• Nenhum resultado encontrado

1. Enquadramento Teórico

1.8. Os materiais como suportes de ensino no jardim de infância – Perspetiva

Montessoriana

Relativamente ao uso de materiais no ensino do pré-escolar, as O.C.E.P.E. (2016:26) salientam e preconizam que,

a importância dos materiais na aprendizagem das crianças implica que o/a educador/a defina prioridades na sua aquisição, de acordo com as necessidades das crianças e o projeto curricular de grupo. A progressão do desenvolvimento e da aprendizagem das crianças, ao longo do ano, levará à introdução de novos espaços e materiais, que sejam mais desafiadores e correspondam aos interesses que vão sendo manifestados.

Um dos muitos pedagogos que defendeu, sendo pioneira, do uso de materiais manipuláveis em contexto educativo foi Maria Montessori3.

Fazendo uma retrospetiva sobre vida de Montessori (1870-1952), salientamos que foi a primeira médica italiana (1896), que começou a interessar-se pelas crianças ditas deficientes, defendendo o seu direito à instrução.

3 Nasceu a 31 de agosto de 1870, em Chiaravalle, Itália. Em 1906, é convidada a assumir a tarefa de organizar algumas escolas infantis no bairro San Lorenzo, em Roma, nascendo assim, a 6 de janeiro de 1907, a primeira, de muitas Case dei Bambini. Morreu em 1952, na Holanda, onde foi sepultada.

75 Neste âmbito, para Maria Montessori, a educação é a ajuda à vida, que se desenvolve na criança, por impulso ou força vital, pela força do seu espírito num ambiente preparado e familiar. Enfatiza que o educador, tem o dever de estimular à vida, deixando-a livre para se desenvolver, devendo a intervenção ser contida, a fim de não perturbar ou interromper a atividade, contida, mas atenta, pois não é apenas o material e o ambiente previamente preparado, mas também a voz do educador que as deve estimular a educarem-se a si próprias.

No contexto das suas experiências pedagógicas, com as crianças ditas deficientes, infere que se estas crianças aprendem mais facilmente com o auxílio dos materiais como suportes de aprendizagem, o mesmo sucederá com as crianças ditas normais.

Tal como Froebel (1782-1852), manifestou um profundo a amor e respeito pela criança, inferimos que para ambos, a criança é um agente ativo do seu desenvolvimento e aprendizagem, e o educador, um orientador das suas energias, não sendo mais a criança um vaso vazio, mas um ser dotado de ação e reflexão.

Neste contexto, Froebel reitera que confia na competência do educador e na interação que estabelece com a criança, enquanto que Montessori confiava sobretudo no potencial da criança e consequentemente na exigência de um educador discreto que se foca mais na preparação de um ambiente adequado e devidamente organizado para receber a criança.

Em relação ao ambiente educativo, Montessori defende, salientando que o ambiente da sala de atividades, (fig. 40), deve ser belo e sóbrio,

Fig. 40 – Exemplo de uma sala Montessoriana.

Fonte: http://escolaprisma.com.br/beneficios-do-metodo-montessori/

Salienta que as paredes devem ser coloridas, mas de cores neutras, ter espaço físico suficiente, livre de obstáculos, para que a criança o utilize e desenvolva a sua atividade espontânea, sem necessitar da intervenção direta do educador. Enfatiza ainda, que as salas devem ter cortinas para que o excesso de luminosidade não agrida as crianças e as janelas devem estar à altura das crianças, para que estas as possam abrir quando desejarem. As palavras de Montessori (1943:162), elucidam quanto a esta questão, salientando que:

76 As salas claras e luminosas com janelas baixas, cheias de flores, móveis pequeninos, de todas as formas, (…) armários baixos ao alcance da mão dos petizes que aí dispõem os objetos e tiram o que desejam…

A mão é para Maria Montessori o instrumento da inteligência humana, e os sentidos, o instrumento da perceção, daí a importância dada à atividade motora e ao material colocado à disposição das crianças.

Sobressai assim que, é a mão guiada pelo cérebro que manipula os materiais e é, consequentemente, a partir de experiências concretas proporcionadas pelos materiais escolhidos livremente que a criança chega à abstração, afinando as suas capacidades de observação e de concentração e enriquecendo o seu vocabulário.

Sublinha, enfatizando que é apenas, após a educadora ter mostrado os materiais, que estes ficam disponíveis para a criança os utilizar livremente.

Neste contexto e de acordo com a perspetiva Montessoriana, os materiais devem surgir obedecendo às seguintes características e devendo ser:

- não perigosos;

- reais, sempre que possível;

- o mais possível, parecidos com a realidade; - adequados;

- visíveis ao longe; - atraentes;

- coloridos;

- de fácil manipulação.

Consequentemente, quanto à repetição das atividades, esta possibilita a aprendizagem de uma qualidade particular, conforme o material utlizado e segundo a sua finalidade, favorecendo o hábito de ordem.

Neste contexto, salientamos e explicitamos a técnica lição de três tempos, referentes ao uso dos materiais, que ocorre:

• no primeiro tempo, a educadora apresenta o objeto, pronunciando os nomes e adjetivos com precisão, ou seja, utilizando apenas as palavras necessárias: Isto é uma barra. É

vermelha;

• no segundo, quando a educadora se assegura de que a criança associa o nome, ou o adjetivo à perceção: Qual é a vermelha e a criança aponta;

77 Sublinhamos que o material deve, ainda segundo a perspetiva de Montessori,

desenvolver:

• o sentido tátil, (utilizam tábuas ásperas e lisas, lixas em gradação de aspereza e o jogo do pareamento);

• o sentido térmico, (usam as caixas com vários tecidos e recipientes metálicos de temperatura);

• o sentido bárico (do peso), (exploram o jogo de plaquetas de madeira);

• o sentido estereognóstico, (pretende conhecer pela perceção táctil, a natureza, a forma e propriedades físicas dos objetos) e utilizam os saquinhos de objetos variados;

• o sentido olfativo e gustativo, (usamos jogos de recipientes com vários odores e vários sabores);

• o sentido auditivo, (exploram a caixa de sons e as campainhas);

• o sentido visual, (utilizam os encaixes sólidos e encaixes planos de madeira); • a perceção do comprimento, (usam as barras vermelhas);

• a perceção do tamanho, (utilizam a torre rosa e a escada castanha); • o sentido da cor, (usam as caixas de tabletes coloridas

)

.

Consequentemente é, através dos sentidos e das suas perceções sensoriais, que a criança descobrirá o mundo e todas as coisas e formas de vida, o belo, o bom, a cultura, o seu próprio potencial e a importante disposição de assumir o seu próprio crescimento como agente de progresso e enquanto autora da sua história e da história da humanidade.

No que concerne ao método Montessoriano e no que diz respeito à educação pré-escolar (dos 0 aos 7 anos), salientamos que o método visa os seguintes aspetos e requisitos fundamentais, a nível da aprendizagem:

• sensorial: conforme ambiente e materiais descritos anteriormente;

• da sociabilidade: as crianças mais velhas ajudam as mais novas (os grupos são heterogéneos), respeitar os outros, etc.;

• da lição de silêncio: a um sinal da educadora, todas as crianças fazem silêncio, procurando interiorizar (experiência de si próprio e das suas capacidades de autodomínio e interiorização);

• da disciplina: cada criança escolhe a sua atividade, mas se mudar, deverá arrumar previamente o que estava a utilizar.

78 No que concerne à aquisição de conhecimentos, períodos sensíveis e outros aspetos subjacentes, salientamos que:

• os períodos sensíveis são períodos em que a criança está mais apta a fazer determinada aprendizagem;

• importa identificar esses períodos, não os deixando passar sem serem aproveitados, mas antes satisfazendo-os com as atividades apropriadas;

• é o potencial da criança e não a sua idade que determina a dificuldade de uma aprendizagem;

• a absorção à descoberta é essencial, pois a mente é absorvente;

• a criança vai progressivamente assimilando os conhecimentos não por imitação passiva, mas por absorção, tornando seu esse conhecimento e informação, no momento em que se dá conta, descobre que aquilo realmente é assim;

• o método acompanha o desenvolvimento físico e psicológico natural da criança e observa o desenvolvimento motor, proporcionado pelo arranjo do espaço e a educação sensorial e da linguagem proporcionados pelos materiais anteriormente referidos; • é essencial não interromper os ciclos de trabalho das crianças (quando estão

envolvidas), ou seja, nas suas brincadeiras e jogos.

Enfatizamos que sempre atual este método é conducente ao propagar da sua exequibilidade, por todo o mundo e consequente ao aumento dos jardins e escolas de inspiração Montessoriana.

Emerge e sobressai assim a teoria de quem conservou e desenvolveu o legado que quebrou barreiras, visando proteger os direitos das crianças numa sociedade e num tempo, que pouco se preocupou com as crianças e que não soube – e não sabe ainda – compreender que, para respeitar os direitos do adulto, é necessário passar pelos da criança.