• Nenhum resultado encontrado

A indisciplina da responsabilidade do professor

CAPÍTULO I A INDISCIPLINA

2- Explicação causal

2.1. A indisciplina da responsabilidade do professor

As correntes pedagógicas são aquelas que mais põem em relevo o papel do professor como agente de indisciplina. Para estas correntes, onde se salienta a do classroom management, que Estrela (1992) traduziu “imprecisamente”5

por organização da aula, os conceitos de disciplina e indisciplina são vistos sob o ponto de vista pedagógico, reportando-se directamente ao bom ou mau funcionamento da aula e indirectamente às regras estabelecidas.

Com base em observações de situações naturais de aula, Kounin estabeleceu as correlações existentes entre a disciplina ou indisciplina dos alunos observados e as técnicas de organização utilizadas pelo professor. Entre as técnicas que apresentam correlação elevada com a disciplina destacou:

5 Palavra da autora

“As responsabilidades do professor inscrevem-se em duas lógicas fundamentais da sua acção: a do modo como estrutura as tarefas académicas e a do modo como gere as relações sociais na aula”

33

-“Testemunhação – Capacidade de comunicar à turma que o professor sabe o que se passa mesmo quando está de costas voltadas;

- A atenção simultânea a duas situações diferentes;

- O ritmo da aula e a suavidade da transição entre tarefas (evitando: saltos na matéria, começar uma actividade deixando-a no ar, fazer discursos e sermões, fazer demasiadas recomendações sobre a tarefa ou sobre o material);

- A variedade de estímulos oferecidos ao aluno;

- A capacidade de manter o grupo ocupado numa tarefa comum através da responsabilização dos alunos e da atribuição de tarefas individuais” (Estrela, 1992: 81).

Parece poder concluir-se destas correlações que a disciplina ou a ordem necessária às aprendizagens escolares está dependente da capacidade organizativa da aula pelo professor.

Também Emmer e Evertson, em trabalhos realizados em 1982, caracterizam os comportamentos docentes que permitem classificar os professores como bons ou maus organizadores da aula. Concluíram, de acordo com (Estrela, 1992: 81), que

“enquanto que os bons organizadores estabelecem bem as regras e dão directivas precisas, apresentam claramente as suas expectativas quanto aos comportamentos dos alunos, respondem a estes de forma consistente, intervêm mais prontamente para parar o desvio e utilizam mais frequentemente as regras em caso de indisciplina, os professores maus organizadores utilizam regras vagas e não reforçáveis, dão directivas pouco precisas, comunicam ambiguamente as suas expectativas, são inconscientes nas suas respostas à maior parte dos comportamentos desviantes dos alunos, ignoram mais vezes esses comportamentos, não evocam as suas consequências e reagem com lentidão”.

Nestas situações, o professor como organizador da aula desempenha um papel fundamental na prevenção da indisciplina. É na questão da prevenção que se distinguem os professores bons organizadores da aula uma vez que os trabalhos de Good e outros (1975) e Duke e Jones (1984), referenciados por (Estrela, 1992: 81), mostram que

“professores com bom controlo do clima disciplinar da aula, quando postos face a situações inesperadas de indisciplina, não reagem de forma diferente dos colegas que se manifestam incapazes dele”.

A melhoria do clima da aula e a diminuição de manifestações de indisciplina está também dependente da forma como o professor prepara as suas aulas e dos incentivos

34 atribuídos aos alunos. Graça Fernandes, em entrevista dada ao Jornal a Página da Educação em Abril de 2001, aborda esta questão referindo que

“Além do estabelecimento das regras, da atenção e cuidado que põe na relação, o professor evitará muitas ocorrências desagradáveis, se preparar as suas aulas, prevendo as actividades mais adequadas aos alunos e que mais os impliquem na sua própria aprendizagem e lhes confiram responsabilidades. Finalmente, se o professor estiver atento e disposto a encorajar e a reforçar os comportamentos que demonstram interesse, e empenho, se recompensar os seus alunos com gestos e palavras que traduzem a sua satisfação, se valorizar os bons procedimentos, criará na sua aula um clima mais afectivo, fraterno e securizante.”

Amado (2001: 223), relacionando o surgimento da indisciplina na sala de aula e a acção do professor, diz-nos que a utilização de estratégias inadequadas ou uma relação pedagógica problemática podem estar na origem de comportamentos desviantes dos alunos. Através de um estudo baseado na observação directa de aulas e de entrevistas feitas aos alunos concluiu que “se há alunos que se portam bem numas disciplinas e noutras não, a culpa não é só dos alunos, não é só da turma, mas é também dos professores”.

O método expositivo é apresentado como sendo o principal indicador de “estratégias de ensino inadequadas”. Diz-nos o mesmo autor (idem: 224

“com efeito, diz-se que uma tal metodologia dá sono, provoca a distracção e o alheamento, de modo que o aluno dá por si a pensar coisas completamente diferentes da matéria que ele está a dar, não favorece a compreensão dos assuntos, provoca desmotivação e, enfim, gera a indisciplina nas suas mais diversas expressões, sobretudo clandestinas”.

No método expositivo verifica-se um grande desequilíbrio entre o tempo gasto pelo professor na comunicação e o tempo utilizado pelos alunos. Neste método o aluno tem pouca possibilidade de manifestar as suas opiniões e de confrontar as suas ideias, o que pode ser castrador da sua autonomia, e faz com que o aluno recorra a certos subterfúgios para fazer com que a aula passe mais depressa.

Aulas desinteressantes são também apontadas como causas de comportamentos desviantes. Amado (2001: 226), entende por aulas desinteressantes aquelas em que segundo os alunos “não há nada para fazer, em que o professor nunca sai da matéria ou está a ser desinteressante, chato”. Os métodos de ensino empregues são criticados por serem cansativos, não existem actividades interessantes e num caso destes os alunos dizem “a gente não tem nada que fazer, prontos, falamos para o parceiro do lado”.

35