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3.2.1. Riscos de Natureza Biológica

3.2.1.3. O vírus da imunodeficiência humana (VIH)

O vírus da imunodeficiência humana (VIH) é um vírus linfotrópico com afinidade preferencial para os linfócitos T CD4+ que são os responsáveis, em parte, pelo controlo do sistema imunológico, sendo o agente responsável pela ocorrência do SIDA (síndrome da imunodeficiência humana adquirida). O VIH pertence à família dos retrovírus e ao género lentivírus.

Foi isolado pela primeira vez em 1983 pelos pesquisadores Robert Gallo, nos Estados Unidos da América, e Luc Montagnier, em França sendo que, em 1986, um comité internacional recomendou o termo vírus da imunodeficiência humana (VIH ) para denominá-lo. Foram identificados dois tipos de vírus: o VIH 1 e o VIH 2.

De um modo geral, para se reproduzir, o VIH penetra no linfócito T auxiliado por uma proteína denominada CD4 que se encontra a rodear a célula, abrindo a passagem para o vírus, permitindo a sua replicação, destruindo o linfócito e libertando os vírus formados de novo. Como muitas das células são destruídas, o sistema imunitário desequilibra-se e enfraquece, deixando o organismo sem possibilidade de reconhecer o agente agressor. Mesmo após 10 anos da infecção e do aparecimento dos anticorpos neutralizantes, o VIH causa imunodeficiência, matando biliões de células T.

Figura 6- Representação do vírus da imunodeficiência humana (VIH)

Fonte: Understanding HIV (2007)

De acordo com o Center for Disease Control and Prevention- CDC (2001) o risco de transmissão do VIH após exposição percutânea com sangue infectado é de cerca de 0,3% e de 0,09% no caso de uma exposição mucocutânea.

Segundo uma Comunicação da Comissão das Comunidades Europeias ao Conselho e ao Parlamento Europeu, relativa à luta contra o VIH/SIDA na União Europeia e nos países vizinhos 2006-2009 (2005:1) refere que “A Comissão está alarmada com a pouca atenção dedicada à prevenção, que continua a ser a pedra angular de todas as demais actividades no âmbito de uma abordagem global do VIH/SIDA. Sem uma promoção vigorosa de medidas de prevenção primária, a saber, educação, utilização de preservativos e medidas de redução dos riscos (por exemplo, troca de agulhas e seringas), não é possível alcançar nenhuma das outras metas fixadas (nomeadamente, a erradicação da transmissão mãe-filho ou o acesso universal ao tratamento). As outras áreas de acção que é necessário reforçar são as relativas às questões de direitos humanos, à vigilância e às acções dirigidas a grupos vulneráveis específicos.”

No respeitante ao SIDA (síndrome de imunodeficiência humana adquirida), este é caracterizado por um conjunto de manifestações clínicas subjacentes à penetração no organismo do vírus do VIH, desde a sua penetração no organismo até à instalação da doença o indivíduo atravessa diferentes estadios clínicos. Actualmente são três os estadios da doença e que se passam a definir:

Portador assintomático ou seropositivo, é o estadio em que o indivíduo ao ter tido contacto com o vírus e apesar de possuir anticorpos detectáveis no sangue, ainda não apresenta sintomatologia, pode vir a desenvolver ou não a doença. Na fase inicial da

infecção podem surgir alguns sintomas inespecíficos facilmente confundíveis com um síndrome gripal.

A 2ª fase é o estadio em que o indivíduo já apresenta sintomas como adenopatias generalizadas, fadiga, febre, diarreias crónicas, emagrecimento e suores nocturnos. Nesta fase as infecções surgem repetidamente, no entanto nem sempre são de imediato relacionadas com a infecção pelo vírus do VIH.

A 3ª fase é aquela em que a doença já se instalou, a imunodepressão, as infecções oportunistas graves e os tumores. As infecções mais usuais são as pulmonares, a tuberculose multiresistente e o Sarcoma de Kaposi, há poucos anos atrás uma vez manifestada a doença, haveria uma esperança de vida de cerca de dois anos, no entanto com os avanços na investigação desta doença surgiram terapêuticas antiretrovirais de última geração que alteraram este panorama bem como a expectativa de vida.

O período que medeia o momento do contágio até à seropositividade pode ser de cerca de 8 semanas.

Aquando da descoberta da infecção, os casos de sida pertenciam a dois grupos de risco e que eram os homossexuais e os toxicodependentes, posteriormente surgiram os hemofílicos, os indivíduos que foram sujeitos a transfusões de sangue e os profissionais de saúde através das exposições ocupacionais.

Figura 7- Distribuição geográfica da prevalência do VIH no mundo (2005)

Na figura 7, é apresentada a distribuição geográfica do VIH no mundo, a prevalência da infecção pelo VIH constitui uma importante fonte de informação, segundo a Agência Europeia de Informação sobre Droga no seu Relatório Anual (2005) sobre a evolução do fenómeno da droga na Europa, e o aparecimento de doenças infecto-contagiosas relacionadas com o consumo de drogas, explica que nos Estados Membros da União Europeia, os casos de VIH que foram diagnosticados recentemente mantiveram-se baixos nos últimos anos com excepção para Portugal que revelou um índice de 88 casos por milhão de habitantes em 2003, no entanto a comunicação de dados a nível europeu só foi implementada em Portugal a partir de 2000.

Segundo o Plano Nacional de Saúde 2004 - 2010 na caracterização da situação epidemiológica da infecção pelo VIH e SIDA em Portugal explica que cerca de ¾ da mortalidade por SIDA situa-se em indivíduos na faixa etária entre os 25 e os 44 anos e ocorrem mais mortes em homens do que em mulheres embora esta diferença tenha vindo a diminuir. A transmissão do VIH está a aumentar nas relações heterossexuais e tem vindo a diminuir ou com menor influência a sua transmissão nos usuários de drogas injectáveis.

Foi publicado pelo National Institute for Occupational Safety and Health- NIOSH (1999) num estudo que tem por base os resultados de mais de 20 estudos a nível mundial a fim de calcular a taxa de transmissão do VIH em profissionais de saúde após a ocorrência de uma lesão percutânea, em cerca de 6 498 exposições, registaram-se 21 infecções, equivalendo a uma taxa de transmissão de 0,3% por lesão. Aumentando este risco quando há uma grande quantidade de sangue envolvido, se o instrumento tem sangue visível, quando o procedimento envolve uma artéria ou veia ou se a lesão é profunda.

O risco de contrair uma infecção pelo VIH é deveras dramático e assustador para o profissional. Jagger (2007:1) refere que em 1997, foram identificados um total de 94 casos documentados e cerca de 170 casos possíveis de infecção ocupacional por VIH no mundo. Após a introdução da profilaxia pós-exposição e da zidovudina após a exposição ao sangue infectado com o vírus do VIH, a redução do risco de seroconversão é cerca de 80%.

A descrição de casos de infecção por VIH em profissionais de saúde até Dezembro de 2000, segundo Olivares & Segarra (2003) os casos documentados e confirmados de aquisição da infecção pela via ocupacional foram 105, dos quais 34 na

União Europeia (32,38%), 56 nos Estados Unidos (56,38%) e 15 no resto do mundo. No entanto existem cerca de 222 casos possíveis ou associados de exposição ocupacional.

Segundo o Center for Disease Control and Prevention- CDC (2002) como referido anteriormente em Dezembro de 2001, das exposições ocupacionais ao VIH que ocorreram nos Estados Unidos resultaram em 57 casos documentados de seroconversão em profissionais de saúde. Dada a gravidade da infecção e das implicações a nível pessoal, social e profissional dos profissionais, sugerem-se algumas estratégias de prevenção que incluem: o uso de barreiras quando se prevê o contacto com sangue ou outros fluidos corporais (luvas e ou óculos protectores), lavagem das mãos e outras áreas corporais imediatamente após o contacto com sangue e outros fluidos corporais, e a manipulação cuidadosa de instrumentos cortantes durante e após o seu uso.