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CAPÍTULO I – DA FILOSOFIA PRIMEIRA AO NATURALISMO – IMPACTOS NA

4. A epistemologia naturalizada de Willard Van Orman Quine

4.2 As teses substitutivas de Quine

4.2.2 A Indeterminação da tradução

Vimos, pois, que, em “Two Dogmas of Empiricism”, Quine não argumenta que não haja tal coisa como a analiticidade. Ele simplesmente aponta que parece impossível de explicá-la didaticamente e argumenta que a analiticidade não é necessária para a tarefa explicativa194 para o qual foi chamada na teoria de Carnap. A falha central do projeto de Carnap, para ele, reside na impossibilidade de traduzir o discurso ordinário195 em um discurso formal que dependa da separação estrita entre enunciados analíticos e sintéticos. Já em “Word and

Object”, Quine coloca algumas questões mais desafiadoras sobre o conceito de significado

e seu papel na filosofia, especialmente na epistemologia. Que tipo de fatos são fatos sobre o significado, e como, em sua totalidade, são estabelecidos? Ele anuncia respostas para ambos no primeiro parágrafo do Word and Object:

“A linguagem é uma arte social. Ao adquiri-la, dependemos inteiramente de pistas intersubjetivamente disponíveis quanto ao que dizer e quando. Assim, não há justificativa para cotejar significados, a não ser em termos de disposições dos homens para responder abertamente a estímulos socialmente observáveis. Um efeito de reconhecer esta limitação é que o empreendimento da tradução está envolvido em certa indeterminação sistemática”. (QUINE, 1960, p. VIII).

Seguindo Gary Kemp, é possível dividir esta afirmação em dois planos de estudo (KEMP, 2006b, pp. 22-23). Em primeiro lugar, Quine afirma que o significado deve ser acessível ao público196: do contrário, dois falantes poderiam compartilhar as mesmas disposições da fala; eles diriam as mesmas coisas em todas as mesmas situações e assim por diante, ainda

194 “Na explicação, o propósito não é apenas parafrasear o definiendum em um sinônimo imediato, mas na

verdade aperfeiçoar o definiendum, refinando ou complementando seu significado. Mas mesmo a explicação, embora não apenas relate uma sinonímia preexistente entre definiendum e definiens, baseia-se em outras sinonímias preexistentes.(...) O que é requerido para que uma dada definição seja apropriada para os propósitos da explicação não é que o definiendum em seu uso anterior seja sinônimo do definiens, mas apenas que cada um desses contextos privilegiados do definiendum, tomados como uma totalidade em seu uso anterior, seja sinônimo do contexto correspondente ao definiens” (QUINE, 2011, p. 44).

195 Interessante notar que Quine trata a linguagem ordinária como um plano teórico. Com isso, Quine sugere que aprender uma linguagem é aprender uma teoria sobre como as coisas são. Essa tese perpassa toda a reflexão de Quine, ganhando destaque em Word and Object e no seu artigo “Ontological Relativity”. É justamente o fato de Quine pensar a linguagem como uma teoria que conduz à sua tese da indeterminação da tradução, objeto deste item. A linguagem é vista aqui como um agregado de sentenças, onde apenas a extremidade deste agregado tem um contato direto com a experiência, sendo que na maior parte das sentenças o contato é apenas indireto.

196 “Linguistically, and hence conceptually, the things in sharpest focus are the things that are public enough

to be talked of publicly, common and conspicuous enough to be talked of often, and near enough to sense to be quickly identified and learned by name; it is to these that words apply first and foremost” (QUINE, 1960, p. 01).

que isso não significasse o mesmo que eles dizem. Isso seria um absurdo para ele, pois só se adquire a linguagem, aprendendo-a com os outros, por meio da cópia de suas disposições de fala197. Logo, não pode haver significados nas palavras de uma pessoa que não sejam resultado da observação ou do ensinamento de outras pessoas. Por outro lado, supor que o significado é de algum modo melhor determinado ou refinado do que o que pode ser manifestado no discurso introduziria um ceticismo gratuito, no sentido de que talvez nunca possamos entender uns aos outros, apesar de concordarmos em tudo o que dizemos (KEMP, 2006b, p. 23). Em segundo lugar, Quine afirma que as disposições da fala não são suficientes para determinar o significado exclusivamente. Por exemplo, uma determinada frase de uma língua pode ser igualmente traduzida por duas frases de outra língua que não significa, em qualquer sentido plausível, a mesma coisa que na primeira língua198.

O que torna, então, possível a compreensão de uma língua estrangeira? Para Quine, a principal razão para conhecermos uma língua que não a nossa é que a tradução é também holística: só os regimes de tradução integral da linguagem podem ser empiricamente justificados, porém não se pode dizer o mesmo de traduções de frases individualmente consideradas.

Assim, uma tradução de uma determinada frase pode ser correta, de acordo com um esquema teórico que é empiricamente confirmado perante a tradução integral daquela língua, mas incorreto de acordo com outro tipo de regime de tradução. Intuitivamente, as traduções podem parecer completamente diferentes, mas supor que tal dessemelhança representa uma verdadeira incompatibilidade factual é incidir na falácia de avaliar peças fora de contexto, como quando condenamos alguém por um único ato sem ver o seu papel

197 Anteriormente havia indicado que John Dewey, apesar de ser considerado um dos três fundadores do pragmatismo filosófico norte-americano, também é considerado um expoente do naturalismo. Suas considerações sobre como pensamos e seus esforços na concepção de uma filosofia da educação menos restritiva, isto é, que não se restringisse à transmissão do conhecimento como algo acabado, mas que o saber e habilidade adquiridos pelo estudante pudessem ser integrados à sua vida como cidadão, influenciando seu comportamento e sua capacidade crítica, aliando ensino e prática cotidiana foram determinantes na aproximação do naturalismo e do pragmatismo. Essa influência é reconhecida por Quine, como se vê dos seguintes trechos do Ontological Relativity: “With Dewey I hold that knowledge, mind and meaning are part

of the same world that they have to do with, and that they are to be studied in the same empirical spirit that animates natural science” (QUINE, 1968, p. 185) “When with Dewey we turn thus toward a naturalistic view

of language and behavioral view of meaning, what we give up is not Just the museum figure of speech. We give up an assurance of determinacy” (QUINE, 1968, p. 187)..

198 No exemplo dado por Quine, temos que: “In the French construction ‘ne... rien’ you can translate ‘rien’

into English as ‘anything’ or as ‘nothing’ at will, and then accommodate your choice by translating ‘ne’ as ‘not’ or by construing it as pleonastic. This example is disappointing because you can object that I have merely cut the French units too small. You can believe the mentalistic myth of the meaning museum and still grant that ‘rien’ of itself has no meaning, being no whole label; iy is part of ‘ne…rien’ which has its meaning as a whole” (QUINE, 1968, p. 188).

para com o bem comum (KEMP, 2006b, p. 23). Mas os regimes de tradução não são determinados unicamente por disposições de fala. Colocado com a afirmação de que as disposições de fala são os únicos fatos há sobre o que é significado, segue-se que simplesmente não há fatos sobre o significado, pelo menos, do tipo que poderíamos esperar intuitivamente, já que o significado só pode ser atribuído quando tomamos as afirmações em relação ou à teoria ou à linguagem onde elas aparecem.

Eis o argumento de Quine conhecido como a indeterminação da tradução199. Em poucas palavras, a afirmação geral da indeterminação da tradução é a de que pode haver diferentes maneiras de traduzir uma linguagem que são igualmente corretas, mas que não são meras variantes estilísticas. A afirmação inclui o que se poderia pensar como o caso limite da tradução, aquele em que uma dada língua é “traduzida” por si mesma (HYLTON, 2014). O autor nos diz que há duas formas para conhecer uma palavra: a primeira é se familiarizar com o seu som quando ela é reproduzida. A fonética é assim conhecida pela observação e imitação do comportamento de outras pessoas. A segunda, a semântica, é conhecida quando sabemos utilizar essa palavra (QUINE, 1968, p. 186). Entretanto, se considerarmos que o significado das palavras é primariamente uma propriedade do comportamento humano, temos de reconhecer que não há significados além daqueles que as pessoas apresentam por meio das regras comportamento.

Com isso, Quine está levantando uma questão científica, de um tipo que os filósofos anteriores que se preocupavam com o conceito de significado raramente haviam considerado: uma vez que o significado deve ser de alguma forma identificável em termos de regras linguísticas, como determinadas regras linguísticas constituem evidência para atribuições de significado (ou melhor, de “conteúdo empírico”)? Ele, então, apresenta a seguinte afirmação em Word and Object:

“Uma pessoa é ensinada de modo a associar as palavras com palavras e outros estímulos para que surja algo reconhecível como falar das coisas,

199 De acordo com a análise de Gary Kemp, o argumento da indeterminação está contido no Capítulo 2 do

Word and Object. Em uma análise ampla dessa obra, Gary Kemp aponta que, no Capítulo 1, Quine define o

cenário de sua teoria, esboçando seu próprio substituto para a epistemologia de Carnap, que ele mais tarde viria a chamar de “epistemologia naturalizada”: em harmonia com a metáfora “rede de crenças” que encerrou o artigo seminal “Two Dogmas of Empiricism”, ele tenta explicar como o conhecimento pode ser concebido em termos de pertencimento de uma língua em que, em vez de depender do conceito de sentido que descreva “o que é ter uma linguagem”, o conhecimento é descrito em termos comportamentais e psicológicos. Nos capítulos 3 e 4 daquele livro, Quine discute as características da linguagem envolvidas no conceito de referência: a relação entre linguagem e mundo, palavra e objeto. Nos próximos capítulos, Quine muda para um conjunto muito diferente de perguntas. Dada a sua rejeição da perspectiva de Carnap sobre epistemologia e ontologia ele questiona que tipo de atitude devemos tomar sobre essas perguntas? Como elas devem ser respondidas? (KEMP, 2006b, p. 23).

e não para que ser distinta da verdade sobre o mundo. A conversa volumosa e intrincadamente estruturada que surge carrega uma correspondência pouco evidente com o passado e a presente enxurrada de estímulos não-verbais; no entanto, é para tais estímulos que temos de olhar para que o conteúdo empírico possa existir” (QUINE, 1960, p. 26)200.

Ao discorrer sobre um falante de uma língua, no entanto, várias tentações surgem e que devem ser evitadas. Parece totalmente redundante perguntar o que são as nossas próprias regras linguísticas. Como falantes nativos já sabemos, ou supomos que sabemos, o que as expressões de nossa língua nativa querem dizer. Mas esse conhecimento aparente não ajuda a responder a pergunta acima formulada; isso nos leva ao problema da circularidade que Quine apontou em “Two Dogmas of Empiricism” (2011, p. 50). Nossa facilidade com termos tais como significado e analiticidade não ajuda a entender o que são e que tipos de fatos consistem os fatos significativos, se houver algum. Em outras palavras, para ele, as técnicas analíticas não nos convencem no propósito do processo de formação de nossas crenças, isto é, não há confiabilidade na produção de crenças verdadeiras.

Por esta razão, propõe sua famosa experiência mental da tradução radical201. Esta é a questão: quais resultados seriam justificados por uma ciência objetiva da tradução radical – a tradução de idioma previamente desconhecido?

Se há fatos objetivos202 sobre o significado, então deve haver fatos objetivos sobre a questão de saber se duas expressões “E” e “E*” têm o mesmo significado. Se eles são de

200 Na explicação de Gary Kemp, Quine fala de “estímulos” porque ele tem em mente os seguintes tipos de disposições: o sujeito (um falante da língua que está sendo investigado) recebe certa estimulação sensorial, por exemplo, aquela recebida quando vê um coelho, e isso faz com que ele se torne favorável a uma frase em particular. Se o sujeito é um falante da língua portuguesa, esta frase pode ser “Há um coelho”. Assim, se a sentença for colocada a um sujeito estimulado por isso, ele concordaria com isso. Em outro tipo de caso, o estímulo é a própria audição de uma frase, por exemplo, “Está chovendo”; o sujeito pode, ao ouvir isso, se tornar disposto a concordar com a frase “O rio vai subir”. Este é um caso que Quine, muitas vezes, chama de links “frase-a-frase”. A disposição de “ordem superior” de se tornar disposto a concordar com a frase em que está sendo exposto outro enunciado é, provavelmente, um pequeno pedaço de teoria geral do sujeito, corporificada em uma frase: “Toda vez que chove, o rio sobe” (KEMP, 2006b, p. 24).

201 Na explicação do próprio Quine a tradução radical é: “transalation from a remote language on behavioral evidence, unaided by prior dictionaries. Moving then to deferred ostension and abstract objects, we found a certain dimness of reference pervading the home language itself” (QUINE, 1968, p. 198).

202 É interessante anotar, aqui, o uso que Quine faz do termo objetividade no seu Word and Object, como uma característica que determina a sobrevivência da palavra no mundo: “Words being social tools, objectivity counts toward their survival. When a word has considerable currency despite the subjective twist, it may be expected, like the pronouns 'I' and 'you', to have a valuable social function of some exceptional sort. The survival value of 'Ouch', from a social point of view, is as a distress signal. And the word is of only marginal linguistic status, after all, being incapable of integration into longer sentences” (...)In general, if a term is to be learned by induction from observed instances where it is applied, the instances have to resemble one another in two ways: they have to be enough alike from the learner's point of view, from occasion to occasion, to afford him a basis of similarity to generalize upon, and they have to be enough alike from simultaneous distinct points of view to enable the teacher and learner to share the appropriate occasions. A

diferentes linguagens, isso significa que é uma questão de fato saber se “E” é uma tradução correta de “E*”.

É, portanto, possível para um linguista entrar numa comunidade cuja língua lhe é totalmente desconhecida e, apenas pela aplicação dos métodos que todos reconheceriam como suficientemente objetivos ou científicos, produzir um manual de tradução exclusiva correto, que combina com frases da língua nativa com frases da sua língua nativa, ou, se mais de um manual for assim gerado, as diferenças não representarão diferenças intuitivamente significativas no significado. Nem o método nem os dados podem ser autorizados a utilizar o conceito de significado: se o fizeram, então juízos intuitivos do linguista sobre o que significa o que teria influenciado a operação não poderia garantir a elucidação do fenômeno do significado que Quine persegue (KEMP, 2006b, p. 25).

Vista dessa forma, a tradução radical pode denotar uma aparente lacuna entre o objetivo e o

intuitivo na teoria quineana. Tal lacuna, no entanto, é apenas aparente. Como explica Gary

Kemp, Quine resolve essa questão ao destacar a natureza social da linguagem e a sua capacidade de aprendizado pela observação. Assim como ver o açúcar se dissolver na água é evidência de uma disposição (que o açúcar se dissolve na água), o comportamento linguístico observa “evidências de regras linguísticas”. Assim, a identificação objetiva das regras linguísticas pode ser considerada como o análogo autoconsciente científico do real aprendizado de uma língua, a aquisição do conhecimento semântico. Na medida do possível, o manual de tradução deve buscar uma correspondência entre regras linguísticas; idealmente, uma frase traduz outra quando falantes nativos estão dispostos a concordar com elas naquilo que para cada um seria uma situação que é adequadamente congruente com a do outro (KEMP, 2006b, p. 25).

Como proceder à tradução proposta por Quine? A primeira tarefa crítica para o tradutor radical, autoconsciente cientificamente, de acordo com ele, descrita em detalhe no segundo capítulo de Word and Object, é descobrir o que ele chama de “estímulo de significado de sentenças de observação” (KEMP, 2006b, p. 25203).

term restricted to squares normal to the line of sight would meet the first requirement only; a term applying to physical squares in all their scalene projections meets both. And it meets both in the same way, in that the points of view available to the learner from occasion to occasion are likewise the points of view available to teacher and learner on simultaneous occasions. Such is the way with terms for observable physical objects generally; and thus it is that such objects are focal to reference and thought” (QUINE, 1960, p. 07).

203 Quine nos oferece um exemplo clássico. Imagine-se que um linguista está diante de um grupo de nativos de um determinado lugar. De repente, um coelho passa pulando, e exclamam os nativos “Gavagai” (QUINE, 1960, p.28 e ss.). Talvez isso deva ser traduzido como “Coelho!”, o tipo de frase de uma única palavra que podemos proferir como abreviação de “Há um coelho”. Outro coelho passa pulando, e nós tentamos dizer isso a nós mesmos: “Gavagai!” ou “Gavagai?”. Se os sinais dos nativos concordarem com isso e se opuserem quando o linguista gritar essa palavra sem a presença do coelho, isso reforçará a conjectura inicial.

O ponto de Quine é o seguinte: para traduzir termos individuais, o tradutor faz suposições sobre referência, isto é, existe mais de uma forma de traduzir frases em que as várias versões diferem na referência que se atribui a partes de uma sentença, mas não na importação líquida global que se atribuem à sentença como um todo. Este argumento de também ficou conhecido como “relatividade ontológica204” ou “hermetismo de

referência205”.

A razão da relatividade ontológica é que o conteúdo empírico de uma teoria é definido como a soma dos significados de estímulo de suas sentenças observacionais categóricas, e estímulos de significados são simplesmente relações entre estímulos de superfícies sensoriais e disposições para concordar com sentenças de observacionais. Quine conclui que não há nenhuma questão de fato sobre o que determinada teoria é realmente – quais seus compromissos ontológicos – exceto em relação a uma determinada interpretação da teoria, ou seja, a uma determinada tradução desta em uma linguagem anterior. Essa é a doutrina de Relatividade Ontológica.

O estímulo de significado de tal sentença é a classe de estímulos sensoriais que persuadem o nativo a concordar com o linguista, em conjunto com a classe que o persuadiria a discordar do linguista. Intuitivamente, estas frases relatam o que está presente aqui e agora. É claro que as sentenças não dizem que certos estímulos sensoriais estão ocorrendo; o tradutor traduz “Gavagai!” como algo como “Coelho!” na hipótese de que os dois têm o mesmo significado de estímulo, o que não se parece com o conceito comum de sentido de qualquer maneira óbvia.

A hipótese se justifica porque o coelho faz com que os mesmos tipos de estímulos no linguista como no nativo. Ao contrário de outros tipos de frases, sentenças observacionais garantem uma correlação imediatamente observável entre a sentença e o que parece favorável a elas. Assim, Quine viria a referir-se a tais frases como “entrada permanente”, tanto para a criança e como para linguista confrontarem uma linguagem. Entretanto, frases sobre o passado, sobre coisas distantes, ou fatos gerais do estado que nunca mudam, não podem ser traduzidas diretamente apenas observando os nativos falam em seu ambiente.

“Gavagai!” foi tratada acima como uma frase única, possivelmente usada de maneira que podemos exclamar “Coelho!”. Para chamá-la de uma sentença significa que pode haver consentimento ou discordância sobre ela, ao contrário do que aconteceria com uma simples palavra. E, embora a frase “Gavagai!” possa ser traduzida como “Coelho” pela equação de estímulos de significado, ela poderia muito bem ter sido traduzida como “Parte destacada de um coelho!”, ou “Estágio de um coelho!", ou “instanciação local de coelhicidade

universal!”, todas entendidas como frases, em vez de termos atomizados. Estas frases têm o mesmo estímulo de significado, uma vez que para que cada par delas esteja presente, uma, e apenas se um das outras esteja. Assim, explica Gary Kemp, uma “parte destacada de um coelho” é, por exemplo, uma perna, ainda ligada ao coelho inteiro; se considerarmos um coelho como um objeto quadridimensional, ocupando as três dimensões espaciais mais o do tempo, uma “fase temporal, de um coelho” ou “coelho em fase”, ou ainda uma “fatia de