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A Implantação da Política dos Ciclos de Aprendizagem na Rede

Após a experiência do Ciclo Básico de Alfabetização em 1989, já mencionada neste texto, os Ciclos de Aprendizagem, foram implantados e Recife na gestão 2001- 2004. A decisão de substituir a organização escolar seriada por ciclos está pautada no principio da educação como qualidade social. A Prefeitura Municipal do Recife ao desdobrar o Ensino Fundamental em ciclos apóia-se não apenas nas experiências exitosas desenvolvidas no país, mas nos vários dispositivos da LDB e PCN‟s. A adoção dos ciclos reflete a necessidade da referida gestão em “redimensionar as bases conceituais dos processos de ensino e de aprendizagem e que privilegia a construção processual do conhecimento”. (RECIFE, 2003, p.117).

Segundo o documento da Prefeitura do Recife (2003) a implantação do sistema de ciclos no município se justifica por três razões: resolver problemas cruciais do Ensino Fundamental como a evasão, a repetência, a defasagem idade-série escolar; respeitar os diferentes ritmos de aprendizagem dos alunos e distribuir os conteúdos de forma mais adequada à natureza do processo de aprendizagem, sem rupturas. Conforme o referido documento, a organização escolar em Ciclos de Aprendizagem concebe a instituição

escolar como um espaço de aprendizagem. Essa nova reformulação provoca uma mudança no próprio modo de pensar a escola, reconhecendo o aluno como sujeito capaz de estabelecer um diálogo com os seus pares e enfrentar os inúmeros desafios do seu tempo, articulando e relacionando os diferentes saberes, valores e atitudes construídos dentro e fora da escola.

A escola em ciclos busca valorizar as interações vivenciadas e as aprendizagens constituídas, oferecendo ambientes desafiadores para suscitar novas aprendizagens de modos que o educando possa atingir níveis de desenvolvimento qualitativamente diferentes e aponta para a necessidade de se rever o tempo pedagógico e o tempo das aprendizagens. (RECIFE, 2004, p. 7).

Os ciclos abrem nova perspectiva de organização do trabalho pedagógico, já que pressupõem nova organização do tempo escolar, com o objetivo de que o coletivo da escola possa organizar o currículo de forma integrada, flexível, respeitando os ritmos de aprendizagem de cada aluno. Segundo o documento, os ciclos provocam uma reformulação no próprio modo de pensar a escola, reconhecendo o aluno como sujeito capaz de estabelecer um diálogo com os seus pares e de enfrentar os inúmeros desafios do seu tempo, articulando e relacionando os diferentes saberes, valores e atitudes construídos dentro e fora da escola.

Conforme está descrito em outro documento (RECIFE, 2004) a noção de Ciclos de Aprendizagem consiste na reorganização dos tempos e espaços escolares tomando o fenômeno da aprendizagem como um processo contínuo, respeitando a diversidade e os diferentes tempos dos alunos para aprender. Nessa proposta, a prática pedagógica toma por base alguns princípios orientadores, são eles: “o acesso e a permanência de todos na educação básica; a garantia de apropriação do conhecimento construído e sistematizado historicamente e a produção de conhecimento, num movimento que estabeleça a

articulação entre esses aspectos; o respeito às diferentes dimensões da aprendizagem de cada aluno e a mobilização dos saberes relativos aos valores e aos conhecimentos indispensáveis à constituição da identidade cidadã; e atendimento às diferentes formas, tempos e necessidades de aprendizagem dos alunos”. (RECIFE, 2004, p.4).

De acordo com a proposta do Recife (2003), o critério de enturmação considera, além da idade dos alunos, o desenvolvimento das competências definidas por área de conhecimento. O Ensino Fundamental nos ciclos está dividido da seguinte forma: o primeiro ciclo possui duração de três anos, devendo ser matriculados alunos de seis a oito anos de idade; o segundo ciclo com duração de dois anos, agrupa alunos com idade entre nove e dez anos; o terceiro ciclo, também com duração de dois anos, reúne os alunos que estão com onze e doze anos; o quarto e último ciclo têm duração de dois anos, incorporando os alunos na faixa de treze a quartoze anos. Vale ressaltar que, conforme orienta a proposta (RECIFE, 2003), os ciclos devem funcionar como teias entrelaçadas, onde os conteúdos não se extinguirão em si mesmos, mas serão relacionados e articulados uns aos outros. Deste modo, a proposta busca:

Valorizar as interações vivenciadas e as aprendizagens constituídas, oferecendo ambientes desafiadores para suscitar novas aprendizagens, de modo que o educando possa atingir níveis de desenvolvimento qualitativamente diferentes e aponta para a necessidade de se rever o tempo pedagógico e o tempo dessas aprendizagens. (RECIFE, 2004, p. 7).

No que concerne aos processos avaliativos, diferente da avaliação classificatória, a proposta de Ciclos de Aprendizagem procura romper com os processos que se valorizam apenas mensuração quantitativa dos resultados, passando a contemplar os percursos individuais de cada aluno, que assumem um sentido dinâmico. Essa forma de avaliar da

pedagogia tradicional resulta numa verdadeira cultura da reprovação e conseqüente fracasso escolar.

Conforme a proposta (2003), o processo avaliativo nos ciclos deve se constituir como mecanismo de auto-regulação do ensino e aprendizagem, assumindo uma natureza formativa e diagnóstica, visando acompanhar o aluno durante todo o seu percurso de aprendizagem. De acordo com Silva (2004) a avaliação formativa-reguladora pode ser definida como:

(...) um mecanismo integrativo e regulador da prática docente e das aprendizagens, ocupando um lugar mediador na ação educativa, sendo fonte de informações descritivas e interpretativas dos percursos e dos conteúdos de aprendizagens dos aprendentes e das situações didáticas e da relação entre ambos (SILVA, 2004, p. 58).

Silva (2004), elucida que a avaliação de cunho formativo implica um entendimento de que o professor deve estar sempre construindo por meio de uma intervenção dialógica situações provocadoras de modo que possibilite aos sujeitos envolvidos na dinâmica escolar apreender os conhecimentos e as habilidades necessárias para assumirem um posicionamento crítico na vivência social. Para Silva (2006), quando pensamos numa avaliação de cunho formativo, estamos ao mesmo tempo fazendo uma escolha por um outro tipo de educação. Isto é, uma educação comprometida com a formação humana, com a humanização dos sujeitos e da própria sociedade. Perrenoud (1999) afirma que a avaliação formativa possui como premissa se ocupar das aprendizagens e, conseqüentemente, do desenvolvimento do aluno. É uma avaliação que atua no acompanhamento das aprendizagens. Para Perrenoud (1999), "a avaliação formativa ajuda o aluno a aprender" (p. 103). Nesse sentido, a avaliação formativa-reguladora tem

sido um instrumento privilegiado para uma regulação contínua das aprendizagens e das situações didáticas que tomam como referência uma educação centrada nas aprendizagens significativas, pois tende a oferecer uma aproximação dialógica entre as formas de ensino manifestadas pelo professor e os percursos de aprendizagens evidenciados pelos aprendentes.

Para Perrenoud (1999), a avaliação formativa desenvolvida pela regulação é vista sob a perspectiva de um processo deliberado e intencional, tendo como objetivo, controlar os processos da aprendizagem, para que possa consolidar, desenvolver ou redirecionar essa mesma aprendizagem. A avaliação formativa traz a ideia de que os processos cognitivos e metacognitivos dos alunos desempenham um papel fundamental na regulação e auto-regulação das suas aprendizagens. Os alunos constituem parte ativa, por intermédio da mobilização consciente de um conjunto de recursos cognitivos, metacognitivos e afetivos.

Nesse sentido, a avaliação desempenha o papel de acompanhamento do processo de ensino e aprendizagem, possibilitando o diálogo constante entre professor e alunos. Vale salientar que esta forma de avaliar exige ação e trabalho coletivo dos educadores, no planejamento, pois, “concebida enquanto processo de acompanhamento didático- pedagógico, avaliar representa, na prática, a possibilidade dialógica de compreensão de como o aluno aprende e de como poderia aprender”. Um dado que merece destaque com relação ao formato da avaliação preconizada na proposta dos ciclos da Prefeitura de Recife, diz respeito ao documento de Instrução nº 01/05 (RECIFE, 2005), que tornou obrigatória a reprovação dos alunos que não se apropriaram do Sistema de Escrita Alfabética ao final do 1º ciclo. (RECIFE, 2003, p.152).