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VIOLÊNCIA, TERROR E DOMINAÇÃO

1.2. A guerra a partir de uma perspectiva antropológica

Na idade da pedra, os mesmos instrumentos idealizados para se defender da natureza selvagem foram usados para armas de guerra. Depois, quando o homem descobriu os metais, construiu armas mais mortíferas que estilingue e a lança com ponta de pedra. Com o surgimento da pólvora na história, foram fabricados projéteis para serem disparados através de um canhão, sendo a consolidação da

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arma de fogo fator decisivo no aperfeiçoamento da arte da guerra, entre os séculos XV e XVIII. O uso da pólvora se estendeu rapidamente aos campos de batalha e as armas tradicionais foram substituídas por arcabuzes, mosquetes e canhões.38

A vida em sociedade implicou a restrição de certas ações e a lei foi estabelecida para que estas restrições fossem cumpridas. O objetivo do acordo ou contrato social, assumido tacitamente por todos, é a manutenção da coesão social, entregando o poder a um Estado para que proteja, cuide e determine normas. Nós, em contrapartida, obedecemos às leis que regem o pacto social contraído. Cada Estado representa os interesses de sua nação, estando sempre em equilíbrio precário, uns em relação aos outros, podendo entrar em crise quando algum conflito não encontra solução. A pior saída de um conflito de interesses entre nações se configura quando as partes buscam submeter à vontade alheia a sua própria, degenerando em conflito que só pode ser estabilizado através do choque de forças contrárias, ou seja, através da guerra. Sabemos que os únicos beneficiados com a guerra são os que lucram vendendo armas e os que se apropriam dos recursos naturais dos vencidos. Em termos humanos, todos perdem39.

A guerra provou ser uma constância na história do homem e, por costume e repetição, poderia parecer algo inevitável ou uma fatalidade inerente à condição humana. A crença de que a espécie humana tem matado desde sempre e que nada a impedirá de o seguir fazendo é ladainha que escutamos, aprendemos e dela não temos conseguido escapar. Pelo menos, esta é a história que contaram e que continuam fabricando, tornando-se uma verdade generalizada. Por outro lado, se existir a ideia de que a guerra e sua violência são evitáveis, podemos gerar condições para que isto aconteça. O destino que nos é imposto, com o argumento da fatalidade inerente à natureza humana, pode ser mudado através da analise, da desmistificação e do humanismo radical proposto por muitos pensadores, filósofos e ativistas contemporâneos. Estas posturas sintetizam duas posições ontológicas da antropologia

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Victor Montoya: http://encontrarte.aporrea.org/media/49/teorias.pdf http.://www.bolpress.com/art.php?Cod=2006100904 Nossa traduçao

39 Documentário sobre o funcionamento do sistema financeiro e o “capital” em que

o principal interesse dos grupos econômicos, é manter os conflitos funcionando para lucrar.

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social em relação à guerra. Alguns dizem que a guerra é inevitável, existe desde sempre e seguirá sendo feita, e os outros que não concordam, pois, se mudarmos as condições culturais que promovem a violência, é possível erradicá-las. Estas oposições e visões unilaterais tendem a simplificar o problema da convivência humana, desvinculando o pertencimento da espécie humana a um sistema muito mais amplo de relações, que inclui a Natureza como um todo.

Nossa herança biológica e as tendências instintivas incluem diversas disposições em relação ao comportamento, tendências que, às vezes, podem ser tanto contraditórias como complementárias. Humberto Maturana diz que o viver humano é um fenômeno relacional, implicando “um entrelaçamento dinâmico da corporalidade (anatomia e fisiologia) homo sapiens sapiens e do modo de viver humano”40

, estabelecendo que o modo em que se vive esta condição é determinante para o devir do sujeito como tal. Cada ser humano se transforma de acordo com a forma como vive sua corporalidade e esta se modula de acordo com seu modo de viver. Esclarece que estas dimensões não estão separadas, mas que possuem um sistema de funcionamento inseparável e são interdependentes, ainda que sejamos parciais:

como observadores, no nosso explicar, damos conta de que a dinâmica de configuração do ser humano no viver, na mutua modulação do modo de viver da anatomia e da fisiologia, tem uma multidimensionalidade que não vemos completamente. Mais do que isto, não vemos todas as dimensões e configurações do encontro de um ser vivo com sua circunstância, porque estas surgem no momento em que ocorrem, não preexistindo ao encontro, podendo nosso olhar e atenção estar em outra parte, ou porque o próprio ser vivo as oculta, com sua presença, em outras dimensões que sim vemos.41

Frans de Waal42, biólogo e etnólogo holandês, em seu livro The age of

Empathy, entende que uma sociedade baseada no bem comum é possível se

observadas as condições que favorecem a convivência pacífica; para isto, é propício

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MATURANA, Humberto. Biología y violencia. Maturana H, Coddou F, Montenegro H, Kunstmann G, Méndez C. Violencia en sus distintos ámbitos de expresión. 2ª edición. Santiago de Chile: Dolmen Ediciones, p. 71-91, 1997. http://es.scribd.com/doc/19116143/Maturana-Humberto-Biologia-y-Violencia.

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Ibid. Nossa tradução.

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reconhecer as lições oferecidas pelo nosso entorno natural. Coloca que o verdadeiro tema da nossa era deveria ser o bem comum e que a natureza das espécies, incluindo a humana, diferem do determinismo Hobbsiano no qual “o lobo é lobo do homem” 43

. Muito pelo contrário, os humanos, como as outras espécies, tendem a uma relação colaborativa intensa, à sensibilidade diante da injustiça, a compartilhar e, em geral, a ser amantes da paz. Muitas vezes, esquecemo-nos de que o maior castigo para o homem, depois da morte, é ser confinado à solidão. Humanos tendem a criar laços estáveis e as maiores penas que experimentam estão relacionadas à perda de entes queridos. Segundo De Waal, o ser mamífero coloca a sobrevivência humana dependente de cuidados recebidos do outro, ao nascer. Não há forma de sobreviver, sendo mamífero, sem que alguém nos brinde com cuidados, quando pequenos.

O antropólogo polaco Bronislaw Malinowski44 concluiu, com suas constantes investigações de campo, que a ideia do homem primitivo como um ser feito para guerra é uma construção cultural falsa, nascida de observações descontextualizadas e preconceituosas que se repetiam e se retroalimentavam entre si, não existindo tal disposição humana, predestinada à violência. Malinowski é o fundador da corrente antropológica conhecida como Funcionalismo, baseada na ideia de que a sociedade é sistêmica e todas as suas partes, as instituições, se inter-relacionam formando um conjunto.

Bronislaw Malinowski se interessou em compreender o surgimento da guerra, sendo um dos primeiros a investigar os passos evolutivos de sua aparição. Primeiro, estabelece a noção de que a caça ligou o Humano à guerra, o que torna provável que a conduta do caçador se desdobre na conduta do guerreiro, resultado do enfrentamento entre grupos que disputam a presa. Bronislaw, que estudou La Rama

Dorada, de George Frazer, é responsável por uma reviravolta fundamental na

antropologia contemporânea, não duvidando de que a construção da violência seja um

43“Homo homini lúpus” foi popularizada por Hobbes no Leviathan, mas este dito é originalmente “Lupus

est homo homini, non homo, quom qualis sit non novit" e quer dizer “Lobo é o homem para o homem, e não homem, quando se desconhece quem é o outro” pertence a Plauto (254 a. c - 184 a. c) e aparece em sua Asinaria. Shakespeare foi um ávido leitor de Plauto, chegando até mesmo a recolher várias tramas das comédias latinas para fazer as suas.

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(1884- 1942) Doutor em filosofia, matemáticas e física, Malinowski se especializa em Antropologia cultural, criando a metodologia para o trabalho de campo e o Funcionalismo.

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fenômeno cultural e de que a guerra seja a sua máxima expressão. Para facilitar seu estudo, classificou-a de acordo com as seguintes categorias:

a) a luta como produto da cólera, no terreno do privado.

b) a luta organizada e coletiva, entre grupos da mesma unidade cultural. c) as correrias armadas, como tipo de esporte.

d) a guerra, como expressão política do nacionalismo. e) as expedições militares de saque e roubo coletivo.

f) a guerra, entre dois grupos culturalmente diferenciados, como instrumento de política nacional.

Malinowski considera que este último tipo caracteriza toda guerra no sentido mais amplo da palavra, uma vez que implica na conquista de um povo por outro e, em consequência, na criação de Estados políticos e militares. Os choques bélicos se distinguem segundo seu grau de sofisticação, conforme a complexidade das sociedades que os empreendem e, segundo sua visão, o propósito último, a justificativa ética de uma guerra, depende desta criar valores maiores do que os destruídos 45.

Coloca como ponto fundamental que o homem não está biologicamente determinado para a guerra e que, ainda que cultura e biologia estejam inter- relacionadas funcionalmente, é fundamental, ao menos para a discussão teórica sobre a possibilidade de controlar as guerras e eventualmente aboli-las, aceitar esta proposição:

Guerra, observada em perspectiva evolutiva, é sempre um evento altamente destrutivo. Seu propósito e razão de entrada dependem se cria valores maiores do que os que destrói. Violência é construtiva, ou pelo menos rentável, só quando realizada em grande escala, com transferências de riqueza e privilégio, de roupagem ideológica e de experiência moral. Assim, a humanidade tem que acumular um estoque considerável de bens transferíveis, ideias e princípios antes da difusão destes através da conquista e, mais ainda, o agrupamento e a reorganização dos recursos econômicos, político e espiritual pode levar a coisas maiores do que os destruídos através da agência de combate. 46

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MALIANOWSKY, Bronislaw. An Anthropological Analysis of War. Source: American Journal of Sociology, Vol. 46, No. 4 (Jan., 1941), pp. 521-550. Published by: The University of Chicago Press. Nossa tradução.

Stable URL: http://www.jstor.org/stable/2769922.

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Glen Bowman, antropólogo, mostra que a guerra e a violência formam parte de uma necessidade humana que busca reafirmar sua identidade: “o antagonismo poderia ser, precisamente, o que conduz uma entidade a demarcar os limites de sua identidade e a defender tais limites mediante violência”47

. Concluindo que é um prática criadora, pois, apesar do destrutivo, envolve o uso de estratégias e desenhos logísticos que colocam os envolvidos em estado de alerta e com disposição para usar sua imaginação e inventividade.

Acreditamos que Shakespeare, por meio de suas tragédias e constantes citações do temor iminente à invasão inimiga, busca colocar o público em confronto com temas relevantes para sua época, relacionados ao poder e à autoridade terrena, revelando a existência e a criação de complexas engrenagens de funcionamento com diversos significantes. Estes mostram como, e sob quais circunstâncias, os governantes têm utilizado o aparato que lhes servem para dirigir a opinião pública segundo lhes convém, através do segredo, da conspiração, da criação de narrativas propagandísticas do Estado e de sua ideologia. Suas obras convidam à reflexão e ao pensar com plena liberdade e autonomia. A violência, a força e o poder são três aspectos que se inter- relacionam na compreensão do tema da dominação e do exercício político, através de sistemas opressivos de crenças. São fatores que se combinam na realidade de qualquer ser humano que vive em sociedade e são, de alguma maneira, universais e atemporais. Shakespeare consegue captar estes sistemas de funcionamento macrossociais e os organiza como histórias para serem contadas no palco. Suas tragédias possuem vários níveis de leitura e, invariavelmente, uma intenção pedagógica, que consiste em expor e questionar crenças pré-estabelecidas, contribuindo para sua desarticulação.

Niccolo Maquiavel, a quem se atribui equivocadamente a frase “os fins justificam os meios”, foi o primeiro a pensar e observar como o poder dominante deve manter o controle através da força que o respalda. Em seus escritos, esclarece que o poder sustentado através da força garantirá a dominação. Um monarca se não mobiliza a seu

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GAYUBAS, Augusto. “Pierre Clastres y los estúdios sobre la guerra en sociedades sin Estado” Revista Chilena de Antropología No. 22, Santiago, 2ndo semestre 2010. p.113 Nossa traduçao.Link: es.scribd.com/doc/46474536/22-Gayubas-Pierre-Clastres-y-los-Estudios-sobre-la-Guerra

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favor a força contida no seu poder, eventualmente a perderá, pois virão outros dispostos a utilizar quem a possue e a vencê-lo. A ideia difundida por Maquiavel, de que nada é tão débil e instável como a fama de um poder que não se apoia nas próprias forças, vem de Camilo Tácito48, historiador do século I. Hannah Arendt mostra como o poder pertence sempre a um grupo que se torna coeso através da figura que centraliza sua força. Ressalta a ideia de como o poder nunca é propriedade de uma pessoa e que, em última análise, enquanto o grupo se mantiver aglutinado, não o perderá.

Tomas Hobbes (1588-1679) postulou a noção de acordo social, chamado de pacto, como fato que possibilita os seres humanos viverem como entes sociais. Diz, em sua monumental obra Leviathan, que o Homem, antes da existência do Estado e de sua conformação como ser social, encontrava-se jogado no mundo, em um estado de natureza tal, que se encontra em situação de guerra, de todos contra todos e onde pensar na possibilidade de justiça é absurdo:

Nesta guerra de todos contra todos, configura-se uma consequência: que nada pode ser injusto. As noções de direito e ilegalidade, justiça e injustiça estão fora de lugar. Onde não há poder comum, a lei não existe; onde não há lei, não há justiça. Na guerra, a força e a fraude são as duas principais virtudes. Justiça e injustiça não são faculdades, nem do corpo nem do espírito. Se fossem, poderiam aparecer em um homem que estivesse sozinho no mundo, como se dão suas sensações e paixões. 49

Para Hobbes, o Estado vem nos liberar e nos tira da condição miserável que significa viver em estado natural de guerra permanente, onde cada um defende a si mesmo. A capacidade de criar o Leviathan, força cujo poder controla e ordena, permitirá almejar a conservação própria e dos bens possuídos. O Estado é a estrutura que nos permite viver em comunidade e com respeito, dá a capacidade de nos organizarmos socialmente: fora do estado civil, há sempre guerra de um contra todos. A partir disto, é evidente que, durante o tempo que os homens viverem sem um poder comum que amedronte a todos, estarão na condição ou estado que se denomina de

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Camilo Tácito (55- 120) foi um historiador romano do século I d.C .

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HOBBES, Thomas. Leviatã (1651). www.dhnet.org.br/direitos/anthist/.../hth_thomas- hobbes_leviathan.pdf - p. 53.

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guerra, uma guerra que é a de todos contra todos. Porque a guerra não ocorre somente na batalha, no ato de lutar, mas também durante o lapso de tempo em que a vontade de lutar se apresenta com suficiente relevância... sendo assim, a natureza da guerra não se configura na luta atual, mas, sim, na disposição manifesta da mesma, durante o período em que não há segurança do contrário. Todo o tempo restante é de paz.50

Hobbes diz que a construção do Estado constitui um passo para o bem comum, tendo em vista que há consenso em nos unirmos em torno de uma busca por harmonia e em não nos deixarmos levar por paixões naturais. Ao querer se autoconter, o Homem dá um passo, pois bem sabe que, se não existisse a força para controlar e colocar normas à sua conduta, com regulamentações que dão as leis e as sanções impostas através do castigo, ele permaneceria em um estado primitivo e selvagem. O que garante a sociabilidade, segundo Hobbes, é justamente a possibilidade de coerção através da força outorgada ao Estado. É a guerra uma exceção, pois seu contexto promove e fomenta a violência, permitindo atrocidades e deixando vulneráveis os direitos humanos. A guerra é um estado em que a lei não existe e é normal que os justos paguem como pecadores.

As ideias de Hobbes, em relação ao Estado como força determinante de coesão da sociedade e de seu funcionamento, foram aceitas e assimiladas, convertendo-se em ideias hegemônicas em relação à convivência em grande escala e à organização social. Hoje vemos com olhos críticos essas suposições, pois não contribuíram, como era de se esperar, nem para a manutenção da paz nem para a convivência civilizada.

O fato de castigar e punir não modifica as condutas humanas em relação à violência e ao temor do castigo e não evita as condutas violentas, conforme demonstrou Foucault em seus estudos (Vigiar e Punir51) sobre o castigo e a

dominação através da coesão. Hoje existem questões mais complexas que determinam e fazem parte de nosso comportamento e convivência em sociedade, entendendo que não estamos determinados nem por uma natureza violenta, nem por

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Ibid. Pg.59 pdf.

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um padrão de comportamento agressivo inerente à nossa biologia. A forma como nos relacionamos, ou seja, o diálogo acerca do comportamento, é determinante na hora de formar hábitos de conduta:

A agressão, a violência não são aspectos biológicos do viver cotidiano humano fundamental. Os seres humanos não pertencem à biologia da violência e da agressão, ainda que sejamos biologicamente capazes de viver e cultivar a violência. A agressão e a violência surgem como modos culturais de conviver com o espaço psíquico do patriarcado. 52

Claus von Clausewitz53 é considerado, por muitos, como o principal filósofo da guerra. Este general prussiano é famoso por sua ideia de que a guerra é a continuação da política por outros meios, mas sua teorização a respeito do que significa a guerra como meio político, para alcançar um fim determinado, é muito mais complexa. O certo é que, vindo de uma família culta de teólogos e professores, escreveu uma obra profusa denominada “Da guerra" em oito livros, publicação póstuma de sua viúva. Sua influência sobre o pensamento militar alemão foi enorme até o florescimento do socialismo nacional. Clausewitz considera que toda guerra é sempre instrumento político, que seu esforço se reduz a realizar “um ato de força levado a cabo para obrigar o adversário a acatar nossa vontade”54 e que os meios materiais para alcançar este fim são os que fornecem formas de derrotar o inimigo. Analisa a conquista do território, as estratégias de ocupação, o combate, ataque, defesa, táticas de investida etc. Estabelece que a guerra não é um fato que ocorre separado de seu contexto e que as razões enunciadas para dar início à guerra não são sempre verdadeiras ou reais.

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MATURANA, Humberto. Biología y violencia. Maturana H, Coddou F, Montenegro H, Kunstmann G, Méndez C. Violencia en sus distintos ámbitos de expresión. 2ª edición. Santiago de Chile: Dolmen Ediciones, p. 71-91, 1997. http://es.scribd.com/doc/19116143/Maturana-Humberto-Biologia-y-Violencia.

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Carl von Calusewitz (1780- 1931) foi um general prussiano que entrou em combate pela primeira vez aos 13 anos. Dedicou-se a uma ampla reflexão sobre os problemas filosóficos, políticos e econômicos em relação à guerra e suas complexidades. Estudou estratégia militar e também educou muitas gerações de militares em sua passagem pela academia de guerra.

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Carl Von Clausewitz: ess.com/2012/11/14/da-guerra-carl-von-clausewitz-em-portugues-pdf/

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1.3. Conflitos mundiais e realidades regionais

Temos visto que, nos últimos vinte anos, a civilização moderna testemunhou, de forma bastante cruel, os inúmeros fenômenos bélicos, ataques armados, bombardeios e crimes monstruosos, resultados dos diferentes conflitos de nosso mundo contemporâneo. Parece que eventos como a bomba atômica atirada em Hiroshima e Nagasaki, o genocídio de Argélia, a Shoa e tantos outros perpetrados no século 20, foram tragados pelo esquecimento ou pela frivolidade. As novas matanças do século 21, ocorrida em Kosovo, Sierra Leona, Iraque, Egito, Líbia e Palestina, estão entre os exemplos mais vivos, conhecidos e sociabilizados pelos meios de comunicação. O desenvolvimento da internet permitiu que fôssemos observadores passivos de invasões, bombardeiros e movimentos bélicos em desenvolvimento. Existem várias filmagens de investidas militares disponíveis para serem vistas no youtube.

As situações de conflito armado no mundo não são tão esquemáticas como poderíamos supor e, lamentavelmente, existe uma infinidade de situações extremamente complicadas, que não nos permitem ter noção clara do que delimita a identidade do adversário e quais características distinguem um grupo do outro. A pluralidade de organizações paramilitares, as diferentes agrupações de guerrilha, os cartazes de variadas índoles e a enorme quantidade de grupos armados hoje já não revelam, com clareza, quem está de um lado e quem está do outro. O inimigo não possui uma identidade clara e existe uma confusão sobre as verdadeiras motivações defendidas por uns e outros.

Na atualidade, as razões divulgadas pelas nações poderosas, como os EUA,