• Nenhum resultado encontrado

3.2.1. Riscos de Natureza Biológica

3.2.1.1. A hepatite B

O vírus da hepatite B (VHB) pertence à família dos hepadnavirus. O virião é constituído por uma estrutura interna, o core e uma estrutura externa, o antigénio de superfície.

Figura 2- Representação do vírus da hepatite B (VHB)

Fonte: Perkins -website (2002)

No interior do core podemos encontrar o genoma do vírus e a enzima DNA polimerase/transcriptase reversa. O invólucro exterior é composto por proteínas, glicoproteinas e lipídos. Para além destes, existem outras partículas víricas não

infecciosas de pequeno diâmetro e outras de forma tubular constituídas pelo antigénio de superfície.

A transmissão do vírus da hepatite B pode ser vertical ou horizontal, sendo a primeira entendida como a passagem directamente do vírus da mãe para o filho na altura do parto.

A transmissão horizontal ocorre pelo contacto com fluidos orgânicos potencialmente infectados com o VHB e que são: o sangue, o sémen, as secreções vaginais, o liquido cefaloraquidiano, o liquido sinovial, o liquido pleural, o liquido peritoneal, pericárdico e amniótico. Existem outros fluidos orgânicos considerados não infectantes como as fezes, urina, suor, lágrimas, vómito e saliva, desde que não contenham sangue, pois apesar de conterem partículas do antigénio HBs (AgHBs), as partículas víricas infecciosas são em quantidade diminuta o que limita a sua infecciosidade.

A importância da correcta interpretação dos marcadores serológicos da hepatite B reside no facto de permitir avaliar a evolução clínica da doença:

• Um resultado positivo na determinação do antigénio de superfície (AgHBs) poderá ser um indicador de infecção aguda ou crónica pelo VHB. A persistência do antigénio HBs por mais de seis meses determina geralmente a passagem à cronicidade.

• No caso de ocorrer nível de anticorpos contra o antigénio de superfície (anti- HBs), e se este for ≥ 10mUI/ml pode indicar a existência de imunidade adquirida pós vacinação ou naturalmente.

• A determinação da presença ou não de anticorpos contra o antigénio do core (anti-HBc) dir-nos-à se houve exposição prévia do indivíduo ao vírus VHB. • O antigénio HBe (AgHBe) é um marcador de infecciosidade e o seu

aparecimento poderá indicar uma possível infecção pelo VHB num estadio de replicação viral.

• A presença de anticorpos contra o antigénio “e” (anti-HBe) significa a diminuição da replicação víral “vírus primitivo” ou, se os níveis do DNA-VHB forem elevados, a presença de um vírus mutante do pré-core.

• A presença do anti-HBs e do anti-HBc é considerado marcador de imunidade adquirida; a imunidade adquirida através da vacina é revelada pelo anti-HBs isolado.

A hepatite B evolui para a cura no adulto jovem saudável em 95-99% das situações em seis meses e a vigilância da evolução serológica deve ser efectuada, de uma forma correcta.

Relativamente às hepatites crónicas, o diagnóstico das hepatites B e C pode ser efectuado após avaliações de rotina em indivíduos sem sintomatologia, pelo que será necessário a sua investigação por forma a saber se estamos perante uma hepatite crónica ou de um portador “inactivo”.

Consideram-se portadores inactivos do VHB, os indivíduos sem actividade necroinflamatória do fígado, nem evidência de replicação vírica, e com transaminases normais ou pouco alteradas em avaliações sucessivas e a da carga viral do DNA-VHB no soro, logo sem indicação terapêutica.

Por outro lado, é necessário ter em atenção que existem fenómenos de reactivação viral, os quais podem levar à passagem de portador inactivo para hepatite crónica, pelo que deve ser mantida a vigilância analítica.

Intimamente ligada à hepatite B encontra-se a hepatite D provocada por um vírus defectivo o vírus da hepatite Delta (VHD), que necessita do vírus da hepatite B para se multiplicar, podendo causar infecção em simultâneo com a hepatite B (co- infecção) ou infectar indivíduos com hepatite crónica B (super-infecção).

Figura 3- Distribuição geográfica da infecção crónica pelo vírus da hepatite B no mundo (2005)

Fonte: Center for Disease Control and Prevention (2006)

A prevalência do vírus da hepatite B (VHB) varia consoante as regiões e os países, na figura 3 Portugal encontra-se numa zona de endemicidade intermédia no respeitante à hepatite B.

O risco de transmissão do vírus da hepatite B está relacionado com o grau de contacto com o sangue e fluidos corporais no local de trabalho e igualmente com o

estado de infecciosidade da hepatite B (AgHBe, DNA-VHB), bem como da endemicidade na população, ou seja, se ocorrer uma exposição a probabilidade de infecção é tanto maior quanto maior for a endemicidade na população da região.

Em estudos efectuados com profissionais de saúde os acidentes ocorridos com agulhas contaminadas com sangue contendo o vírus da hepatite B, o risco de desenvolver sintomatologia clínica de hepatite B será a seguinte: se o antigénio HBs e o antigénio HBe forem ambos positivos de 22% a 31% e o risco de desenvolver uma seroconversão é de 37% a 62%. Em comparação o risco de desenvolver hepatite com o antigénio HBs positivo e antigénio HBe negativo é de 1% a 6% e o risco de seroconversão é de 23% a 37%. (Center for Disease Control and Prevention- CDC, 2001)

Um dos factores de maior importância na prevenção da transmissão da hepatite B surgiu em 1963 com a descoberta do antigénio Austrália, a identificação do vírus da hepatite B e finalmente a criação da primeira vacina.

Em Portugal, a vacinação iniciou-se em 1990 tendo como indicação os indivíduos considerados de alto risco, grupo onde estavam incluídos os profissionais de saúde. Em 1994 foi incluída no Programa Nacional de Vacinação para os adolescentes com idades compreendidas entre os dez e treze anos. Em 2000 a administração da vacina foi alargada e administrada a todos os recém nascidos. A vacina para a hepatite B é considerada segura e com uma eficácia estimada em 95% a 99%.

A eficácia da vacina na doença vírica como o caso da hepatite B é não só proteger o indivíduo da doença mas também a possibilidade real de evitar as possíveis complicações e sequelas da própria doença.

Todo o indivíduo cuja actividade envolva o contacto com sangue potencialmente contaminado, fluidos corporais e objectos ou materiais contaminados deverão ser vacinados para a hepatite B e apresentar o nível de anticorpos anti-Hbs ≥10 UI/L, o que confere nível de imunidade efectiva.

A realização de testes serológicos pré-vacinais não se encontra recomendada nos profissionais de saúde pelo Center for Disease Control and Prevention- CDC (2001). No entanto no hospital onde foi efectuado o estudo verificaram-se dois factos: 1- grande parte dos profissionais que iniciavam a sua actividade já tinham completado o esquema vacinal; 2- alguns já tinham trabalhado noutras instituições de saúde e provavelmente tinham tido contacto com o vírus e adquirido anticorpos por esta via, pelo que se achou conveniente efectuar-se serologias pré-vacinais nestes casos.

Numa exposição ocupacional, a prevenção da co-infecçao VHB/VHD poderá eventualmente ser evitada através da profilaxia pré ou pós-exposição à hepatite B, ou seja, através da vacina da hepatite B, porque a replicação do VHD está sujeita à replicação do VHB.