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A actual tendência para o aumento de doenças crónicas e um consequente aumento dos níveis de dependência associados às condições de vida e aos problemas de natureza orgânica e psicológica conduzem a uma permanente preocupação e reflexão por parte dos profissionais de saúde que se confrontam com estas questões na sua prática diária.

Segundo um estudo da Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (2000), as perturbações músculo-esqueléticas constituem um problema sério e prejudicial à saúde dos trabalhadores afectando mais de 40 milhões de trabalhadores da União Europeia.

Para Paul (2004:12) “Tudo parece influenciar o percurso e torna-se difícil perceber quando começamos a envelhecer”, mas parece-nos igualmente verdade que as alterações biológicas do envelhecimento predispõem ao aparecimento de certas lesões, que associadas aos hábitos de vida, podem contribuir para o desenvolvimento de doenças de carácter degenerativo.

Existem factores predisponentes ao aparecimento de lesões músculo– esqueléticas no âmbito da actividade laboral e que interferem com a qualidade de vida do trabalhador e condicionam fortemente o seu melhor desempenho. As causas encontradas estão relacionadas com a concepção dos sistemas de trabalho.

De acordo com Uva & Faria (1992:5) “Os riscos para a saúde relacionados com o trabalho variam, naturalmente, consoante o tipo de actividade profissional mas dependem, acima de tudo, das condições em que se verifica o desempenho dessa mesma actividade.”

No sector da saúde, é sempre questionável a quantificação dos movimentos por tempo de trabalho, uma vez que intervêm uma série de outros factores externos difíceis de quantificar tais como: o transporte manual de cargas, características da pessoa (peso

e grau de dependência), o número de mobilizações (posicionamentos e levantes) e situações não programadas, em que a exigência e penosidade da tarefa são imediatas. Isto é, traduzem-se em três tipos de constrangimentos: os de ordem temporal, os organizacionais e os espaciais.

De acordo com Munõz-Gómez (2003) a dor lombar crónica apresenta uma prevalência anual de 15-20% e é uma das causas mais frequentes de limitação da actividade antes dos 45 anos, sendo responsável na Europa por cerca de 10 a 15% de dias de trabalho perdidos (baixas).

As lesões músculo-esqueléticas relacionadas com o trabalho (LMERT) são hoje em dia um sério problema mundial, tanto do ponto de vista da saúde, como social e económico. Existem, no entanto, discrepâncias sobre o que é considerado por cada país como doença profissional e sobre o que se entende por lesão músculo-esquelética relacionada com o trabalho pelo que a sua inclusão nas listas de doenças profissionais varia, não havendo a possibilidade de se conhecer a dimensão do problema e consequentemente as implicações do trabalho sobre a saúde na população em idade activa.

Em Portugal, existem poucos registos relativamente ao número de doenças profissionais. A responsabilidade a nível estatístico é do Instituto de Gestão e Informática da Segurança Social, sendo anteriormente do Centro Nacional de Protecção Contra os Riscos Profissionais (CNPCRP) que neste momento se encontra apenas responsável pela qualificação das doenças profissionais.

A definição de doença profissional encontra-se consignada no Decreto-Lei 503/99 de 20 de Novembro 1999, artigo 3 referindo como doença profissional a lesão corporal, perturbação funcional ou doença que seja consequência necessária e directa com a actividade exercida e não represente normal desgaste do organismo e cujas lesões resultam da prolongada e repetida exposição a um determinado agente agressor existente no local de trabalho. A sua percepção ocorre, após algum tempo de exposição.

As lesões músculo-esqueléticas classificadas como doenças profissionais estão regulamentadas no Decreto-Lei n.º 352/2007 de 23 de Outubro. Apesar de regulamentadas nem sempre a sua notificação é real, parecendo existir ainda subnotificação das mesmas.

Geralmente a maior dificuldade quando se trata de profissionais de saúde, consiste em provar que a perturbação funcional ou lesão é consequência directa da actividade exercida e não do normal desgaste do organismo.

As medidas de prevenção englobam a vigilância da saúde para perigos específicos e a utilização de equipamentos e métodos de trabalho mais seguros com o intuito de evitar a sua génese. Para Serranheira & Uva (2000:44) “Os aspectos essenciais para o desenvolvimento das LMELT são: (1) uma actividade realizada fundamentalmente por gestos que impliquem a necessidade de adopção de posições angulares extremas dos membros; (2) esforços excessivos e (3) elevada repetitividade. As lesões resultam, consequentemente, de um desequilíbrio entre as solicitações biomecânicas e as capacidades funcionais do trabalhador, uma vez que os intervalos de recuperação necessários são insuficientes, ou inexistentes.” ou seja, são vários os factores de risco que estão na origem e que podem ocasionar as patologias músculo- esqueléticas de hipersolicitação, nas quais o trabalho é um factor determinante.

Com o aparecimento das lesões e da consequente incapacidade física o indivíduo que se encontre em situação de idade e tempo mínimo de trabalho, começa por ponderar a necessidade e intenção de requerer a reforma como direito que lhe assiste. Assim, a aquisição da reforma, muitas vezes, passa pela incapacidade física para além do tempo de exercício profissional e da idade que o funcionário detenha, com a intenção de uma melhor qualidade de vida.

A World Health Organization (1993) reuniu em 1991 um grupo de peritos no sentido de se estudar o envelhecimento e a capacidade para o trabalho, foi definido como trabalhador em envelhecimento e na perspectiva da saúde ocupacional, o indivíduo com mais de 45 anos, idade a partir da qual acontece um decréscimo de algumas capacidades funcionais gerando a necessidade de adopção de medidas para melhorar a capacidade para o trabalho.

Com o envelhecimento surgem alterações físicas, cognitivas e sensoriais, no entanto, não se podem generalizar pois dependem de factores individuais, como o tipo de ocupação e a exigência do trabalho.