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A vitalidade da Teoria das Representações Sociais: o estado da pesquisa

Nos últimos anos, a Teoria das Representações Sociais proposta por Moscovici (1978), tem aparecido com grande freqüência em trabalhos de diversas áreas, notadamente no âmbito educacional campo ao qual vem oferecendo novas maneiras de abordar e investigar a diversidade e complexidade da educação e do contexto escolar.

Para Gilly (2001), no âmbito da educação a Teoria das Representações Sociais, é um referencial importante, pois centra a atenção dos estudos nos significados da situação e bastidores do ensino, fornecendo maior suporte para o esclarecimento de determinadas posturas, possibilitando uma rica oportunidade de explorar os elementos simbólicos e aspectos pertencentes à cultura escolar, tais como: cotidiano, instituição, atores envolvidos na dinâmica escolar etc. Ao mesmo tempo, a Teoria das Representações Sociais em que permite compreender os fenômenos atinentes à educação, também “direciona a atenção para o papel de conjuntos organizados de significações sociais no processo educativo”. (GILLY, 2001, p.321). Duveen (1995), por exemplo, considera que as representações além de serem construtivas, revelam o mundo tal como ele é conhecido e as identidades que elas sustentam garantem ao sujeito um lugar no mundo. Logo, as representações têm o poder de divulgar a relação do individuo com o mundo que vive, orientando-se nele e comandando-o.

Para Machado (2007), o que explica o crescente número de pesquisas fundamentadas na Teoria das Representações Sociais seria a solidificação desse paradigma aliada à crise do paradigma tradicional, que colocou em discussão a tradição científica cartesiana como método infalível de compreensão da realidade.

Como a noção de representação social se mostra cada vez mais presente nas pesquisas no campo educacional, realizamos um estado da produção científica do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPE. O critério base para a seleção dos trabalhos foi que apresentassem a expressão “representações sociais” no título ou resumo. Localizamos trinta pesquisas desenvolvidas entre os anos de 1986 e 2009. O percurso metodológico foi organizado da seguinte forma: leitura dos resumos das pesquisas; indicação os objetos de representações sociais pesquisados; indicação dos sujeitos das representações sociais; identificação dos procedimentos de coleta utilizados para identificar as representações sociais e verificação dos procedimentos de análise para captar essas representações sociais.

A maioria dos trabalhos analisados foi desenvolvida na presente década dos anos 2000, dado importante que reafirma a atualidade da teoria. Dos trinta trabalhos analisados, constatamos que vinte e cinco deles foram produzidos ao longo desses anos (ABRANCHES, 2000; LINS, 2000; MARQUES, 2000; COSTA, 2001; BAZANTE, 2002; FREIRE, 2002; LIMA, 2002; MENDES, 2002; OLIVEIRA, 2001; SILVA, 2002; SILVA; 2002; BARBOZA, 2003; CRUSOÉ, 2003; AMORIM, 2004; CAVALCANTI, 2004; SANTOS, 2004; SILVA, 2004; FREITAS, 2005; SILVA, 2005; CRUZ, 2006; ALMEIDA, 2007; ALBUQUERQUE, 2007; ARRIBAS, 2008. GUERRA, 2009; LIMA, 2009). Em relação aos demais trabalhos, constatamos que quatro foram realizados nos anos de 1990 (LEÃO, 1996; PEREIRA, 1996; NASCIMENTO, 1998; CRUZ 1998) e apenas um estudo foi desenvolvido na década de 1980 (MEDEIROS, 1986).

Ao analisarmos os trabalhos apresentados, constatamos que diversos tem sido os objetos de representação pesquisados no âmbito das representações sociais no PPGE-UFPE. A partir da análise encontramos os seguintes objetos: supervisão escolar,

qualidade da educação, estágio supervisionado, didática, sucesso e fracasso escolar, escola e escolarização, projeto político-pedagógico, uso do computador na escola, educação especial, gênero, cursos de capacitação, informática na educação, formação continuada, sexualidade, professor de matemática, interdisciplinaridade, prática pedagógica, educação patrimonial, magistério, o aluno da escola pública, o brincar, museu, Ensino- Aprendizagem e Informática, estado de Alagoas, avaliação processual, bom aluno, inclusão escolar e coordenação pedagógica.

Tomando como base no que diz Moscovici “uma representação é sempre uma representação de alguém, tanto quanto de alguma coisa” (1978, p.27) buscamos identificar, também, quais eram os sujeitos das representações sociais pesquisadas. Observamos que há uma diversificação quanto aos participantes, entretanto, a maioria dos trabalhos, vinte e um (21), teve os professores como sujeitos da pesquisa. Os demais trabalhos tiveram como participantes: professores e alunos (03), alunos da educação básica (02), supervisores (01), coordenadores (01), conselheiros (01) e pais e alunos da educação básica (01).

Dada a importância dos procedimentos para a pesquisa, buscamos elucidar quais os procedimentos de coleta têm sido utilizados para identificar as representações sociais dos objetos pesquisados. Constatamos que embora haja uma variedade de instrumentos de coleta de dados, a técnica de entrevista se sobressai. Dos trinta trabalhos analisados, vinte e cinco (25) recorreram a entrevista para identificar as representações. Na seqüência aparecem: a Técnica de Associação Livre de Palavras (15), o questionário (11), a observação (05), seminário (04), análise documental (02), diário de campo (03), grupo focal (02), Hierarquizações Sucessivas (1) e desenhos (01). Cumpre destacar que mais da metade dos trabalhos analisados utilizaram mais de um procedimento de coleta.

Por último, verificamos que o conjunto dos trabalhos atesta a nítida preferência pela análise de conteúdo Bardin. Dos trabalhos analisados, vinte e um (21) no total recorreram a esta técnica para analisar os dados. Sobre isto, Sá (1998, p. 86), nos lembra que essa prática é uma espécie de “Romeu e Julieta” das representações sociais, combinar o uso de entrevistas e tratá-las através da “análise de conteúdo”. Destacam-se ainda: análise fatorial de correspondência (04), Software Tri-deux-mots (4), Análise Categorial (2), Software EVOC (1), Análise da Enunciação (1), Campo Semântico (3), Análise Temática (1). Neste quadro de diversidade encontra-se, ainda, uma quantidade de trabalhos que não fazem menção aos procedimentos de análise do material coletado.

A pesquisa sobre o estado da produção do conhecimento em representações sociais ora apresentado, nos autoriza a afirmar a vitalidade dessa teoria para o campo educacional. Não obstante, esses trabalhos não incidam sobre a produção do conhecimento total na área educacional, podemos dizer que, há uma diversidade de objetos representacionais investigados, os sujeitos, os procedimentos de coleta e análise de dados utilizados. Este trabalho, portanto, é mais um estudo que buscou discutir um objeto educacional, os ciclos de aprendizagem, à luz da Teoria das Representações Sociais.