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1. DO DIREITO DE PROPRIEDADE: HISTÓRICO

1.4 DO DIREITO DE PROPRIEDADE NA DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO

1.4.2 A Independência e a Constituição dos Estados Unidos da

Não eram apenas territórios e riquezas, mas, sobretudo, a liberdade o grande desejo de muitos dos colonizadores do Novo Mundo. Poderia ser a liberdade religiosa ou mesmo a liberdade contra a servidão, mas esta ideia permaneceu arraigada nos tributários do império britânico que na América buscaram fugir à opressão.

Cabe destacar que, inicialmente, os peregrinos do Mayflower até tentaram, como nas comunidades cristãs primitivas, a implantação do uso coletivo da propriedade. No entanto, a produção não foi suficiente para afastar a fome e, ainda, aqueles que trabalhavam mais se sentiram injustiçados e, portanto, oprimidos por terem de sustentar outros.

90 FRANÇA. Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Disponível em: <

http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/atuacao-e-conteudos-de-apoio/legislacao/direitos- humanos/declar_dir_homem_cidadao.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2014.

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Como consequência, foi tomada a primeira grande decisão democrática em solo norte-americano – a terra seria dividida e cada qual seria responsável pelo próprio sustento, fruto de seu trabalho. Esta decisão viria a inspirar a ocupação dos Estados Unidos, bem como possivelmente impactar a visão do contratualista John Locke91.

✈ ✇ ①②③ ④⑤ ⑥✇⑦ ⑧⑥ “O Segundo Tratado do Governo Civil” (1690), defendeu que o ③stado de natureza é um Estado de total liberdade, sem sujeição ou mesmo ⑨⑩⑦ ✇ ⑧❶ ❷⑤⑥❸❹✇ ④ ✇⑤❶③ ❺⑩⑥❻ ❺⑩③ ⑧ ⑩ ❼ ❽✇❶③ ⑧❷⑥ ❶ ❷⑨ ❽✇ ⑧ ❶③ ⑨③⑩⑨ ⑦ ③⑤⑨ ✇⑩ ❶③ ⑨③⑩ ⑨③ ⑧④ ❶⑥

❾ ❿ ➀➁ ➂ ➃➄ ➅ ➆➅➇ ➈➂ ➈➈➅ ➉❿ ➀➀ ➅➋ ➂ ➌ ➍sem pedir licença ou depender da vontade de ➃➄ ➂➎ ➃➄ ➅➀❿➄➋ ➀❿➏❿➁➅➁ ➐ 92. ➑⑨⑨ ❷ ❼ ①✇❼✇ ③❼➒✇⑦ ⑦ ③⑨④ ❽⑥ ⑧⑥ ✈ ✇ ①②③ ⑥ ⑨✇⑦⑧ ③❽✇⑨ ❷❸❹✇ ❶③ ❻ ❷⑦③ ⑧❶⑥❶③⑨ ➓⑥➔❷⑥ ①✇❼ ❺⑩③ ⑥ ❼⑥❷⑨ ①✇❼③➔❷⑤→⑥ ❶⑥⑨ ❶❷⑨①✇ ⑧❶ ➣⑤①❷⑥⑨ ①✇⑤❶⑩➔❷⑨⑨③ ↔ ↕⑩③ ⑧ ⑧⑥, na qual, frente à ❷⑤③➙❷⑨➛ ➜⑤①❷⑥ ❶③ ❻③❷⑨④ ✇⑨ ⑨✇➓⑧③❶✇ ⑧③⑨ ❶③ ❺⑩⑥❻ ❺⑩③ ⑧ ➓✇ ⑧❼⑥ ❶③ ➝❷✇❻ ➜⑤①❷⑥ ❽⑩ ❶③⑨⑨③❼ ⑥❽③❻⑥⑧ ⑥❽③⑤ ⑥⑨ ⑥ ✇➞⑧❷⑥❶✇⑧➟

O segundo contratualista estabeleceu ainda que o homem em estado de liberdade, para sua própria sobrevivência, tinha que trabalhar e este seu labor criou e fixou a propriedade.

Locke afirmou que a lei natural é favorável à apropriação e obtenção de materiais com os quais é possível produzir o necessário à sobrevivência humana e, desse modo, ela introduziu necessariamente a propriedade privada. Para ele, é a proteção da propriedade, do próprio trabalho – da garantia da liberdade – o fim buscado pelo Estado93. Locke é, por suas ideias, considerado o principal teórico do Estado Liberal.

As considerações de Locke acerca da propriedade determinavam que, apesar de a terra haver sido concedida por Deus a todos os homens, “para o sustento e conforto de sua existência”, foi o trabalho, também ordenado por Deus, que possibilitou a retirada da natureza de parcela do bem comum, delimitando-a para aquele que a laborou.

O tratadista também logrou demonstrar que, se antes da invenção do dinheiro a propriedade estaria limitada à extensão aproveitável pelo labor individual, com sua criação ela foi estendida, possibilitando trocas capazes de prover necessidades e a

91 LINKLATER, op.cit., p. 24-25.

92 LOCKE, John. Dois tratados sobre o governo. Tradução: Julio Fischer. 2. ed. São Paulo: Martins

Fontes, 2005. p. 382.

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acumulação baseada, contudo, nos diferentes graus de esforço empregado pelos homens.

Justificou, desse modo, não apenas a propriedade como também a “partilha das coisas em uma desigualdade de propriedades particulares”94. Afirmou que a

possibilidade do comércio trouxe o desenvolvimento das terras da América e que o trabalho seria o responsável pela maior parte do valor dado à propriedade.

A teoria trabalhista de Locke, posteriormente, viria a ser ultrapassada e seria substituída, por exemplo, pela utilitarista, cujo pioneiro foi Hume e pela qual a propriedade individual era justificada como sendo a que conduzia melhor à propriedade geral.

Ainda, de acordo com Locke, a lei é o instrumento de garantia da liberdade. Sem lei não há autodeterminação já que esta só existe para expandir a própria autonomia.

Mas não é, como já nos foi dito, liberdade para que cada um faça o

que bem quiser (pois quem poderia ser livre quando o capricho de

qualquer outro homem pode dominá-lo?), mas uma liberdade para dispor e ordenar como se quiser a própria pessoa, ações, posses e toda a sua propriedade, dentro dos limites das leis às quais está submetido; e, portanto, não estar sujeito à vontade arbitrária de outrem, mas seguir livremente à sua própria95.

➥ ➦ ➧ ➨➩ ➧-se à obra de Hobbes, Locke em “O Segundo Tratado do Governo ➫➭➯➭➲” demonstrou que a monarquia absoluta havia sido escolhida como forma de

governo apenas por ser modo aprendido na infância, mas que o governo total de um só homem deixaria todos sujeitos à violência e à opressão desse administrador96.

➳ ➵ ➸ ➵meaça deveria ser coibida com a divisão do poder político

97 e que a população

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➻➺➽➺ ➸➵➻-se contra este poder caso este fosse utilizado arbitrariamente.

Já na obra “Do Contrato Social ou Princípios do Direito Público” (1757), Jean Jacques Rousseau afirmava que apenas as convenções fazem o direito e que apenas a alienação total de todos os homens oferece a possibilidade de se encontrar uma força que proteja a cada um e a seus bens.

➾➚ Ibid., p. 405-429.

95 LOCKE, op.cit., p. 433-434.

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Ibid., p. 464.

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Essa associação fez cada um voltar a seus anteriores direitos uma vez que ninguém se interessaria em onerar aos demais, produzindo um corpo moral coletivo, “permanecendo assim”, cada homem, “tão livre quanto antes”98.

A propriedade para Rousseau era a posse originada pela primeira ocupação, não mais protegida pela força, mas sim por um título positivo, pelo direito99. Contudo,

o contratualista impunha cláusulas para sua aquisição.

Contrariamente a Locke, Rousseau apregoou que o direito individual aos bens estaria sempre subordinado ao direito que a comunidade tem sobre todos, sem o qual não haveria uma tessitura social sólida ou mesmo a soberania e denunciou a legitimação da usurpação por particulares de grandes áreas em nome da coroa, tais como aquelas ocorridas na América100.

Se no século XVII os colonos gozavam de grande autonomia, até mesmo devido à separação atlântica, e puderam organizar atuante rede comercial entre as treze colônias americanas, no final do período a Inglaterra aprovou uma série de leis visando a aumentar o controle e as receitas sobre o território.

As novas normas passaram a exigir exclusividade aos navios ingleses nos portos, proibiram as transações entre os habitantes americanos e demais países, resolveram taxar os negócios internos e, por fim, ainda pretendiam instituir um governo central. As medidas impopulares inglesas resultaram em contendas militares que necessitavam ser financiadas com mais tributos, agravando ainda mais a situação.

Visando a resistir à opressão, representantes das treze colônias decidiram unir-se para coordenar esforços, primeiramente formando uma confederação de Estados independentes e depois uma federação.

A passagem da organização confederativa para a federativa deu-se, entre outras razões, devido à questão da segurança, tanto externa quanto interna.

No que tange à segurança interna, o tema de destaque, notadamente no Federalista de número 10101, é a questão da divisão da sociedade em facções de

98 ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social ou Princípios do Direito Político. Tradução:

Lourdes Santos Machado. Introduções e notas: Paul Arbousse-Bastide, Lourival Gomes Machado. São Paulo: Nova Cultural, 1999. p. 69-71. (Rousseau 1).

➘➘ Ibid., p. 78.

100 Ibid., p. 81.

101 MADISON, J. O federalista no 10. In: HAMILTON, A; MADISON; J. JAY, J. O federalista. Tradução:

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pessoas de interesses distintos derivados da distribuição díspar da propriedade. Essas facções poderiam inclusive defender interesses contrários aos da comunidade.

Madison destacou ainda que, para se acabar com as facções, existiriam dois possíveis remédios – a supressão da liberdade e das divergências. Contudo, conforme o autor, a utilização do primeiro seria pior do que suas consequências e fazer com que cada cidadão tivesse as mesmas opiniões, paixões e interesses além de impraticável apresentar-se-ia insensato visto que são as diferentes e desiguais faculdades humanas as habilitadoras da obtenção de bens102.

Desse modo, segundo o federalista, seria a principal função da legislação moderna a regulamentação dessas conveniências a fim de evitar conflitos, e a existência da União tornaria mais difícil, por sua extensão, uma possível conflagração entre classes.

Os Estados Unidos declararam sua independência da Inglaterra em 1776 e constituíram-se como Estado federal soberano em 1787, destacando a liberdade como elemento a ser preservado. Dentre as primeiras emendas à Constituição americana, garantes dos direitos individuais (Bill of Rights), restou estatuída a proteção da propriedade, resguardado o direito à indenização quando necessária utilização pública. Em outras partes da América o problema da ocupação do território, vinculado ao da propriedade também existia.

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2. DO DIREITO DE PROPRIEDADE NO BRASIL: TRATAMENTO LEGAL (1500-