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Numa dessas noites intrigantes e fascinantes, quando estrelas cadentes não cessavam de adentrar a atmosfera da Terra, nos cortejando com seus rastros luminosos, e a lua brilhava tanto que parecia até ser dia e não noite, foi-me repassado oralmente um esperançoso acontecimento relacionado a uma determinada pessoa. Não se sabe se ela era homem ou mulher. Mas, decidi chamá-la de Ariel, pois foi mais condizente com a trama revelada. Então, comecemos a descrever o ocorrido com tal personagem:

─ Fala, vizinho (a)! Para onde está indo? Tenho que lhe contar uma coisa que tem me deixado preocupado.

─ Opa, Martin! Estou indo trabalhar. Dentro de um mês conseguirei finalmente entrar de férias. Meu patrão tem exigido muito de mim, como você pode ver, são 6 horas da manhã e estou indo até lá. Diga-me o que houve? ─ Perguntou Ariel.

─ Nossa! Realmente acordou cedo. Fico feliz que vai entrar de férias logo.

Bem, indo direto ao assunto, minha filha Rosa está se envolvendo com um grupo de pessoas que são muito radicais. Eles estão com um plano alucinado de querer mudar nossa sociedade. Vivo dizendo a ela que o mundo sempre foi assim e que ela tem que se preocupar em estudar pra ter uma boa vida. ─ Respondeu Martin, com muitas inquietações.

─ Isso é realmente preocupante. E olha que ela só tem 17 anos. Se quiser, posso conversar com ela depois. Mas essa galerinha jovem vive na utopia! Tenho pena deles, até parece que um dia teremos a tal comunhão entre todos os seres humanos, que dizem.

─ Concordo plenamente, Ariel. Eu sempre digo que a possibilidade desse mundo utópico existir é nenhuma. Ela tem que se preocupar em ser alguém na vida. Mas, enfim, o nome desse grupo é “Os comuns”. Você conhece?

─ Conheço! Outro dia, um deles me entregou um panfleto. São tão doidos que acreditam numa sociedade sem dinheiro. Mas, deixa comigo, eu resolvo com

ela. Agora, tenho que ir. Tenho medo da demissão, pois ontem mesmo me atrasei devido ao cansaço.

─ Valeu, Ariel! Irei com ela até a porta de sua casa às 18 horas, horário que você chega.

Ao chegar à empresa, Ariel se depara com uma situação que aos seus olhos seria impossível de acontecer. Seu chefe, Paulo, exclamava que iria demitir 50%

dos funcionários. A empresa, devido a uma crise, precisava cortar gastos. Nesse momento, Ariel conversa com o chefe:

─ Paulo, o que significa isso? Vão me demitir? Eu preciso desse trabalho, mal consigo me sustentar com o meu salário mínimo.

─ Estamos numa crise, Ariel. Você não percebe? A empresa precisa cortar gastos. E, pode relaxar, pois não lhe demitiremos. ─ Responde Paulo categoricamente.

─ Ufa! Agora, tenho segurança. Vou me despedir de meu grande amigo de trabalho e ir para o meu posto.

Ariel decide então conversar com o seu melhor amigo que fora demitido.

─ Que azar, Nelson! Mas não fique assim, Deus vai te abençoar, as coisas vão melhorar. Sinto muito por tudo isso, pela demissão, fato trágico.

─ É complicado! Espero que Deus me ajude mesmo, pois vai ficar ainda mais difícil para mim. Tenho dois filhos pra criar, minha esposa está muito doente, preciso de renda e não sei onde arranjar outro emprego. ─ Afirmou Nelson, aos soluços.

─ Realmente a sua situação é complicada. Mas sei que tudo vai melhorar.

Pode contar comigo pra qualquer coisa. Até mais!

─ Até! ─ Responde Nelson, cabisbaixo.

Ao terminar seu trabalho na empresa, às 18 horas, Ariel pega o seu carro e vai embora para casa. Chegando lá, percebe que Martin e Rosa não estavam lhe esperando como foi combinado. Então decide ligar para Martin, buscando respostas:

─ Alô? Cadê vocês dois? Estou aqui na porta de casa, como combinado.

─ Oi, Ariel. A Rosa recebeu um telefonema dum tal de Nelson, ele queria conhecer o grupo de que ela faz parte. Esse cara fez minha filha sair de casa a essa hora da noite pra ir até a casa dele conversar. No momento estou indo até esse lugar, felizmente Rosa deixou o endereço para onde ia, como sempre faz. ─ Comentou Martin.

─ Nossa! Isso é muito ruim. Estou indo até lá. Eu conheço um Nelson e desconfio que seja este, quero saber que besteira estão tramando. – Replica Ariel, com suspeitas.

Ao chegar lá, Ariel se depara com Nelson que era seu antigo colega de trabalho chorando, Martin falando que a morte é a única certeza da vida e Rosa falando de mudanças sociais. Uma loucura total. E logo procura saber do que se tratava.

─ O que aconteceu, Nelson? Quais os motivos das lagrimas? Pergunta Ariel.

─ Minha esposa que estava doente faleceu, como se não bastasse ser demitido. Ela está no quarto. Levei meus dois filhos para a casa da avó para que não vissem isso. E depois liguei para Rosa, uns meses atrás ela deixou esse papelzinho sobre “Os comuns” comigo, mas não dei importância. Agora vejo que eles tinham razão sobre a sociedade.

─ Não fique assim, meu amigo. Sinto muito pelo que houve. Mas você tem ido à igreja? A vida é assim mesmo. Irei lhe ajudar no que puder.

─ Tem razão, Ariel! ─ Comentou Martin.

Foi então que Nelson, um rapaz negro de 1,80m de altura, pobre, que nem terminou a escola, surpreendeu a todos.

─ Eu não sei como você, Ariel, ainda consegue consolo por intermédio da igreja. Prometem o paraíso depois da morte, mas pra isso temos que sofrer pacientemente em vida, como se não fosse possível fazer da terra um céu.

Dado o súbito de Nelson, Rosa também tomou a liberdade para falar:

─ Nelson está certo! Vamos lutar juntos por uma humanidade verdadeiramente humana! Pai, como você consegue dormir tranquilo sabendo que outros Nelsons estão por aí? Isso é egoísmo!

─ Sossega, Rosa! Eu tenho pés no chão. Você acredita muito em papai Noel e agora fez Nelson acreditar também. E ele tem que se preocupar em cuidar dos filhos, não terá tempo pra essas maluquices.

Já eram 22 horas. Foi quando Ariel recebeu uma ligação vinda de sua empresa bem no meio de toda a confusão.

─ Oi, Ariel. Passe no RH amanhã. Fiz de tudo para lhe manter o emprego, porém os lucros da empresa estão baixos, então temos que tomar medidas drásticas. Boa sorte em sua vida!

─ Quem te ligou, Ariel? ─ Perguntou Nelson.

─ Era da empresa. Demitiram-me também. E eu achando que algo assim nunca me atingiria.

─ Está vendo só?! É disso que estou falando. Temos que agir. Junte-se a mim no grupo da Rosa.

─ Mas, e os seus filhos? ─ Perguntou Ariel.

─ Bem, meus filhos não estão à parte da humanidade. Se construirmos uma nova sociedade, que seja baseada em um ideal de igualdade e fraternidade, todos ganharão.

─ Ah, mas vocês só podem estar de sacanagem comigo. Que palhaçada!

Agora todo mundo quer salvar o mundo! Ser herói! Que absurdo! ─ Bradou Martin.

─ É melhor acreditar na possibilidade de um futuro melhor para o gênero humano do que viver na desilusão do presente! Podemos progredir! ─ Exclamou Ariel.

Arthur Januzzi Caputo