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Para responder ao objetivo proposto neste estudo, qual seja, analisar as representações sociais de Ciclos de Aprendizagem e suas implicações para as práticas dos professores da rede pública municipal do Recife-PE, desenvolvemos um estudo de caso. Este estudo foi desenvolvido em duas etapas interdependes. Na primeira, procedemos com observações das práticas pedagógicas de uma escola da rede pública

municipal de Recife. No segundo momento, para uma maior apreensão dos sentidos e significados atribuídos pelos professores aos Ciclos de Aprendizagem, realizamos entrevistas semi-estruturadas com os professores da instituição que foram alvo das nossas observações.

3.2.1. A observação

Conforme Lüdke e André (1986), uma das vantagens da utilização da observação, é a possibilidade de um contato mais direto do pesquisador com o objeto de investigação, permitindo acompanhar as experiências diárias dos sujeitos e apreender os significados que eles atribuem à realidade e às suas ações. Ainda, segundo as autoras, as técnicas de observação são extremamente úteis para descobrir aspectos novos de um problema.

Para Lüdke e André (1986), o contato direto e intenso do pesquisador com os atores sociais e seu contexto, permite apreender uma gama de significados, ações e sentidos que se encontram impregnados na cultura de um grupo. No âmbito escolar, Scrivener (2006), pontua que a observação de aula pode ter objetivos diferenciados, dentre eles, o de investigar algum aspecto da vida em sala como, por exemplo, comparar o nível de participação dos alunos, variedade de técnicas e perguntas usadas pelos professores.

De acordo com os autores supracitados, para que a observação se torne um instrumento válido e fidedigno de investigação científica, precisa ser antes de tudo controlada e sistemática. Isso implica em um planejamento cuidadoso do trabalho e preparação rigorosa do observador. Consideram, também, que o “observador como participante” deve deixar clara a identidade e os objetivos do estudo desde o início para o

grupo pesquisado. Se assim proceder, o pesquisador terá mais possibilidade de ter a cooperação do grupo. Contudo, “terá em geral que aceitar o controle do grupo sobre o que será ou não tornado público pela pesquisa” (LUDKE E ANDRÉ, 1986, p.29).

Com base nas colocações dos autores acima citados, realizamos observações da prática pedagógica dos professores de uma instituição pública da rede municipal de Recife de modo a elucidar as significações atribuídas pelos docentes aos Ciclos de Aprendizagem, objeto de nossa pesquisa. A justificativa para as observações, está atrelada à necessidade de mergulhar nas práticas cotidianas dos docentes, a fim de explorar elementos simbólicos referentes às práticas, saberes, crenças e valores partilhados pelos sujeitos sociais a respeito dos Ciclos de Aprendizagem.

Para Jodelet (2001), a representação social é uma forma de saber prático responsável por ligar o sujeito ao objeto, permitindo que o indivíduo se integre ao seu meio, ou seja, elas orientam os indivíduos para a ação, organizam as condutas e as práticas cotidianas e gerindo a relação dos indivíduos com o mundo. Uma vez que as práticas são orientadas pelas representações dos professores, este estudo procura captar melhor essas representações, de modo a entender como elas interferem positiva ou negativamente para efetivação da proposta de ciclos. Pois, como afirma Abric (2005, em algumas situações existe uma defasagem entre o que as pessoas dizem (discurso) e o que elas fazem (práticas).

3.2.2. Entrevista semi-estruturada

A entrevista é um processo de interação social, no qual o entrevistador tem a finalidade de obter informações do entrevistado, através de um roteiro contendo tópicos

em torno de uma problemática central. Para Minayo (1994), a entrevista privilegia a obtenção de informações através da fala individual, tais informacões podem revelar condições estruturais, sistemas de valores, normas e símbolos e transmitem, através de um porta-voz, representações de determinados grupos. Como salienta Paredes (2005) a entrevista oportuniza ao pesquisador obter uma série de idéias, opiniões, depoimentos e percepções que os sujeitos têm para com determinado objeto de investigação.

Para Spink (1995), a via de acesso mais comumente usada pelos pesquisadores para acessar o conteúdo de uma representação social é a entrevista semi-estruturada ou semi-aberta, tendo em vista que ela possibilita ao entrevistado falar mais livre, evitando a imposição de preconcepções e categorias do pesquisador. Triviños (2006) reforça essa compreensão ao afirmar que, de modo geral, podemos entender a entrevista semi- estruturada como sendo:

Aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante. Desta maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo da pesquisa (2006, p.146).

Optamos pela entrevista devido ao fato desta técnica fornecer informações mais profundas sobre a realidade, evidenciando valores e opiniões dos atores sociais envolvidos com o tema. Segundo Minayo (1994, p. 109-110), a entrevista "é um instrumento privilegiado de coleta de informações, é a possibilidade da fala ser reveladora de condições estruturais, de sistemas de valores, normas e símbolos e ao mesmo tempo ter a magia de transmitir através de um porta voz, as representações de um grupo determinado em condições históricas, sócio-econômicas e culturais específicas". A

entrevista semi-estruturada é, portanto, um instrumento valioso na apreensão das representações sociais construídas na interação social entre os indivíduos. A autora supracitada afirma ainda que esta técnica dentre outras qualidades, permite enumerar de forma mais abrangente possível as questões onde o pesquisador quer abordar no campo, a partir de suas hipóteses ou pressupostos, advindos, obviamente, da definição do objeto de investigação.