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1. Enquadramento Teórico

1.9. A importância dos materiais e o desenvolvimento cognitivo de Piaget

Consideramos que também para Piaget (1975) os materiais são importantes, ele próprio os usou e a eles recorreu, utilizando-os como suportes, durante a exequibilidade das suas provas. Consequentemente na nossa perspetiva também, tal de extremo interesse para uma abordagem do nosso tema, impondo-se, uma breve reflexão sobre a teoria cognitiva de Jean Piaget.

Nesta sequência é importante salientamos que, segundo Piaget as crianças do nosso estudo encontravam-se no estádio pré-operatório, com características próprias.

79 Neste contexto, enfatizamos que Piaget (1975) preconiza que o desenvolvimento do ser humano é estimulado por impulso intrínseco a este, a fim de diminuir as incertezas com que se deparam e, assim, se ajustarem ao seu ambiente.

No que concerne ao desenvolvimento humano, Piaget (1975) explica que é direcionado por dois princípios básicos: - a organização e a adaptação. Nesta perspetiva, afirma que as crianças organizam a sua experiência em estruturas cognitivas, como a operação e a manipulação de ideias, que pode ser executada de forma reversiva. Assim, expostas aos estímulos ambientais procurarão compreender essa experiência, para adaptar-se.

Explicita ainda, que durante este procedimento de adaptação, surgem dois processos subjacentes para que este ocorra:

- a adaptação;

- a assimilação e a acomodação.

Neste âmbito, explicita que a assimilação e a acomodação são processos autónomos e é a partir dos incessantes equilíbrios estabelecidos entre os dois que o desenvolvimento intelectual é compreendido.

Refere, assim, que a pessoa que incorporou a experiência nos seus esquemas, assimilou-

a. Neste âmbito, Piaget (1975) chamou e entendeu por esquema, a estrutura psicológica que

medeia a adaptação de uma pessoa. A estrutura adaptativa – o esquema. Um esquema é, pois, um sistema organizado de ações, que podem ser comportamentos motores ostensivos, que são chamados de esquemas sensoriomotores, ou podem ser internos, chamando-se assim de esquemas

cognitivos.

De acordo com Piaget (1970), as experiências de uma criança quanto à incerteza e ao seu esforço de se adaptar, ao mundo que a rodeia, com o intuito de reduzir as suas incertezas resultam do progresso sistemático, através de quatro períodos (fases), do processo evolutivo da espécie humana.

Enfatiza que estes são caracterizados por aquilo que o indivíduo consegue fazer melhor, no decorrer das diversas faixas etárias, ao longo do seu processo de desenvolvimento:

• 1º período: sensoriomotor (do nascimento até aos 2 anos); • 2º período: pré-operatório (dos 2 anos aos 7);

• 3º período: operações concretas (7 anos aos 11 anos); • 4º período: operações abstratas (12 anos aos 16 anos).

Nesta sequência, Alarcão et al (2005:33), definem que um período,

se insere no tempo como uma determinada fase do desenvolvimento humano, (…), pressupõe, por parte do sujeito, uma determinada estrutura que lhe permita realizar um determinado “número” de tarefas ou actividades, que sem a sua aquisição, não seriam possíveis.

80 No que concerne a Gesell (Piaget, 1990), refere que os períodos ocorrem de uma maneira contínua, envolvendo a ideia de homogeneidade, estabilidade e equilíbrio, ou mais descontínua, principalmente, através de crises evolutivas (E. Erikson, 1950), envolvendo os conceitos de desequilíbrio e de mudança.

Relativamente a este 2º período, (fase em questão), o estádio pré-operatório (dos 2 anos aos 7), salientamos que é aqui que ocorre o aparecimento da função simbólica, ou seja, a capacidade de representar mentalmente objetos, ou acontecimentos que não ocorrem no presente, através de símbolos, (palavras, gestos e objetos).

Uma das mais importantes manifestações da função simbólica é a linguagem: as palavras, as frases representam pessoas, situações, objetos, ações.

No jogo simbólico, no faz de conta, a criança reproduz, representa um conjunto de comportamentos, de ações: finge que cozinha, que lê uma revistam etc. Os objetos passam a ser para a criança o que ela deseja: uma colher pode ser um telefone. A imagem mental (de objetos, ou ações não presentes no campo percetivo) e o desenho também são manifestações da função simbólica.

Salientamos ainda, que este período tem a designação de pré-operatório, pelo facto de a criança já pensar, mas ainda não ser capaz de fazer operações mentais, (ação interior reversível), que é um pensamento intuitivo, com base na perceção dos dados sensoriais.

Relativamente à problemática do nosso trabalho, incidimos na análise exploratória e reflexão crítica, focando-nos na experimentação de algumas das provas de Piaget (1975), passamos à explicitação das mesmas, enfatizando que o próprio Piaget (citado Vale, 1999), salienta que os materiais manipuláveis são cruciais na aprendizagem, em todos os estádios da criança.

No que concerne às provas em si, estas foram concebidas por Jean Piaget, que categorizou o desenvolvimento infantil dividindo-o em períodos, tendo como base as estruturas cognitivas limitadas pela idade da criança, elaborando assim um sistema de avaliação infantil – as provas

operatórias.

Neste sentido, o estudo realizado centrou-se apenas em quatro destas provas:

• a da Conservação de Massa; • a da Conservação de Comprimento; • a da Classificação de Inclusão de Classes; • a da Conservação de Superfície.

81 Neste contexto, reiteramos que as provas em questão têm as suas finalidades/objetivos, pretendendo, portanto, perceber se a manipulação de materiais durante a realização das provas, ajuda as crianças na aquisição das seguintes noções:

• quantidades, face às modificações de massa ocorridas; • de comprimento;

• de inclusão de classes; • de superfície (área).

Enfatizamos, reiterando, que tentamos mais uma vez, melhorar a eficácia, qualidade e toda a dinâmica das aprendizagens, recorrendo e incidindo, igualmente, na utilização, manipulação, exploração e experimentação de diversos materiais, conducentes à ação e à concretização, como facilitadores da aprendizagem, suportes, ferramentas, meios, apoios e auxílios.

Salientamos que, o nosso objetivo ao aplicar as provas referidas, não foi o de investigar qual o nível cognitivo em que as crianças se encontravam, mas sim verificar como a manipulação de materiais auxilia na construção de saberes das crianças, visando que as noções fossem adquiridas, através da manipulação, propondo-lhes experiências um pouco mais complexas do que os seus conhecimentos, mas não excessivamente, para evitar desmotivá-las.