Ele confessa: "quando jovem não acreditava no que ensinavam e que eu sentia falho, inútil, sem bases substanciais. A verdade estava em mim; eu a procurava dentro de mim (como admitia Santo Agostinho). Rebelde a toda direção, lançava-me sobre o cognoscível humano ao acaso, procurando secretamente a minha verdade. Olhava o mundo e as coisas de dentro, nas causas e nos princípios, e não nos efeitos e em sua utilização prática. Como os positivos e os práticos podem considerar-me um incompetente na exploração utilitária da vida, assim eu os posso considerar como incompetentes diante da solução dos problemas do conhecimento". E ainda: "o turbilhão das exigências exteriores batia sem tréguas, impondo-se à atenção de meu espírito que queria viver sua vida. Acumulavam-se as experiências humanas, quase todas bem amargas. A dor martelava minha alma com seus golpes. Apressava-se a maturação. Um dia, nas praias de Falconara, olhando as maravilhas da criação, senti com evidência a revelação, rápida como um raio: que o todo só podia ser Matéria, Energia e Conceito ou Espirito (M = E = C) = S (isto é, Espírito)".

Ubaldi chama à sua doutrina Monismo. É necessário ter cuidado para não atribuir o sentido usual a essa palavra. Nem Spinoza, nem Hegel, nem Haeckel têm que ver com a sua filosofia. Quem atentamente o lê e não tem a mente ofuscada por prevenções e preconceitos, quem com ele se relaciona e o conhece bem, se convence de que ele não professa de modo algum o materialismo nem o panteísmo: especialmente a primeira acusação é ridícula. Pois, sem sabê- lo, ele tem a mesma concepção dos grandes Místicos cristãos e católicos, que definem Deus como a "superessência" de todas as coisas e o declaram "mais intimo em nós que nós mesmos".

Quanto a uma visão escatológica, na qual Ubaldi se aproxima de São Gregório Nisseno, falaremos em seguida.

* * *

Qual é o organon subjetivo que o autor põe em prática na busca da verdade? É a intuição. Como esta pode ser entendida de muitos modos, é necessário precisá-la, isolando este caso das várias noções correntes, mesmo pelo fato que lhe determina a inequívoca noção.

Dizem os filósofos:

“A intuição é a concepção evidente dum espírito são e atento, que nasce apenas da luz da razão e é mais pura (porque simples) do que deriva a do raciocínio" (Descartes,e, com ele, Spinoza e Locke).

"Todas as verdades primordiais, de razão e de fato, são intuitivas" (Leibnitz).

"A intuição é um ato da reflexão interna, da qual o indivíduo colhe uma realidade livremente produzida, em que o inteligente e a coisa intuída coincidem plenamente" (Schelling). "É a visão imediata da mente que, fixando como ato originário, simples, imediato, o Ente (possível — Real) assume a potência ou forma do intelecto, que torna possível o conhecimento das coisas" (Rosmmi — Gioberti).

"Oposta ao intelecto, por sua natureza abstrato e descontínuo — e, portanto não adaptado à originalidade absoluta e à continuidade do Real — está a intuição, que é a síntese do instinto orgânico e da reflexão consciente; por ela o espírito se transfere ao âmago do objeto, para coincidir com o que este tem de único, e portanto, inexprimível. E, desde que o objeto é a realidade absoluta, o ato da intuição se eleva a órgão da Metafísica" (Bergson).

"A intuição é a forma teorética primeira, mais ingênua ou auroral do espírito. Distingue- se, seja do sentimento bruto e do conhecimento lógico, que procede por conceitos universais, seja da percepção e do juízo histórico — porque permanece aquém da discriminação do verdadeiro e do falso" (Croce).

Das famosas lições na Ecole de France, de 1840 a 1844, tiro alguns pensamentos que a ela se referem:

"Donde lhe derivam (a Carlos Magno) o saber e o poder, mediante os quais estendia sua atividade a uma esfera tão ampla? Descia profundamente nele mesmo, e de lá tirava força para elevar-se mais acima. Napoleão, quando se lhe perguntava de que circunstâncias dependia uma vitória, respondia que nasce de uma centelha moral, ou seja, de um momento particular de intuição”.

Assim, todas as coisas belas e grandes da história nos levam àquelas regiões que chamamos intuição, ou seja, para a região interior da alma.

O sentimento de admiração pela arte, pela natureza, pelo heroísmo, parte de uma mesma e única fonte: a intuição. E a filosofia está hoje no dever de atingi-la.

Se para produzir esses efeitos (ardor, arrebatamento, entusiasmo) é mister ser inspirados, para senti-los se necessita uma alma elevada e capaz de seguir os homens inspirados em seu vôo para o futuro. É preciso o que Schelling chamava: um órgão especial.

Para compreender a arte e a filosofia, e para adivinhar o futuro, é indispensável extrair no âmago de nós mesmos aquela nota divina que aí está oculta.

Uma Nação que esteja pronta, a captar os altos pensamentos, a com eles tornar-se fervorosa, a pô-los em prática, deve estas qualidades a uma longa tradição de lutas, sacrifícios e abnegação. E não poderia conservá-las em si e aperfeiçoá-las, sem reconduzi-las continuamente às emoções fundamentais; sem entrar a cada momento no lar tradicional, para colher a centelha que daí salta e comunicar-se com ela de longe.

Só colocando-nos neste ponto de vista, estaremos aptos a distinguir os homens do passado dos homens do porvir. O indivíduo incapaz de comover-se com a idéia das coisas grandes e divinas não é dos nossos.

O homem que sofre, o homem que aspira, o homem livre de espírito, o homem que não procede por pequenos sistemas já feitos: este é o povo".

Eis porque o povo, em certos momentos decisivos, apanha tão depressa e com um sentido infalível, a verdade.

Até agora, dado que ninguém o ajudava a assimilá-la, para ele era dificílimo pôr-se naquele estado de espiritualidade em que a verdade se revela pronta e clara. Era necessário que o povo vencesse as resistências de sua organização física, rompesse os hábitos de sua vida diária: e só conseguia isso em raros momentos, ajudado por circunstâncias excepcionais. Foram os seus momentos de liberdade. Estrondos de trovão, tiros de canhão, clamores de assembléias públicas, eram necessários, para arrancar a alma do povo de seu letargo, pois os doutores da lei, os mestres oficiais, esquecidos de sua missão, o haviam abandonado etc.

Uma luz nova só auxilia àqueles que se acham prontos a recebê-la.

Chegou o tempo, diz Emerson, de dar uma base mais larga e profunda aos nossos conhecimentos, mas para isso (impõe-se) ampliar-nos e reformar-nos interiormente. É preciso começar nova vida, fazer-se uma consciência nova, aspirando novas energias daquele espírito universal que anima e reanima tudo.

Que é uma quantidade de nova luz, de novo calor? É o Verbo da época, o Verbo que cria, depois que a dor, inteligente e moralmente, tenha quebrado os laços da alma.

O que é verdadeiramente admirável no homem simples, que ainda não se destacou da natureza e que, portanto, não interrompeu ainda os fios misteriosos que o enlaçam à Divindade, é aquele sentimento de amor que penetra tão bem no presente e que é tão rico de adivinhação. Esse amor leva a alma que o nutre acima dos lugares e tempos, eleva-o àquela região aonde vão terminar todas as comunhões. Tudo o que aí se sente é atual: é a única atualidade verdadeira, porque imediatamente sentida... Mas que tem de comum esta segunda vista com os problemas que hoje pesam sobre a humanidade? Em que, porventura, esse dom, esse espírito de intuição poderia ajudar-nos a orientar-nos na terra? Como consegui-lo?

Aquele dom é apenas um dos momentos mais conhecidos aos artistas, aos soldados, aos intuitivos por pureza: momentos de inspiração em que nos sentimos repentinamente mais fortes e mais perspicazes, mais videntes que de costume, mais seguros de todos os meios que possuímos, mais confiantes em usá-los.

E qual é esse momento de inspiração? É o arrebatamento da alma a uma região superior. Porque, se nos sentimos repentinamente cheios de uma força desconhecida, que não deriva, absolutamente, de nossos hábitos e que supera nossos meios ordinários, ela só pode ter vindo a nós de uma região invisível e impalpável. A inspiração provará sempre, a um homem de boa fé, a existência desse mundo invisível e misterioso, que o cristão aceita como um dogma e ao qual um filósofo de boa fé é invencivelmente conduzido pela própria lógica".

* * *

Passemos, agora, a examinar As Noúres de Pietro Ubaldi.

Aqui — o veremos em seguida — projeta-se um novo método de pesquisa científica por intuição e “uma nova técnica de pensamento que circunda os problemas por tipos concêntricos,

aperta-os por ângulos visuais progressivos, enfrenta-os em visões e concepções poliédricas até desnudá-los em sua essência” (Noúres, cap. 1: "Premissas")

Revelando assim seu método próprio, Ubaldi não ignora o efeito de escândalo que vai suscitar. "Conheço esse método (o racional e objetivo da ciência moderna); conheço a psicologia sufocante dos chamados intelectuais de profissão, da cultura que eternamente reproduz o passado, que comenta e analisa, que nada cria, que pesa, que mata o espírito. Eu estou nos antípodas" (idem).

Entretanto, Ubaldi está bem longe de tomar a atitude de revelador de uma fé incontrolável, que se impõe a intelectos dóceis, satisfeitos com. o "Ipse dixit" ('Assim se diz"). Com uma análise introspectiva — cândida, perspicaz e perfeita até na forma — introduz o leitor nos seus segredos mais íntimos, segredos pessoais e técnicos. Assim, não só ele dá valor à sua filosofia, revelando-nos suas raízes ocultas e vivas, não só acrescenta um capítulo inédito à Psicologia e à Metapsíquica posterior e melhor do que W. James, Richet, O. Lodge, Osty, Bozzano etc., mas se oferece para iniciar quem quer que o deseje, desde que seja idôneo, a basear-se numa forma novíssima de alpinismo intelectual, ou melhor, espiritual.

No segundo capítulo de As Noúres, o autor disseca o “fenômeno”, de que ele é objeto, ao mesmo tempo que crítico atentíssimo e: incorruptível, além de espectador. Por que caminhos se provoca e estimula a tão falada intuição? Antes de tudo, encontrar um ambiente propicio: "Eis-me em meu pequeno escritório, ambiente de paz; em que os objetos têm algo de mim mesmo, em que a atmosfera ressoa com as minhas vibrações e tudo, por: causa da vida em comum, esta sintonizado com o meu temperamento. Eu mesmo, aí permanecendo durante muito tempo para pensar e escrever, embebi as paredes, a mobília, os objetos; de um tipo particular de vibrações, que agora voltam a mim, como uma música que harmoniza meu pensamento. O primeiro problema é este da harmonização, que me permite: a seleção das correntes (ou noúres) e a imersão nelas; delicadíssimos estados de consciência que não posso atingir senão num oásis de paz, por meio de um primeiro processo de isolamento Vibratório do barulho violento do mundo".

A HORA — “É noite, cerca das vinte e duas horas, a melhor hora em que se intensificam minhas capacidades receptivas, até cerca de uma hora da madrugada. Gosto das luzes suaves, coloridas, que deixam vagar os objetos nos contornos indefinidos da penumbra (...). Aqui, o público está materialmente longe, mas espiritualmente está presente e próximo, e eu o sinto imenso, num burburinho de mil vozes: a alma do mundo. Minha solidão está cheia dela (...). Em minha sensibilidade, o pensamento adquire a potência do relâmpago, as correntes espirituais do mundo são tangíveis, essas forças sutis são reais e entre elas caminho manobrando minha embarcação”. ( ...)

A COR INTERNA — "Não se pode imaginar que poder de harmonização emana de um ato de bondade: este é uma música que eu respiro e que docemente me impele à corrente. Esta vibração de bondade, e não só de sabedoria, é perfeição moral. Para conquistar o conhecimento tenho de atingir um estado de purificação que é leveza espiritual (...). Basta poder-se imergir nas noúres, para poder alcançar todo elemento energético e conseguir o isolamento das correntes inferiores" (...).

A MÚSICA — "Procuro ajudar-me com um processo de progressiva harmonização, que opera de fora para dentro" (...). Utilizo a música como primeiro degrau no caminho do bem e da ascensão do espírito. Então, lentamente (... . .), as harmonias musicais do ouvido se transformam nas mais profundas harmonias de conceitos. Luzes brandas, em tons menores, tudo em torno, trevas. Minha alma é uma chama que arde na noite (...). Minha consciência adormece

externamente, meu eu morre às coisas do dia, mas renasce numa realidade mais profunda" (....). A EPOPÉIA — Adormecidos e quase anulados os sentidos, a vida e a personalidade ressurgem num plano novo. "O pensamento volta, mas com uma sensação titânica, com uma lucidez cortante de visão, com uma rapidez vertiginosa de concepções, sentido despido de palavras, em sua essência. Tenho então a sensação de leveza e de libertação de véus e limites, sinto possuir em mim o poder da intuição e o domínio de uma nova dimensão conceitual (...) Então, eu vejo o que está além da realidade sensória do mundo exterior, isto é, as forças que o movem e mantêm seu funcionamento orgânico. Estas forças tornam-se vivas (...), cada forma reveste um hálito divino de conceito, que eu respiro; então sinto verdadeiramente que o universo é um grande organismo regido pelo pensamento de Deus (....). Desenvolve-se nesse momento o colóquio interior que eu registro, porque despertaram todas as criaturas irmãs e me olham dizendo: "mas quem és tu, e o que ouves? Escuta-nos, nós te falamos". Então o colóquio torna-se um imenso amplexo, um perder-se por aniquilação dentro de uma luz refulgente, a ciência é um canto e uma oração, e nesse instante abre-se o abismo do mistério e eu olho: é uma visão, um êxtase. Não sei dizer outra coisa".

"É um fato — observa o autor — que gerou um efeito, que deve ter uma causa, um organismo conceitual lógico e profundo (...). Se o efeito revela a natureza da causa, se é uma construção racional completa (veja-se A Grande Síntese), não se pode colocar como sua origem o acaso ou a anormalidade psicológica e patológica; se a obra transcende o poder cultural e intelectual do escritor (estranho realmente à cultura acadêmica) deve haver em algum lugar uma fonte de onde provenha tudo isto (...) Esses meus estados psicológicos representam uma nova técnica do pensamento, novo método da indagação filosófica e científica (...). Eu o chamo método da intuição e o proponho, tal como o adotei, como método mais poderoso do que o indutivo-experimental. Julgo que esse já deu o seu maior rendimento e que uma mudança de sistema seja necessária, se a ciência quiser progredir em profundidade, se quiser tornar a achar sua unidade, que ameaça agora pulverizar-se no pormenor e na especialização (...). Urge dar de novo a dignidade à ciência que decaiu no utilitarismo, reerguendo-a às descobertas no campo do espírito (....). Urge erguer a ciência ao nível da fé, para que com ela se funda e unifique o pensamento humano (...). O método da intuição é o método da síntese, dos princípios, do absoluto, é o método interior da visão e da revelação; o método indutivo, experimental, é o método da análise, do relativo, o método exterior da observação. O segundo é prático, utilitário, mas dispersa o conhecimento; o primeiro é abstrato, teórico, mas atinge a verdade absoluta, os princípios universais que dirigem os desenvolvimentos fenomênicos".

O caso Ubaldi (estranho à vulgar mediunidade física e psíquica) é por ele compreendido como "uma sublimação normal de todo o ser". Não é um simples caso pessoal. "Demonstra que a verdadeira ciência, a ciência profunda que atinge a verdade, não pode ser alcançada senão pelos caminhos interiores através de um processo de harmonização da consciência com as leis da vida e com o princípio divino que tudo dirige; demonstra que os caminhos do conhecimento só podem ser os caminhos do bem, que a sabedoria é um equilíbrio do espírito, que a revelação do mistério